sexta-feira, 28 de junho de 2024

Pentameron

 


               Antigamente, os contos de fadas eram contados de forma oral e, nesse grande telefone sem fio, surgem variações de uma mesma história. O Conto dos Contos – Pentameron, escrito por Giambattista Basile, contém algumas dessas variações e muito mais. A obra foi publicada postumamente entre 1634 e 1636 em napolitano, que hoje é considerada uma variante da língua italiana, e é considerada a primeira coletânea de contos de fadas do ocidente. Mas será que ela é boa? Vamos descobrir:  

            Zoza era uma princesa que não ria por nada nesse mundo, até que o fez quando uma velha entrou em uma discussão calorosa com um rapaz. Zangada, a velha amaldiçoou a moça, dizendo que ia se apaixonar por Tadeo, um príncipe que foi amaldiçoado a dormir até que uma mulher derrame uma ânfora com suas lágrimas e o desperte. Desesperada, Zoza pediu ajuda às fadas, que lhe deram uma noz, uma castanha e uma avelã e ela só poderia abri-las em momentos de necessidade. De tanto chorar para despertar o príncipe, acabou por adormecer. Uma escrava se aproveitou dessa situação, roubou a ânfora e se casou com o príncipe. Com essa terrível situação, Zoza abriu a noz e a castanha e, de cada uma delas, saiu algo que a escrava desejava. A malvada mandou o marido dar para ela, ameaçando matar o filho que estava carregando no ventre. Depois que Zoza lhes entrega de presente para Tadeo, a princesa abre a avelã, e dela sai uma boneca. Sabendo que a escrava ia desejá-la, ela fala para a boneca incutir na usurpadora o desejo de ouvir histórias. Quando Zoza entrega a boneca para Tadeo, o brinquedo faz exatamente o que foi mandado, e o príncipe escolhe dez mulheres para este serviço vendo se assim saciará o desejo da esposa.

            Primeiramente, devo dizer que não recomendo este livro para crianças. Apesar de contos de fadas serem associados ao público infantil, O Conto dos Contos contém muito xingamento escroto, cenas de sexo, humor escatológico, punições terríveis e trechos que hoje seriam considerados racistas. Quando os contos de fadas foram criados, não existia essa noção de infância. A criança era apenas um pequeno adulto em aprendizagem, por isso, estas histórias eram para todas as idades, mesmo tendo este tipo de conteúdo. Além disso, o romance tem muitas notas de página assim como referências antigas e pouco conhecidas que já deixam alguns adultos irritados em ter que lê-las para entender o contexto, imagina com uma criança.

            Analisando os contos de uma forma geral, têm muitos com temáticas parecidas. Como a do homem tolo que se dá bem no final em O conto do ogro, Peruonto, Vardiello, apesar deste último ter sua burrice apenas mencionada; mulheres que usam sua inteligência para resolver seus problemas como em Violeta, O Serpente e Rosella. Apesar de todas as histórias acabarem com uma lição, não pude deixar de notar algo: enquanto a maioria dos antagonistas têm o fim que merecem, há contos em que os reis, mesmo tendo feito algo nefasto, são perdoados no final como em O Dragão, Peruonto, A Sábia e Sol, Lua e Talia. No primeiro e no último especificamente, só a rainha má é punida enquanto o seu marido (que matou várias de suas amantes e aprisionou a mãe do protagonista em O Dragão e traiu a esposa e estuprou uma mulher em Sol, Lua e Talia) não sofreu nenhuma consequência. Há também alguns contos em que os protagonistas não merecem o seu prêmio no final, mas estes são poucos e sua maioria tem boas lições.

            Quanto aos personagens (da história principal), são típicos de contos de fadas. Zoza é a heroína que utiliza das coisas boas que foram dadas pelos seus ajudantes mágicos para conseguir de volta o seu príncipe. Tadeo é o servo da sua esposa, como o pai de Cinderela no conto dos irmãos Grimm, e faz tudo o que ela quer senão ela mata o filho que está na barriga. E a escrava Lucia, que ao contrário de como é retratado um escravo nos dias de hoje, como alguém bom que é maltratado, ela é ruim e invejosa, mostrando que existem pessoas tanto boas quanto más, independente do seu status social. Spoiler, pula para o próximo parágrafo se não quiser saber: a escrava tem o final que merece. Pena que o filho de seu ventre teve que pagar com ela.   

            Comentei no primeiro parágrafo sobre as diferentes variações dos contos de fadas e que este livro possui algumas delas. Pois bem, A Gata Borralheira; Sol, Lua e Talia; Petrosinela e Nennilo e Nennela, que são versões italianas dos contos da Cinderela, A Bela Adormecida, Rapunzel e João e Maria. Além dessas, há histórias como Cagliuso, que tem semelhanças com O Gato de Botas; A Ursa lembra Pele de Asno; O Cadeado e O Tronco de Ouro têm elementos que lembram a história de Cupido e Psiquê. O formato de ter uma história principal que contém outras pequenas é similar ao Mil e Uma Noites.

            Há uma adaptação cinematográfica da obra de 2015, cujo título é o mesmo do livro, tirando o Pentameron. Este filme apresenta a releitura dos contos A Pulga, A Gazela Encantada e A Velha Esfolada. E, por incrível que pareça, esta versão é mais sangrenta que a do livro. Todos estes contos tiveram um “felizes para sempre” para a maioria dos personagens, com exceção de uma das velhas de A Velha Esfolada, no romance enquanto no filme, termina com tragédias agridoces. Outras diferenças é o destaque de certos personagens, como por exemplo o da rainha de A Gazela Encantada, que só aparece como uma pequena antagonista no início do conto, mas no filme é a protagonista e vilã principal.

O Conto dos Contos me entreteve como fã de contos de fadas. Por isso, recomendo sua leitura àqueles que também gostam desta temática. Só cuidado para não rirem de nenhuma senhorinha na rua. Suas maldições podem ser bem potentes.       

 


quinta-feira, 13 de junho de 2024

Esta Noite, Sonhei que era Dragão

 



            Raramente pego livros infantis para ler, pois sou uma adulta e não tenho uma criança. Mas depois que comecei a editar meus próprios livros, às vezes me pego olhando para um deles seja pelo formato ou ilustração. Este me pegou pelos dois. Esta Noite, Sonhei que era Dragão foi escrito e ilustrado pelo argentino Gastón Hauviller, lançado originalmente em 2023 e em 2024 aqui no Brasil.



        O livro tem o formato sanfona, o que já chama a atenção. E o texto, apesar de simples, se comunica com a belíssima ilustração. O narrador conta que esta noite, ele sonhou que era dragão, com olhos de dragão, nariz de dragão etc. Mas a imagem ilustra não os olhos de um dragão, mas sim de um gato. Na parte do nariz, aparece um cachorro e assim por diante, compondo um dragão no final.

Pode não ter sido a intenção do autor, mas isto me lembrou uma aula sobre ficção. Ficção é como um centauro. Centauros existem? Não. Mas o cavalo e o homem existem. Ficção nada mais é do que usar objetos e seres existentes para criar algo inexistente.

Gostei do livro e recomendo a leitura. Apesar de ser preto e branco na frente, sua parte de trás é colorida. Acredito que as crianças irão gostar. E adultos também. Pelo menos, aqueles que têm coração de criança e a imaginação de um dragão.



terça-feira, 4 de junho de 2024

Ajudante para o Cupido

 


O Dia dos Namorados é uma data comemorada por jovens e adultos. Mas não significa que a criança não pode curtir com um novo livro desta temática. 

                        O Cupido decidiu fazer uma competição para saber qual das aves seria o seu ajudante. Quem será que ganhou?

    Você pode encontrar este livro na Banca Sorriso, que fica na rua Senador Vergueiro, no Flamengo, próxima ao supermercado Ultra. Boa leitura!