sexta-feira, 29 de maio de 2020

Uma fábula política


         Peguei este livro não muito tempo depois de ter lido Flora Hen e coincidentemente, ambos possuem animais de fazenda que vivem em péssimas condições e desejam sair dessa vida. As semelhanças terminam aí. A Revolução dos Bichos foi escrita por George Orwell e lançada em 1945. Sua publicação foi difícil e até hoje é proibida em alguns países como China, Coréia do Norte e em países islâmicos devido a polêmicas. Veremos essas polêmicas após o resumo.

            Major, o porco mais respeitado pelos animais do fazendeiro Jones, fez uma reunião no celeiro pois estava com os dias contados. Ele esclarece o que aprendeu todos estes anos e de como os humanos são seres tiranos, que fazem pouco e vivem à custa dos outros animais, descartando-os quando perdem sua utilidade. Os bichos então declaram o homem como seu inimigo e começam uma revolução.

            De acordo com o posfácio de Christopher Hitchens, Orwell propôs a “análise da teoria de Marx do ponto de vista dos animais” ao escrever esta fábula satírica. E durante a leitura, isso é comprovado. Para quem estudou história verá que alguns personagens deste livro representam figuras conhecidas da época da Segunda Guerra Mundial, enquanto outros representam classes sociais. Como não tenho muito conhecimento destes detalhes, não me focarei muito neste tema.

            O livro possui muitos personagens que combinam com a narrativa proposta como Bola-de-Neve, o porco que acredita na igualdade dos animais da fazenda; Napoleão, o porco ditador que estabelece sua liderança pela manipulação e violência, representando Stalin; Garganta, porco pau-mandado que convence os outros pela lábia; Mimosa, a égua vaidosa que gostava de sua vida antiga de puxar charrete e usar fitas; Quitéria, a égua mais velha, sensata, mas não muito inteligente; Sansão, um cavalo forte de bom coração cuja inteligência é pouca, representa a classe operária; Benjamim, um burro  pessimista que não acredita que nada dá certo.

            A narrativa te dá apreensão, pois você vê o quanto os animais estão sendo enganados pelo seu líder e não percebem. Toda vez que estão prestes a descobrir algo, os poderosos dão um jeito de reverter a situação. O único que está ciente da situação, ironicamente, é o burro Benjamin. Porém ele é tão apático que nem se dá ao trabalho de contar aos outros. Ele só se intrometeu uma vez e foi uma das cenas mais tristes da história. Entender o que está acontecendo, mas não ser capaz de impedir é algo que a gente se identifica muito.

            Como fábula, A Revolução dos Bichos teria de ensinar a todos uma ou mais lições através dos animais. E na minha interpretação, esta lição foi: não importa o quão boa seja a sua lei, sempre haverá alguém que irá tirar o proveito e prejudicará os outros. Por isso o comunismo e o socialismo nunca irão dar certo. O ser humano sempre olhará primeiro para si e depois para os outros. Por que tenho que me juntar aos outros para trabalhar se posso enganá-los e fazer com que eles trabalhem para mim enquanto ganho mais do que devia? Isso é um esquema muito usado na política, infelizmente.

            Saindo da política e indo para algo mais fabuloso, a humanização dos animais da obra é algo interessante e complexo. Quando se é criança e tem bicho em casa, um dos seus desejos é que o animal pudesse falar. Mas pense um pouco, se seu cachorro pudesse falar, ao invés de falar “Eu te amo” ele poderia dizer algo como “Por que fui separado da minha família para viver aqui com você?” ou  “Por que eu tenho que comer aquela ração nojenta enquanto você come frango a milanesa e bife ao molho?” Não seria algo confortável de se ouvir. Se todos os animais tivessem o jeito de pensar parecido com o nosso, haveria muitos conflitos, não só entre nós e os animais, mas entre eles próprios. Esse é um dos aspectos que me atraiu no livro e gostaria muito de ver um filme dele estilo ao Planeta dos Macacos: A Origem.

            O livro teve duas adaptações para as telas: uma em formato de desenho em 1954 e a segunda em filme com atores reais em 1999. A última não teve uma crítica muito positiva.

            A Revolução dos Bichos é um livro curto, possuindo apenas dez capítulos, mas que vale muito a pena conhecer, seja pela sátira política ou pelos animais antropomorfizados no mundo dominado por humanos. Lembrem-se: “Todos os bichos são iguais, mas alguns bichos são mais iguais que outros.”

 

 

 


sexta-feira, 22 de maio de 2020

Sala de espera

          Lugar onde fica um amontoado de pessoas sentadas à espera de serviços. Normalmente com uma mesinha cheia de revistas (de preferência, revista Veja) de meses ou até de anos atrás. Possui uma secretária que vive a mexer no computador ou para anotar datas de consulta ou, quando ninguém está olhando, entrar no Facebook.



Obs. Este texto é um outro exercício de escrita criativa. Você deve pegar uma coisa ou lugar e definir com as suas palavras. Escolhi sala de espera. Quer tentar?

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Jovens ao Piano

                                        Meninas ao Piano de Pierre – Auguste Renoir, 1892


                                                      Magali e Mônica ao Piano, 1992


           Ana e Beatriz eram duas irmãs cuja família tinha sangue azul. As duas eram diferentes tanto na aparência como no modo que agiam. Ana era a mais velha, tinha cabelos loiros como o raiar do sol; tinha a delicadeza de uma flor; a calma, a gentileza e a quietude de sua mãe. Já Beatriz tinha cabelos castanhos como os do pai e era mais ousada e falante que sua irmã.

            Apesar de todas essas diferenças, as duas jamais se separavam. Para onde uma ia, a outra sempre vinha atrás. Até que um dia, seu pai declarou que Ana deveria se casar com um jovem bem sucedido, pois ela já completara quinze anos, a idade certa para um casório. Beatriz ficara tão deprimida com a notícia de que ela e a irmã não poderiam mais ficar juntas que começou a ignorar a irmã.

            Ana, que notou o afastamento de Beatriz, a chamou para ouvi-la tocar piano. Mesmo estando zangada, Beatriz aceitou, pois adorava ouvir sua irmã tocando piano. Quando começou a tocar, Beatriz notara que nunca ouvira aquela composição. Mal Ana acabou de tocar e Beatriz já perguntou:

            - Nunca ouvi uma composição tão bonita! Quem a escreveu?!

            - Eu – respondeu Ana.

            - Sério?! E qual é o nome dela?

            - Sempre contigo.

 

 

 

 

Observação: Escrevi este texto como um exercício do curso de Escrita Criativa da Estação das Letras já tem alguns anos. Me baseei no quadro de Renoir. Coloquei a versão do Maurício de Sousa só para entretenimento.




sexta-feira, 8 de maio de 2020

Da tela ao papel


             Ganhei este livro quando estava na faculdade, já faz algum tempo. Ele ficou me esperando durante anos até os olhos da jovem da capa me seduzirem a finalmente pegá-lo. Moça com Brinco de Pérola foi escrito pela americana Tracy Chevalier e lançado em 1999. A edição que tenho em mão é da editora Bertrand Brasil de 2011.

            Após um acidente com o fogão de azulejos, o pai de Griet perdeu a visão e não pode mais trabalhar. Agora, Griet deve trabalhar como criada no ateliê do conhecido pintor Johannes Vermeer, para ajudar no sustento de sua família.

            A capa deste romance na verdade são dois quadros do pintor Johannes Vermeer, que realmente existiu. O primeiro que é o retrato de uma jovem tem o mesmo nome do título deste livro e foi pintada entre 1665 e 1666. Ela é conhecida nos meios artísticos como” a Mona Lisa holandesa”. Enquanto a pintura de baixo se chama Vista de Delft, que foi criada entre os anos de 1660 e 1661. Ambas as pinturas ilustram bem o livro pois a história se passa em Delft e a protagonista é a Moça com Brinco de Pérola.

            Fazer textos inspirados em um quadro ou uma escultura não é algo novo. Na verdade, é muito comum fazer isso como exercício de escrita criativa. Escrevi os livros Tálassa e Flogues e Filhote de quê baseados em uma pintura e escultura respectivamente. Porém, quando são incluídas pessoas que existiram no mundo real, precisa se fazer uma boa pesquisa se quiser convencer seu leitor de que esse evento possa ter acontecido. Lembro de quando a autora Claudia Lage falou sobre o seu romance biográfico Mundos de Eufrásia e de como ela foi até a antiga casa de Eufrásia para que seu livro fosse o mais bem detalhado possível. Não se sabe quem foi a modelo para a Moça com Brinco de Pérola, mas a autora teve criatividade para inventar uma história que fosse coerente com o tempo em que a pintura foi criada.

            Detalhes da vida dos familiares de Vermeer foram acrescentados no livro, como a conversão do pintor para o catolicismo, o ataque que o irmão de Catharina, sua esposa, fez enquanto esta estava grávida e a violência que o pai fazia nela e na mãe, Maria Thins.

            Um tema que é abordado no começo do livro é a diferença entre cristãos e protestantes. Pelos olhos de Griet, vemos o quanto ela fica horrorizada ao ver imagens relacionada a Bíblia, que para o cristianismo é algo comum. Mas são as diferenças entre classes sociais que predominam o romance e que no século XVII eram ainda mais aparentes.

            Além de ter feito uma boa pesquisa de como a sociedade da época funcionava, Chevalier também acrescentou como se eram pintados os quadros e de como suas tintas eram feitas. Um exemplo é o carvão de osso moído para fazer o preto. Era também usado um objeto chamado câmera escura para observar detalhes do quadro, como se fosse uma lupa. Para um livro que se trata de pintura, é um bom toque.  

            Há vários personagens que compõem a narrativa. Griet, que é a protagonista e narradora da história é uma moça séria, calma e quieta, que guarda os sentimentos para si. Pela visão de Griet, vimos um Vermeer tão focado em sua arte que não sabemos se ele a vê como pessoa ou objeto para seu trabalho. Pelo menos, ele a trata com respeito. Catharina é a típica madame esnobe, que sente ciúmes do marido por passar tempo demais com Griet. Mesmo assim, consegui ter um pouco de simpatia por ela, pois o marido não a deixava entrar em seu mundo, mesmo ela querendo tanto.

Na minha opinião, a antagonista principal foi Cornélia, uma das filhas do pintor, que metia Griet em problemas, inclusive no último conflito. E o pior é que ela fazia tudo isso intencionalmente. Esta foi a personagem que mais deu raiva. Maria Thins me fez ter uma reação contrária, sendo a que mais gostei. Rígida e boa em negócios, ela admira as pinturas do genro e faz de tudo para que ele pinte mais. Pieter, o filho do açougueiro seria o segundo interesse romântico para Griet. Apesar de ele ter sido criado para ser mais amigável do que Vermmer, não gostei muito dele. Ele parecia estar convencido de que era o herói salvando a mocinha do perigo e que esta deveria retribuir o favor ficando com ele. Há muitos outros personagens apresentados no livro, mas comentarei apenas estes.

 O romance contém cenas de abuso, que infelizmente eram mais frequentes na época, assim como uma cena de “ato”. Isso já faz com que o livro seja para um público juvenil dos catorze anos para cima.

            Moça com Brinco de Pérola teve uma adaptação para cinema em 2003 e Griet foi interpretada pela atriz Scarlet Johansson, conhecida por interpretar a Viúva Negra nos filmes da Marvel. Não assisti o filme, mas vi que ele foi indicado para várias premiações.      

            De maneira geral, foi uma boa leitura com um final doce e amargo. Se o seu olhar encontrar com o da moça da capa, não desvie. Pois nele escondem histórias que desejam ser contadas.


sexta-feira, 1 de maio de 2020

Chá de Boneca

                     Roteiro: Mariana Torres
                     Arte: Maya Flor e Mariana Torres