Vamos para uma obra pouco
conhecida de um autor que poucos conhecem, mas que teve muita importância no
mundo literário. A Princesa Flutuante foi publicada pela primeira vez em
1864, junto com outras histórias no livro Adela Cathcart e foi escrita
pelo escocês George MacDonald. Ele foi mentor de Lewis Carroll e a pessoa que o
convenceu de publicar o manuscrito de Alice no País das Maravilhas. O escritor
também influenciou grandes nomes como C. S. Lewis, Mark Twain e J. R. R.
Tolkien.
O rei estava muito impaciente e queria logo ter filhos.
Quando sua filha finalmente nasceu, ele decidiu enviar vários convites para o
batismo da menina. Mas esqueceu de convidar a sua irmã, a princesa Makemnoit.
Rancorosa, ela foi mesmo assim e enfeitiçou a criança que começou a flutuar
após a água ser jogada em sua testa.
Pelo resumo acima, já vimos que A Princesa Flutuante
se assemelha ao conto da Bela Adormecida. Mas apenas no começo. A trama
da história se dirige para uma direção completamente diferente.
Além
de construir bem o funcionamento da estranha condição da princesa, MacDonald
aproveita também para relacionar com a personalidade da garota. A princesa não sente
tristeza e dá gargalhada de tudo. Parece também não possuir muita empatia pelos
outros, por viver sempre fora do chão e ser diferente dos outros. Ela não sente
o peso do mundo, literalmente e figurativamente. O único lugar em que ela pode
se sentir séria é quando está dentro do lago de seu reino, seu local favorito, cuja
água a faz ter gravidade de novo. É bem simbólico uma pessoa que vive em seu
próprio mundo flutuar nas nuvens, longe de tudo e de todos.
Outro personagem que tem um papel importante para a
história é o príncipe. Ele é descrito como alguém perfeccionista, sempre vendo
defeito nas princesas que conhecia. Com exceção da nossa protagonista, cujo
único defeito que ele vê é o de flutuar. Já eu, encontrei mais defeitos nela,
como mencionei no parágrafo acima, mas nem tudo que é perfeito para mim será
perfeito para o outro. Independente disso, ele será uma peça-chave para a
mudança da princesa. Os demais personagens cumprem bem o seu papel, e o autor
aproveita para dar um pouco de personalidade a eles.
Algo que para alguns seria considerado bobo é que a
maioria dos personagens não possui nome. Os únicos que possuem nome são a vilã
da história, Makemnoit e os dois filósofos chineses, Mono-Tono e Imita-Tong,
que abriram uma discussão interessante do porquê a princesa flutuava e como
trazê-la de volta, mas acabaram não tendo relevância nenhuma. Pelo menos a
princesa titular e o príncipe poderiam ter sido nomeados.
Apesar de adorar finais felizes, acho que teria sido de
grande impacto se tivesse terminado em um sacrifício. Pois isso daria ao livro um
tom maior de gravidade pois seria um peso que a princesa teria de guardar para
a vida inteira após a quebra de seu feitiço.
As ilustrações dessa edição foram feitas pela espanhola
Mercè López. Os desenhos são bonitos e parecem terem sido feitos com tinta.
Alguns deles dão um certo ar de melancolia, mas isso não estraga a obra, pelo
contrário, só dá um charme a mais ao texto.
Gostei do livro e do estilo de escrita do autor. Agora consigo
compreender como seus livros inspiraram vários escritores conhecidos. Pena que suas
obras são raras de se encontrar por aqui. Mas quem sabe se olharmos para o céu,
um de seus livros flutue até nós. Ou nós mesmos podemos flutuar até eles. É só
pagar uma passagem de avião e procurar em alguma livraria americana.