Encontrei esse livro na Bienal do livro que teve no Rio no ano passado. Dessa vez, tinha ido com o objetivo de assistir uma palestra e não comprar livros, mas não resisti ao impulso. O título
me interessou pois já sabia que o kelpie era um ser da mitologia celta e um
livro sobre ele me deixou curiosa. O
Segredo do Kelpie foi lançado pela Editora
Draco, cuja tenda estava lá, e foi escrito por Aya Imaeda, que também
estava lá junto com outros autores da editora, e, é claro, que aproveitei para
tirar uma foto e pegar seu autógrafo.
Kelpies são
criaturas com aparência de cavalo que vivem no rio, atraindo humanos para
comê-los, deixando apenas o fígado. Eles também atraem moças com quem desejam
se casar e as levam para um lugar misterioso. O kelpie dessa história não teve
essa sorte, pois ao tentar levar uma humana como noiva, acabou por se tornar
seu escravo.
O kelpie não era só um monstro, mas sim um monstro
devorador de homens e ele aos poucos entendendo que a vida desses seres que
eram dotados de tanta inteligência quanto a sua era importante conforme ele ia
se apaixonando por sua captora foi uma premissa que me atraiu. Porém, senti que
houve uma perda de oportunidade. Queria que a história mostrasse uma semelhança
entre o kelpie e o ser humano, na questão da maldade. A única vez que houve
esse tipo de questionamento foi quando uma selkie fala da semelhança entre o
protagonista kelpie e o humano que a capturou e obrigou-a a ser sua esposa. Não
queria que só apontassem os erros dele. Resumindo, gostaria que tivesse o
embate de quem é o verdadeiro monstro, o kelpie ou o ser humano?
Quanto a mitologia celta, a história apresenta vários
seres além do kelpie: trowes (trolls), brownies (não o doce, mas sim duendes
domésticos que habitam casas e fazem serviços enquanto seus habitantes dormem),
selkies (mulheres foca, as sereias da mitologia celta), banshees (fadas que anunciam a morte) e mais um que se eu falar seria
um spoiler, mas que eu confirmei ser parte dessa mitologia. Achei a
apresentação deles interessante, sendo que dois deles eu nunca tinha ouvira falar. Os changelings (crianças trocadas) também aparecem, mas
aparentemente são da mesma espécie dos trowes. Sempre achei que fossem seres
separados, mas pelo que pesquisei, eles podem ser fadas, trolls e outras
criaturas mágicas que foram trocadas e postas em um lugar de um recém-nascido.
Em um conto que eu escrevi chamado A moça
que não ria, que está na coletânea do livro A pena mágica e outros contos, eles são uma espécie própria.
O foco do livro é no kelpie, sendo ele o narrador, mas em
alguns capítulos, a narradora é a Aileen, a humana que o capturou, normalmente
para dar uma informação que o kelpie não foi capaz de dar ou descobrir, e é
claro, para sabermos a opinião dela a respeito da situação. Tendo o kelpie como
o foco principal, não pude deixar de notar semelhanças com o conto de A pequena sereia e do livro The Last Unicorn. No primeiro, pelo caso
de o foco também ser em ser mágico que se apaixona por um humano e deseja virar
humana para tentar ficar com ele, desistindo de sua imortalidade. No segundo,
além de ambos serem criaturas equinas, os dois querem ir a um lugar para encontrar
os de sua espécie, apesar de terem motivações diferentes para isso. O unicórnio
busca descobrir onde estão os outros de sua espécie, e acaba se apaixonando
por um humano, enquanto o kelpie queria ir para Tir
nan Og com uma esposa humana, pois era para onde os outros de sua espécie
haviam ido. E é claro, também se apaixona por essa humana.
O livro é interessante para conhecer os seres da
mitologia celta inseridos em uma história grande. Mas como já vi histórias
similares a essa, não me surpreendeu muito. Acredito que pré-adolescentes e
adolescentes que gostam de romance envolvendo seres mágicos vão gostar desse
livro. Como a autora ainda é jovem e ainda está no começo de carreira, acredito
que ela possa melhor conforme escreve. Para quem tem interesse, a autora
tem um blog https://tocadofenrir.wordpress.com/