sexta-feira, 20 de abril de 2018

Arrancando o mal pela raiz




        Enraizados foi escrito por Naomi Novik, nascida em Nova York, Estados Unidos. Ela foi indicada para o prêmio Hugo para melhor romance em 2007 e 2016, e ganhou o prêmio Nebula por melhor romance em 2016 pelo livro dessa resenha. Também escreveu outros livros como O dragão de Sua Majestade e suas continuações.
            Uma menina de dezessete anos nascida depois do mês de outubro é escolhida como sacrifício para um dragão. Só que não é dragão, mas sim um mago que protege as aldeias dos perigos da floresta. Ele não a devora e dez anos depois ela é solta, só que mudada, e assim ele escolhe a próxima. A amiga da desajeitada Agnieska, Kasia é a escolha mais provável, não apenas por possuir tamanha beleza, mas também pelo jeito calmo e elegante. Porém, todos de sua cidade estavam enganados. Adivinha quem ele escolheu?
            Bem, se a história é narrada pela própria Agnieska, já fica entendido de que ela foi a escolhida. E foi mesmo. No início, senti uma semelhança com O Castelo Animado*, em que a protagonista Sophie, devido a certas circunstâncias, vai para um castelo de um bruxo e acaba trabalhando para ele. É claro que, no caso de Agnieska, ela é obrigada a ir enquanto Sophie foi por vontade própria, pois não tendo para onde ir após ter sido transformada em uma idosa pela Bruxa do Desperdício, não podendo contar a ninguém sobre o feitiço. Outra semelhança é a da protagonista ter uma relação de brigas com o bruxo, e mesmo assim perceber que ele não é uma pessoa tão ruim quanto imaginava e no final se apaixonar por ele. Em Enraizados, isso não acontece no final. Foi antes de acabar a primeira metade. Apesar do casal ser daqueles que brigam muito um com o outro ser um clichê e eu já ter enjoado disso, por algum motivo, acabei gostando da dinâmica de Agnieska e do Dragão. Lia muito sobre esse tipo de casal em mangás shoujo (revistas japonesas para meninas) na adolescência e ver isso no livro, me fez me sentir de novo com catorze anos, torcendo para que os dois fiquem juntos e tenham mais momentos fofos. A personalidade do Dragão também me fez lembrar dos mocinhos dessas revistas: o cara que xinga a protagonista, achando-a uma desgraça, até passar vários dias conhecendo-a e ir apaixonando por ela, mas continuar fazendo esses atos para esconder seus verdadeiros sentimentos. Isso acabou aflorando a adolescente em mim.
            A outra relação importante no livro é a de Agnieska e Kasia, que infelizmente, não me atraiu muito. Isso me decepcionou um pouco, pois Agnieska demonstrava se importar muito com a amiga, apesar de invejar suas qualidades. Como Agnieska é a narradora da história, sabemos desses sentimentos que ela nutre por Kasia. Mas senti que não houve muito diálogo que demonstrasse a personalidade de Kasia. Ela é descrita como calma e corajosa, porém queria mais que isso. Sei que no livro é revelado [SPOILER: que ela também sente inveja de Agnieska e que ela, depois de anos sendo preparada para ser levada pelo bruxo, acabou ficando em casa, sendo tudo isso para nada, perdendo seu objetivo de vida.] Isso foi interessante, mas sua personalidade, ou a falta dela, incluindo o fato dela não ser tão focada quanto o Dragão, me fez não ligar muito para ela. E isso foi um problema pois na segunda metade do livro [SPOILER: o foco é de defender ela no julgamento na capital, devido àqueles que são corrompidos pela floresta terem que ser queimados e mortos. Sendo que o Dragão não pode sair da torre e Agnieska teve que ir sem ele, deixando o livro mais sem graça para mim.] E mesmo assim, senti que houve muito pouco dela. A autora deveria ter feito alguns capítulos em que Kasia fosse a narradora, pois não só enriqueceria o livro com mais um ponto de vista, mas também seria a oportunidade perfeita para saber o que ela pensa e dar mais alguma personalidade para ela (quem sabe mais inseguranças que ela tenta esconder sob as aparências, ou a opinião dela sobre as pessoas ao seu redor).
            Uma curiosidade: a autora mencionou um personagem do folclore russo-polonês, a Baba Yaga (Baba Jaga no livro), que também era uma bruxa, tendo seu próprio livro de feitiços, sendo esse de muita utilidade para a heroína. Gosto quando os autores usam personagens do folclore para enriquecer sua história, principalmente quando ela é baseada em contos da região do personagem mencionado.
            Indo para a história, Enraizados é um título que representa bem o que está acontecendo, pois a Floresta é a antagonista (en – raiz – ados), além de ter um segundo significado que é o de estar fixo, que ao ler o romance se descobrirá onde este termo se encaixa. Essa coisa da floresta ser a inimiga do povo parece ser uma daquelas histórias de não poder mexer muito com a natureza ou ela se vingará de você. E é mais ou menos isso nesse livro. Como assim mais ou menos? Bom, pode se dizer que há também uma briga de culturas, não vou dizer quais.
            De maneira geral, gostei do livro, principalmente da primeira metade que me prendeu e me fazia voltar e ler mais um capítulo. O começo da segunda metade foi mais chatinho até a chegada do clímax. Se você conseguir ultrapassar a barreira de certos clichês, embarque nessa história que pode te dar frutos para uma boa distração.  




*Para mais informações acesse http://ponteparaoimaginario.blogspot.com.br/2017/05/howls-moving-castle-o-castelo-animado.html

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