sexta-feira, 23 de abril de 2021

O falso Aslam

 


             Finalmente chegamos ao último volume das Crônicas de Nárnia. O único que não havia lido na minha infância. Minha leitura está completa. A Última Batalha foi lançado em 1956, sendo este o último livro da série.

            Lá pelas bandas do ocidente de Nárnia, um macaco chamado Manhoso e um burro chamado Confuso encontram uma pele de leão. Manhoso faz dela uma capa para Confuso e o convence a se passar por Aslam para tomar o reino.

            Devo começar dizendo que a ideia do macaco de usar a figura de Aslam para enganar a todos para se beneficiar lembra bastante de como as igrejas antigas lucravam com a enganação do povo assim como controlavam tudo através do medo que as pessoas tinham de irem para o inferno caso não lhes obedecesse. Também há uma representação dos ateus através dos anões, que não querem ser enganados por ninguém e de outros dois personagens, que apesar de não terem esta crença, usam para enganar os outros. Como este é um livro que vê o cristianismo como algo positivo e essencial, não preciso dizer que eles não terão um destino muito bom.

            Este é o segundo livro que foca mais em um personagem que vive no mundo fantástico de Nárnia ao invés das crianças que vêm do nosso. Jill e Eustáquio que aparecem na Cadeira de Prata estão aqui também e têm um bom foco, mas acredito que o principal protagonista seja Tirian, o último rei de Nárnia.

            Os calormanos, que tiveram destaque no Cavalo e seu Menino e tiveram uma pequena aparição na Viagem do Peregrino da Alvorada como compradores de escravos, estão de volta para causar uma pequena polêmica em seus leitores. Como disse em uma de minhas resenhas, o país da Calormânia teve como inspiração os países do Oriente Médio e os livros retratam de uma forma majoritariamente negativa. Aqui apenas um calormano é apresentado como bom enquanto os outros continuam seguindo os planos para dominarem Nárnia. E o deus deles que nos foi apresentado, Tash, é praticamente a contraparte ruim de Aslam, sendo uma possível representação do diabo, o que joga mais lenha na fogueira.

            Agora me focarei em partes que podem ou não estragar a sua leitura. Se quiserem saber minha opinião final, pulem para o último parágrafo. Neste livro há uma referência explicita a caverna de Platão, saída da boca de um dos personagens. O que faz sentido pois a Nárnia que conhecemos não passa de uma cópia/sombra da verdadeira Nárnia que se encontra próxima ao país de Aslam.

            Infelizmente, a informação que recebi anos atrás sobre as crianças terem morrido em acidente de trem se provou ser verdadeira. Porém, elas ficaram contentes, pois agora poderiam viver felizes com seus pais e amigos que fizeram em Nárnia. Com exceção de uma pessoa: Susana. Ela foi a única que não estava no trem, por isso, permaneceu no nosso mundo. Além disso, é dito pelos personagens que ela não é mais “amiga de Nárnia” e que só vive para festas, maquiagem, e possui um grande desejo de crescer. Havia algumas pistas no decorrer dos livros como em o Príncipe Caspian, em que ela é a última de seus irmãos a ver Aslam, que estava invisível para todos exceto Lúcia. É bem provável que ela tenha sido poupada para conseguir uma redenção antes de ir para o “Reino dos Céus” de Aslam. Ainda assim, foi meio duro com Susana, pois ela terá de lidar com a perda de toda a sua família. Infelizmente, Lewis não fez um texto focando em como ela lidou com a perda. Seria legal um romance ou uma série focada nela. Daria o nome de Susana, a Gentil, a partir do título que ela ganhou enquanto reinava Nárnia ou Susana de Nárnia.

            Não sei se posso dizer que gostei ou desgostei deste livro. Seu gosto era tanto amargo quanto doce. Mas posso dizer que valeu a pena fazer a jornada. Reli e relembrei várias coisas e tive um novo olhar com outras até chegar aqui. Como disse no primeiro parágrafo, este foi o único livro que não li quando era criança. Gostaria muito que não tivessem me dado este spoiler, pois adoraria saber que reação eu teria ao chegar ao final. No entanto, não podemos mudar o passado. Temos que seguir em frente. Agora que terminei esta coleção me pergunto: Será que devo reler Desventuras em Série ou Harry Potter? Cheguei a lê-los na infância, mas parei faltando dois ou três livros para acabar. Quem sabe eu tenha coragem para retomá-los um dia.

 


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