sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Memórias apagadas



            Como havia dito em uma postagem anterior, esta é a resenha do livro O Gigante Enterrado, livro mais recente do atual ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, Kazuo Ishiguro.
            Axl e Beatrice são um casal de idosos que vive em uma cidade com tocas subterrâneas. Por algum motivo, eles e os aldeões não se recordam bem do passado e quando se fala um assunto e alguém fala de outra coisa, eles começam a falar dessa coisa, esquecendo praticamente o primeiro assunto, como se tivessem déficit de atenção. Suspeitam que seja a névoa que fica nas cercanias da aldeia. Tendo a vaga lembrança de seu filho, que saiu da aldeia anos atrás, o casal decide embarcar em uma viagem e procurá-lo.
            Interessante ver um casal de idosos como protagonista de uma fantasia medieval, o que é raro, pois normalmente são de adolescentes ou adultos que ocupam esse papel enquanto o idoso é, na maioria das vezes, o mentor do herói. Mas o casal também divide o ponto de vista narrativo com Edwin, um garoto saxão e Sir Gawain, antigo cavaleiro e sobrinho do rei Arthur, que também é idoso, que ao contrário dos outros, é narrado em primeira pessoa. Dentre o marido e a mulher, Axl é o que tem mais foco. O último capítulo é narrado em primeira pessoa por alguém que não havia aparecido no livro antes.
          A discussão principal desse livro é sobre a memória. Com essa névoa que faz as pessoas se esquecerem, há uma conversa entre Beatrice e Axl, durante sua jornada, se se vale mesmo a pena tentar acabar com ela, pois além de apagar as lembranças boas, ela também apaga as lembranças ruins. E, além disso, é demonstrado que por causa dela, a briga entre os bretões e os saxões foi deixada de lado, pois nenhum dos lados se lembrava direito dela. Entretanto, ao mesmo tempo, ela fazia as pessoas se esquecerem de coisas consideradas importantes, como o filho desse casal e onde ele estava, assim como outros pais esquecendo de seus filhos e até mesmo de sua existência. Então, estas são as questões: Vale a pena esquecer suas lembranças boas para apagar as ruins? Vale a pena esquecer tanto lembranças boas como ruins em prol de um bem maior? O Deus católico diz que melhor que perdoar é esquecer o que o outro fez de mal a você, mas um esquecimento forçado é realmente bom?
            Para um romance de fantasia medieval, achei meio lento. Teve um pouco de ação e a jornada de cada um dos personagens pode ser considerada uma aventura, porém o tom de melancolia e mistério foram o que mais chamaram a atenção nessa história. Não tenho mais nada a dizer a não ser que ele é mais do que uma aventura medieval, pois fará você refletir. Se for o tipo de leitura que você goste, não perca tempo e comece a ler. Não se esqueça!



sexta-feira, 17 de novembro de 2017

A sombra misteriosa


        Damian adentrou em Greenwood.  Treinava incessantemente para tornar-se um grande guerreiro.  Para isso, sempre penetrava naquela floresta combatendo os pequenos monstros que tentavam invadir sua vila.  Cada dia que passava, ele se sentia mais forte.
            Porém, matar aqueles monstrinhos não era o suficiente.  Precisava de uma missão de verdade.  Foi quando, retornando para Greenville, avistou um velho encapuzado, com um cajado na mão, perto de sua casa:
            - Oh, meu jovem!  Sinto em tua aura um espírito bravo e destemido.  Gostaria de lhe pedir um favor.
            - Quem é o senhor?
            - Sou o grande mago Olaf e vim aqui recrutar voluntários para lutarem contra o Lorde Ridden que está prestes a invadir estas cercanias com um exército de goblins e de criaturas subterrâneas.
            - Entendo.  Mas se o senhor é um mago poderoso, por que o senhor mesmo não acaba com ele?
            - Ridden possui a Manopla das Sombras que impede minha magia de alcançá-lo.  Aceita ou não?
            - Aceito, é claro.
            - Volta amanhã ao nascer do sol e falaremos de sua primeira missão.  Estarei na minha cabana, aquela choupana ali na margem do córrego.
            Ao chegar em casa, Damian não conseguiu se conter de tanta alegria e contou logo para sua mãe que assim reagiu:
            - Oh, meu filho!  Finalmente, você poderá realizar seu sonho.  Será um guerreiro extraordinário, igualzinho ao seu pai.  E esse mago Olaf é bem famoso e não conheço melhor mestre para você.  Antes de partir, irei preparar poções energéticas, pós mágicos e unguentos curativos, caso você necessite.  Nem acredito, meu filho em seus dezesseis anos se tornará num guerreiro.
            Quando escureceu, Damian saiu de casa.  Gostava de admirar as estrelas.  Naquela noite, porém, não houve estrelas.  Ao invés disso, viu uma silhueta grande se movimentando no céu, com formato de uma mulher, mas não era tão bem definida assim.  Correu e chamou sua mãe.  Quando retornou, nenhum traço daquela silhueta.  A mãe confortou o filho, em voz baixa:
            - Damian, você está cansado e começando a ver coisas.  Vai dormir que amanhã terá um longo caminho pela frente.
            Damian foi para a cama.  No entanto, tinha certeza de que o que vira não fora fruto de seu cansaço.
            No dia seguinte, Damian mal tomou seu desjejum e dirigiu-se ao local combinado com Olaf.  Quando entrou na cabana, o mago estava à sua espera sentado num pequeno banco de madeira:
            - Preparado para o seu teste?
            - Teste?
            - Acha mesmo que enviarei alguém despreparado para enfrentar o Lorde Ridden?  Começaremos com missões simples e depois as mais difíceis.  Mas, primeiro, preciso lhe testar.
            - E dará tempo de fazer tudo isso antes da invasão?
            - Sim.  Lorde Ridden é uma pessoa meticulosa, planeja tudo nos mínimos detalhes.  Ele demorará bons dias até que chegue aqui com seu exército.
            - Entendo.  Como é o teste?
            - Você irá penetrar bem fundo em Greenwood e trará a pele de um lobo de cor prata.  Para isso, tu precisarás de uma arma potente.
            O velho abriu o armário e pegou uma adaga com um cabo de ouro e deu para Damian:
            - Isto irá lhe ajudar.
            - Obrigado.
            - Boa sorte, jovem aprendiz.
            Damian seguiu seu caminho até Greenwood.  Mal entrou na mata e deparou-se com um bando de norlucks, criaturinhas verdes e gosmentas que quando eram mortas, davam agilidade para o seu matador.  “Será uma longa jornada.  Que bom que trago comigo as poções e unguentos que minha mãe me deu”. – pensou.
            Quando chegou quase no limite da floresta, avistou uma caverna.  Na entrada, cinco lobos prateados dormindo.  “Se eu atacar um deles, os outros irão acordar e me atacar.  Ataco ou não ataco?  Ataco.  Não tem outro jeito”.
            Damian partiu em direção ao lobo mais robusto, o que fez com que os outros despertassem.  Damian teve que gastar o pó do sono para que todos os lobos voltassem a dormir.  Matou apenas um deles.  Arrancou a pele que guardou na sua bolsa.  Decidiu levar a carcaça também, pois sua mãe poderia aproveitá-la no jantar.
            Quando retornou à vila, Damian foi direto à casa do velho mago e entregou-lhe a pele:
            - Eis a pele de lobo prateado.
            - Muito bem, meu jovem.  Passou no teste.  Vejo que teve uma boa luta contra os lobos.  Vai descansar.  Amanhã, eu lhe darei uma verdadeira missão, mas antes que saia, toma isto como recompensa.
            Olaf concedeu-lhe três moedas de ouro.  “Que bom, assim poderei comprar algumas poções” – pensou Damian.
            A mãe de Damian fez um saboroso cozido com a carcaça do lobo.  Damian pouco descansou e ajudou nos afazeres da casa.  A noite caiu rápida e Damian confirmaria se o que vira na noite anterior era ilusão ou realidade.  Saiu e avistou no céu um formato de mulher, só que bem mais definido.  Cabelos longos e corpo esbelto.  A figura se movimentava de um lado para o outro.  Ficou de costas.  Quando Damian se tocou no que ela estava fazendo, tapou os olhos com as mãos e pensou: “Ela está trocando de roupa!  Vejo um vulto de mulher no céu trocando de roupa!  Acho que preciso procurar outra distração”.
            No dia seguinte, Damian regressou à casa do sábio verificar qual seria sua primeira missão.
            - Bem, meu jovem.  Sua primeira missão será entregar esta joia à ninfa Potámi, que vive no Rio Makrys, que é guardado pelo troll Tork.
            Damian aceitou o desafio.  Já ouvira falar de Tork e sabia o quão difícil seria até aproximar-se do rio, por isso comprou muitas poções para se garantir.
            A luta contra o troll foi árdua.  Damian sentiu que devia beber uma poção, para ter mais energia.  Todavia, algo misterioso o impediu de tal intento.  Uma força desconhecida levou-o a desarmar o troll ao invés de beber a poção revitalizadora.  A sorte é que o troll morreu com apenas uma facada de sua própria adaga.  Porém, Damian achou tudo muito estranho.  É como que seu corpo e sua mente estivessem agindo separadamente um do outro, por um momento.  Ele parou de pensar nisso e entregou a joia para a ninfa Potámi que, por gratidão, deu-lhe outras poções e uma água miraculosa que desperta uma pessoa sem sentidos.  Damian não entendeu para que lhe serviria esse líquido se ele estava sozinho e não tinha ninguém para dar-lhe a água caso estivesse desmaiado.
            Voltando ao mago, este disse-lhe que a outra missão seria no dia seguinte.  Novamente, Damian viu a silhueta da moça no céu.  “Afinal, o que é você?  É imaginação ou realidade?  É boa ou má?” – pensou.
            Na manhã seguinte, Olaf decretou a segunda missão: capturar um kabaly, uma criatura muito rara que possui orelhas de coelho, cabeça e corpo de gato e asas grandes que parecem as de uma borboleta.  Damian o encontraria na Caverna Azul, onde mora um ogro muito poderoso.
            Damian, seguindo uma trilha, chegou até à caverna, munido de suas poções.
            No combate com o ogro, sentiu de novo aquela sensação de que sua mente e seu corpo não trabalhavam em harmonia.  Estava perdendo a luta, sentindo que ia desmaiar e suas mãos não se mexiam para alcançar a poção.  Passado meio minuto, Damian fechou os olhos e despencou-se no chão, imóvel.
            Entretanto, transcorrido outro meio minuto, Damian despertou com todas as energias recuperadas.  Olhou em sua mochila e notou que sua água mágica não estava mais lá.  Quem a usara nele?  Não podia ser o ogro, seu adversário, que, atônito, supunha que o tivesse derrotado.  Será que era essa força misteriosa que anda controlando-o?  “Será que estou sendo possuído por algum espírito?” – pensou Damian.
            Refeito, Damian não demorou em derrotar o ogro apalermado.  Porém, demorou muito para achar o tal kabaly, bem escondido no fundo da caverna.
            O bichinho foi entregue ao mago.  Damian desabafou, contando-lhe o ocorrido, seus pensamentos e suas suposições de estar sendo possuído.  Olaf não acreditou na sua teoria, pediu – lhe para descansar, pois isso era fruto do cansaço em demasia.  E que apesar de tudo sua próxima missão não seria adiada.  Seria amanhã e mais difícil ainda.
            E o estranho vulto noturno voltou a aparecer naquela noite.  Será que aquela aparição estava por trás da posse de seu corpo?  Fora ela que dera a água mágica quando inconsciente?  Tudo não passaria de alucinação?  Não, não era.
            Na terceira e quarta missões, Damian comprovou que não conseguia mais controlar seu corpo na hora dos embates.  Era como se seu corpo ganhasse vida autônoma e pensamento próprio, separado dele.
            Confuso e um pouco desolado, Damian retornou à cabana de Olaf, após a quarta missão.  O mago disse:
            - Jovem aprendiz, seus esforços foram reconhecidos pelo Conselho de Feiticeiros.  Amanhã, receberemos a visita de uma grande conselheira.  Sua magia é tão poderosa que pode atravessar dimensões.  Ela é sábia e detentora de segredos jamais conhecidos pelos ouvidos humanos.
            - Talvez ela seja capaz de saber quem anda controlando meu corpo...
            - Não seja tolo, meu jovem.  Isso deve ser sua imaginação.  Não gaste o tempo da grande maga com bobagens.
            - Mas...
            - Sem mas!  Vai para casa e prepare-se para o encontro.
            Damian obedeceu.   Após o jantar, Damian, curioso, foi até à janela de seu cômodo.  Viu aquele vulto.  Esfregou os olhos.  Lá permaneceu, mais nítido.  Nem ligou.  Foi para a cama.
            Horas depois, despertou num sobressalto.  Ansioso pelo encontro com a Grande Conselheira, nem parou para comer.  Porém, para sua surpresa, o céu ainda estava escuro.  “Que esquisito!  Estava crente que já era de manhã” – pensou ele.  Decidiu voltar a dormir.
            Três horas passadas, Damian sentou-se e olhou pela janela.  Continuava escuro.  “Não é possível!  Já era para estar claro!”  Foi até o cômodo de sua mãe acordá-la.  Para seu terror, ela não acordava.  Ele chacoalhou, gritou e ela não se movia.  Desesperado, saiu para pedir ajuda.
            Correu com as pernas bambas até o vizinho mais próximo.  Bateu palmas, bradou, mas ninguém atendia.  Foi até à cabana de Olaf e nada.  Era um pesadelo longo e sofrido.  Era como se todos estivessem num sono profundo numa noite sem fim.
            Damian caminhou cambaleante até a floresta.  Os animais que conseguiu visualizar estavam inertes como estátuas.
            Ergueu o pescoço e olhou para o céu.  Nem o vulto da mulher estava mais lá.
            Deitou-se na grama e ficou fitando o céu.  Não soube dizer quanto tempo.  Horas?  Dias?  Semanas?  O tempo não parecia passar.  A noite sempre noite.  Fome e sede, não precisava se preocupar pois por algum motivo não os sentia.
            Quanto ao estranho vulto, ele não desaparecera completamente.  Aparecia e se movia por alguns minutos e sumia, reaparecendo horas depois, raramente.  A cabeça de Damian girava.  Tudo imóvel.  Apenas o vulto tinha vida.  “Desde que você surgiu, minha existência tornou-se confusa, indecisa, imprecisa.  Tenho passado dias observando-a e me pergunto se não é você que possui o meu corpo na hora da contenda.  Sendo ou não sendo a causa de tudo isso, estou exausto de ficar parado olhando para você”.
            Damian levanta-se e urra com toda a força para a sombra celeste:
            - Ei, você!  Pode me ouvir?!
            A figura da moça postou-se de frente.  Damian não conseguia ver os olhos, mas sua expressão facial era de uma pessoa surpresa, confusa.
            - Desde que apareceste, minha vida tem estado cada vez mais sem sentido.  Primeiro, a sensação de estar sendo controlado nas lutas.  Segundo, alguém desconhecido deu-me a água mágica.  Terceiro, o mundo todo ficou paralisado, menos eu.  Isto tudo é obra tua?
            Não houve resposta.  Damian exasperou-se:
            - Por favor, faça tudo voltar a ser o que era!  Eu lhe imploro!
            A expressão da jovem parecia mais confusa do que antes.  “Por favor!” – pensou de olhos bem fechados, quase chorando.
            A sombra se mexeu e crescia como se estivesse indo em direção ao clamor de Damian.  Foi se aproximando até que... O sol despontou no horizonte.  As criaturas traçaram movimentos suaves.  Tudo ganhou vida.
            Damian correu para casa.  Logo que entrou, viu sua mãe na cozinha.  Deu-lhe um abraço apertado e um beijo.  Bebeu seu leite morno, deliciou-se com o pão e foi para a cabana do mago.  Estava feliz que tudo tinha voltado ao normal.
            Narrou a vertigem ou pesadelo quase infindável ao mago.  Porém, Olaf encarou-o decepcionado e disse:
            - Menino!  Quando você aprenderá a diferença entre sonho e realidade?!
            - É verdade, eu juro!
            - Não é hora para isso!  Temos coisas mais importantes a tratar.
            Ao lado de Olaf, havia uma mulher alta e magra.  Rugas cobriam sua face.  Trajava um vestido longo e preto e portava um chapéu pontudo.
            - Damian, esta é a Grande Conselheira da Magia.  Ela veio aqui te conhecer e te dar algo para seguires na tua jornada.
            - Encantado – disse Damian, fazendo uma reverência.
            - Encantada – disse a senhora. – Bom, como Olaf disse, vim presentear-te com algo útil para tua jornada.  Mas, quem decidirá o que será, serás tu.
            - Então, a senhora está me dizendo que atenderá um desejo meu?
            - Um desejo que seja útil para sua jornada, por isso, pense com cuidado.
            Damian pensou por um tempo.  Seus pensamentos estavam tão focados no que lhe havia acontecido recentemente que era difícil decidir.  Até que por fim, falou:
            - Eu quero que a senhora traga o ser que tem me controlado todos esses dias.
            - Garoto, você está maluco? – disse Olaf, zangado. – Pedir à Grande Conselheira algo inexistente.
            - Na verdade, esse algo existe – retrucou a maga, em tom sério.
            Os dois olharam para a conselheira, curiosos.
            - Eu ouvi a história que tu contaste ao Olaf, meu jovem, e creio que seja verdade – iniciou a feiticeira. – Pesquisas que fiz durante todos esses anos me levaram a crer que nosso mundo está conectado a outro.
            - Então, o que esse garoto relatou tem a possibilidade de ser verdade? – perguntou Olaf.
            - Sim.  E acho que este ser que anda controlando a vontade deste jovem durante suas batalhas pode ser útil.  Podemos aprender e também ensinar muitas coisas a essa entidade e assim derrotar Lorde Ridden.  Afastem-se!  Tentarei invocar esse ser.
            Olaf e Damian deram um passo para trás.  Ela cerrou os olhos e sussurrou palavras irreconhecíveis.  Mexia as mãos e delas saía um pó azul parecido com purpurina.  A Conselheira manteve esse ritual por alguns minutos até que por fim fez um rápido movimento com as mãos, jogando o pó azul mágico no chão.
            Da purpurina azul surgiu uma jovem.  Tinha cabelos presos por um prendedor, usava óculos, trajava uma camisola rosa e segurava um mouse de computador.

THE GAME CONTINUES

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Fronteiras do Universo parte 2: Protagonismo Duplo?


Indo para o segundo livro da trilogia, A Faca Sutil, vemos que houve mudança. Esta capa parece ser desenhada em um formato 3D, mais realista, enquanto a antiga parece ter sido desenhada a mão. Mas isso é achismo meu, pois não entendo esse tipo de coisa. Uma mudança interna que eu notei foi a troca da palavra daemon para dimon, que sonoramente é a mesma coisa.
Will era um garoto de 12 anos que vivia com sua mãe, que achava que estava sendo perseguida por gente que não existia. Mas depois, homens estranhos começaram a ir para a sua casa à procura de algo deixado pelo pai de Will. Como eles deixavam a mãe assustada e não paravam de ir a sua casa, Will deixou a mãe com uma pessoa de confiança, voltou para casa e procurou o que o pai supostamente havia deixado. Ao achar, tirou um cochilo, até notar que sua casa estava sendo invadida pelos mesmos caras. Conseguiu fugir, mas acabou por matar um dos homens acidentalmente. Em sua caminhada pela cidade achou algo que parecia ser uma janela, que dava para um lugar diferente do que conhecia. E entrou.
Já pelo resumo, se nota que a história não é apenas de Lyra, como era no volume anterior. O foco é tanto em Lyra quanto Will. Tem capítulos que focam também em Lee Scoresby, Serafina Pekkala e um capítulo na doutora Malony, só que todos eles são encaixados na jornada das duas crianças. Apesar da introdução de Will deixar a história mais interessante, eu não gostei do jeito como Lyra fora reduzida de protagonista independente e corajosa, para uma simples ajudante do menino. Ainda mais que nesse e no outro livro foi mencionado que o destino dela era importante. Entendo que ela estava em um mundo diferente do que conhece, mas mesmo assim achei a mudança drástica demais. Espero que o terceiro volume retorne.
A Faca Sutil tem uma quantidade pequena de capítulos comparada com os outros dois livros da coleção, contendo apenas quinze capítulos. Porém, teve bastantes revelações. Algumas surpreendentes e outras previsíveis. Já havia previsto como um dos personagens do livro ia morrer só com algumas poucas descrições de um capítulo anterior. E claro, como no primeiro livro, foi fechado com um cliffhanger.
Como no anterior, a saga de ciência vs religião continua, sendo reveladas mais informações sobre o Pó. E é claro, da guerra que Lorde Asriel está planejando. Acho que os católicos ultra religiosos não iriam gostar desse livro, já que SPOILER, Deus aparentemente é do mal nessa história, assim como a sua igreja. Acho que ninguém deveria ser religioso a ponto de ficar ofendido com o que uma obra literária diz. Foi lançado o seriado Deuses Americanos, baseado no livro de Neil Gaiman, que envolve vários deuses mitológicos, de culturas africanas e asiáticas e inventados pelo próprio autor. Nem por isso, vejo gente reclamando com relação a religião. Pretendo ler esse livro algum dia. Bem, isso é tudo que eu tenho a dizer por agora. Vejo vocês no próximo volume.