sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Antes de Poliana...



        Clássico da literatura infanto-juvenil canadense, Anne de Cabelos Ruivos (Anne of Green Gables no original) foi escrito por L. M. Montgomery em 1908. Ele contém várias sequências, que vão acompanhando o crescimento da protagonista, Anne Shirley, enquanto ela lida com problemas típicos de uma menina daquele tempo. Este primeiro livro, ela começa como uma criança de onze anos e termina como uma moça de dezesseis. Vamos para o resumo da história:

            Por estarem ficando velhos demais para cuidar da fazenda Green Gables, os irmãos Mathew e Marilla Cuthbert decidem adotar um menino para ajudá-los. Mas o que farão quando o orfanato ao invés de lhes enviar um menino lhes mandou uma menina com uma imaginação tão fértil quanto o tamanho da fazenda?

            A primeira coisa que me veio a cabeça quando Anne apareceu no segundo capítulo foi a semelhança dela com a personagem Poliana, que é protagonista cujo romance tem o mesmo nome, e foi escrito pela americana Eleanor Potter cinco anos depois do lançamento de Anne de Cabelos Ruivos. Li este livro na infância, mas me lembro do básico: Poliana perdeu os pais e foi adotada por sua tia Polly, que é uma pessoa rigorosa e amarga. Mas aos poucos, ela vai conquistando sua tia com sua personalidade alegre e positiva, mudando a vida de sua tia para melhor. Essa relação é muito similar a de Anne e Marilla nesse livro. Mas diferente de Poliana, Anne tem seus momentos de tristeza, além de ela também ser muito dramática quando acontece algo de errado devido ao seu jeito atrapalhado e não se força a ser feliz o tempo todo como a Poliana com o seu “jogo do contente”. Ela também é ambiciosa, vaidosa, faladeira e sua imaginação fértil pode atrapalhá-la em certos momentos. Acredito que isso a deixa uma personagem mais identificável, pois ela não está ali apenas para dar vida ao lar dos Cuthbert. Anne também aprende a ser uma pessoa melhor conforme cresce.

            Com relação aos outros personagens, Marilla é bem desenvolvida por ser praticamente a segunda protagonista do romance. Seu tratamento com relação a Anne evoluí, passando de uma mulher rigorosa para uma pessoa mais amável, mas ainda mantendo sua personalidade séria. Mathew em contrapartida com sua irmã, é mais doce e tímido, principalmente com as mulheres. Enquanto Marilla educa Anne, Matthew mima ela, comprando coisas que a garota deseja e sendo mais amoroso, como se fosse seu pai. Há muitos outros personagens que são apresentados, como a senhora Lynde, uma vizinha fofoqueira que sempre tem conselhos para resolver os problemas de todos e Gilbert Blythe, o rival de Anne na escola. Mas o que achei um desperdício de personagem foi Diana, a melhor amiga de Anne. Ela não tem nada de marcante apesar de sua amizade com Anne ser algo bem focado, chegando perto de ser algo romântico pelas falas das personagens. Ela é bem genérica, até mesmo outras personagens com menos foco são mais interessantes que ela.

            A maioria dos capítulos é “episódica” (começa um conflito que é resolvido no mesmo capítulo). Como por exemplo, Marilla perde o broche e o encontra; uma menininha fica doente e Anne a cura. Conflito e resolução no mesmo capítulo. Há, porém situações que duram mais de um capítulo, como o término e o recomeço da amizade de Anne e Diana, cuja duração é de três capítulos.

            Pelo livro se passar entre 1870 e 1880, há diferenças nos costumes e do que era aceitável na época e que hoje seria considerado algo errado. Mathew e Marilla tinham a intenção de adotar um menino apenas para ajudar nas tarefas da fazenda e chegaram a considerar uma criança do esquema “Home Children”, que eram menores de idade vindos do Reino Unido e migravam para outros países de língua inglesa com o propósito de trabalharem como escravos. Também há preconceito contra os franco-canadenses e um professor dando em cima de uma aluna das coisas mais erradas. Focando apenas em coisas de época que são apenas estranhas, aparentemente, crianças de nove a dezesseis tinham aulas juntas na mesma sala, só que com algumas diferenças no nível de matéria e adolescentes que eram bons estudantes podiam se tornar professores se fizessem um ou dois anos de um curso e passarem nas provas. Bem provável que não se possa fazer mais isso no Canadá.

            No geral, foi uma boa leitura. Alguns dos capítulos não eram tão interessantes quanto outros, mas é assim que a vida é. Anne de Cabelos Ruivos captou bem o cotidiano de uma menininha do século XIX que mora no campo e como ela vai amadurecendo conforme se passam os anos. Este romance me deixou curiosa para ver sua adaptação, Anne with E, uma série que possuí três temporadas. Querem relaxar? Em Avonlea, há uma pequena fazenda chamada Green Gables. Ela é pequena, mas seu entorno há jardins cheios de flores, um riacho e uma floresta que são muito bons para sua imaginação, como diria Anne. Gostariam de conhecer?




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