sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Os sentimentos de uma Inteligência Artificial

 


 

            Depois de bastante tempo, retorno com mais um livro de Kazuo Ishiguro. Klara e o Sol foi lançado em 2021 e, até o momento em que escrevo, o romance mais recente escrito pelo autor. Vamos para a resenha:

            Klara é uma AA que espera ser comprada por uma criança em sua loja. Enquanto espera, ela observa com fascínio o comportamento dos humanos pela vitrine. Nesses dias, uma menina chamada Josie conversou com ela e parecia muito interessada em comprá-la. Mas a rotina de Josie era diferente da maioria das garotas o que Klara acabaria por experienciar.

            Este é o terceiro romance que leio do autor e o segundo que trata de ficção científica. Por ter lido três desses livros, acredito que posso confirmar que seu estilo de escrita é lento, só acontecendo alguma coisa de relevante na quarta parte de um livro que é dividido em seis partes.

            Uma grande coincidência eu ter lido este livro na época em que roteiristas e atores fizeram greve, com medo da inteligência artificial roubar seus empregos. Mas ao contrário da realidade que estamos vivendo agora, a inteligência artificial deste livro já é mais avançada a ponto de ter sentimentos e até crenças. Aqui elas são conhecidas como AAs e são como se fossem robôs feitos para servir seu humano. A discussão de se deve ou não tratar uma AA como um ser humano é tratada como plano de fundo. Ao invés disso, nos focamos na rotina de Klara e o que ela faz para ajudar a sua humana Josie, que tem uma doença grave e corre risco de vida.

            Os personagens são bem humanos, tanto em qualidades quanto defeitos. Klara, apesar de ser uma AA que foi programada para observar e cuidar de seu dono, tem pensamentos próprios e através da sua observação, acaba criando sua própria crença. Josie, sua humana age bem como uma adolescente que quer ser aceita por seu grupo e se preocupa com seu futuro. Chrissie, a mãe de Josie, talvez gere certa polêmica em suas ações, mas dá para ver o quanto ela sofreu e que apesar de tudo, ela ama sua filha. Há outros personagens que compõem a narrativa, porém, evitarei falar deles para entrar em spoilers.

            O final é melancólico, mas possui algumas partes felizes, ao contrário do outro romance de ficção científica do autor, Não me abandone jamais, cujo final acaba sem esperança alguma. Recomendo a todos que gostam de livros lentos que misturam ficção científica e vida cotidiana. Que o sol ilumine os seus dias.