sexta-feira, 11 de agosto de 2023

O sobrenatural nordestino


        Mais uma vez, trago um livro de contos brasileiros que encontrei no Kindle. Farras Fantásticas foi organizado por Ian Fraser, Ricardo Santos, João Mendes e lançado em 2021, sendo composto por autores diversos. Cada história foca em uma comemoração tradicional do Nordeste com uma dose de fantástico. Será que eles são bons? Vamos descobrir.

O último unicórnio de Serrita – Escrito por Fernanda Castro, autora de Lágrimas de Carne*. Raimunda está participando da Missa do Vaqueiro junto ao seu amigo Cassiano. Enquanto cavalgava atrás do bezerro, ela avista uma novilha de apenas um chifre, chamada de unicórnio encourado. Será que é o seu destino capturá-la? Típico conto em que os ricos só pensam em se aproveitar da crença dos outros para ganhar dinheiro.

Bom fim – Escrito por Nina Ladeia. Antônio tinha muito medo do mar, algo incomum para os garotos nascidos na ilha. Para fazê-lo perder esse medo, sua mãe o colocou para ir junto ao tio até Bonfim de barco. Ela só não esperava a vinda de uma grande tempestade. Um conto simples, que mistura duas religiões.

Capa preta – Escrito por Guilherme Ramos. Em uma Quarta-Feira de Cinzas no bairro do Prado, uma senhora conta a seguinte história: Numa noite de carnaval, no Clube Fênix, um rapaz e uma moça se conhecem e dançam. Querendo encontrá-la novamente, o moço oferece a ela uma capa para se proteger da chuva, dizendo que ia pegar de volta na casa dela no dia seguinte. Eles então se despedem, próximos ao cemitério. Final inesperado. Um bom conto.

A luz de vó Alzira – Escrito por Laís Lacet. Luíza não gosta da festa de São João. Foi o dia em que sua avó morreu e que foi expulsa da casa dela pelo seu pai por não aceitar o namoro dela com Renata. Porém, Renata a convence de ir ao Trem do Forró e lá ela teve uma visão de sua avó. Conto mais ou menos.

Olha pro céu, meu amor – Escrito por G. G. Diniz, autora de As águas do rio**. Gracinha reencontra Edilson, seu amigo de infância, que não vê a uns vinte anos. Agora, Edilson é padre, e ainda acredita que é um lobisomem e nunca sai de casa nas noites de lua cheia. Gracinha não acredita em nada disso e tenta convencer o padre de sair e ir para a festa. Aconteceu o que eu já esperava, sem nenhum plot twist.

O Odu quer brincar na festa – Escrito por Mariana Madelinn. Mabili tem o dom de ver os mortos e sabe o odu (destino) de todos, menos o dele. Em seu sonho, foi visitado por Okaran, que disse que Mabili tem também a habilidade de controlar o tempo dependendo de seu humor. Esse conto apresenta um pouco da mitologia iorubá e a Festa da Boa Morte. Uma história mais ou menos.

A benção de dona Lourdes – Escrito por Thiago Lee. Marilene foi ao enterro de sua bisavó Lourdes para conhecer mais sobre a história de sua família. Enquanto ela entrevistava o grupo dos Bacamarteiros Mágicos que dona Lourdes fazia parte, eles lhe entregam todos os pertences da falecida na esperança de que sua bisneta consiga produzir a pólvora mágica usada em suas apresentações e que apenas dona Lourdes fazia. Conto clichê, mas bonitinho.

Ilha d’água – Escrito por Henrique Ferreira. O pai de Francisco fugiu de casa em pleno aguaceiro. A pedido da irmã, Francisco vai procurá-lo. Ele sabe onde o velho se meteu e vai até a Praia do Meio, lugar que juraram não pisar mais. Briga de gerações e diferentes religiões, com o pai querendo que o filho assuma o seu legado e evite que uma catástrofe aconteça. Não gostei do final. Francisco poderia ter aceitado a visão do pai sem precisar seguir o mesmo caminho e manter suas próprias crenças.

Miolo de boi – Escrito por Auryo Jotha, autor de Pássara***. Ícaro saiu à meia-noite, em plena virada de ano. Na estrada, encontrou com um homem que fazia parte do Reisado dos Caretas (uma festa que louva o Santo Reis), que lhe pede uma carona. Porém, há  algo de estranho nesse mascarado... Um conto clichê, mas bonitinho.

Usura – Escrito por Igor Chacon. Em sua cama, Fátima, que sofre de Alzheimer, tem um momento de lucidez e recorda o seu marido Chico sobre a Pega de Boi que eles foram anos atrás. E ambos escondem um terrível segredo. Um segredo que eu acabei por adivinhar e por isso, acabou sendo previsível. Conto com final tragicômico.

O dragão fugiu! – Escrito por Cesar Miranda. No dia dois de julho, dia em que se comemora a independência do Brasil na Bahia, os neocoloniais planejam acabar com a festa. Mas não conseguirão pois Jerônimo não permitirá. O conto tem formato de texto de blog. História ok.

A esposa do Diabo – Escrito por Franz Andrade. Há anos atrás, em Caiçara, viviam os Úrsulas, uma família de ciganos ruivos, cujo povo tinha medo e raiva, pois vários acidentes estranhos aconteciam em sua propriedade. E depois de tanto tempo, Thiago retorna para cidade para encontrar Jordália, uma dos Úrsulas. Será que tudo o que diziam dessa família era verdadeiro? Um bom conto com um mistério indecifrável.

Entre ver(s)ões – Escrito por Chico Milla. Nova Milhã é uma cidade onde as pessoas vivem em uma redoma que protege da radiação, chuva ácida etc., além de tomarem pílulas para tudo. Mário, que é policial, tinha a missão de proteger a Festa dos Caretas de ataques terroristas. Lá ele encontrou Bob, um amigo de infância que foi morar em outro país. Este lhe entregou um livro proibido.  Um conto distópico.

Os fantasmas de Sebastião – Escrito por Laísa Couto. Há noite, na véspera de São João, Coração sai escondida de casa e encontra um belo rapaz de olhos azuis. Mas parece que apenas ela consegue vê-lo. Conto de romance adolescente.

Qual a cor do oceano? – Escrito por Henggo. Tarcísio vive numa São Luís futurística e tecnológica. Irritado de como andavam as coisas e com saudade do passado, ele decide fazer a dança do Bumba meu boi, que não era feita já a muitos anos e revelar o que o governo esconde. Conto distópico que valoriza as tradições e foca na briga entre natureza e tecnologia.

Brenno e a Fera – Escrito por André A. Lima. Depois de vários anos morando na Europa, Brenno retorna a João Pessoa para reencontrar sua amiga de infância, Eloísa. Agora, ela trabalha no parque de diversão como a horripilante Monga. E por essa revelação, já esperava onde esse conto ia dá.

Arrebentação – Escrito por Carol Vidal. Marvin perdeu o pai a pouco tempo e agora oferece sua obra para Iemanjá. Então, Marvin foi puxado pelo mar. Conto bonitinho.

Maria de Zambê – Escrito por Márcio Benjamin. Otávio se irrita com os tambores que os escravos tocam na noite de lua cheia. Maria, sua esposa grávida, diz para ele ignorar e ir dormir. Mas escutam Otília, a mãe doente de Otávio, gritar de seu quarto. Algo ruim estava prestes a acontecer. Conto em que os cruéis donos de escravos são punidos.

            Achei a maioria dos contos medianos, sendo os meus favoritos Capa Preta e A esposa do Diabo. Mas foi interessante para mim, como uma pessoa do Rio, conhecer algumas celebrações do Nordeste, como o dia da Independência da Bahia, que é comemorada no dia 2 de julho. Se quiser conhecer, você pode encontrá-lo no Kindle.