sexta-feira, 20 de julho de 2018

Aventura pelo rio Mississippi


          As aventuras de Huckleberry Finn é considerado continuação do romance As aventuras de Tom Sawyer, mas pode ser lido separadamente que não afeta muita coisa. Que foi o que eu fiz, pois não li As aventuras de Tom Sawyer, pelo menos não ainda.
O protagonista é o amigo de Tom Sawyer, Huckleberry Finn, que estava vivendo com uma viúva e sua irmã depois que seu pai havia sumido. Mas ele retorna, e é tão abusivo que te faz ter vontade de matá-lo. Como o Huck Finn e Tom Sawyer havia conseguido uma boa grana no outro livro, o pai se interessou por ela e quis pegar para gastar em bebidas. Ele brigou pela guarda do menino com a viúva até sequestrá-lo e levá-lo para uma cabana no meio do mato. Não querendo viver com o seu velho nem com a viúva, Huck Finn planeja sua fuga pelo rio. Nesse percurso, ele encontra Jim, escravo fugido da senhorita Watson, irmã da viúva, e ambos se juntam em uma jornada.
       As primeiras impressões que tive desse livro foram: livro regional, de época americana O romance escrito por Mark Twain tem todo um local fixo no sul dos Estados Unidos, na época em que o sul lutava a favor da escravidão e o norte lutava contra. Esse debate ocorre na narrativa do livro em que Huck Finn está fugindo com o escravo Jim. Huck Finn se sentia culpado em ajudar Jim a ser um escravo livre por achar que estava fazendo mal à senhorita Watson, dona do escravo e irmã da viúva, pois ela junto com a viúva, ajudou a educá-lo. Mas quando teve chance de contar a alguém sobre o escravo fugido, ele não conseguiu, já que o homem confiava muito nele, considerando o seu melhor amigo. Achei esse momento muito humano, pois apesar dos escravos serem considerados objetos, Huck Finn havia se afeiçoado a Jim e parece considerá-lo um amigo. Essa discussão é interessante e reflete muito do autor que apesar de ser do estado de Missouri, localizado no sul dos Estados Unidos, ele se recusou a lutar a favor da escravidão.
     O livro apresentava um grande conhecimento de navegação e geografia. Eu não tinha conhecimento da existência de ilhas no meio de rios e nem do que eram bancos de areia (pedaço de terra arenosa no meio dos rios). Isso enriqueceu o romance, pois toda a viagem de Huckleberry Finn se passou pelo rio Mississipi. Esse conhecimento veio devido ao autor ter sido piloto fluvial. Outra curiosidade: sabia que o nome do autor é na verdade Samuel Langhorne Clemens e o seu pseudônimo, Mark Twain, surgiu de uma expressão usada pelos barqueiros que significa “marca segura para navegar”?
            O narrador é em primeira pessoa, sendo o próprio Huckleberry Finn, e ele parece ter noção de que é um personagem de um livro. Outro ponto interessante da narrativa foi a escolha da tradutora em diferenciar o jeito de falar dos escravos e não-escravos, uma diferença que de fato existia.
            O menino Huckleberry Finn lembra muito o Pinóquio do livro de Carlo Collodi em relação a ser um menino travesso e desobediente, mas de bom coração. Teve momentos descritos no livro que mostram o personagem fumando, me lembrando mais o filme da Disney. Mesmo nessa época, já era considerado errado uma criança fumar. Mas isso acontece devido a sua criação, sendo seu pai uma pessoa abusiva, pois vive bebendo e batendo nele. E como disse antes, ele tem bom coração e certo limite. Mesmo mentindo muito em sua jornada, Huck Finn acha que as pessoas conhecidas como Duque e Rei, que viajam com ele e Jim por um tempo, são farsantes sem vergonhas, que tem coragem de roubar uma herança que não é deles, se passando por pessoas dessa família.
            E é claro, não posso deixar de terminar de falar do livro sem mencionar minhas impressões do personagem Tom Sawyer, nos momentos em que ele apareceu. Apesar de travesso, Tom Sawyer parece gostar de seguir o que está nos livros de piratas e ladrões. Gosta tanto que quer copiar tudo que está neles em seus planos, mesmo que exista uma solução mais fácil para o problema. Isso chegou a me irritar um pouco, já que quando Huck Finn sugere algo mais simples, ele logo o corta, chamando-o de ignorante. Houve seis capítulos de enrolação por causa disso, quando podia ter acabado em dois. Queria que acabasse logo porque estava acostumada com o movimento de fuga de Huck Finn, sendo no máximo três capítulos uma aventura, tendo ainda reviravoltas. Achei essa parte meio parada. Porém, no final dessa parte, fui pega de surpresa, pois esse personagem sabia de uma coisa que eu não suspeitava e acabei rindo um pouco e com vontade de entrar no livro e lhe dar uns cascudos.
            Um livro de aventura juvenil, interessante para quem deseja conhecer mais sobre os costumes do sul dos Estados Unidos dos anos de 1860. Se desejar, embarque na jangada com Huck Finn e Jim e acompanhem suas enrascadas.