O
Quinze foi o primeiro romance escrito por Rachel de Queiroz,
em 1930, baseado na grande seca que houve em 1915. Por que peguei esse livro se
ele é justo de um gênero que não gosto, que é o que retrata a realidade? Fiquei
pensando quais foram os considerados romances clássicos brasileiros que já li? Helena de Machado de Assis, A Hora da Estrela de Clarice Lispector, Iracema de José de Alencar e Macunaíma (faltavam uns três capítulos
para acabar, mas parei porque não achei interessante) de Mário de Andrade. Os
dois primeiros foram no ensino médio e os outros dois na graduação de Letras.
Senti que li muito pouco da considerada “Literatura Brasileira”, que
infelizmente não conheci nenhum livro que fosse do meu gênero favorito, que é o
de fantasia (com a exceção de Macunaíma,
que tinha uns elementos da mitologia indígena), se é que realmente alguém
escreveu. Por isso, se tiver algum autor que escreveu esse gênero, ou até mesmo
ficção científica, me avise. Então, estou tentando compensar um pouco.
A história gira ao redor de três personagens: Conceição,
uma professora solteira que foi criada por sua avó Inácia, e a convence de sair
de sua terra para morar com ela devido à grande seca. O segundo é Vicente,
primo de Conceição, que mora em uma fazenda com os pais e as irmãs e faz de
tudo para manter viva a sua pecuária. O último é Chico Bento, antigo empregado
de uma fazenda que ficou sem trabalho devido à senhora ordenar a soltura dos
animais que estavam gastando muito dinheiro em cuidados por causa do calor do
sertão. Então, ele e sua família saem para o norte em busca de um lugar melhor.
Tive certa dificuldade com o livro em relação a algumas
palavras. Devido ao livro ter sido lançado em 1930 e se passar no Nordeste,
palavras como reses e rama por exemplo, tive que procurar no
dicionário para saber seus significados. Aconselharia colocar um glossário em
uma próxima edição.
No geral, o romance foi bom. Nada de espetacular, mas bem
escrito. A parte mais chata do livro foram os elementos românticos entre
Vicente e Conceição. Já passei da fase de acreditar que pessoas completamente
opostas se atraem. Precisa ter pelo menos mais semelhanças do que diferenças
para acreditar que vai dar certo e dei graças a Deus que eles não ficaram
juntos. Vicente é um homem que vive para o seu gado, que não quis estudar para
ser doutor como os irmãos, é ignorante em relação aos estudos e que devido à
sua criação, seria considerado hoje um pouco machista, apesar de na época ser
algo normal. Enquanto Conceição é uma professora que mora na cidade e gosta de
ler e ganhar conhecimento além de ter pensamentos à frente das pessoas de sua
região de origem com relação à independência das mulheres, que infelizmente
naquela época, até a própria avó dizia para ela que a neta deveria casar e ter
filhos para não ser mal falada. O triste, é que a própria Conceição tinha esse
pensamento, apesar de suas tentativas de debater isso com a avó Inácia.
Quanto ao Chico Bento e sua família, foi o meu foco
favorito, pois acredito que eles foram os que mais sofreram durante a seca,
representando bem aquele momento. Enquanto Vicente perdia o seu gado e tinha
esse clima ruim com a Conceição e a própria ajudava os retirantes mortos de
fome na cidade, Chico Bento era um retirante, que teve que ir com sua família a
pé a caminho para o norte, no calor desgraçado; passando fome e sede; perdendo dois
filhos, um que comeu uma mandioca braba (isso para mim foi uma novidade, pois
não sabia que existia uma mandioca venenosa), e o mais velho fugindo com um
outro grupo. O seu final foi o menos fechado, me deixando curiosa para saber se
eles conseguiram se dar bem após mudarem de rumo.
Algo de interessante foi de como os personagens são
bastante religiosos. Não só era descrito as rezas de terço de dona Inácia, as
várias vezes que ela vai à igreja, e da fala dos personagens estar consistida
de algo como Se o Deus nosso senhor
permitir, mas também as posições de madrinha e padrinho serem levadas a
sério. Além dos afilhados terem que pedir a benção a eles, a madrinha e o
padrinho podem ser considerados como uma segunda mãe ou pai de seus afilhados.
Duquinha, o filho mais novo de Chico Bento, ficou morando com Conceição, que
era sua madrinha, por insistência da própria e devido às condições de seus pais
não serem das melhores no momento.
Não convivi com vários desses costumes, mas tiveram duas
passagens que me lembraram algo da minha família, onde três dos meus avós eram
cearenses. Quando é mencionado que todos os irmãos menos Vicente saíram de sua
cidade natal para estudar e conseguiram empregos na cidade, me lembrou muito o
meu avô Bené, o único de seus irmãos a sair do Ceará para estudar e conseguir
um emprego no Rio. Outra, foi quando a minha avó Helena não podia tomar conta
de seus filhos mais velhos devido a um acidente e meu tio ficou com sua tia,
que também era sua madrinha, enquanto minha avó melhorava, reafirmando os laços
de madrinha e afilhado do livro.
Como disse anteriormente, é um romance legal e bem
escrito, sendo muito simples de ler, sem contar essas poucas palavras regionais
antigas. Fecharei essa resenha com um trecho da canção Asa Branca de Luiz Gonzaga, música que dancei há muito tempo atrás
em uma de minhas festas juninas que me lembrou bastante esse romance:
Hoje longe, muitas léguas
Numa
triste solidão
Espero
a chuva cair de novo
Pra
mim voltar pro meu sertão