sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Introduzindo a magia


        Já vimos filmes baseados em livros e livros baseados em filmes. Mas vocês já viram livros baseados em quadrinhos? Os Livros da Magia: O Convite foi escrito por Carla Jablonski e lançado em inglês no ano de 2003, chegando aqui um ano depois. Seu material base veio de uma minissérie de quadrinhos de mesmo nome, lançada entre 1990 e 1991, criada por Neil Gaiman e John Bolton. A editora responsável por esse quadrinho foi a DC Comics, dona do Batman, do Superman e de vários outros heróis.

            Timothy Hunter, também chamado de Tim, é um garoto de treze anos cuja mãe faleceu havia três anos e o pai vive no sofá em seu próprio mundo. E assim ia vivendo nesse tédio até quatro homens de sobretudo aparecerem, perguntando se ele acredita em magia.

            Como o resumo acima já indicou, esta história serve como uma introdução de Tim para o mundo mágico, com o garoto conhecendo os prós e contras da magia antes de decidir que destino levará, sendo Tim um personagem feito para a audiência se identificar. Um garoto não muito inteligente, mas não muito burro. Um menino que não tem um físico de esportista, mas sabe andar de skate e que dá umas respostas ousadas vez ou outra, ao mesmo tempo que tem medo de certas coisas como qualquer um da sua idade teria.

            Quanto aos outros personagens, muitos deles já apareceram em outros quadrinhos da DC Comics. Como os quatro mentores de Tim: John Constantine, Doutor Oculto, Mister Io e Estranho (Vingador Fantasma), além de outros secundários como Madame Xanadu, Zatanna, dois Perpétuos do quadrinho de Sandman etc. O que achei estranho foi o fato de não haver nenhuma menção de heróis como Batman ou Superman, já que a Zatanna já trabalhou com eles na Liga da Justiça. Acredito que esta história se passe em um universo paralelo daquele onde os heróis existem.

            Além dos personagens da DC Comics, vi também referências a outras obras. Como Baba Yaga dos contos de fadas russos e Titânia, a rainha das fadas da peça Sonho de uma noite de verão de William Shakespeare. Enquanto a feira que aparece na Terra das Fadas pode ter sido utilizada como uma ideia para a feira que aparece no livro Stardust de Neil Gaiman.

            Vi que a história tenta subverter o que conhecemos sobre magia, dizendo que não existe magia boa ou má, e sim “magia viva” e “magia morta”. Também não pode falar seu nome verdadeiro para ninguém, pois isso pode dar controle a pessoa que sabe, o que sinceramente não faz muito sentido, já que Tim é apresentado usando o seu nome verdadeiro e nada acontece. Mas ela ainda usa alguns clichês, como o das fadas terem fraqueza ao ferro.

            Uma curiosidade interessante é que Os Livros da Magia foi lançado nos quadrinhos pelo selo Vertigo da DC Comics, que publicava histórias de conteúdo adulto. Infelizmente, não li a minissérie de quadrinhos para saber se tem algum conteúdo não apropriado para crianças ou se modificaram muita coisa quando transcreveram para este livro. As únicas coisas que poderiam ser problemáticas são o fato de ter gente perseguindo o protagonista para matá-lo e o Constantine fumando. Quando o li pela primeira vez, estava na minha pré-adolescência, e não vi nada de errado. Lendo agora adulta, continuo não vendo nada de inapropriado.

            Pela capa do livro, já dá para notar que Timothy Hunter tem a aparência bastante similar a um bruxo bastante conhecido do público: Harry Potter. Além disso, ambos tinham uma vida quebrada na Inglaterra, até que alguém aparece e os introduz a um mundo mágico. Por ter sido lançado depois, no ano de 1997, J. K. Rowling, autora de Harry Potter foi acusada de plagiar Os Livros da Magia. Mas o próprio Neil Gaiman disse* que se a autora quisesse copiá-lo, era bem provável que ela mudasse mais coisas, o famoso “copia, mas não faz igual”. Então, isso foi considerado apenas uma coincidência.

            Acredito que a intenção da DC Comics quando introduziu esta minissérie foi ver se a audiência gostava para assim fazer uma continuação. E deu certo. Este livro possui uma sequência que planejo reler. Os Livros da Magia: O Convite é uma boa história para introduzir jovens ao universo mágico e alguns personagens dessa famosa editora. Minha única reclamação é o título. Cadê os livros da magia? Não lembro de nenhum desse tipo aparecendo. Talvez tenha algum no próximo volume. Descobriremos numa resenha futura. Fica o convite.

 

 

*Link em inglês da resposta de Neil Gaiman a alegação de que J. K. Rowling copiou o seu trabalho: Neil Gaiman (tumblr.com)

 


 

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

O Cão Negro de Clontarf


        Como todos que leem o meu blog já devem saber, adoro livros de temática fantástica. Vocês sabiam que existe um subgênero deste tema chamado espada e feitiçaria? Como o próprio nome diz, ele foca no tema da magia, com lutas violentas envolvendo guerreiros espadachins. O exemplo mais conhecido é o Conan, o Bárbaro, criado por Robert E. Howard. O Cão Negro de Clontarf, escrito pelo brasileiro César Alcázar em 2020 e lançado pela editora AVEC, faz parte desse subgênero e, num estilo parecido ao de Conan, possui vários contos, cada um contando uma aventura diferente de Anrath, o Cão Negro. Darei o resumo de cada conto:

O Coração do Cão Negro Anrath, conhecido como Cão Negro, participou da guerra de Clontarf a favor dos vikings, apesar de ser irlandês de nascença. Agora vive como um mercenário, odiado por ambos os lados. Após tomar uma moeda antiga do corpo de um druida em um de seus trabalhos, ele terá de encarar o passado, junto com seres sobrenaturais.

A Canção do Cão Negro Uma história que acontece depois do Coração do Cão Negro. Aqui, Anrath se encontra com um antigo inimigo que terá de enfrentar.

Uma Sepultura Solitária sobre a ColinaAnrath encontra um homem ferido que o pede ajuda para levá-lo em um local onde reviverá sua maior batalha.

A Fúria do Cão Negro Após ver sua amiga Grainne ser queimada viva numa fogueira, Anrath busca vingança, fazendo o que for preciso para consegui-la.

A Enguia Alguns anos após a morte de Grainne, Anrath volta para sua terra. Lá encontra uma mulher que pede sua ajuda para vigiar o túmulo de sua filha para que o corpo da menina não fosse devorado por uma enguia gigante.

Lobos Anrath e outros mercenários foram chamados para uma taverna por um contratante, que demorava para chegar...

As Lágrimas do Anjo da Morte - Anrath se encontrava ferido numa praia cheia de corpos. Até uma banshee aparecer e anunciar que ainda não era a sua hora e que tinha um trabalho para ele.

            A parte mágica dos contos bebe muito dos mitos irlandeses e gauleses, com a aparição de várias de suas criaturas como trolls; leanhaun shee (uma vampira que inspira os artistas, mas suga a vida deles em troca); llamhigyn y dwr, o saltador d’água (um ser aquático carnívoro que vive em lagoas e pântanos); banshee, (entidade que anuncia a morte dos humanos) e os fomorianos, (raça semi-divina que vive nas profundezas); além de menções a mitologia celta. Isso faz bastante sentido pois O Cão Negro de Clontarf se passa na Irlanda. Também possuem a mistura do real com o imaginário. A batalha de Clontarf, por exemplo, realmente existiu, mas o protagonista não. 

            Antes desse livro, editora AVEC junto com César Alcázar e o ilustrador Fred Rubim, lançou duas histórias em quadrinhos dos contos O Coração do Cão Negro e A Canção do Cão Negro em 2016 e 2017 respectivamente. Já li estes quadrinhos e recomendo para quem gosta desse subgênero. Acho que o formato em quadrinhos combina muito com esses contos. Pena que três deles sejam muito curtos para serem adaptados. Quem sabe em uma coletânea de quadrinhos com várias mini histórias?

Outra curiosidade é que o conto A Fúria do Cão Negro, o mais longo de todos, foi lançado primeiro em 2014 pela editora Arte & Letra, apesar de ser o terceiro da cronologia da história do Cão Negro.

Quanto aos personagens, o único que posso analisar com mais detalhes é o próprio Anrath, pois ele é o único que aparece em todos os contos, afinal, as histórias são sobre ele. Bom, o nosso Cão Negro é um típico protagonista de espada e feitiçaria, sendo capaz de derrotar vários homens e criaturas usando sua força e habilidade de luta. Para Anrath, essa será a sua vida até seus últimos dias. Mas isso não significa que ele sente prazer em matar e só faz isso devido ao seu trabalho como mercenário. Além disso, por ser um irlandês criado por vikings, ele não é aceito por nenhum dos dois grupos, vivendo assim uma vida solitária.

Acredito que O Cão Negro de Clontarf representa muito bem o seu subgênero. Suas histórias são simples, mas bem escritas e com uma boa apresentação de seres mitológicos. Recomendo a todos os fãs de espada e feitiçaria. Peguem suas espadas e se preparem, pois nunca se sabe o que vão encontrar no caminho.