Quem é fã de mitologia
nórdica, já conhece suas histórias assim como o seu fim. Mas e se elas fossem
contadas pela perspectiva de um dos deuses mais populares (ou impopulares) de
todo o panteão nórdico? O evangelho de Loki traz esta proposta. Escrito
por Joanne M. Harris, foi lançado em inglês em 2014, chegando traduzido no
Brasil no ano de 2016. Este livro é considerado uma prequela (acontecimento
anterior) dos livros Runas e Luz das Runas, publicadas pela Rocco
Jovens Leitores, selo da editora Rocco. Isso deixa as coisas um pouco confusas
para quem deseja obter estes livros, pois O evangelho de Loki foi lançado pela
Bertrand Brasil, selo da editora Record.
Querendo contar sua própria versão dos acontecimentos,
Loki, o deus da mentira, criou a Lokabrenna, o evangelho de Loki. Assim, ele
narra a mitologia nórdica sob sua perspectiva.
Além de contar a mitologia nórdica na perspectiva de
Loki, o livro também faz uma releitura dessas histórias, mudando certas coisas
e acrescentando outras. Uma dessas mudanças é a origem de Loki, cujos pais são
Farbauti e Laufey, um jotun e uma Aesir respectivamente, e aqui eles são um
relâmpago e galhos secos, sendo o Loki um demônio do Caos. Outras diferenças
com relação aos mitos são sobre seu filho Fenrir, que aqui é um lobisomem ao
invés de um lobo puro, Heimdall ser um Vanir, e não o filho de Odin com outras
nove mulheres (não me pergunte como isso é possível) e Angrboda ser descendente
do Caos, e não uma jotun.
Quanto aos acréscimos, além de dar personalidade aos
deuses e inventar novas histórias, alguns furos dos contos originais são
explicados aqui, como o porquê de Loki usar o manto de falcão de Freia se este tinha
a capacidade de mudar de forma e o porquê de Loki matar Balder.
Com relação aos personagens, como são descritos pelo
ponto de vista de Loki, a maioria deles é descrita como babaca, tratando o
protagonista como um forasteiro. Apesar de serem personalidades simples, cada
um tem a sua como Odin ser um estrategista que guarda segredos dos outros
deuses, Freia ser uma deusa que faria de tudo por uma joia, Thor ser o homem
forte, mas com pouca inteligência, Balder ser o bonzinho e o queridinho de todos,
etc. Creio que o personagem melhor desenvolvido é o próprio Loki, que é o
típico deus travesso que nós conhecemos, mas que vive em conflito com relação a
ajudar ou trair os Aesir. Dou atenção a personagem Gullveig-Heid, uma deusa
Vanir que nunca tinha ouvido falar e tem pouca aparição na mitologia nórdica, enquanto
aqui, ela é a vilã principal da história. Foi bom conhecer algo novo dessa
mitologia.
Tenho minhas críticas com relação a narrativa, sendo uma
delas a referência de objetos e modas dos tempos atuais numa história que supostamente
ocorreu há séculos atrás. Como por exemplo uma jovem possuir um caderno cor de
rosa e a menção do termo “bad boy”. Mesmo sendo narrada por Loki, que
seria bem capaz de fazer essas referências se vivesse nos dias de hoje, não ficou
legal. Também tive dúvida com relação a Loki e sua esposa Sigyn: Pesquisei e descobri
que no povo viking, o divórcio era permitido. Se Loki não suportava a esposa,
por que não se separava de vez? A autora poderia até ter dado a desculpa de que
Loki não fez isso para não atrair a suspeita e a fúria de certos deuses. Acredito
que ela não fez isso por não ter pesquisado o suficiente dessa cultura. É claro,
isso é apenas uma suspeita minha.
Esperava mais desse livro. Achei a narrativa um pouco
boba, ainda mais com essas referências a atualidade. Tinha uma ou outra coisa
que achei criativa, porém, não o suficiente para amar este livro e ler suas
sequências. Se tivesse que dar uma nota, daria um seis de dez. Não é ruim, mas
não é nada de espetacular.