O Fantasma da Ópera
é um clássico do teatro musical. Vocês sabiam que ele foi adaptado de um romance?
Sua publicação foi serializada no jornal Le Gaulois de setembro de1909 a
janeiro de 1910, sendo lançado em livro três meses depois. Foi escrito pelo
francês Gaston Leurox, que usou como inspiração acontecimentos históricos ocorridos
na Ópera de Paris no século XIX, com a descoberta de um cadáver em 1907 e a
queda de um lustre em 1896. Também se inspirou na lenda de um pianista que
sobreviveu a um incêndio de 1873 e se refugiou no andar de baixo do teatro para
esconder suas queimaduras. A junção desses elementos pode dar uma boa história.
Será que o autor entregou? Vamos descobrir.
Há uma lenda de um fantasma circulando pela Ópera de
Paris, causando vários acidentes e assustando as dançarinas e trabalhadores. Enquanto
isso, Christine Daaé se destaca em sua música. Ela chamou a atenção do jovem
Visconde Raoul, que esperou que a moça ficasse sozinha para falar com ela.
Porém, ele a ouviu conversando com um homem em seu camarim. Quando Christine
saiu, Raoul entrou para encarar o seu rival. Mas não encontrou ninguém...
A estrutura do livro lembra um pouco a do Drácula,
em que a história é contada através de memórias escritas e entrevista de
personagens. A diferença é que aqui, elas são recolhidas por um investigador do
caso, cujo nome é o mesmo do autor. Ele é o narrador que junta toda informação para
formar uma narrativa coesa. Leurox (o personagem) também complementa usando
notas de rodapé. Por ser conhecido na França como um escritor de romances investigativos,
como O Mistério do Quarto Amarelo de 1907, faz sentido que o escritor
utilize desses recursos na contação de sua obra. Uma pena que por causa da peça
de teatro, a revelação de que o fantasma era um homem faz com que o romance
perca seu mistério.
Quanto aos personagens, diria que o triângulo amoroso
poderia ter sido melhor. Christine é ingênua e boazinha demais, sentia pena do
fantasma apesar deste ter se mostrado um assassino louco. Apesar disso, se não
fosse seu bom coração, a história e o desfecho não teriam acontecido. Raoul era
para ter sido o mocinho cujos leitores deveriam torcer para que Christine
ficasse no final, mais sua personalidade infantil, ultrarromântica e ciumenta
fez com que achasse o personagem chato e me fez querer que a moça não ficasse
com nenhum dos dois. O fantasma é um vilão cartunesco que você sente prazer ao
vê-lo derrotado. Um gênio das maquinarias e da arte que teria sido bem aclamado
se não parecesse um zumbi com olhos amarelos que brilham no escuro. Seu passado
explica o porquê dele não sente nada ao matar. Mas isso não justifica suas ações
e dá para entender o motivo de Christine não querer ficar com ele, pois além de
sua aparência horrorosa, era maligno. Um quarto protagonista que foi
introduzido no momento do perigo e que a adaptação musical cortou por
considerar um estereótipo racista é o Persa, o que é uma pena pois achei ele o
melhor personagem devido ao seu passado com o fantasma. Há também o “drama” dos
novos diretores, Richard e Moncharmin, tentando descobrir a identidade do
fantasma, que sai um pouco da parte séria e vai para um tom mais leve da trama.
Há muitas diferenças entre o livro e o musical. Além da
aparência do fantasma, que mencionei acima, que no musical aparece só com
metade do rosto deformado, sua icônica máscara é preta no livro enquanto no
musical é branca. Christine é sueca e descrita como loira enquanto suas
adaptações a retratam como morena. A senhora Giry, que é a lanterninha que
recebe gorjeta do fantasma por fazer favores, mas nunca o viu pessoalmente, virou
professora de balé e tomou o lugar do Persa na adaptação teatral. E, é claro,
muito da história foi encurtado e várias outras modificações foram feitas, como
Christine sentindo atração romântica pelo fantasma no musical.
Apesar das minhas ressalvas com relação ao triângulo
amoroso, o livro me entreteve. Recomendo aos fãs de literatura gótica
romântica. Só não entrem no Camarote Cinco.

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