sexta-feira, 3 de outubro de 2025

O Privilégio do Belo

 


                O que você faria se parasse de envelhecer aos dezessete e um retrato seu envelhecesse em seu lugar? Será que isso é tão bom quanto parece? O Retrato de Dorian Gray escrito por Oscar Wilde em 1890 responde essas perguntas. Gostaria de saber as respostas? Vamos para o resumo:

            Dorian Gray é um belo jovem que foi a casa de seu amigo, Basil Hallward, para que este pintasse o seu retrato. Lá também encontrou lorde Henry Wotton, amigo de Basil, e numa conversa entre ele e Gray, acaba mencionado que a juventude não é eterna, que o tempo passaria, que Dorian envelheceria e sua beleza esvaneceria. Quando Basil terminou a pintura, todos acharam bela e Dorian desejou que a pintura envelhecesse em seu lugar...

            Devo dizer que fiquei surpresa em saber que a história não envolveu pacto com o Diabo. O retrato de Dorian começou a envelhecer e mudar sua aparência misteriosamente conforme o jovem fazia suas maldades. Não há explicação para o ocorrido, mas saber o porquê de isto estar acontecendo não importa. O foco do livro é a consequência deste fenômeno.  

            Dentre os personagens, três se destacam: o pintor Basil Hallward, que conheceu Dorian e vê nele não só um modelo, mas um ser próximo do divino que o inspira na hora de fazer suas pinturas; Henry Wotton, um sujeito que tem um pensamento individualista, que acha que todos deviam agir pelo prazer sem pensar nas consequências. Ele faz o papel do diabo no ombro de Dorian enquanto Basil faz o papel de anjo. Wotton influencia o rapaz a ir pelo mal caminho por mera diversão. E por último, temos o protagonista, Dorian Gray, um rapaz que começa bom, ingênuo e bastante emotivo até que começa a seguir esta vida de prazer sem se importar com os outros. Ele é descrito como um jovem de cachos loiros e olhos azuis, algo que a capa do livro não ilustrou. Isso dá a ele uma aparência angelical.

            Por sua aparência se manter a mesma, Dorian se entrega aos vícios e prazeres libidinosos, fazendo com que várias pessoas que ele se relacionou o detestassem por ter sido má influência e arruinado a vida delas. Mesmo assim, Dorian conseguia manter algumas de suas amizades, pois sua beleza era encantadora e pueril. Estas acreditavam que tudo aquilo que ele fez não passava de boatos. Creio que muitos têm este sentimento quando descobrem que uma celebridade fez algo de errado, principalmente quando ela tem uma beleza estonteante. Este é privilégio do belo. É quase que instintivo nós vermos algo bonito e associarmos com o bom e o feio com o mal. Mas nunca julgue o livro pela capa. Devemos julgar pelo conteúdo.

            Respondendo à pergunta do primeiro parágrafo, não seria ruim se um retrato envelhecesse em seu lugar. Só que o retrato de Dorian Gray não apenas envelheceu. Ele se desfigurou conforme as maldades e os vícios do jovem. Ele então deixa de ser um retrato de belo moço e passa a refletir a alma de um homem corrompido. Você aguentaria conviver com um espelho que refletisse todos os seus pecados?

            O Retrato de Dorian Gray é um ótimo livro para se entreter e pensar, não só nos assuntos que mencionei acima, mas também pelas opiniões Wotton, que apesar de discordar de vários de seus pensamentos, muitas de suas falas podem dar bons temas para debates. Então, venha dar uma olhadinha. Só não faça isso próximo de seu retrato.