sexta-feira, 17 de outubro de 2025

O Fantasma da Ópera

 


                O Fantasma da Ópera é um clássico do teatro musical. Vocês sabiam que ele foi adaptado de um romance? Sua publicação foi serializada no jornal Le Gaulois de setembro de1909 a janeiro de 1910, sendo lançado em livro três meses depois. Foi escrito pelo francês Gaston Leurox, que usou como inspiração acontecimentos históricos ocorridos na Ópera de Paris no século XIX, com a descoberta de um cadáver em 1907 e a queda de um lustre em 1896. Também se inspirou na lenda de um pianista que sobreviveu a um incêndio de 1873 e se refugiou no andar de baixo do teatro para esconder suas queimaduras. A junção desses elementos pode dar uma boa história. Será que o autor entregou? Vamos descobrir.

            Há uma lenda de um fantasma circulando pela Ópera de Paris, causando vários acidentes e assustando as dançarinas e trabalhadores. Enquanto isso, Christine Daaé se destaca em sua música. Ela chamou a atenção do jovem Visconde Raoul, que esperou que a moça ficasse sozinha para falar com ela. Porém, ele a ouviu conversando com um homem em seu camarim. Quando Christine saiu, Raoul entrou para encarar o seu rival. Mas não encontrou ninguém...

            A estrutura do livro lembra um pouco a do Drácula, em que a história é contada através de memórias escritas e entrevista de personagens. A diferença é que aqui, elas são recolhidas por um investigador do caso, cujo nome é o mesmo do autor. Ele é o narrador que junta toda informação para formar uma narrativa coesa. Leurox (o personagem) também complementa usando notas de rodapé. Por ser conhecido na França como um escritor de romances investigativos, como O Mistério do Quarto Amarelo de 1907, faz sentido que o escritor utilize desses recursos na contação de sua obra. Uma pena que por causa da peça de teatro, a revelação de que o fantasma era um homem faz com que o romance perca seu mistério.

            Quanto aos personagens, diria que o triângulo amoroso poderia ter sido melhor. Christine é ingênua e boazinha demais, sentia pena do fantasma apesar deste ter se mostrado um assassino louco. Apesar disso, se não fosse seu bom coração, a história e o desfecho não teriam acontecido. Raoul era para ter sido o mocinho cujos leitores deveriam torcer para que Christine ficasse no final, mais sua personalidade infantil, ultrarromântica e ciumenta fez com que achasse o personagem chato e me fez querer que a moça não ficasse com nenhum dos dois. O fantasma é um vilão cartunesco que você sente prazer ao vê-lo derrotado. Um gênio das maquinarias e da arte que teria sido bem aclamado se não parecesse um zumbi com olhos amarelos que brilham no escuro. Seu passado explica o porquê dele não sente nada ao matar. Mas isso não justifica suas ações e dá para entender o motivo de Christine não querer ficar com ele, pois além de sua aparência horrorosa, era maligno. Um quarto protagonista que foi introduzido no momento do perigo e que a adaptação musical cortou por considerar um estereótipo racista é o Persa, o que é uma pena pois achei ele o melhor personagem devido ao seu passado com o fantasma. Há também o “drama” dos novos diretores, Richard e Moncharmin, tentando descobrir a identidade do fantasma, que sai um pouco da parte séria e vai para um tom mais leve da trama.

            Há muitas diferenças entre o livro e o musical. Além da aparência do fantasma, que mencionei acima, que no musical aparece só com metade do rosto deformado, sua icônica máscara é preta no livro enquanto no musical é branca. Christine é sueca e descrita como loira enquanto suas adaptações a retratam como morena. A senhora Giry, que é a lanterninha que recebe gorjeta do fantasma por fazer favores, mas nunca o viu pessoalmente, virou professora de balé e tomou o lugar do Persa na adaptação teatral. E, é claro, muito da história foi encurtado e várias outras modificações foram feitas, como Christine sentindo atração romântica pelo fantasma no musical.

            Apesar das minhas ressalvas com relação ao triângulo amoroso, o livro me entreteve. Recomendo aos fãs de literatura gótica romântica. Só não entrem no Camarote Cinco.


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