Na mídia, tanto em filmes
quanto livros, já nos foram apresentadas histórias românticas com
vampiros, lobisomens, sereias e fadas. Mas você já viu uma história de amor
entre um ser humano e o Monstro da Lagoa Negra? A Forma da Água, assim
como O Labirinto do Fauno, foi lançado primeiro nos cinemas americanos em
2017, com a direção e o roteiro feito por Guillermo del Toro enquanto sua
versão literária chegou no ano seguinte, escrita por Daniel Kraus. Será que sua
escrita traduz a mesma sensação que produz na tela? Vamos descobrir.
Elisa é muda e tem uma vida monótona em seu emprego de
faxineira na organização Occam, nos Estados Unidos dos anos sessenta. Até que
em uma de suas limpezas, ela encontra com uma grande descoberta da Occam: um
ser meio homem meio peixe.
Como é de se esperar, o livro mostra detalhes que não são
apresentados no filme, como os pensamentos dos personagens e algumas cenas que
não nos são apresentadas, como por exemplo o ponto de vista da senhora
Strickland, uma personagem que quase não aparece no filme. Além disso, ele
aproveita para humanizar um pouco o antagonista, que é um militar que passou tempos
traumáticos na Amazônia tentando capturar o ser aquático, além de sofrer com acontecimentos
do passado e de como a sociedade espera que ele seja forte.
Por falar em Amazônia, o homem peixe foi capturado no
Brasil e há uma menção a lenda do boto-cor-de-rosa. Mas acrescenta que ele leva
as mulheres para o rio, algo que nunca ouvi em sua história. Eu diria que a
aparência do “monstro” lembra mais o Ipupiara, ser aquático malicioso da
cultura indígena brasileira e o Negro d'água, ser meio homem meio anfíbio que
vive no rio São Francisco, podendo ser bom ou mal dependendo se você dá
presentes a ele ou não. Este último é que sequestra mulheres e as leva para seu
habitat e não o boto. Outra curiosidade é que o capitão que ajuda a capturar o
ser aquático, Henríquez, parece ser uma referência ao diretor do filme,
Guillermo del Toro, não só pela descrição física, mas também pelo fato deste
ter “perdido” o seu diário de bordo enquanto capturava a criatura assim como
Del Toro já perdera o arquivo de seu outro filme, O Labirinto do
Fauno.
Assim como no filme, noto um certo protagonismo em
personagens de minoria e como eles sofrem na sociedade que vivem. Isso é
compreensível pois o livro se passa nos Estados Unidos da década de sessenta, uma
época que havia de fato esse preconceito. Mas no tempo em que escrevo esta
resenha, esta narrativa está em todo lugar e admito que estou meio enjoada de
ler estas coisas.
De uma maneira geral, foi um livro ok. Não recomendo esta
leitura para menores de idade pois possui algumas cenas para adultos assim como
em sua versão cinematográfica. Ambas as versões se complementam bem, por isso acredito
que quem viu o filme, pode se aventurar nesse romance. A criatura espera por
você no fundo do mar.