quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

O Segredo do Kelpie



          Encontrei esse livro na Bienal do livro que teve no Rio no ano passado. Dessa vez, tinha ido com o objetivo de assistir uma palestra e não comprar livros, mas não resisti ao impulso. O título me interessou pois já sabia que o kelpie era um ser da mitologia celta e um livro sobre ele me deixou curiosa. O Segredo do Kelpie foi lançado pela Editora Draco, cuja tenda estava lá, e foi escrito por Aya Imaeda, que também estava lá junto com outros autores da editora, e, é claro, que aproveitei para tirar uma foto e pegar seu autógrafo. 

           Kelpies são criaturas com aparência de cavalo que vivem no rio, atraindo humanos para comê-los, deixando apenas o fígado. Eles também atraem moças com quem desejam se casar e as levam para um lugar misterioso. O kelpie dessa história não teve essa sorte, pois ao tentar levar uma humana como noiva, acabou por se tornar seu escravo. 

            O kelpie não era só um monstro, mas sim um monstro devorador de homens e ele aos poucos entendendo que a vida desses seres que eram dotados de tanta inteligência quanto a sua era importante conforme ele ia se apaixonando por sua captora foi uma premissa que me atraiu. Porém, senti que houve uma perda de oportunidade. Queria que a história mostrasse uma semelhança entre o kelpie e o ser humano, na questão da maldade. A única vez que houve esse tipo de questionamento foi quando uma selkie fala da semelhança entre o protagonista kelpie e o humano que a capturou e obrigou-a a ser sua esposa. Não queria que só apontassem os erros dele. Resumindo, gostaria que tivesse o embate de quem é o verdadeiro monstro, o kelpie ou o ser humano?

          Quanto a mitologia celta, a história apresenta vários seres além do kelpie: trowes (trolls), brownies (não o doce, mas sim duendes domésticos que habitam casas e fazem serviços enquanto seus habitantes dormem), selkies (mulheres foca, as sereias da mitologia celta), banshees (fadas que anunciam a morte) e mais um que se eu falar seria um spoiler, mas que eu confirmei ser parte dessa mitologia. Achei a apresentação deles interessante, sendo que dois deles eu nunca tinha ouvira falar. Os changelings (crianças trocadas) também aparecem, mas aparentemente são da mesma espécie dos trowes. Sempre achei que fossem seres separados, mas pelo que pesquisei, eles podem ser fadas, trolls e outras criaturas mágicas que foram trocadas e postas em um lugar de um recém-nascido. Em um conto que eu escrevi chamado A moça que não ria, que está na coletânea do livro A pena mágica e outros contos, eles são uma espécie própria.

          O foco do livro é no kelpie, sendo ele o narrador, mas em alguns capítulos, a narradora é a Aileen, a humana que o capturou, normalmente para dar uma informação que o kelpie não foi capaz de dar ou descobrir, e é claro, para sabermos a opinião dela a respeito da situação. Tendo o kelpie como o foco principal, não pude deixar de notar semelhanças com o conto de A pequena sereia e do livro The Last Unicorn. No primeiro, pelo caso de o foco também ser em ser mágico que se apaixona por um humano e deseja virar humana para tentar ficar com ele, desistindo de sua imortalidade. No segundo, além de ambos serem criaturas equinas, os dois querem ir a um lugar para encontrar os de sua espécie, apesar de terem motivações diferentes para isso. O unicórnio busca descobrir onde estão os outros de sua espécie, e acaba se apaixonando por um humano, enquanto o kelpie queria ir para Tir nan Og com uma esposa humana, pois era para onde os outros de sua espécie haviam ido. E é claro, também se apaixona por essa humana.

          O livro é interessante para conhecer os seres da mitologia celta inseridos em uma história grande. Mas como já vi histórias similares a essa, não me surpreendeu muito. Acredito que pré-adolescentes e adolescentes que gostam de romance envolvendo seres mágicos vão gostar desse livro. Como a autora ainda é jovem e ainda está no começo de carreira, acredito que ela possa melhor conforme escreve. Para quem tem interesse, a autora tem um blog https://tocadofenrir.wordpress.com/




sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Fronteiras do Universo parte 3: O fim?




Antes de ir para o resumo, farei uma análise rápida do que achei do livro como objeto. Nos outros volumes, no começo de cada parágrafo, havia uma pequena imagem como ilustração que eu gostava e achava bonita.

Porém na Luneta Âmbar isso foi substituído por trechos, que se relacionavam com o capítulo, e só no último retornaria com a ilustração. Acho interessante essa ideia, mas preferia que o trecho fosse destacado de outro jeito, colocando ele no texto em itálico e não utilizando os quadradinhos das imagens que eu gostava tanto.

Lyra foi levada por sua mãe, a senhora Coulter, de volta para o seu mundo. Will vai à sua procura. Enquanto isso, há uma guerra acontecendo entre Lorde Asriel e seus aliados contra a Autoridade (Deus), e para isso ele precisa da faca, que está nas mãos de Will. Já estamos no último livro da trilogia, por isso não vou me conter nos spoilers.
Com relação àquela guerra entre ciência (o conhecimento) e religião (a ignorância), a ciência vence, e houve uma grande revelação sobre Deus, que na verdade era um anjo que enganou os anjos que vieram depois dele, dizendo ser seu criador e é claro, enganando também os humanos. O criador dos universos não existe. Como disse nas análises anteriores, não sou tão religiosa, por isso aceitei isso numa boa. Até achei interessante que o autor usasse elementos da Bíblia para se inspirar na hora de escrever sua história. Por exemplo o personagem Metatron, o anjo regente, aparece nas tradições judaicas e algumas cristãs, como mediador de Deus e dos seres humanos. A possibilidade de ele ter sido um homem, dito na Luneta Âmbar também não foi inventado, pois já havia essa possibilidade nas religiões ditas acima. Também houve base na mitologia grega, pois no mundo dos mortos há harpias, as mulheres meio pássaro e o barqueiro que conduz os mortos para uma ilha, lembrando o barqueiro Caronte.
Com relação ao título do romance, quase havia me esquecido que tinha uma luneta âmbar na história, pois ela aparece tão pouco, tendo sido criada pela doutora Malone e os mulefas (seres de outro universo, de aparência totalmente diferente da nossa, mas ainda assim inteligentes como nós), que comparado ao número de capítulos que ela aparece com o das crianças, é bem pouco. A luneta é usada para enxergar o pó.
Me surgiram dúvidas que o livro não respondeu, ou então eu é que perdi algo enquanto estavam lendo. Se for o segundo caso, por favor sintam-se à vontade para respondê-las:  Por que só os dimons de Lyra e Will estavam perto da fortaleza de Lorde Asriel? Os galivespianos que estavam com as crianças no mundo dos mortos também deixaram algo para trás (o que seriam seus dimons) quando pegaram o barco para encontrar os fantasmas. Eles não deveriam estar esperando por eles também? Isso aconteceu devido a eles não serem humanos? Ou por que o tempo de vida deles estava acabando? Por que os fantasmas que foram lutar na guerra não desapareceram ao saírem do mundo dos mortos se foi comprovado que era isso que acontecia? A profecia disse que Lyra acabaria com o destino, mas na hora que ela e Will estavam argumentando um modo de se encontrar sem causar danos a nenhum dos mundos, o anjo que estava com eles disse que o destino não podia ser detido. Como assim?!
Das personagens da trilogia, as que eu acabei mais gostando foram Mary Malone e, por incrível que pareça, a senhora Coulter. A primeira é uma cientista, e ainda por cima ex-freira que pesquisava sobre o Pó, que acaba se envolvendo na aventura. Gostei da personalidade determinada dela e seu interesse em aprender. A segunda foi algo misto, pois eu a odiava desde o primeiro livro, mas sabe aquele ódio que você tem de um vilão, porém ao mesmo tempo você acha ele fascinante? Foi esse o caso. Desde a primeira aventura, você fica sem saber se ela é completamente má e falsa ou se tem ainda algum carinho por alguém. Achei ela fascinante, e até senti pena do que aconteceu com ela no final. Já os protagonistas (ou pelo menos os que tinha mais foco, pois o livro tinha vários capítulos com o foco em outros personagens) Will e Lyra, gostei da relação dos dois apesar de Lyra não ter nenhuma ação de combate como Will, mas uma garota não precisa utilizar força bruta para ser interessante. Eles se complementam bem, sendo Will um garoto sério, mais controlado e Lyra mais falante e ousada. Senti a tristeza deles quando cada um foi para o seu mundo, sem nunca mais poder ver um ao outro.
No geral, a história foi bem interessante. Claro que gostaria que as perguntas que falei acima fossem respondidas, além de preferir que o clímax do final fosse a guerra e não o padre Gomez tentando matar Lyra. E é claro, queria que o casalzinho ficasse junto. Mas ouvi falar que além de estrear uma série no BBC das Fronteiras do Universo, o autor Philip Pullman iria escrever uma outra trilogia relacionada a esses livros. Então, talvez ainda tenha uma possibilidade de um final mais feliz. Bem, o que nos resta é esperar.