Roteiro: Mariana Torres
Desenho: Maya Flor
Trago novamente outro
livro de contos do nosso folclore que achei no Amazon. Raízes de Vento e
Sangue foi escrito por Lauro Kociuba e lançado na plataforma em 2017.
Coincidentemente, a pessoa que escreveu a abertura desse livro foi Adriolli
Costa, autor do Colecionador de Sacis e outros contos folclóricos, que
já foi resenhado no Blog. Vamos aos contos:
Kaapor – Na
floresta, um ser meio humano e meio animal tem uma memória repentina de quando
sua mãe o carregava em suas costas, antes de se tornar o que é hoje. Pesquisei
o nome Kaapor e encontrei que caapores são um povo indígena que vive no
Maranhão. Mas suponho que esta história seja baseada no mito da Caipora.
Y-îara – Yainité
decide invadir as terras do feiticeiro Icapiranga, homem que controla tribos de
mortos-vivos. História da Iara que conta sua vida como guerreira indígena antes
de se transformar em sereia.
Pisadeira – Há
muito tempo atrás, ela foi adorada pelo seu conhecimento. Mas como o tempo
passa e evolui, ela teve que mudar os seus métodos para preencher o seu vazio.
A Pisadeira é uma mulher horrorosa que atormenta os outros enquanto dormem.
Este conto trata de contar o que ela fazia antes e como se tornou o que é
agora.
Sa’si – Depois
de muitos anos, Carlos vai visitar a fazenda dos avós, que está prestes a ser
vendida após a morte deles. Tudo está coberto de geada, exceto o círculo de
árvores que Carlos nunca se aproximara quando era jovem. O título já diz de que
ser será o foco. Um conto bem viajado.
Mula sem Cabeça – Jesuína
sempre sentava no banco próximo ao confessionário da igreja. Desde que o jovem
padre chegara em sua cidade, Jesuína não pode deixar de notar a vinda de uma
moça, a cada hora com um decote diferente, parecendo tentar o padre. Fiel a sua
igreja, Jesuína decide fazer uma coisa para acabar com essa pouca vergonha. Mas
lembrem-se, as aparências enganam.
Boto – Depois
de anos atraindo e engravidando mulheres, o boto, já mais velho, começa a sentir
pouco prazer em suas ações, além de se perguntar se era apenas isso que o
definia. Até que ao chegar num puteiro, conhece uma mulher que é imune aos seus
encantos. Final surpresa.
Boi – Ribas
está interpretando Chico da peça Bumba meu boi. Mas a história de
Francisco não é uma comédia. Nesse conto, há duas histórias sendo contadas: uma
é a peça e a outra é o acontecimento verdadeiro. Um final que eu não esperava.
De maneira geral, me entretive. Meu conto favorito foi o Boi
pois de todas as lendas, essa era uma que tive de pesquisar para saber sua
história e o jeito como mistura a peça com o que ocorreu foi muito bom.
Recomendo a leitura a quem deseja ver mais variedades de histórias de nosso
folclore.
Feliz Dia das Crianças!
Para comemorar esse dia especial que infelizmente já não participo mais, vou
fazer uma resenha de uma série que marcou esse período da minha vida. Reli
todos os livros de Desventuras em Série, com exceção dos dois últimos,
que li agora pela primeira vez pois não cheguei a ler na época devido a chegada
do meu vício: o computador. Desventuras em Série foi escrita por Lemony
Snicket (falarei dele depois) e lançada nos Estados Unidos entre 1999 e 2006 e no
Brasil nos anos de 2005 e 2006.
Infelizmente, os irmãos Baudelaire perderam os pais em um
incêndio, herdando deles uma grande fortuna. Mas só poderão recebê-la quando
Violet, a mais velha, atingir a maioridade. Enquanto isso, ela e seus irmãos Klaus e Sunny terão de viver na
casa de um tutor, nesse caso, um homem conhecido como Conde Olaf, que vive em
uma mansão em péssimo estado. Mas o que acontecerá quando as más impressões que
elas tiveram de seu novo tutor se provaram corretas?
Ao invés de começar a falar da história e de seus
protagonistas, vou começar por algo que chamou a minha atenção quando comecei a
ler o livro com mais ou menos onze anos de idade: seu narrador. Lemony Snicket
foi o primeiro contato que tive com um narrador que conversa com o leitor. Seu
jeito pessimista, dizendo para que eu parasse de ler o livro era um dos fatores
que me deixava com mais vontade de ler a série. Porém, relendo agora como
adulta, teve uns momentos que ele me deixou irritada, principalmente quando parava
a história para explicar o significado de uma palavra ou frase. Acabei me
acostumando depois. Apesar de não fazer parte da narrativa dos Baudelaire,
Lemony é um personagem que faz parte desse mundo criado por Daniel Handler, o nome
verdadeiro do autor de Desventuras em Série, assim como sua amada
Beatrice, mencionada em suas dedicatórias. Então, vai uma dúvida: Lemony
Snicket é um narrador personagem ou não?
Quanto aos protagonistas, cada um possui uma habilidade
própria. Violet, a mais velha, é uma inventora que faz sempre algo novo com
qualquer sucata que encontra. Klaus, o do meio, tem uma ótima memória além de
ser bom com a leitura e palavras difíceis. Sunny, a mais nova, ainda é um bebê
e possui dentes afiadíssimos e gosta de morder, além de ser bem esperta para
sua idade apesar do pouco vocabulário. Já as suas personalidades, não tenho
muito que falar. São crianças boas que fazem o leitor sentir pena por suas
desventuras, mas tirando isso, achei elas meio genéricas. Os outros personagens
não são tão diferentes quando o assunto é a falta de complexidade. Conde Olaf é
basicamente a personificação de um vilão enquanto a maioria dos adultos é
estúpida e ignorante, sendo de pouca ajuda para os irmãos. Isso não é algo
necessariamente ruim, mas só é estranho que lá mais adiante nos livros, o autor
tenha tentado deixar as coisas mais complexas com a discussão de bem e mal e se
pode ou não ser as duas coisas quando a maioria dos personagens é
unidimensional.
Agora, vamos para a história. Como posso descrevê-la para
vocês? É uma estranha mistura de tragédia, mistério e desenho animado. Tragédia
porque há mortes, traição, sequestro e adultos idiotas que nada resolvem. O mistério
vem a partir do quinto livro em que os Baudelaire ouvem pela primeira vez da
organização secreta chamada C.S.C e a partir deste momento, eles tentam
descobrir mais sobre ela. Desenho animado devido ao quão bizarras algumas
dessas situações parecem se forem colocadas no nosso mundo, como por exemplo as
invenções feitas por Violet e os dentes de Sunny. Sério, este bebê já lutou espada
e escalou uma parede usando apenas quatro dentes. Eu colocaria Violet e Klaus
como garotos prodígios enquanto Sunny já estaria em outro patamar, junto com os
X-Men e outros mutantes.
Encontrei várias referências ao decorrer da série. Por
exemplo o sobrenome Baudelaire vem do escritor Charles Baudelaire, e isso
também ocorre com outros personagens como o senhor Poe (Edgar Allan Poe), Georgina
Orwell (George Orwell) e o vice-diretor Nero (imperador Nero). Uma cena do último livro também me faz lembrar
de uma passagem da Bíblia, mas não vou dar mais detalhes para não dar spoilers.
Talvez encontrem mais referências que eu não tenha fisgado.
Todos os livros possuem ilustrações de Brett Helquist. O
interessante é que no último desenho de cada livro, dá uma dica do que
aparecerá no próximo. Além disso, acho que seu estilo combina com o público que
a série deseja atrair.
A franquia de Desventuras em série possui outros
livros que complementam seu universo como The Beatrice Letters (As
cartas de Beatrice), que infelizmente não possui tradução para o português e a
coleção Só perguntas erradas, que retrata a infância de Lemony Snicket. Um
filme foi lançado em 2004, adaptando os três primeiros livros e foi o meu
primeiro contato com a franquia. Também saiu uma série em 2017 adaptando o
material completo. Não preciso dizer que houve mudanças ao passar o texto para
as telas.
Minha opinião geral com relação a Desventuras em Série:
Por um lado, sentia raiva da burrice dos adultos e pena das crianças por tudo
aquilo que elas passaram. Mas ao mesmo tempo, tinha curiosidade em saber como
terminava. E como esperava, seu fim foi doce e amargo, mais para o amargo. Por
haver mortes, muitos acham que seja inapropriado para crianças. Acho que isso
depende do gosto pessoal e principalmente do nível de maturidade. A decisão
fica nas de mãos dos pais. Ou do tutor, caso sejam órfãs. Nesse último caso,
como diria Lemony Snicket, aconselho a não ler este livro pois só lhes trará desventuras em série.
Já ouviram falar do Caldeirão
Mágico, filme lançado pela Disney em 1985 que quase faliu a empresa? Ele é
baseado em dois de cinco livros da coleção As aventuras de Prydain do
americano Lloyd Alexander, que foram publicados entre 1964 e 1968. Nesta
resenha, analisarei O Livros dos Três, primeiro livro da saga. Será que
ele é melhor que sua adaptação cinematográfica ou foi melhor mesmo que ele tenha
fracassado no cinema para que não tenha mais continuações?
Taran é um jovem que sonha em ter uma aventura. Ele
trabalha na fazenda do senhor Dallben, homem que possui imenso conhecimento sobre
a terra de Prydain. Este também é dono de uma porca com o dom oracular. Quando
os animais começam a agir de modo estranho, Taran foi vigiar a porca. Mas esta
consegue escapar e vai em direção a floresta. E Taran vai atrás, sem o conhecimento
de que outros estão atrás dela, inclusive o terrível Rei Cornudo.
O tipo de jornada e os personagens parecem terem sido
escritos tendo com o público infanto-juvenil em mente. Me lembrou bastante os
livros da coleção Deltora Quest, que li quando tinha uns onze anos de
idade, pois se passam em um ambiente fantástico, com acontecimentos que desviam
do objetivo principal, mas que acabam sendo úteis no final e um grupo de heróis
de personalidades diferentes onde cada um tem seu papel e utilidade durante o
percurso da história.
Falando dos heróis, vou lhes descrever: Taran, o
protagonista da história, começa como o garoto ignorante que faz tudo sem
pensar, mudando de atitude ao longo da jornada. Gurgi é um ente que parece ser
uma mistura de homem com macaco guloso e medroso. Por ter perdido a maior parte
de seus instintos animais e não ter a inteligência completa dos humanos, Gurgi
fica meio perdido em ambos e tenta o máximo ser útil quando vira amigo do
grupo. Gwydion é um príncipe que serve como mentor de Taran na floresta e que
dá mais informações sobre os inimigos. Apesar de ter certa impaciência com as
atitudes pouco precavidas de Taran, é um sujeito honrado. Eilonwy é uma
princesa meio louquinha e tagarela. Fflewddur Fflam (nome bem estranho), um
bardo de aparência desengonçada, parente de Gwidion que é corajoso e cujas
cordas da harpa soltam quando este conta uma mentira. É interessante ver
personagens tão diferentes interagindo.
No começo do livro, já se nota algumas das mudanças feitas
ao passar o texto literário para o cinema, como a existência de alguns personagens
que não aparecem em sua adaptação animada. Ao contrário do filme, o Rei Cornudo
não é o vilão principal e sim Arawn, um homem que tomou vários tesouros de
Prydain e é capaz de ressuscitar os mortos graças a um caldeirão mágico. O Rei
Cornudo é apenas um capanga. Há também uma outra vilã no livro que é
inexistente no filme chamada Achren. Ela é uma feiticeira e tia de Eilonwy, que
deveria ensinar magia para a garota como tradição familiar. As meninas aprendem
feitiços enquanto os meninos aprendem a guerrear. Por falar em Eilonwy, a
esfera mágica que flutuava e a seguia, tendo vida própria, é apenas uma bola
brilhante sem vida que a garota usava para brincar. Há ainda mais diferenças,
mas deixarei que os curiosos procurem por si só.
Uma reclamação que seria da escolha de título. O Livro
dos Três quase não aparece e só tem alguma relevância quando Taran se lembra de
alguma figura histórica que aparece nele. Talvez algo como “Viagem a Caer Dathyl”
teria sido uma escolha melhor. Outra coisa que também não me agradou foi o
clímax, que foi resolvido muito rapidamente. Mas como este é o primeiro de
cinco livros, vou deixar passar.
Pelo que vi neste primeiro, As aventuras de Prydain
tem potencial para ser uma boa série de livros. O final é fechado, mas abre a
possibilidade para uma continuação e, como já sei que tem mais quatro livros
depois, vou prosseguir com a leitura.