sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

A criação de um mundo


 

            Trago novamente outra obra do irlandês C. S. Lewis. Mas não se preocupem, esta é bem mais leve. O Sobrinho do Mago faz parte da coleção literária mais famosa do autor, As Crônicas de Nárnia. Li todos os livros aos onze anos, com exceção do último, cujo final foi revelado antes que eu pudesse tê-lo começado. Agora, decidi reler todos, e dessa vez irei até o fim. Será que eles continuam bons?

            No tempo em que Sherlock Holmes ainda passava pelas ruas de Londres, Digory foi obrigado a ir morar com os tios por causa de sua mãe doente. Lá ele conhece Polly, sua vizinha, e se tornam bons amigos. Mas em um pequeno erro em sua exploração, eles acabam indo parar no sótão do tio de Digory, André, que deseja usá-los para seus experimentos.

            Algo interessante de se saber é que este livro é considerado o primeiro na cronologia de Nárnia. Mas isto só com relação aos acontecimentos da história. O Sobrinho do Mago foi lançado em 1955 enquanto O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa estreou em 1950, cinco anos antes. É uma situação similar aos filmes de Star Wars em que os episódios um, dois e três vieram depois do quatro, cinco e seis. Então, existem duas formas de se ler As Crônicas de Nárnia: uma pela cronologia de acontecimentos e outra pela ordem de lançamento dos livros. Escolhi a primeira opção. Se for pela segunda opção, O Sobrinho do Mago seria o sexto da série.

            Devo confessar que lembrava muito pouco deste livro, pois li há uns quinze anos atrás. Foi bom refrescar a minha memória, pois poderei dar agora a visão de um adulto quase maduro. Agora que tenho mais anos de experiência literária, não posso deixar de comparar os elementos desta obra com outras. Uma que acredito ser coincidência é a semelhança dos anéis que as crianças usam para ir ao bosque de vários mundos. Ele é feito a partir do pó deste local. Então, é um pó que te leva a outros lugares. O que isso me lembra? O pó de pirlimpimpim do Sítio do Picapau Amarelo, cujo seu primeiro volume foi lançado em 1931, vinte e quatro anos antes do Sobrinho do Mago ser lançado.

            Também acredito que a trilogia de As Fronteiras do Universo de Philip Pullman foi feita em resposta às Crônicas de Nárnia. Ambas se tratam de viagem por diferentes mundos, mas enquanto a de Lewis apresenta um modelo cristão, a de Pullman tem uma visão mais ateísta. O primeiro é para crianças de oito a onze anos (infanto-juvenil), e possui uma linguagem e ilustrações destinadas a este público, e o segundo acredito ser de doze anos para cima (juvenil).

            Por falar em religião, este livro possui cenas similares a algumas que acontecem na Bíblia. O que não é de se surpreender, pois C. S. Lewis era cristão e um autor conhecido por colocar vários elementos do cristianismo em suas obras. Aslam, o leão, cria Nárnia, e escolhe pares de animais para dar o dom da fala. A divisão dos animais em pares lembra a arca de Noé, que traz um casal de cada animal para repopular o mundo depois do dilúvio. Digory é tentado a tocar o sino por curiosidade, assim como Eva foi convencida a comer o fruto proibido e ambos acabaram por trazer o mal. Há outra referência a história de Eva, mas com resultados diferentes dos da Bíblia. Além disso, a história dá muitos indícios que Aslam e o Deus cristão são a mesma entidade. Enquanto a feiticeira Jadis representa o mal, e em uma cena específica, a serpente que tenta Eva.

            Uma curiosidade: no livro, a mãe de Digory está muito doente, quase morta. Isto remete a perda da mãe de Lewis quando ele tinha dez anos de idade. Só que aqui, Digory consegue salvá-la, que era o que o autor desejava ter feito por sua mãe.

            Um acontecimento do livro que me chamou a atenção foi quando Aslam cria os seres vivos de Nárnia, incluindo seres fantásticos como ninfas, faunos, anões e um Deus do rio. Ele é uma representação do Deus cristão e ele foi o responsável pela criação de outro deus. Será que isso significa que para a religião cristã, está tudo bem acreditar na existência de outros deuses desde que louvemos o Deus cristão como o mais poderoso? Me considero católica, mas como a maioria dos brasileiros, não sou praticante, por isso não sei a resposta.

            Por ser o primeiro da cronologia de Nárnia, ele apresenta personagens que aparecerão em futuros volumes, como Aslam, a feiticeira e um outro que deixarei em segredo. Além disso, apresenta a origem de dois objetos proeminentes do Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa.

            Foi uma boa releitura. Mesmo tendo crescido, consegui me divertir. Recomendo crianças e até adultos a lerem esta obra. Sendo religioso ou não, acredito que o leitor consiga tirar deste livro algumas boas lições. E agora que cheguei a este mundo, vou explorá-lo mais um pouco. Vejo vocês numa próxima resenha.

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