Para comemorar esse Dia
das Bruxas, decidi ler algo que envolve o tema, com um dos monstros mais
conhecidos da humanidade. Carmilla, a vampira de Karnstein foi uma
história lançada junto a outros contos no livro In a Glass Darkly em 1872
e foi escrita pelo irlandês Joseph Sheridan Le Fanu. Além de ser uma das marcas
da literatura gótica, é dito que Carmilla serviu de inspiração para o Drácula
(1897) de Bram Stoker. Ainda não li o romance de Stoker, o que ajuda a analisar
o livro por si só sem comparações injustas com o famoso Drácula.
Laura é uma jovem solitária que vive num castelo afastado.
Em uma noite peculiar, uma carruagem bateu, com uma mãe e sua filha. A mãe
estava com pressa e como a filha não estava em condições de viajar, o pai de
Laura ofereceu a estadia. Com a promessa de buscar a filha daqui a três meses,
ela partiu. Ao ver o rosto da jovem pela primeira vez, Laura a reconhece de
algum lugar...
Pesquisando na internet, notei que em sua língua original
não há o subtítulo “a vampira de Karnstein”. Isso me incomodou pois já revela
uma informação que era para ser um mistério no começo do livro. Compreendo que
o livro foi lançado já há muito tempo, mas por não ser uma obra tão conhecida
quanto o Drácula, poderia permitir ao leitor que não conhece a história
de formar teorias em sua cabeça antes da verdade ser revelada.
A novela é composta de dezesseis capítulos e vai aos
poucos estabelecendo um ambiente de suspense, que te deixaria na dúvida se
Carmilla é mesmo a causadora ou uma das vítimas. Apesar dos acontecimentos
indicarem mais para o lado de que Carmilla é realmente uma vampira, sou o tipo
de leitora que esperaria um plot twist, então levaria os poucos sinais que
provam sua inocência em consideração se o subtítulo não revelasse a resposta. Só
fica na cara que Carmilla é uma vampira no capítulo onze.
Laura se mostra como uma jovem ingênua, pois até mesmo
com a coincidência do que foi revelado no capítulo onze com o que estava
acontecendo com ela, concluiu na hora como apenas uma coincidência. Mas como
vivia isolada, não me surpreende tal inocência e da preferência em confiar em
Carmilla, que considerava sua amiga.
O vampiro mostrado nessa história é um pouco diferente do
que conhecemos hoje. Primeiro, ele pode sair na luz o dia sem queimar (acredito
que foi dessa novela que o livro Crepúsculo tirou essa ideia de vampiros
andarem de boa na luz do sol, mas aqui eles não brilham); segundo, ele pode
passar por portas trancadas e assumir a forma de um ser peludo semelhante a um
gato. Porém, ainda possuem fraqueza de canções religiosas e estacas cravadas em
seu coração.
Há conotações de um relacionamento lésbico por parte de
Carmilla e Laura, e bem explícito no caso da primeira. Mas fica ambíguo se
Carmilla nutria algum sentimento por Laura e se isso fazia parta de sua
natureza vampira para atrair sua presa. O livro quer que você acredite que Carmilla
era apenas um monstro que tinha suas presas favoritas e por isso as demorava
para matar. Porém, essa informação é dada por terceiros e esse ato foi
comparado a uma pessoa apaixonada. O fato de todas as suas vítimas terem sido
mulheres também não foi explicado. Como a novela só entrega o ponto de vista de
Laura, nunca saberemos o que Carmilla realmente pensava. Quanto Laura, ela fala
do quanto adorava Carmilla e como esta a encantava por sua beleza e jeito de
ser, ao mesmo tempo que a deixava assustada, principalmente quando lhe dizia
coisas estranha, numa mistura de amante apaixonado com tema macabro.
A história me agradou, apesar de não ser fã do gênero e
por seu tamanho pequeno, sua leitura foi dinâmica e rápida. Recomendo a quem
goste de literatura de terror, principalmente os clássicos. Se não gostar,
ainda assim recomendo. É curta, mas perfeita para ler em uma noite de
Halloween.