sexta-feira, 25 de junho de 2021

A gravidade do mundo

 


            Vamos para uma obra pouco conhecida de um autor que poucos conhecem, mas que teve muita importância no mundo literário. A Princesa Flutuante foi publicada pela primeira vez em 1864, junto com outras histórias no livro Adela Cathcart e foi escrita pelo escocês George MacDonald. Ele foi mentor de Lewis Carroll e a pessoa que o convenceu de publicar o manuscrito de Alice no País das Maravilhas. O escritor também influenciou grandes nomes como C. S. Lewis, Mark Twain e J. R. R. Tolkien.

            O rei estava muito impaciente e queria logo ter filhos. Quando sua filha finalmente nasceu, ele decidiu enviar vários convites para o batismo da menina. Mas esqueceu de convidar a sua irmã, a princesa Makemnoit. Rancorosa, ela foi mesmo assim e enfeitiçou a criança que começou a flutuar após a água ser jogada em sua testa.

            Pelo resumo acima, já vimos que A Princesa Flutuante se assemelha ao conto da Bela Adormecida. Mas apenas no começo. A trama da história se dirige para uma direção completamente diferente.

Além de construir bem o funcionamento da estranha condição da princesa, MacDonald aproveita também para relacionar com a personalidade da garota. A princesa não sente tristeza e dá gargalhada de tudo. Parece também não possuir muita empatia pelos outros, por viver sempre fora do chão e ser diferente dos outros. Ela não sente o peso do mundo, literalmente e figurativamente. O único lugar em que ela pode se sentir séria é quando está dentro do lago de seu reino, seu local favorito, cuja água a faz ter gravidade de novo. É bem simbólico uma pessoa que vive em seu próprio mundo flutuar nas nuvens, longe de tudo e de todos.

            Outro personagem que tem um papel importante para a história é o príncipe. Ele é descrito como alguém perfeccionista, sempre vendo defeito nas princesas que conhecia. Com exceção da nossa protagonista, cujo único defeito que ele vê é o de flutuar. Já eu, encontrei mais defeitos nela, como mencionei no parágrafo acima, mas nem tudo que é perfeito para mim será perfeito para o outro. Independente disso, ele será uma peça-chave para a mudança da princesa. Os demais personagens cumprem bem o seu papel, e o autor aproveita para dar um pouco de personalidade a eles.

            Algo que para alguns seria considerado bobo é que a maioria dos personagens não possui nome. Os únicos que possuem nome são a vilã da história, Makemnoit e os dois filósofos chineses, Mono-Tono e Imita-Tong, que abriram uma discussão interessante do porquê a princesa flutuava e como trazê-la de volta, mas acabaram não tendo relevância nenhuma. Pelo menos a princesa titular e o príncipe poderiam ter sido nomeados.

            Apesar de adorar finais felizes, acho que teria sido de grande impacto se tivesse terminado em um sacrifício. Pois isso daria ao livro um tom maior de gravidade pois seria um peso que a princesa teria de guardar para a vida inteira após a quebra de seu feitiço.

            As ilustrações dessa edição foram feitas pela espanhola Mercè López. Os desenhos são bonitos e parecem terem sido feitos com tinta. Alguns deles dão um certo ar de melancolia, mas isso não estraga a obra, pelo contrário, só dá um charme a mais ao texto.

            Gostei do livro e do estilo de escrita do autor. Agora consigo compreender como seus livros inspiraram vários escritores conhecidos. Pena que suas obras são raras de se encontrar por aqui. Mas quem sabe se olharmos para o céu, um de seus livros flutue até nós. Ou nós mesmos podemos flutuar até eles. É só pagar uma passagem de avião e procurar em alguma livraria americana.


Nenhum comentário:

Postar um comentário