Para comemorar o
Halloween, decidi fazer a resenha de uma história de terror. A lenda do
cavaleiro sem cabeça é um conto escrito pelo americano Washington Irving,
lançado em 1820 como parte da coletânea Os Esboços de Geoffrey Crayon.
Icabode Crane foi enviado para ser professor na pequena
cidade de Greensburgh, conhecida pela presença de várias figuras apavorantes,
inclusive a do famoso Cavaleiro Sem Cabeça. Ao ver as riquezas de uma de suas
discípulas musicais, Katrina Van Tassel, ele tenta persuadir a jovem a se casar
com ele. Para seu azar, Brom Bones, o rapaz mais forte e encrenqueiro do local,
também tem interesse na moça.
Apesar do conto ter sido feito por um americano, a figura
do cavaleiro sem cabeça já é conhecida no folclore alemão, servindo como
inspiração para o monstro que aparece na obra. Algo cômico de se pensar que um
dos primeiros contos americanos se utilizou de um monstro estrangeiro. Além
disso, a história se passa em um local cuja descendência era holandesa e não
inglesa.
Quanto aos personagens, por ser um conto, são poucos que
têm real significância. A pessoa que tem suas características mais detalhadas é
com certeza Icabode, que por ser o “herói” da história, faz sentido. Mas
falamos dele depois. Seu interesse romântico, Katrina, só sabemos um pouco de
sua aparência. Até mesmo sua casa é mais detalhada que a própria moça. Ela só
serve como uma ferramenta para a história. Já o rival, Brom Bones, é descrito
como o completo oposto de Icabode, não só pela aparência forte, mas também pela
personalidade maliciosa, sem medo, apesar da pouca educação.
Falemos do protagonista. Icabode está longe de ser um
herói romântico. O “amor” que ele tem por Katrina é mais pelo fato da grande
herança que ela receberá do pai. Talvez seja por isso que o narrador descreve
muito pouco a moça, pois Icabode estava ocupado demais olhando os detalhes de
sua fazenda, que poderia se tornar dele se ele a conquistasse. Além disso, ele
é guloso, indo a casa de seus alunos para comer algo de bom. Também é
supersticioso, e acreditava em todas as lendas que o povo contava, algo
contraditório para um professor. Bem provável que o autor o fez assim para que
não tenhamos pena do que aconteceu com ele depois.
O icônico Cavaleiro infelizmente só aparece nos momentos
finais do livro. Mas o narrador especula suas origens no início do conto.
Enquanto se ele existe ou não, fica no ar, pois o livro te dá a possibilidade
tanto de um final realista quanto o de um sobrenatural.
Lembro que quando era bem pequena, assisti uma adaptação
deste livro em desenho. Ela foi feita pela Disney em 1949, época em que a
empresa não tinha medo de traumatizar crianças com figuras assustadoras*.
Foi uma boa leitura. Gostaria que tivesse mais momentos
com o Cavaleiro Sem Cabeça e mais desenvolvimento dos outros personagens, mas
me contento com o que foi apresentado. Por ser uma história antiga, há algumas coisas
que hoje em dia seriam inaceitáveis, como castigar alunos com uma vara e
escravidão. Porém, nada disso tem foco ou afeta o conto. Por isso, não percam a
cabeça.
*Link para a primeira
parte do desenho: https://www.youtube.com/watch?v=t-6g_MxiDqI
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