As
aventuras de Huckleberry Finn é considerado
continuação do romance As aventuras de
Tom Sawyer, mas pode ser lido separadamente que não afeta muita coisa. Que
foi o que eu fiz, pois não li As
aventuras de Tom Sawyer, pelo menos não ainda.
O
protagonista é o amigo de Tom Sawyer, Huckleberry Finn, que estava vivendo com
uma viúva e sua irmã depois que seu pai havia sumido. Mas ele retorna, e é tão
abusivo que te faz ter vontade de matá-lo. Como o Huck Finn e Tom Sawyer havia
conseguido uma boa grana no outro livro, o pai se interessou por ela e quis
pegar para gastar em bebidas. Ele brigou pela guarda do menino com a viúva até
sequestrá-lo e levá-lo para uma cabana no meio do mato. Não querendo viver com
o seu velho nem com a viúva, Huck Finn planeja sua fuga pelo rio. Nesse
percurso, ele encontra Jim, escravo fugido da senhorita Watson, irmã da viúva,
e ambos se juntam em uma jornada.
As primeiras impressões que tive desse livro foram: livro
regional, de época americana O romance escrito por Mark Twain tem todo um local
fixo no sul dos Estados Unidos, na época em que o sul lutava a favor da
escravidão e o norte lutava contra. Esse debate ocorre na narrativa do livro em
que Huck Finn está fugindo com o escravo Jim. Huck Finn se sentia culpado em
ajudar Jim a ser um escravo livre por achar que estava fazendo mal à senhorita
Watson, dona do escravo e irmã da viúva, pois ela junto com a viúva, ajudou a
educá-lo. Mas quando teve chance de contar a alguém sobre o escravo fugido, ele
não conseguiu, já que o homem confiava muito nele, considerando o seu melhor
amigo. Achei esse momento muito humano, pois apesar dos escravos serem
considerados objetos, Huck Finn havia se afeiçoado a Jim e parece considerá-lo
um amigo. Essa discussão é interessante e reflete muito do autor que apesar de
ser do estado de Missouri, localizado no sul dos Estados Unidos, ele se recusou
a lutar a favor da escravidão.
O livro apresentava um grande conhecimento de navegação e
geografia. Eu não tinha conhecimento da existência de ilhas no meio de rios e
nem do que eram bancos de areia (pedaço de terra arenosa no meio dos rios).
Isso enriqueceu o romance, pois toda a viagem de Huckleberry Finn se passou
pelo rio Mississipi. Esse conhecimento veio devido ao autor ter sido piloto
fluvial. Outra curiosidade: sabia que o nome do autor é na verdade Samuel
Langhorne Clemens e o seu pseudônimo, Mark Twain, surgiu de uma expressão usada
pelos barqueiros que significa “marca segura para navegar”?
O narrador é em primeira pessoa, sendo o próprio Huckleberry
Finn, e ele parece ter noção de que é um personagem de um livro. Outro ponto
interessante da narrativa foi a escolha da tradutora em diferenciar o jeito de
falar dos escravos e não-escravos, uma diferença que de fato existia.
O menino Huckleberry Finn
lembra muito o Pinóquio do livro de Carlo Collodi em relação a ser um menino
travesso e desobediente, mas de bom coração. Teve momentos descritos no livro
que mostram o personagem fumando, me lembrando mais o filme da Disney. Mesmo
nessa época, já era considerado errado uma criança fumar. Mas isso acontece
devido a sua criação, sendo seu pai uma pessoa abusiva, pois vive bebendo e
batendo nele. E como disse antes, ele tem bom coração e certo limite. Mesmo
mentindo muito em sua jornada, Huck Finn acha que as pessoas conhecidas como
Duque e Rei, que viajam com ele e Jim por um tempo, são farsantes sem
vergonhas, que tem coragem de roubar uma herança que não é deles, se passando
por pessoas dessa família.
E é claro, não posso deixar de terminar de falar do livro
sem mencionar minhas impressões do personagem Tom Sawyer, nos momentos em que
ele apareceu. Apesar de travesso, Tom Sawyer parece gostar de seguir o que está
nos livros de piratas e ladrões. Gosta tanto que quer copiar tudo que está
neles em seus planos, mesmo que exista uma solução mais fácil para o problema.
Isso chegou a me irritar um pouco, já que quando Huck Finn sugere algo mais
simples, ele logo o corta, chamando-o de ignorante. Houve seis capítulos de
enrolação por causa disso, quando podia ter acabado em dois. Queria que
acabasse logo porque estava acostumada com o movimento de fuga de Huck Finn,
sendo no máximo três capítulos uma aventura, tendo ainda reviravoltas. Achei
essa parte meio parada. Porém, no final dessa parte, fui pega de surpresa, pois
esse personagem sabia de uma coisa que eu não suspeitava e acabei rindo um
pouco e com vontade de entrar no livro e lhe dar uns cascudos.
Um livro de aventura juvenil, interessante para quem
deseja conhecer mais sobre os costumes do sul dos Estados Unidos dos anos de
1860. Se desejar, embarque na jangada com Huck Finn e Jim e acompanhem suas
enrascadas.