Voltamos com As
Crônicas de Nárnia, agora com o terceiro (ou quinto se for pela ordem de
lançamento) livro da série. O Cavalo e seu Menino foi escrito por C. S.
Lewis em 1954 e é a primeira história da coleção a ter como protagonistas
pessoas do universo de Nárnia.
Shasta vive em Calormânia com seu pai, um pescador que o
tratava como um escravo. Até que um dia, um nobre chega a cavalo e pede por uma
estadia. Ouvindo a conversa que o pai estava tendo com o homem, Shasta viu que
o último estava tentando comprá-lo e descobriu ser adotado. Ao tentar imaginar como
seria sua vida como escravo desse homem rico, desejou que o cavalo pudesse
falar para contar como era a vida de palácio. E o cavalo respondeu.
Acredito que de todos os livros das Crônicas de Nárnia,
este é o que gera mais polêmica, principalmente nos dias de hoje. Como havia
analisado nos outros livros, muitos elementos da história e dos personagens tem
como base a religião cristã e vários seres como gigantes, cavalos alados,
unicórnios, centauros e faunos são seres que aparecem em várias mitologias da
Europa. Aqui, temos o país chamado Calormânia, que tem como base a cultura dos
países do Oriente Médio. E muitos aspectos ruins são relacionados a este país. Seu
povo é escravocrata, conquista nações menores para o seu império e seus
casamentos são feitos como um negócio que não precisam da autorização dos
noivos para serem realizados. Este último, porém, ainda existe em países do
Oriente Médio, como a Arábia Saudita, na Índia e em países africanos como Níger, que
obriga até meninas menores de idade a se casarem. Então, não posso dizer que a
representação da cultura oriental esteja completamente errada.
Outro assunto que pode causar uma certa discussão é como
as mulheres são representadas na história. Aqui, temos o retorno de personagens
do livro anterior, sendo Susana e Lúcia dois deles. A última sabe usar o arco e
flecha e entra em batalhas “como um homem” enquanto a primeira, apesar de saber
usar o arco, não entra em batalhas e é considerada uma dama. Outras duas
figuras que também têm essa diferença são Aravis e sua amiga Lasaralina. Aravis
é mais masculina, sabendo andar de cavalo, usando a armadura do irmão como
disfarce, sendo descrita como uma pessoa que gosta de “arcos e flechas, cães e
cavalos, e natação”; enquanto Lasaralina, é mais feminina, e gosta de roupas,
coisas chiques e fofoca, sem ligar para o casamento arranjado. As tidas como
mais femininas dão a sensação de serem mais fracas e inúteis, apesar de
Lasaralina ter ajudado Aravis em sua fuga e ser a única de Calormânia, com exceção
da própria Aravis, a ser portada como uma pessoa boa. Já é um avanço comparado
ao livro anterior cujas mulheres não podiam lutar, e quando Lúcia encontra Aravis,
ambas conversam sobre quartos e roupas, além de outras “coisas de menina”
segundo ao narrador, indicando que elas ainda têm características comuns a
outras garotas. Será que as outras duas são consideradas ruins por serem muito femininas, fazendodelas pessoas superficiais? Se um homem só tivesse
características masculinas, ele também não seria superficial? Não sei a
resposta e não pretendo discutir isso nessa resenha.
Tirando essas polêmicas, posso dizer que o livro é bom?
Bem, assim como os dois volumes anteriores, há algumas lições de moral. Tanto
Aravis, que era uma tarcaã (nobre) que se achava melhor que Shasta e outros
pobres, e Bri, que é um cavalo de guerra falante e se considerava acima dos
cavalos mudos aprendem uma lição de humildade. Mas senti que a interação dos
personagens foi pouca, ou pelo menos o número de diálogos. O título é O
Cavalo e seu Menino e os diálogos entre e Bri e Shasta foram poucos comparado
ao tanto que acontece na história. Eles são separados duas vezes e quando se
reencontram, quase não há conversa. Também senti falta de mais interações entre
Shasta e Aravis, principalmente com a revelação do final.
Se alguém me perguntasse qual dos livros das Crônicas
de Nárnia poderia pular, pois não faria a menor diferença na história, este
seria o livro. O Cavalo e seu Menino serve mais para quem tem
curiosidade de saber o que aconteceu durante o reinado das crianças Pevensie, e
isto foi brevemente resumido no final de O Leão, a Feiticeira e o
Guarda-roupa. Mas se ainda assim tiver a curiosidade para ler este livro, após
passar pelo guarda-roupa, caminhe pelo sul de Nárnia. Lá você conhecerá outros
países. Cada um com sua história.
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