Voltando para As
Crônicas de Nárnia, farei agora a resenha do segundo livro que na verdade é
o primeiro (Veja o texto do blog A criação de um mundo para mais
detalhes). O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa foi escrito por C. S.
Lewis em 1950.
Por causa da guerra, os irmãos Pedro, Susana, Edmundo e
Lúcia foram mandados para a casa de campo de um professor. Como o lugar é grande, eles decidem explorar a residência, até pararem em quarto vazio, apenas
ocupado por um guarda-roupa. Enquanto os outros decidem deixar o local, Lúcia resolve dar uma olhada no guarda-roupa e então descobre que ele não é um simples
objeto.
Como não falei muito dos personagens na minha resenha anterior,
falarei aqui. Aslam, o leão e a feiticeira Jadis, que apareceram no livro
anterior, retornam. A caracterização desses dois está condizente com suas aparições anteriores. Aslam continua sendo bom e majestoso, o que não é de se surpreender,
pois ele tem como inspiração o Deus cristão. Mas ele não é tão perfeito assim. No
volume anterior, ele apresenta emoções como a tristeza e senso de humor e aqui
ele aparenta ter medo, o que o deixa mais próximo da humanidade. Ele também tem
como inspiração uma outra pessoa que falarei mais tarde. Enquanto a Feiticeira Branca
continua uma mulher de pura maldade, tão perigosa quanto em sua aparição no O
Sobrinho do Mago. Diria até que está mais vilanesca, pois ao contrário do primeiro livro, este possui poucas cenas cômicas com ela. As crianças
que aparecem neste livro, Pedro, Susana, Edmundo e Lúcia, são simples. Pedro é
o típico irmão mais velho corajoso, Susana a mais medrosa, Edmundo o mais implicante
e egocêntrico, e Lúcia a mais nova e gentil. Mas como é uma literatura dirigida ao público
infanto-juvenil, não há essa grande exigência de personalidades mais complexas,
ainda mais quando a história é boa.
Igual ao primeiro, esta continuação também tem
referências há mitos e histórias da religião cristã. Como
Baco, o deus do vinho da mitologia romana e Sileno, o deus da embriaguez. Também
é dito que a Feiticeira Branca é descendente de Lilith, a primeira mulher de
Adão, considerada mãe dos gênios aqui. Há também a aparição do Papai Noel e uma
cena semelhante à fábula O leão e o rato. Não sei se foi incidental, mas
os poderes da Feiticeira Branca de trazer um longo inverno lembra a personagem
da Rainha da Neve de Hans Christian Andersen. Quanto a parte religiosa,
o que fica em evidência é a cena de sacrifício de Aslam, que como Jesus, dá a
sua vida em troca do perdão de outro. E a traição e arrependimento de Edmundo
pode ser comparada a de Judas Iscariotes. Assim como o primeiro livro, esses
elementos são bem ligados. Na verdade, considero um grande feito do
autor ter juntado todas essas origens e criado algo diferente e que faça
sentido, mesmo em um mundo fantástico.
Este livro teve uma adaptação cinematográfica em 2005 e
foi a primeira vez que tive contato com a história. Tenho boas memórias deste
filme e apesar de não ser totalmente igual a sua versão escrita, sua mensagem e
seus elementos gerais foram mantidos. Se a criança não quiser ler os livros,
talvez o filme a convença.
Como nem toda obra é perfeita, vou falar dos pontos
negativos do livro. Não sei quem é o ilustrador. Acredito que por falta de
menção, os desenhos tenham sido feitor pelo próprio. Mas se for este o caso,
isso deixa o erro ainda mais em evidência. Lúcia é descrita com cabelos loiros
no texto, porém ela é desenhada como uma menina de cabelos escuros. Vi algumas
falhas na própria história, ou pelo menos que precisaria de uma pequena
explicação. Em O Sobrinho do Mago, o tempo de Nárnia é diferente do
nosso. Quando lá se passam horas, aqui não se passam nem um minuto. Então, se
lá se passam vários anos, aqui não deveria se passar pelo menos algumas horas? Pois
não foi isso que aconteceu. Por que o guarda-roupa apareceu normal quando Lúcia
foi mostrar aos irmãos? Com o conhecimento que tem sobre o guarda-roupa, será
que o professor tentou retornar alguma vez para Nárnia? Estas foram as
perguntas que ficaram na minha cabeça e não tiveram resposta. Há também um
certo machismo típico da época em que se acreditava que mulheres não deviam
participar da guerra, pois “as batalhas ficam mais feias quando as mulheres
tomam parte nelas” de acordo com Papai Noel. Essa é uma das poucas partes que
não envelheceu bem.
Foi uma boa releitura. Se deseja conhecer Nárnia, entre
em seu guarda-roupa. Quem sabe ele não tenha uma passagem que o leve a este
mundo cheio de magia e seres que habitam apenas na nossa imaginação.
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