Já resenhei contos de
fadas russos. Agora é a vez dos ciganos. Palavra Cigana foi escrito por
Florencia Ferrari e lançado 2020. Será que os ciganos são tudo aquilo que a
gente pensa? Vamos descobrir.
Vásya Pé - Branco – Vásya
havia herdado muitas terras de seu pai. Mas ao completar vinte anos, decidiu
que estava mal-acostumado e que queria conhecer a vida de cigano de seu povo. História
simples, envolvendo disfarce e enganações.
A cigana que sabia tudo –
Ao adivinhar a mão de uma
mulher, a cigana foi convidada para uma visita em sua casa. Mas estava chovendo
muito e a cigana foi obrigada a se abrigar numa toca. Nela havia uma fogueira
acesa com doze homens. O típico conto que mostra como a bondade e a educação são
recompensadas e a má educação é punida. Me fez lembrar do conto russo Morozko, o
velho inverno.
O cigano no piano – Um cigano vivia com sua
família pobre e sem ter o que comer. Até que um dia, um mendigo pediu abrigo
cujo homem deu de bom grado. Em troca da sua gentileza, o mendigo deu ao cigano
o seu violino, que quando tocado, fazia as pessoas dançarem sem parar. Outra
simples história de esperteza com uma lição de generosidade.
O morto que pagou sua
dívida – Um cigano morrera sem pagar o que devia a outro cigano. Zangado, o
cigano que ficou sem o seu dinheiro começou a bater no túmulo deste até um
vendedor aparecer e pagar o que o morto lhe devia. Agradecido por sua
gentileza, o falecido voltou como morto-vivo e fez uma associação com o
vendedor. Enquanto vendiam carne de seu açougue, ouviram que uma mulher perdia
o marido sempre na noite de núpcias. O morto-vivo sugeriu ao vendedor que este
se casasse com ela. Uma boa história de gentileza gera gentileza. Essa parte da
mulher que perdia o marido me lembrou um pouco as Mil e uma noites e Barba Azul, mas com o final diferente.
O cigano e o gigante – Próximo ao rio Danúbio,
um cigano, cuja família morre de fome, passa pelas redondezas e pede um pastor
um pedaço de queijo. Este o dá e o cigano segue o seu caminho, até que dá de
cara com um gigante que deseja devorá-lo. Novamente, a esperteza salva vidas.
São Jorge e os ciganos – São Jorge estava prestes
a ter uma audiência com Deus em Jerusalém quando encontra uma caravana de
ciganos. Um deles pede que a ele que pergunte a Deus que vida eles deveriam ter
e, para que São Jorge não esquecesse, ele ficaria com o arreio de ouro do seu
cavalo até que o santo retornasse com as respostas. Outra regra de três que tem
em quase todos os contos de fadas e um final esperado.
Pelo que vi nos contos, há vários dos estereótipos dos
ciganos que conhecemos como o de serem espertos e enganadores, mas aqui, a
maioria deles são apresentados como figuras heroicas, que utilizam de sua
inteligência e astúcia para resolverem seus problemas, além de serem também
pessoas generosas, que se importam com sua família e demonstram gratidão para aqueles
que os ajudam, como no conto do Morto que pagou sua dívida.
Além
dos contos, devo destacar também as ilustrações feitas por Stephan
Doitschinoff. Elas são interessantes,
pois além de retratar bem as histórias, muitas delas tem a imagem de mapas, que
combina bastante com a vida nômade dos ciganos.
O
livro também possui um pequeno texto explicativo sobre a origem dos ciganos, de
como eles vieram da Índia antes de se espalharem pela Europa; de que cada grupo
de cigano possui a sua própria língua; como sua vida nômade dificulta o acesso
das crianças as escolas assim como não possuir uma conta bancária ou carteira
assinada; que alguns grupos vieram para o Brasil como punição da Coroa Portuguesa;
como foram perseguidos pelo regime nazista etc.
Tive
uma boa leitura. Foi bom conhecer um pouco de uma cultura que nem sabia que
existia no meu país através de seus contos. Se deseja conhecer um pouco, se
prepare para uma jornada, pois nenhum cigano fica parado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário