Enraizados
foi escrito por Naomi Novik, nascida em Nova York, Estados Unidos. Ela foi indicada
para o prêmio Hugo para melhor
romance em 2007 e 2016, e ganhou o prêmio Nebula por melhor romance em 2016
pelo livro dessa resenha. Também escreveu outros livros como O dragão de Sua Majestade e suas
continuações.
Uma menina de
dezessete anos nascida depois do mês de outubro é escolhida como sacrifício
para um dragão. Só que não é dragão, mas sim um mago que protege as aldeias dos
perigos da floresta. Ele não a devora e dez anos depois ela é solta, só que
mudada, e assim ele escolhe a próxima. A amiga da desajeitada Agnieska, Kasia é
a escolha mais provável, não apenas por possuir tamanha beleza, mas também pelo
jeito calmo e elegante. Porém, todos de sua cidade estavam enganados. Adivinha
quem ele escolheu?
Bem, se a história é narrada pela própria Agnieska, já
fica entendido de que ela foi a escolhida. E foi mesmo. No início, senti uma
semelhança com O Castelo Animado*, em
que a protagonista Sophie, devido a certas circunstâncias, vai para um castelo
de um bruxo e acaba trabalhando para ele. É claro que, no caso de Agnieska, ela é obrigada a ir enquanto Sophie foi por
vontade própria, pois não tendo para onde ir após ter sido transformada em uma
idosa pela Bruxa do Desperdício, não podendo contar a ninguém sobre o feitiço. Outra
semelhança é a da protagonista ter uma relação de brigas com o bruxo, e mesmo
assim perceber que ele não é uma pessoa tão ruim quanto imaginava e no final se
apaixonar por ele. Em Enraizados, isso
não acontece no final. Foi antes de acabar a primeira metade. Apesar do casal
ser daqueles que brigam muito um com o outro ser um clichê e eu já ter enjoado
disso, por algum motivo, acabei gostando da dinâmica de Agnieska e do Dragão.
Lia muito sobre esse tipo de casal em mangás shoujo (revistas japonesas para
meninas) na adolescência e ver isso no livro, me fez me sentir de novo com
catorze anos, torcendo para que os dois fiquem juntos e tenham mais momentos
fofos. A personalidade do Dragão também me fez lembrar dos mocinhos dessas
revistas: o cara que xinga a protagonista, achando-a uma desgraça, até passar
vários dias conhecendo-a e ir apaixonando por ela, mas continuar fazendo esses
atos para esconder seus verdadeiros sentimentos. Isso acabou aflorando a
adolescente em mim.
A outra relação importante no livro é a de Agnieska e
Kasia, que infelizmente, não me atraiu muito. Isso me decepcionou um pouco,
pois Agnieska demonstrava se importar muito com a amiga, apesar de invejar suas
qualidades. Como Agnieska é a narradora da história, sabemos desses sentimentos
que ela nutre por Kasia. Mas senti que não houve muito diálogo que demonstrasse
a personalidade de Kasia. Ela é descrita como calma e corajosa, porém queria
mais que isso. Sei que no livro é revelado [SPOILER:
que ela também sente inveja de Agnieska e que ela, depois de anos sendo
preparada para ser levada pelo bruxo, acabou ficando em casa, sendo tudo isso
para nada, perdendo seu objetivo de vida.]
Isso foi interessante, mas sua personalidade, ou a falta dela, incluindo o fato
dela não ser tão focada quanto o Dragão, me fez não ligar muito para ela. E
isso foi um problema pois na segunda metade do livro [SPOILER: o foco é de defender ela no julgamento na capital, devido
àqueles que são corrompidos pela floresta terem que ser queimados e mortos.
Sendo que o Dragão não pode sair da torre e Agnieska teve que ir sem ele,
deixando o livro mais sem graça para mim.]
E mesmo assim, senti que houve muito pouco dela. A autora deveria ter feito
alguns capítulos em que Kasia fosse a narradora, pois não só enriqueceria o
livro com mais um ponto de vista, mas também seria a oportunidade perfeita para
saber o que ela pensa e dar mais alguma personalidade para ela (quem sabe mais
inseguranças que ela tenta esconder sob as aparências, ou a opinião dela sobre
as pessoas ao seu redor).
Uma curiosidade: a autora mencionou um personagem do
folclore russo-polonês, a Baba Yaga (Baba Jaga no livro), que também era uma
bruxa, tendo seu próprio livro de feitiços, sendo esse de muita utilidade para
a heroína. Gosto quando os autores usam personagens do folclore para enriquecer
sua história, principalmente quando ela é baseada em contos da região do
personagem mencionado.
Indo para a história, Enraizados
é um título que representa bem o que está acontecendo, pois a Floresta é a
antagonista (en – raiz – ados), além de ter um segundo significado que é
o de estar fixo, que ao ler o romance se descobrirá onde este termo se encaixa.
Essa coisa da floresta ser a inimiga do povo parece ser uma daquelas histórias
de não poder mexer muito com a natureza ou ela se vingará de você. E é mais ou
menos isso nesse livro. Como assim mais ou menos? Bom, pode se dizer que há
também uma briga de culturas, não vou dizer quais.
De maneira geral, gostei do livro, principalmente da
primeira metade que me prendeu e me fazia voltar e ler mais um capítulo. O
começo da segunda metade foi mais chatinho até a chegada do clímax. Se você
conseguir ultrapassar a barreira de certos clichês, embarque nessa história que
pode te dar frutos para uma boa distração.
*Para mais informações acesse http://ponteparaoimaginario.blogspot.com.br/2017/05/howls-moving-castle-o-castelo-animado.html