sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Eu também posso

                    

                                    Roteiro: Mariana Torres

                                    Desenho: Maya Flor
 

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Um lado sombrio do folclore



            Trago novamente outro livro de contos do nosso folclore que achei no Amazon. Raízes de Vento e Sangue foi escrito por Lauro Kociuba e lançado na plataforma em 2017. Coincidentemente, a pessoa que escreveu a abertura desse livro foi Adriolli Costa, autor do Colecionador de Sacis e outros contos folclóricos, que já foi resenhado no Blog. Vamos aos contos:

 

Kaapor – Na floresta, um ser meio humano e meio animal tem uma memória repentina de quando sua mãe o carregava em suas costas, antes de se tornar o que é hoje. Pesquisei o nome Kaapor e encontrei que caapores são um povo indígena que vive no Maranhão. Mas suponho que esta história seja baseada no mito da Caipora.

Y-îara – Yainité decide invadir as terras do feiticeiro Icapiranga, homem que controla tribos de mortos-vivos. História da Iara que conta sua vida como guerreira indígena antes de se transformar em sereia.

Pisadeira – Há muito tempo atrás, ela foi adorada pelo seu conhecimento. Mas como o tempo passa e evolui, ela teve que mudar os seus métodos para preencher o seu vazio. A Pisadeira é uma mulher horrorosa que atormenta os outros enquanto dormem. Este conto trata de contar o que ela fazia antes e como se tornou o que é agora.

Sa’si – Depois de muitos anos, Carlos vai visitar a fazenda dos avós, que está prestes a ser vendida após a morte deles. Tudo está coberto de geada, exceto o círculo de árvores que Carlos nunca se aproximara quando era jovem. O título já diz de que ser será o foco. Um conto bem viajado.

Mula sem Cabeça – Jesuína sempre sentava no banco próximo ao confessionário da igreja. Desde que o jovem padre chegara em sua cidade, Jesuína não pode deixar de notar a vinda de uma moça, a cada hora com um decote diferente, parecendo tentar o padre. Fiel a sua igreja, Jesuína decide fazer uma coisa para acabar com essa pouca vergonha. Mas lembrem-se, as aparências enganam.

Boto – Depois de anos atraindo e engravidando mulheres, o boto, já mais velho, começa a sentir pouco prazer em suas ações, além de se perguntar se era apenas isso que o definia. Até que ao chegar num puteiro, conhece uma mulher que é imune aos seus encantos. Final surpresa.

Boi – Ribas está interpretando Chico da peça Bumba meu boi. Mas a história de Francisco não é uma comédia. Nesse conto, há duas histórias sendo contadas: uma é a peça e a outra é o acontecimento verdadeiro. Um final que eu não esperava.

 

            De maneira geral, me entretive. Meu conto favorito foi o Boi pois de todas as lendas, essa era uma que tive de pesquisar para saber sua história e o jeito como mistura a peça com o que ocorreu foi muito bom. Recomendo a leitura a quem deseja ver mais variedades de histórias de nosso folclore.


terça-feira, 12 de outubro de 2021

Desventuras em Série: a resenha

 


            Feliz Dia das Crianças! Para comemorar esse dia especial que infelizmente já não participo mais, vou fazer uma resenha de uma série que marcou esse período da minha vida. Reli todos os livros de Desventuras em Série, com exceção dos dois últimos, que li agora pela primeira vez pois não cheguei a ler na época devido a chegada do meu vício: o computador. Desventuras em Série foi escrita por Lemony Snicket (falarei dele depois) e lançada nos Estados Unidos entre 1999 e 2006 e no Brasil nos anos de 2005 e 2006.

            Infelizmente, os irmãos Baudelaire perderam os pais em um incêndio, herdando deles uma grande fortuna. Mas só poderão recebê-la quando Violet, a mais velha, atingir a maioridade. Enquanto isso, ela e  seus irmãos Klaus e Sunny terão de viver na casa de um tutor, nesse caso, um homem conhecido como Conde Olaf, que vive em uma mansão em péssimo estado. Mas o que acontecerá quando as más impressões que elas tiveram de seu novo tutor se provaram corretas?

            Ao invés de começar a falar da história e de seus protagonistas, vou começar por algo que chamou a minha atenção quando comecei a ler o livro com mais ou menos onze anos de idade: seu narrador. Lemony Snicket foi o primeiro contato que tive com um narrador que conversa com o leitor. Seu jeito pessimista, dizendo para que eu parasse de ler o livro era um dos fatores que me deixava com mais vontade de ler a série. Porém, relendo agora como adulta, teve uns momentos que ele me deixou irritada, principalmente quando parava a história para explicar o significado de uma palavra ou frase. Acabei me acostumando depois. Apesar de não fazer parte da narrativa dos Baudelaire, Lemony é um personagem que faz parte desse mundo criado por Daniel Handler, o nome verdadeiro do autor de Desventuras em Série, assim como sua amada Beatrice, mencionada em suas dedicatórias. Então, vai uma dúvida: Lemony Snicket é um narrador personagem ou não?

            Quanto aos protagonistas, cada um possui uma habilidade própria. Violet, a mais velha, é uma inventora que faz sempre algo novo com qualquer sucata que encontra. Klaus, o do meio, tem uma ótima memória além de ser bom com a leitura e palavras difíceis. Sunny, a mais nova, ainda é um bebê e possui dentes afiadíssimos e gosta de morder, além de ser bem esperta para sua idade apesar do pouco vocabulário. Já as suas personalidades, não tenho muito que falar. São crianças boas que fazem o leitor sentir pena por suas desventuras, mas tirando isso, achei elas meio genéricas. Os outros personagens não são tão diferentes quando o assunto é a falta de complexidade. Conde Olaf é basicamente a personificação de um vilão enquanto a maioria dos adultos é estúpida e ignorante, sendo de pouca ajuda para os irmãos. Isso não é algo necessariamente ruim, mas só é estranho que lá mais adiante nos livros, o autor tenha tentado deixar as coisas mais complexas com a discussão de bem e mal e se pode ou não ser as duas coisas quando a maioria dos personagens é unidimensional.

            Agora, vamos para a história. Como posso descrevê-la para vocês? É uma estranha mistura de tragédia, mistério e desenho animado. Tragédia porque há mortes, traição, sequestro e adultos idiotas que nada resolvem. O mistério vem a partir do quinto livro em que os Baudelaire ouvem pela primeira vez da organização secreta chamada C.S.C e a partir deste momento, eles tentam descobrir mais sobre ela. Desenho animado devido ao quão bizarras algumas dessas situações parecem se forem colocadas no nosso mundo, como por exemplo as invenções feitas por Violet e os dentes de Sunny. Sério, este bebê já lutou espada e escalou uma parede usando apenas quatro dentes. Eu colocaria Violet e Klaus como garotos prodígios enquanto Sunny já estaria em outro patamar, junto com os X-Men e outros mutantes.

            Encontrei várias referências ao decorrer da série. Por exemplo o sobrenome Baudelaire vem do escritor Charles Baudelaire, e isso também ocorre com outros personagens como o senhor Poe (Edgar Allan Poe), Georgina Orwell (George Orwell) e o vice-diretor Nero (imperador Nero).  Uma cena do último livro também me faz lembrar de uma passagem da Bíblia, mas não vou dar mais detalhes para não dar spoilers. Talvez encontrem mais referências que eu não tenha fisgado.

            Todos os livros possuem ilustrações de Brett Helquist. O interessante é que no último desenho de cada livro, dá uma dica do que aparecerá no próximo. Além disso, acho que seu estilo combina com o público que a série deseja atrair.

            A franquia de Desventuras em série possui outros livros que complementam seu universo como The Beatrice Letters (As cartas de Beatrice), que infelizmente não possui tradução para o português e a coleção Só perguntas erradas, que retrata a infância de Lemony Snicket. Um filme foi lançado em 2004, adaptando os três primeiros livros e foi o meu primeiro contato com a franquia. Também saiu uma série em 2017 adaptando o material completo. Não preciso dizer que houve mudanças ao passar o texto para as telas.

            Minha opinião geral com relação a Desventuras em Série: Por um lado, sentia raiva da burrice dos adultos e pena das crianças por tudo aquilo que elas passaram. Mas ao mesmo tempo, tinha curiosidade em saber como terminava. E como esperava, seu fim foi doce e amargo, mais para o amargo. Por haver mortes, muitos acham que seja inapropriado para crianças. Acho que isso depende do gosto pessoal e principalmente do nível de maturidade. A decisão fica nas de mãos dos pais. Ou do tutor, caso sejam órfãs. Nesse último caso, como diria Lemony Snicket, aconselho a não ler este livro pois só lhes trará desventuras em série.


sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Do que estão brincando?

 


                                Roteiro: Mariana Torres

                                Desenho: Maya Flor

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

O Mundo de Prydain

 


            Já ouviram falar do Caldeirão Mágico, filme lançado pela Disney em 1985 que quase faliu a empresa? Ele é baseado em dois de cinco livros da coleção As aventuras de Prydain do americano Lloyd Alexander, que foram publicados entre 1964 e 1968. Nesta resenha, analisarei O Livros dos Três, primeiro livro da saga. Será que ele é melhor que sua adaptação cinematográfica ou foi melhor mesmo que ele tenha fracassado no cinema para que não tenha mais continuações?

            Taran é um jovem que sonha em ter uma aventura. Ele trabalha na fazenda do senhor Dallben, homem que possui imenso conhecimento sobre a terra de Prydain. Este também é dono de uma porca com o dom oracular. Quando os animais começam a agir de modo estranho, Taran foi vigiar a porca. Mas esta consegue escapar e vai em direção a floresta. E Taran vai atrás, sem o conhecimento de que outros estão atrás dela, inclusive o terrível Rei Cornudo.

            O tipo de jornada e os personagens parecem terem sido escritos tendo com o público infanto-juvenil em mente. Me lembrou bastante os livros da coleção Deltora Quest, que li quando tinha uns onze anos de idade, pois se passam em um ambiente fantástico, com acontecimentos que desviam do objetivo principal, mas que acabam sendo úteis no final e um grupo de heróis de personalidades diferentes onde cada um tem seu papel e utilidade durante o percurso da história.

            Falando dos heróis, vou lhes descrever: Taran, o protagonista da história, começa como o garoto ignorante que faz tudo sem pensar, mudando de atitude ao longo da jornada. Gurgi é um ente que parece ser uma mistura de homem com macaco guloso e medroso. Por ter perdido a maior parte de seus instintos animais e não ter a inteligência completa dos humanos, Gurgi fica meio perdido em ambos e tenta o máximo ser útil quando vira amigo do grupo. Gwydion é um príncipe que serve como mentor de Taran na floresta e que dá mais informações sobre os inimigos. Apesar de ter certa impaciência com as atitudes pouco precavidas de Taran, é um sujeito honrado. Eilonwy é uma princesa meio louquinha e tagarela. Fflewddur Fflam (nome bem estranho), um bardo de aparência desengonçada, parente de Gwidion que é corajoso e cujas cordas da harpa soltam quando este conta uma mentira. É interessante ver personagens tão diferentes interagindo.

            No começo do livro, já se nota algumas das mudanças feitas ao passar o texto literário para o cinema, como a existência de alguns personagens que não aparecem em sua adaptação animada. Ao contrário do filme, o Rei Cornudo não é o vilão principal e sim Arawn, um homem que tomou vários tesouros de Prydain e é capaz de ressuscitar os mortos graças a um caldeirão mágico. O Rei Cornudo é apenas um capanga. Há também uma outra vilã no livro que é inexistente no filme chamada Achren. Ela é uma feiticeira e tia de Eilonwy, que deveria ensinar magia para a garota como tradição familiar. As meninas aprendem feitiços enquanto os meninos aprendem a guerrear. Por falar em Eilonwy, a esfera mágica que flutuava e a seguia, tendo vida própria, é apenas uma bola brilhante sem vida que a garota usava para brincar. Há ainda mais diferenças, mas deixarei que os curiosos procurem por si só.

            Uma reclamação que seria da escolha de título. O Livro dos Três quase não aparece e só tem alguma relevância quando Taran se lembra de alguma figura histórica que aparece nele. Talvez algo como “Viagem a Caer Dathyl” teria sido uma escolha melhor. Outra coisa que também não me agradou foi o clímax, que foi resolvido muito rapidamente. Mas como este é o primeiro de cinco livros, vou deixar passar.

            Pelo que vi neste primeiro, As aventuras de Prydain tem potencial para ser uma boa série de livros. O final é fechado, mas abre a possibilidade para uma continuação e, como já sei que tem mais quatro livros depois, vou prosseguir com a leitura.