Peguei este livro não muito tempo depois de ter lido Flora Hen e coincidentemente, ambos possuem animais de fazenda que vivem em péssimas condições e desejam sair dessa vida. As semelhanças terminam aí. A Revolução dos Bichos foi escrita por George Orwell e lançada em 1945. Sua publicação foi difícil e até hoje é proibida em alguns países como China, Coréia do Norte e em países islâmicos devido a polêmicas. Veremos essas polêmicas após o resumo.
Major, o porco mais respeitado pelos animais do fazendeiro Jones, fez uma reunião no celeiro pois estava com os dias contados. Ele esclarece o que aprendeu todos estes anos e de como os humanos são seres tiranos, que fazem pouco e vivem à custa dos outros animais, descartando-os quando perdem sua utilidade. Os bichos então declaram o homem como seu inimigo e começam uma revolução.
De acordo com o posfácio de Christopher Hitchens, Orwell propôs a “análise da teoria de Marx do ponto de vista dos animais” ao escrever esta fábula satírica. E durante a leitura, isso é comprovado. Para quem estudou história verá que alguns personagens deste livro representam figuras conhecidas da época da Segunda Guerra Mundial, enquanto outros representam classes sociais. Como não tenho muito conhecimento destes detalhes, não me focarei muito neste tema.
O livro possui muitos personagens que combinam com a narrativa proposta como Bola-de-Neve, o porco que acredita na igualdade dos animais da fazenda; Napoleão, o porco ditador que estabelece sua liderança pela manipulação e violência, representando Stalin; Garganta, porco pau-mandado que convence os outros pela lábia; Mimosa, a égua vaidosa que gostava de sua vida antiga de puxar charrete e usar fitas; Quitéria, a égua mais velha, sensata, mas não muito inteligente; Sansão, um cavalo forte de bom coração cuja inteligência é pouca, representa a classe operária; Benjamim, um burro pessimista que não acredita que nada dá certo.
A narrativa te dá apreensão, pois você vê o quanto os animais estão sendo enganados pelo seu líder e não percebem. Toda vez que estão prestes a descobrir algo, os poderosos dão um jeito de reverter a situação. O único que está ciente da situação, ironicamente, é o burro Benjamin. Porém ele é tão apático que nem se dá ao trabalho de contar aos outros. Ele só se intrometeu uma vez e foi uma das cenas mais tristes da história. Entender o que está acontecendo, mas não ser capaz de impedir é algo que a gente se identifica muito.
Como fábula, A Revolução dos Bichos teria de ensinar a todos uma ou mais lições através dos animais. E na minha interpretação, esta lição foi: não importa o quão boa seja a sua lei, sempre haverá alguém que irá tirar o proveito e prejudicará os outros. Por isso o comunismo e o socialismo nunca irão dar certo. O ser humano sempre olhará primeiro para si e depois para os outros. Por que tenho que me juntar aos outros para trabalhar se posso enganá-los e fazer com que eles trabalhem para mim enquanto ganho mais do que devia? Isso é um esquema muito usado na política, infelizmente.
Saindo da política e indo para algo mais fabuloso, a humanização dos animais da obra é algo interessante e complexo. Quando se é criança e tem bicho em casa, um dos seus desejos é que o animal pudesse falar. Mas pense um pouco, se seu cachorro pudesse falar, ao invés de falar “Eu te amo” ele poderia dizer algo como “Por que fui separado da minha família para viver aqui com você?” ou “Por que eu tenho que comer aquela ração nojenta enquanto você come frango a milanesa e bife ao molho?” Não seria algo confortável de se ouvir. Se todos os animais tivessem o jeito de pensar parecido com o nosso, haveria muitos conflitos, não só entre nós e os animais, mas entre eles próprios. Esse é um dos aspectos que me atraiu no livro e gostaria muito de ver um filme dele estilo ao Planeta dos Macacos: A Origem.
O livro teve duas adaptações para as telas: uma em formato de desenho em 1954 e a segunda em filme com atores reais em 1999. A última não teve uma crítica muito positiva.
A Revolução dos Bichos é um livro curto, possuindo apenas dez capítulos, mas que vale muito a pena conhecer, seja pela sátira política ou pelos animais antropomorfizados no mundo dominado por humanos. Lembrem-se: “Todos os bichos são iguais, mas alguns bichos são mais iguais que outros.”