sexta-feira, 28 de maio de 2021
sexta-feira, 21 de maio de 2021
Purificando a alma
Trago novamente a resenha
de um livro do Kindle. De agora em diante, também analisarei ebooks, então é
melhor irem se acostumando com as capas em preto e branco, pois infelizmente
não tem cor no Kindle. Lágrimas de Carne foi escrito por Fernanda Castro
e lançado na Amazon em 2020, sendo publicado pela editora Dame Blanche.
Uma velha carpideira mora sozinha no outro lado da serra,
longe do resto dos habitantes da Serrita. Alguns suspeitam de seu envolvimento
com um ser conhecido como Rasga–Mortalha, que aparece na casa das pessoas
trazendo mau agouro. Mas esta é apenas a superfície dos segredos que esta
misteriosa mulher esconde.
Este conto contém bastante do sobrenatural. A profissão
de carpideira, uma mulher que é paga para chorar pela morte de um defunto já lembra
algo imaginário, como as banshees, que eram fadas que avisavam aos outros de
sua morte através de seus choros. Outra curiosidade interessante está no nome
de dois personagens: Suindara e Carcará. Suindara é uma espécie de coruja,
conhecida em algumas regiões do Brasil como rasga-mortalha pelo som que emite.
Por causa disso, é dito que esta ave traz mau agouro. Enquanto carcará é uma
espécie de falcão vindo da América do Sul, conhecido por comer todo tipo de
comida, incluindo carcaça. Essas informações extras fizeram com que este livro ficasse
mais completo e ainda mais brasileiro.
Quanto aos personagens, Suindara e Carcará são seres
tanto parecidos quanto opostos. Enquanto um representa a obediência e o perdão,
o outro representa a rebeldia e a vingança. Mas ambos têm um papel fundamental
para as almas da Serrita, trazidas pela carpideira. A estranha velha, conhecida
como “Mãe”, é uma personagem misteriosa, que aparenta pouco se importar com os
outros apesar de sua profissão e cuja narrativa vai contando aos poucos sobre o
seu passado e suas motivações.
De maneira geral,
tive uma boa leitura. Gostei da pesquisa que a autora fez e de como adaptou
isto para a sua narrativa fantástica. A única reclamação que tenho a fazer
desta história é que ela é curta. Se deseja conhecer esta obra, não tenha medo
do Rasga-Mortalha. Seu trabalho é apenas levar as almas para descansarem em
paz.
sexta-feira, 14 de maio de 2021
O Lado Bom e o Lado Ruim
O visconde partido ao
meio
foi escrito em 1952 por Italo Calvino, que nasceu em Cuba, mas passou a maior parte de sua vida na Itália. Este
livro faz parte de uma trilogia chamada Os nossos antepassados, junto
com O barão nas árvores e O cavaleiro inexistente.
O visconde Medardo di Terralba decide participar da
guerra contra os turcos. Durante a batalha, ele se deparou no meio de um canhão
e lançado para longe. Em busca de feridos, os cristãos o encontraram dividido
pela metade e conseguiram fazê-lo voltar à vida. Mas ao voltar para casa, o
visconde começou a agir de modo estranho.
Apesar
da história ser sobre o visconde, há outros personagens que dividem o foco,
como o doutor Trelawney, Pamela, a família de huguenotes e o sobrinho de
Medardo, que é o narrador do livro. Há momentos em que o sobrinho descreve
pensamentos de outros personagens e cenas em que ele não presenciara
pessoalmente. Me pergunto como ele sabia disso. Será que os outros personagens
contaram para ele depois?
O livro pode ser considerado do gênero fantástico pois
possui algumas de suas características. O fato de Medardo ter sobrevivido a ser
partido em dois e tendo consciência em ambas as metades é uma delas. Seu
interesse romântico, Pamela, apesar de ser mais decidida e ousada, possui uma
habilidade de conversar com seus animais, que a ajudaram em sua fuga, similar a
uma princesa clássica da Disney.
Algo interessante
de se discutir é a personalidade diferenciada de ambas as metades de Medardo. Enquanto
a direita é completamente má, a esquerda é completamente boa e ambas precisam
uma da outra para ter equilíbrio. Nem mesmo a parte boa de Medardo é perfeita,
pois ela chega a ser passiva demais e irritante para os outros pois fica dando
lição de moral aos outros. Esta premissa é parecida com o livro A Luneta
Mágica de Joaquim Manuel de Macedo, de 1869. Não cheguei a ler este livro,
mas pretendo fazer algum dia.
Foi uma boa leitura. É um livro curto, mas que te faz
pensar. Por isso, você pode lê-lo por inteiro. Não pare na metade.