sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Encontrando sacis



        Novamente, trago para vocês um outro ebook relacionado ao nosso folclore. O Colecionador de Sacis e outros contos folclóricos foi escrito por Adriolli Costa e lançado no site da Amazon em 2020. Como se trata de um livro de contos, resumirei cada um e darei minha opinião geral no final.

           

O Colecionador de Sacis – Depois da morte de seu pai, a narradora aparece para visitar a velha casa, com a velha coleção de garrafas, cada uma contendo um saci aprisionado. Um conto emotivo que não te dá a total certeza se era ou não fantástico.

Cor de Rosa – O narrador fala de seu encanto por um homem conhecido como Rosa. Já pelo título, já sabemos que se trata da lenda do boto cor-de-rosa, mas de uma perspectiva LGBT.

Mitomania – Num provável futuro onde a tecnologia é bem desenvolvida, um grupo se rebela contra o Líder, que usa das suas mentiras para manipular o povo. O conto apresenta um confronto entre o novo das máquinas e o antigo das lendas.  Os seres do folclore que mais chamaram a atenção foram o Saci e o monstro Labatut, um ser cabeludo de um olho só cujo nome é vindo de um general francês, Pedro Labatut, conhecido por ser muito cruel com seus adversários. Ambos os seres são bastante apropriados na história que é contada.

A Alma do Povo – Um antropólogo se perde numa estrada com sua caminhoneta. Ele a para e pede ajuda a um caipira. Este conto é sobre um personagem tradicional português e brasileiro chamado Pedro Malasartes, um sujeito que usa da malandragem para se dar bem.

Três Desejos – Pedro faz um ritual para invocar um saci. Ele deseja fazer um pacto com a criatura, que em troca quer lhe dar três desejos. Um conto bonitinho, com o famoso “cuidado com o que você deseja". Não esperava que o saci desse conto tivesse empatia.

Sem Cabeça – Numa noite mais quente do que o normal, aconteceu um massacre na cidade de São João, no interior de Minas Gerais. O que será que provocou? Padre Ignácio, homem curioso, decide investigar. Pelo título, já dá para saber qual ser do folclore aparece neste conto. Mas o importante não é saber quem é o culpado, mas o porquê. Uma história que se encaixa bem com o mito.

Retomada – Num futuro distópico, Ramiro pede a seu amigo Arthur para tirar o seu braço de metal enquanto conta sobre sua descoberta. Acredito que este conto se passe no mesmo mundo de Mitomania. Esta história se foca no apagamento de parte da cultura brasileira.

 

            De maneira geral, achei os contos ok. Os meus favoritos foram Três Desejos e Sem Cabeça, sendo que neste último, o autor poderia criar várias outras histórias com o Padre Ignácio caçando outros mitos. Se você deseja conhecer, pegue uma garrafa vazia e uma peneira e se prepare para a captura.

 


sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Censura da memória


 

            Finalmente li A Memória de Babel, o terceiro livro da Passa-Espelhos de Christelle Dabos que foi lançado em 2017 na França enquanto aqui no Brasil só saiu em 2020. Espero que o próximo saia este ano para não me esquecer dos detalhes.

            Dois anos e sete meses se passaram desde a fuga de Thorn e o encontro com “Deus”. Desde este tempo, Ophélie voltara a Anima, onde as Decanas a vigiam. Mas ela acaba recebendo uma visita surpresa que a tirará desta terra e a levará para outra. Será que no meio disso tudo, ela se reencontrará com Thorn?

            Primeiramente, agradeço a editora por ter a bondade de deixar um resumo dos acontecimentos do segundo livro, para refrescar a memória. Por falar nisso, um dos focos principais da Passa-Espelhos é a luta pela permanência da memória, enquanto os poderosos tentam destruir os acontecimentos passados. Como por exemplo em Anima, onde as decanas mandaram tirar todos as peças do museu que envolvessem as guerras passadas. Também acontece isto na arca de Babel, onde se passa este livro, que há muita censura nos livros e proibições no vocabulário das pessoas. Coincidentemente ou não, isso remete a acontecimentos recentes, com a destruição de estátuas por protestos radicais e censura ou mudança em alguns livros que hoje são considerados polêmicos. Não podemos mudar o passado, mas também não podemos nos esquecer dele, pois assim não cometeremos os mesmos erros.

            Nos livros passados, já foi dito que havia várias arcas governados por outros espíritos familiares. Aqui somos apresentados a arca de Babel, governados pelos gêmeos Pólux, cujo todos os nascidos com poderes são de sua descendência, e Hélène, que não pode ter filhos, por isso acolhe os sem poderes e estrangeiros como seus afilhados. Gosto da construção de mundo que é feita nesses livros, mas acho que infelizmente, não será tão bem aproveitada, pois a história acaba no quarto volume. A menos que a autora decida prosseguir como outros personagens.

            Como no volume anterior, além de A Memória de Babel apresentar o ponto de vista Ophélie, também apresenta alguns capítulos focados em Victoire, a filha de dois anos de Berenilde que apareceu no segundo livro como uma recém-nascida. Apesar de parecer uma escolha estranha no início, Victoire não é uma criança comum, como é de se esperar de uma filha direta de um espírito familiar. Apesar de não saber andar ou falar, ela é bem esperta para sua idade e possui um poder desconhecido dos outros de separar a alma de seu corpo.

            Com relação ao romance, me incomodou um pouco que a motivação de Ophélie tenha sido o amor ao seu marido. Algo meio estranho de eu dizer, pois estava torcendo para que os dois se apaixonassem, mas não sei dizer o porquê agora isso me incomoda. Talvez porque nunca tenha visto esta personagem como alguém que se apaixonaria a ponto de se arriscar desse jeito.

Enquanto os mistérios apresentados nos outros dois volumes, alguns já foram respondidos e espero a conclusão no último livro. Enquanto isso, tentarei guardar em minha memória todos os acontecimentos deste romance o máximo de tempo possível. Espero que a tradução não demore, pois esqueço das coisas tão rápido quanto os espíritos familiares.