sábado, 29 de setembro de 2018

Antes das Fronteiras do Universo...



            La Belle Sauvage é o primeiro livro da nova trilogia O Livro das Sombras de Philip Pullman e é considerado uma prequel (algo que aconteceu anteriormente) da trilogia das Fronteiras do Universo.
            Malcolm é um menino de onze anos que ajuda os seus pais na estalagem, que fica próxima a um convento de freiras. Ele tem muito contato com elas, ajudando-as de vez em quando. O garoto também se dedica a cuidar de sua canoa, a Belle Sauvage, a qual usa para navegar pelo rio. Na estalagem da A Truta se recebe vários tipos de hóspedes. Até que lorde Nugent, um ex- chanceler da Inglaterra, visita a estalagem e faz perguntas sobre as freiras ao menino e se por acaso ele as viu cuidando de um bebê.
            Uma curiosidade: Os livros da coleção Fronteiras do Universo mudaram de editora. Antes era a Objetiva e agora é a Suma de Letras da Companhia das Letras. Por isso não tem mais figuras no começo de cada capítulo (o que é uma pena, pois dava um charme ao texto), assim como a volta da palavra daemon, que tinha sido mudada para dimon nas versões mais recentes da Objetiva, que foi comprada por essa editora.
            Como é uma prequel, houve a volta de alguns personagens da trilogia anterior como o Lorde Asriel, a senhora Coulter, Farder Coram e Hannah Relf. Esta última nem me lembrava, pois ela tinha aparecido tão brevemente na Bússola de Ouro e, se não me falha a memória, no final de A Luneta Âmbar. Só soube que era ela devido a uma pequena pesquisa que fiz. Apesar de não ser a protagonista, a doutora Relf teve uns capítulos sob o seu o ponto de vista e sua relação com Malcolm ajudou a dar uma caracterização na personagem, que não tinha antes devido ao pouco que ela apareceu nos volumes anteriores. Por falar em Malcolm, ele também não é um personagem novo. Ele apareceu na novela A Oxford de Lyra, lançada em 2003. Não posso dar muitos detalhes pois ainda não li esse livro, mas pelo resumo, vi que a história se passa depois dos acontecimentos da A Luneta Âmbar. Há outro livro da coleção chamado Once upon a time in the North, que aparentemente não foi traduzido para o nosso idioma. Esses livros fazem parte desse universo, mas não fazem parte de nenhuma das duas trilogias. São histórias extras.
Isso que estou escrevendo nesse parágrafo pode ser irrelevante, mas se a memória não me falha, a senhora Coulter era descrita com o cabelo negro na Bússola de Ouro e aqui ela tem cabelo loiro. Como esse livro é uma prequel, assumi que ela pintou o cabelo depois dos eventos desse romance.
            Não posso me esquecer que também há o retorno de Lyra, como um bebê, nesse romance. Ela não é a protagonista como nos outros livros por razões óbvias, mas toda a história gira em torno dela e como ela chegou na faculdade Jordan em Oxford. No começo, achei essa prequel desnecessária. O pai dela trabalha lá, mas viaja muito em suas pesquisas, não podendo levar a menina consigo e isso já era uma explicação suficiente para mim de ela ter sido criada lá. E porque achei a primeira metade do livro meio chata. Só na segunda metade para o final que começou a ficar mais excitante. Ainda mais com o acréscimo de Alice, uma garota de quinze anos que trabalha na estalagem dos pais de Malcolm, na jornada. Gostei de sua personalidade ranzinza, mas que esconde um bom coração por trás disso. Espero que ela apareça no segundo volume, apesar de ser difícil, pois foi revelado que este se passará vinte anos depois do acontecimento do primeiro.
             Algo que me confundiu um pouco foi o acréscimo de fadas e um gigante na história. Sei que no mundo de Lyra é comum a existência de feiticeiras que vivem mais de cem anos e tem corpinho de trinta, ursos polares que falam e usam armadura e os daemons, que são praticamente a alma de uma pessoa. Pelo que se deu a entender, esses seres que  mencionei no começo eram para serem considerados lendas, até que se provou o contrário durante a jornada. Achei que de alguma maneira, Malcolm havia sido transportado a outro mundo e não que estivesse no seu próprio. Pode até ser que ele tenha sido, pois não houve uma resposta quanto a isso. Outra coisa que achei confuso, foi a sobrevivência impossível de um homem, se é que ele não era realmente um espírito. Também não houve resposta.
            Outra curiosidade: Já foi confirmada uma série de Bússola de Ouro de acordo com esse site https://jovemnerd.com.br/nerdbunker/bussola-de-ouro-atriz-de-logan-sera-protagonista-da-serie/  em que Dafne Keen interpretará Lyra Belacqua. Agora é só esperar a estreia.
        Como disse anteriormente, o começo do romance não me atraiu muito. Eram poucas as novidades, devido a ter lido a trilogia anterior e plot de espionagem e organização secreta não me atraiu muito. Só no momento da fuga que houve mais ação e aventura e a evolução da relação entre Alice e Malcolm na jornada foi o que me atraiu mais para a obra. Mesmo assim recomendo a leitura para os fãs de Fronteiras do Universo. Se for um leitor novato, comece pela primeira trilogia para depois seguir com essa, pois algo que seria uma revelação na Bússola de Ouro, é um fato comum nesse. Embarque na Belle Sauvage e siga o fluxo.



sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Estática


                                               Nossas estações não mudam
                                               Bandidos camuflados
                                               Com conversas abordam.

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

O Grande Sertão Veredas: em quadrinhos



         Será que estou trapaceando? Afinal, esse não é o livro original, O Grande Sertão: Veredas, lançado em 1956, pelo autor João Guimarães Rosa, mas sim uma graphic novel, com roteiro adaptado do livro feito por Eloar Guazzelli Filho e ilustrado por Rodrigo Rosa. Mas no final das contas, uma história em quadrinhos consegue expor tudo do livro sem mudar sua essência? Antes de entrar nessa discussão, vou analisar a história.
            Riobaldo conta que em sua adolescência, havia se recuperado de uma doença braba. Então, a mãe o fez pagar uma promessa, que era pedir esmola até pagar uma missa. Em uma de suas idas, conhece Diadorim, que o leva para passear de canoa. Quando perdeu a mãe, foi viver em uma das posses de seu padrinho, onde recebeu educação e conheceu gente nova. Então, chega o bando do jagunço Joca Ramiro, negociando um abrigo...
            Primeiramente, tive que procurar o significado de jagunço para entender melhor o que estava sendo narrado, que é uma pessoa que servia de guarda-costas para políticos, e que também poderiam ser assassinos contratados por coronéis e governantes para realizar ameaças ou vinganças.
            Quando falam do livro, o que mais ouço é sobre o “romance homossexual” entre Riobaldo e Diadorim, e como Riobaldo tenta afastar esse sentimento se noivando de uma e tendo caso com outra, pois na época não era aceitável um relacionamento entre pessoas do mesmo sexo. Só quando descobre que Diadorim era mulher que ele admite para si mesmo esse sentimento, apesar de sabermos que não foi só pela beleza de Diadorim que o fez se sentir atraído por ela, mas pelo seu caráter e a camaradagem que tinham um com o outro. Porém, esse não é o foco do romance.
O principal tema da história são as batalhas do bando de Joca Ramiro. A primeira contra Zé Bebelo, um homem que queria entrar na política, sendo um de seus objetivos acabar com os jagunços. E a segunda é lidar com a traição de dois chefes e parceiros de Joca Ramiro, Hermógenes e Ricardão. Isso tudo dando conflito ao protagonista, que se vê dividido na primeira briga, pois ele foi professor de Zé Bebelo, mas se vê ao lado dos jagunços, pois Diadorim os convence a não o matar. Enquanto na segunda luta, ele via mais ainda o horror das mortes. Teve momentos em que Riobaldo queria fugir e tentava convencer Diadorim a ir com ele.
Respeito o autor por tentar dar características que distinguissem seus personagens, como o fato de Ricardão ser o homem que pensava nas finanças e ganhos de suas lutas enquanto Hermógenes era um sádico, e por mostrar que a maioria dos jagunços do bando de Joca Ramiro são unidos e leais uns aos outros, não sendo apenas um bando de mercenários.
Não posso comparar essa obra com a original, pois não li o livro, mas posso descrever o que senti ao ler o quadrinho. Antes de mais nada, as ilustrações são muito bem desenhadas, dando um aspecto sério e adulto à obra. A característica mais destacada dos textos do Guimarães Rosa, que é a criação de palavras foi mantida, já que encontrei palavras como opiniães e pertubosa ao longo da narrativa. Na nota dos editores, está escrito que eles tentaram o máximo preservar as características do texto original, porém tiveram que transformar parte da narrativa em diálogo. Por incrível que pareça, achei que precisavam ter feito mais disso.
A história em quadrinhos é conhecida por se comunicar com o público através das imagens e do diálogo entre os personagens, o que a faz mais parecida com uma novela televisiva, série ou filme do que com o romance. Ter narrador em histórias em quadrinhos e graphic novels não é incomum, principalmente se esse for um personagem. Mas ela não domina o quadrinho e não é maior que o número de diálogos. Isso mais a linguagem um pouco mais complicada do original, fez essa graphic novel ser mais pesada e menos fluída, como é na maior parte dos quadrinhos. Outra coisa que devo mencionar é a falta de pausas. Nos quadrinhos, tem sempre uma imagem pôster que é usada como divisória para marcar o fim de uma parte. Não sei se o livro original era dividido em capítulos, mas se não era, deveria ser muito cansativo de ler.
Então, é bom uma adaptação se manter leal ao texto original? Depende. Transferir algo literário para outro tipo de plataforma mantendo a essência do texto original, mas apresentando uma nova visão da história, é algo difícil. Foi uma boa tentativa mesmo assim. O quadrinho é uma boa forma para incentivar alguém a ler um clássico da literatura, pois normalmente o número de páginas é reduzido e as imagens podem atrair. Se a pessoa gostar da história, é bem capaz dela procurar ler a original. No meu caso, achei boa, porém a linguagem regionalista antiga do narrador me faz não querer ver o livro tão cedo.