sexta-feira, 7 de setembro de 2018

O Grande Sertão Veredas: em quadrinhos



         Será que estou trapaceando? Afinal, esse não é o livro original, O Grande Sertão: Veredas, lançado em 1956, pelo autor João Guimarães Rosa, mas sim uma graphic novel, com roteiro adaptado do livro feito por Eloar Guazzelli Filho e ilustrado por Rodrigo Rosa. Mas no final das contas, uma história em quadrinhos consegue expor tudo do livro sem mudar sua essência? Antes de entrar nessa discussão, vou analisar a história.
            Riobaldo conta que em sua adolescência, havia se recuperado de uma doença braba. Então, a mãe o fez pagar uma promessa, que era pedir esmola até pagar uma missa. Em uma de suas idas, conhece Diadorim, que o leva para passear de canoa. Quando perdeu a mãe, foi viver em uma das posses de seu padrinho, onde recebeu educação e conheceu gente nova. Então, chega o bando do jagunço Joca Ramiro, negociando um abrigo...
            Primeiramente, tive que procurar o significado de jagunço para entender melhor o que estava sendo narrado, que é uma pessoa que servia de guarda-costas para políticos, e que também poderiam ser assassinos contratados por coronéis e governantes para realizar ameaças ou vinganças.
            Quando falam do livro, o que mais ouço é sobre o “romance homossexual” entre Riobaldo e Diadorim, e como Riobaldo tenta afastar esse sentimento se noivando de uma e tendo caso com outra, pois na época não era aceitável um relacionamento entre pessoas do mesmo sexo. Só quando descobre que Diadorim era mulher que ele admite para si mesmo esse sentimento, apesar de sabermos que não foi só pela beleza de Diadorim que o fez se sentir atraído por ela, mas pelo seu caráter e a camaradagem que tinham um com o outro. Porém, esse não é o foco do romance.
O principal tema da história são as batalhas do bando de Joca Ramiro. A primeira contra Zé Bebelo, um homem que queria entrar na política, sendo um de seus objetivos acabar com os jagunços. E a segunda é lidar com a traição de dois chefes e parceiros de Joca Ramiro, Hermógenes e Ricardão. Isso tudo dando conflito ao protagonista, que se vê dividido na primeira briga, pois ele foi professor de Zé Bebelo, mas se vê ao lado dos jagunços, pois Diadorim os convence a não o matar. Enquanto na segunda luta, ele via mais ainda o horror das mortes. Teve momentos em que Riobaldo queria fugir e tentava convencer Diadorim a ir com ele.
Respeito o autor por tentar dar características que distinguissem seus personagens, como o fato de Ricardão ser o homem que pensava nas finanças e ganhos de suas lutas enquanto Hermógenes era um sádico, e por mostrar que a maioria dos jagunços do bando de Joca Ramiro são unidos e leais uns aos outros, não sendo apenas um bando de mercenários.
Não posso comparar essa obra com a original, pois não li o livro, mas posso descrever o que senti ao ler o quadrinho. Antes de mais nada, as ilustrações são muito bem desenhadas, dando um aspecto sério e adulto à obra. A característica mais destacada dos textos do Guimarães Rosa, que é a criação de palavras foi mantida, já que encontrei palavras como opiniães e pertubosa ao longo da narrativa. Na nota dos editores, está escrito que eles tentaram o máximo preservar as características do texto original, porém tiveram que transformar parte da narrativa em diálogo. Por incrível que pareça, achei que precisavam ter feito mais disso.
A história em quadrinhos é conhecida por se comunicar com o público através das imagens e do diálogo entre os personagens, o que a faz mais parecida com uma novela televisiva, série ou filme do que com o romance. Ter narrador em histórias em quadrinhos e graphic novels não é incomum, principalmente se esse for um personagem. Mas ela não domina o quadrinho e não é maior que o número de diálogos. Isso mais a linguagem um pouco mais complicada do original, fez essa graphic novel ser mais pesada e menos fluída, como é na maior parte dos quadrinhos. Outra coisa que devo mencionar é a falta de pausas. Nos quadrinhos, tem sempre uma imagem pôster que é usada como divisória para marcar o fim de uma parte. Não sei se o livro original era dividido em capítulos, mas se não era, deveria ser muito cansativo de ler.
Então, é bom uma adaptação se manter leal ao texto original? Depende. Transferir algo literário para outro tipo de plataforma mantendo a essência do texto original, mas apresentando uma nova visão da história, é algo difícil. Foi uma boa tentativa mesmo assim. O quadrinho é uma boa forma para incentivar alguém a ler um clássico da literatura, pois normalmente o número de páginas é reduzido e as imagens podem atrair. Se a pessoa gostar da história, é bem capaz dela procurar ler a original. No meu caso, achei boa, porém a linguagem regionalista antiga do narrador me faz não querer ver o livro tão cedo. 


             


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