sexta-feira, 4 de junho de 2021

A porta secreta para a felicidade


 

                Mais um livro que me faz voltar a infância. O jardim secreto foi escrito pela inglesa Frances Hodgson Burnett e lançado pela primeira vez em 1911. Outro livro famoso foi A princesinha de 1905.

            Mary é uma garotinha mimada e ranzinza, que mora com os pais na Índia. Como seu pai trabalha muito e sua mãe não dá a mínima para ela, preferindo ir a festas, os criados nativos cuidando da menina. Mas uma cólera atinge o local, matando os pais da menina e fazendo os criados saírem da casa depressa, deixando Mary sozinha. Após ficar um tempo na casa de um pastor inglês, Mary foi mandada para a mansão de seu tio Archibald Craven, um homem que não gosta de ser incomodado e cuja maior parte dos cômodos da residência são trancados. Será que há algum segredo escondido nesta antiga mansão?

            Conheci este título através de um desenho animado feito pela ABC Weekend Specials*. Lembro de tê-lo visto várias vezes no tempo em que ainda tinha vídeo cassete. Mesmo não tendo assistido novamente, já posso confirmar que existem várias diferenças entre o seu material original e sua adaptação. O principal que me vem em mente é a falta de antagonista no livro, enquanto a animação transformou a senhora Medlock e o doutor Craven, tio de Colin, em vilões interessados em matar o garoto para provavelmente pegarem sua fortuna. No romance, se tiver de eleger um antagonista, seria os sentimentos negativos que dominam os personagens, principalmente Mary, Colin e Archibald.

            Falando nos personagens, diria que os protagonistas são Mary e Colin, pois é do ponto de vista deles que acompanhamos a maior parte da história. Eles têm uma personalidade tão parecida que o próprio livro menciona isso. Ambos começam mimados e egoístas, que no caso de Colin, é ainda pior por ser doente. Foi com a ajuda do jardim e de algumas pessoas que ajudaram em sua progressão para se tornarem pessoas melhores. O que mais se destaca é Dickon, irmão da empregada Martha, que serve como o modelo positivo para os dois além de atraí-los por causa de seu misterioso dom de se comunicar com os animais. Como disse no parágrafo anterior, a senhora Medlock não é uma vilã como no desenho. Na verdade, ela nem tem tanto destaque na narrativa, enquanto o doutor Craven apenas cumpre seu papel de médico.  

            Acredito que o intento do livro seja dar as crianças um pensamento positivo, mesmo em situações terríveis. Através do que Colin chamou de “Mágica”, dizendo para si mesmo coisas como “ele vai conseguir” fará com que as coisas fiquem ao seu favor. É algo bonitinho dizer isso a uma criança, mas nem sempre isso se aplica a realidade.

Devo dizer que as ilustrações me atraíram. Elas dão um ar de tempos mais antigos. A editora 34 fez uma boa escolha ao trazer os desenhos de Tasha Tudor, que fez a versão do livro de 1962, pela Harper & Row Publishers. Tudor também foi autora e ilustrou seus próprios livros, mas nenhum deles ganhou uma tradução por aqui.

            Por ter sido lançado em 1911, época em que a Índia era colônia da Inglaterra, há alguns momentos em que pode deixar os leitores um pouco desconfortáveis. Os indianos são denominados como nativos e “pretos” e antes de Mary se desenvolver como personagem, esta ficou com muita raiva quando Martha, achou que ela seria uma nativa. Porém, Martha disse que não via nada de mal nisso e disse que seria interessante ver uma menina “preta”, indicando que ela estava curiosa para ver alguma cultura diferente. Então, vejo esta situação como um reflexo daquele tempo, que era bem diferente do nosso.

            Foi uma boa leitura. O livro dá uma sensação de calma. Seu público-alvo é com certeza o infantil, mas por ser de 1911, há algumas coisas que envelheceram mal e precisarão ser explicadas por um adulto responsável. Apesar disso, vale a pena conhecer O jardim secreto. Você só tem de encontrar a chave e a porta. E é claro, lembre-se de mantê-lo em segredo.

 

 

 

 

 

*Link: https://www.youtube.com/watch?v=uj-_Ew2K1i8

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