Mais um livro que me faz
voltar a infância. O jardim secreto foi escrito pela inglesa Frances
Hodgson Burnett e lançado pela primeira vez em 1911. Outro livro famoso foi A
princesinha de 1905.
Mary é uma garotinha mimada e ranzinza, que mora com os
pais na Índia. Como seu pai trabalha muito e sua mãe não dá a mínima para ela,
preferindo ir a festas, os criados nativos cuidando da menina. Mas uma cólera
atinge o local, matando os pais da menina e fazendo os criados saírem da casa
depressa, deixando Mary sozinha. Após ficar um tempo na casa de um pastor
inglês, Mary foi mandada para a mansão de seu tio Archibald Craven, um homem
que não gosta de ser incomodado e cuja maior parte dos cômodos da residência são
trancados. Será que há algum segredo escondido nesta antiga mansão?
Conheci este título através de um desenho animado feito
pela ABC Weekend Specials*. Lembro de tê-lo visto várias vezes no tempo
em que ainda tinha vídeo cassete. Mesmo não tendo assistido novamente, já posso
confirmar que existem várias diferenças entre o seu material original e sua
adaptação. O principal que me vem em mente é a falta de antagonista no livro,
enquanto a animação transformou a senhora Medlock e o doutor Craven, tio de
Colin, em vilões interessados em matar o garoto para provavelmente pegarem sua
fortuna. No romance, se tiver de eleger um antagonista, seria os sentimentos negativos
que dominam os personagens, principalmente Mary, Colin e Archibald.
Falando nos personagens, diria que os protagonistas são
Mary e Colin, pois é do ponto de vista deles que acompanhamos a maior parte da
história. Eles têm uma personalidade tão parecida que o próprio livro menciona
isso. Ambos começam mimados e egoístas, que no caso de Colin, é ainda pior por
ser doente. Foi com a ajuda do jardim e de algumas pessoas que ajudaram em sua
progressão para se tornarem pessoas melhores. O que mais se destaca é Dickon,
irmão da empregada Martha, que serve como o modelo positivo para os dois além
de atraí-los por causa de seu misterioso dom de se comunicar com os animais.
Como disse no parágrafo anterior, a senhora Medlock não é uma vilã como no
desenho. Na verdade, ela nem tem tanto destaque na narrativa, enquanto o doutor
Craven apenas cumpre seu papel de médico.
Acredito que o intento do livro seja dar as crianças um
pensamento positivo, mesmo em situações terríveis. Através do que Colin chamou
de “Mágica”, dizendo para si mesmo coisas como “ele vai conseguir” fará com que
as coisas fiquem ao seu favor. É algo bonitinho dizer isso a uma criança, mas
nem sempre isso se aplica a realidade.
Devo
dizer que as ilustrações me atraíram. Elas dão um ar de tempos mais antigos. A editora
34 fez uma boa escolha ao trazer os desenhos de Tasha Tudor, que fez a
versão do livro de 1962, pela Harper & Row Publishers. Tudor também foi
autora e ilustrou seus próprios livros, mas nenhum deles ganhou uma tradução
por aqui.
Por ter sido lançado em 1911, época em que a Índia era
colônia da Inglaterra, há alguns momentos em que pode deixar os leitores um
pouco desconfortáveis. Os indianos são denominados como nativos e “pretos” e
antes de Mary se desenvolver como personagem, esta ficou com muita raiva quando
Martha, achou que ela seria uma nativa. Porém, Martha disse que não via nada de
mal nisso e disse que seria interessante ver uma menina “preta”, indicando que
ela estava curiosa para ver alguma cultura diferente. Então, vejo esta situação
como um reflexo daquele tempo, que era bem diferente do nosso.
Foi uma boa leitura. O livro dá uma sensação de calma. Seu
público-alvo é com certeza o infantil, mas por ser de 1911, há algumas coisas
que envelheceram mal e precisarão ser explicadas por um adulto responsável. Apesar
disso, vale a pena conhecer O jardim secreto. Você só tem de encontrar a
chave e a porta. E é claro, lembre-se de mantê-lo em segredo.
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