Imagem tirada do site da Amazon Brasil
Não se sabe se ele nasceu
assim ou se tornou assim com o tempo, mas Heitor era um homem vazio.
Literalmente vazio.
Quando se olhava no espelho, seu reflexo era de uma forma
humana sem feições, sem cor. Heitor foi ao médico para ver o que tinha de
errado. Mas não foi possível descobrir, pois seus órgãos não eram visíveis, se
é que ele tivesse algum.
Além disso, havia momentos em que Heitor podia
ultrapassar objetos pelo seu corpo. Isso era algo bastante útil, pois não
precisava usar sacolas plásticas na hora das compras. Podia usar a si mesmo
como cesta e carregar dentro de si tudo que queria levar.
Um de seus hobbies favoritos era observar pássaros.
Gostava tanto deles, que uma vez, tentou juntá-los dentro de si para leva-los
para casa. Mas as aves não pareciam felizes dentro do pequeno espaço que era o
seu corpo e ele acabou as libertando.
Ele caminhou no meio da multidão. Sem rumo. Mas sentiu
pela primeira vez algo dentro de si bater forte. Era vermelho e ficava no meio
de onde aparentava ser seu peito. Se sentia sozinho.
Por
não ter olhado para o rosto das pessoas ao seu redor, Heitor nem percebeu a
vinda de uma mulher, também sem feições, com apenas um órgão vermelho batendo
forte aonde era para estar seu peito. Ela também não o vê. Estavam na frente um
do outro, indo em direções opostas. Eles se chocaram. E esse choque fez com que
passassem um pelo outro como fantasmas. Seus corações se uniram por um breve
momento. Heitor continua a andar, como se nada tivesse acontecido. Mas Clarice
para, e o olha.
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