Já fiz resenha dos contos
brasileiros. Então, por que não analisar os contos de suas tribos indígenas? Contos
Indígenas Brasileiros é uma coletânea feita por Daniel Munduruku, que é um
índio do povo Munduruku, em 2005. Farei um resumo de cada um dos oito contos do
livro e darei minha opinião no final. Comecemos:
Povo Munduruku
(Mito Tupi)
Do mundo do centro
da Terra ao mundo de cima – Karú-Sakaibê, criador dos
animais, plantas, rios e montanhas, andava pelo mundo com seu companheiro e
ajudante, Rairu. Rairu acabou por fazer um desenho de tatu tão perfeito, que
ele usou resina de mel para colá-lo e assim ele nunca desapareceria. Para
secá-lo, ele o colocou debaixo da terra, com apenas o rabo do lado de fora. Mas
a mão de Rairu ficou grudada na cauda. Querendo desgrudar sua mão, ele deu vida
ao tatu. Porém, seu plano não deu certo e o animal cavou até o centro da Terra.
História que conta a origem do povo Munduruku e de alguns povos indígenas
vizinhos.
Povo Guarani (Mito
Guarani)
O roubo do fogo – Antigamente,
a posse do fogo pertencia aos urubus, que aproveitaram um dia em que o sol
estava fraquinho para retirarem algumas de suas brasas. Nenhum outro animal
possuía o fogo, até que Nhanderequeí, herói do povo Apopocúva, fez um plano
junto aos outros animais para roubá-lo dos urubus. Não tem como ler essa
história sem lembrar de Prometeu, da mitologia grega, que roubou o fogo para os
homens. Uma das interpretações sugere que o fogo era na verdade a sabedoria ou
a inteligência que foi dada somente aos homens pois nenhum outro ser vivo
possui um intelecto como o nosso. Neste conto também pode se ter essa leitura.
Povo Nambikwara
(Mito Nambikwara)
A pele nova da
mulher velha – Há muito tempo, havia uma senhora que por
ser tão velha, todos se afastaram dela. Um dia ela sonhou que era jovem de novo,
cheia de enfeites, cuja única coisa que a deixava triste era não ter penas para
fazer um cocar. Achando que isso era uma mensagem, ela mandou um jovem que ia
passar a noite em sua casa encontrar um tucano para fazer o seu cocar... Conto
com uma proposta interessante, mas decepciona no final.
Povo Karajá (Mito
Karajá)
Por que o sol anda
tão devagar? – Há muito tempo atrás, a Terra era um
planeta escuro e frio, deixando os homens Karajá muito preguiçosos, inclusive o
herói Cananxiuê. Depois da insistência do sogro, dos animais e da esposa,
Cananxiuê foi resolver o problema, trazendo o sol para todos. Mas descobriu que
tanto o sol quanto a lua e a estrela vespertina estavam em posse de Ranranresá,
o urubu-rei. Então, ele teve uma ideia... A história me lembrou a do Roubo
do fogo, não só por ter urubus na posse de algo flamejante como também o
plano para conseguir tomar o objeto. Mas o final é diferente, porque ao
contrário do fogo, a humanidade não possui controle do sol.
Povo Terena (Mito
Terena)
A origem do fumo – Uma
mulher não gostava do seu marido. Então, fez um feitiço contra ele, colocando seu
sangue na árvore de caraguatá e dando o broto para o marido comer. O homem
passou mal e o filho acabou revelando que foi a esposa que fez isso. Irritado,
o marido deu o troco, deixando a mulher furiosa atrás dele, para matá-lo. O
conto tem o mesmo nível fantasioso dos outros, mas não me entreteve tanto.
Fiquei curiosa em saber o motivo pelo qual a mulher odiava o marido. Parece que
a história quer que a gente ache ela má pelo modo animalesco dela na
perseguição e por ser uma feiticeira.
Povo Kaingang
(Mito Kaingang)
Depois do dilúvio
– Há muito tempo atrás, houve um grande dilúvio, cuja
única coisa que ficou fora do alcance das águas foi o pico da serra Crinjijimbê.
Várias pessoas morreram, e seus espíritos fizeram do centro da serra a sua
morada. Os sobreviventes que ficaram no pico foram salvos depois de vários dias
pelas aves saracuras, que fizeram um grande dique junto com as outras aves, o que
fez com que os humanos pudessem passar e as águas irem em direção ao rio Paraná.
Após isso, os espíritos que foram para o centro da Terra reapareceram e
formaram os Kaiurucré e os Kamé. Ambos os povos ajudaram a criar os animais do
planeta. Além dessa história, as mitologias grega e cristã também relatam sobre
um dilúvio. Com tantos povos mencionando-o, me pergunto se realmente não
ocorreu um.
Povo Tukano (Mito
Tukano)
A proeza do
caçador contra o curupira – Um caçador estava com
muita má sorte de pegar uma caça para alimentar sua família. Só havia
conseguido pegar um pequeno macaco. E ainda por cima, a noite havia chegado, e
com ela, o curupira estaria espreitando a procura de caçadores que tenham feito
mal aos seus animais. Não tenho muito a dizer. É um bom conto.
Povo Taulipang
(Mito Taulipang)
A onça valentona e
o raio poderoso – A onça se achava o animal mais poderoso.
Um dia, ela encontrou um homem, que estava preparando um bastão, próximo à
beira de um rio. Ela chegou rapidamente, mas antes de tentar devorá-lo,
resolveu se exibir. Nunca subestime seu oponente.
É um bom livro. Rápido de ler, com glossário no final de
cada conto para tirar dúvida de certas palavras. Se deseja conhecer algumas
histórias das tribos indígenas brasileiras, recomendo a sua leitura. Só não
deixe que os urubus o tomem de você.

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