sexta-feira, 28 de outubro de 2022

A Mais Bela


            Depois de muito tempo, decidi me aventurar novamente lendo um livro todo em inglês. Fairest (A Mais Bela) foi escrito em 2006 por Gail Carson Levine, a mesma escritora de Ella Enfeitiçada.

            Aza foi abandonada quando era um bebê numa pousada e acabou sendo adotada pelos donos do local. Apesar de ter uma bela voz, sua aparência não era das mais belas. Mas sua vida estava prestes a mudar quando uma duquesa pediu a ela que substituísse sua acompanhante para o casamento do rei. Lá ela conheceu a rainha, que descobriu sua habilidade especial e pediu para Aza cantar por ela...

            O título já dá a dica de que esta história foi inspirada na Branca de Neve e os sete anões. Apesar das várias mudanças e acréscimos, a figura da rainha invejosa, do espelho mágico e da maçã envenenada ainda aparecem no texto, assim como a lição do conto original de não ser tão obcecado pela beleza. Tenho a impressão de que a autora também se baseou um pouco nos clássicos musicais da Disney, pois além da protagonista ter uma bela voz, todos do Reino de Ayortha também adoram cantar. Se um dia adaptassem esse livro para o cinema, não tenho dúvida de que o tornariam um musical.

            É interessante mencionar que este livro se passa no mesmo mundo de Ella Enfeitiçada, com a revelação de que Areida, a amiga de Ella, é irmã adotiva de Aza, além da menção da fada Lucinda, que novamente é causadora de problemas, e da própria Ella no epílogo. Ogros e centauros aparecem novamente, acrescentando os gnomos para as raças mágicas, tendo o poder de ver partes do futuro.

          No geral, achei a história bem criativa. Recomendaria sua leitura para crianças. Mas infelizmente, esse livro não possui uma tradução para o português, o que é uma pena. Pelo menos, temos o Ella Enfeitiçada para encantá-las com sua releitura de Cinderela.

 


 

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Um dos maiores crossovers

 


 

             Para comemorar o Dia das Crianças, trouxe um livro que ajudou na fundação da nossa literatura infantil. Reinações de Narizinho foi escrito por Monteiro Lobato e publicada em 1931, sendo o primeiro da coleção do Sítio do Picapau Amarelo, que ficou bastante conhecida pelas suas adaptações para televisão. No meu caso, a que mais me marcou foi a dos anos 2000.

            Lúcia, também conhecida como Narizinho, vivia com sua avó Benta no Sítio do Picapau Amarelo. Um dia, após dar comida aos peixes do ribeirão, deitou-se na grama e teria tirado um cochilo se um peixe e um besouro vestidos de gente não tivessem parado para conversar em cima de seu rosto.

            Acredito que quem lê Reinações de Narizinho pela primeira vez, a coisa que mais chama a atenção é o tanto de personagens de outras obras que aparecem aqui. Personagens de histórias árabes como Aladim e Ali Baba; de contos europeus, como a Branca de Neve, Cinderela e Pequeno Polegar; de fábulas como a cigarra e a formiga e muitos outros entram em contato com nossos protagonistas. Acredito que este tenha sido um dos primeiros e mais esquisitos crossovers.  Até mesmo personagens da televisão como o Gato Félix e o ator Tom Mix aparecem aqui. Infelizmente, estes dois assim como o Barão de Münchausen e Raggedy Ann são referências antigas que quase ninguém conhece nos dias de hoje.

            Já os personagens principais, Narizinho e Pedrinho, representam bem o que é ser uma criança, sendo Narizinho uma menina bem feminina, mas que nem por isso tem medo de se aventurar, enquanto o seu primo Pedrinho é um menino que adora aventuras e não teme quase nada. Com certeza Emília é a mais popular da série de livros. A boneca que tomou uma pílula falante e não para de falar asneiras e malcriações, sendo a mais atrevida de todos do sítio. E não esqueçamos do nosso sábio Visconde de Sabugosa, que vive na prateleira lendo livros. Todos interagem muito bem com as esquisitices que acontecem, achando isso bastante normal, enquanto adultos como Dona Benta e Tia Nastácia têm que aguentar.

            Há também os moradores do Reino das Águas Claras, como o Príncipe Escamado, o Doutor Caramujo e a Dona Aranha, que introduzem Narizinho e Emília para esse mundo cheio de imaginação. Dona Carochinha, que não sei se veio da expressão “conto da Carochinha” ou da história da Dona Baratinha, é quem toma conta de todos os personagens de livros, não querendo deixar nenhum escapar, enquanto as crianças tentam ajudá-los a fugir e interagem com eles. Me pergunto se isso é uma crítica do autor de como a gente pode usar o material original para criar algo novo.

            Apesar de ser para criança, vejo que este livro não tem nenhum problema em falar sobre morte. Cenas como Narizinho assistindo formigas matando uma minhoca, Rabicó enganando um outro leitão para ser assado em seu lugar e outras cenas são mostradas naturalmente. Isso me faz lembrar dos contos de fadas antigos e as fábulas, que tinham cenas como estas e eram histórias tanto para adultos quanto para crianças pois o conceito de infância e de preservar a inocência dos pequenos não existia naquela época.

            O que me incomodou neste livro foi o seu vocabulário. Havia palavras que por serem de outra época ou mesmo de outra região, eu desconhecia o significado. Um exemplo é a palavra “bodoque”, que descobri depois se tratar de um estilingue. Isso pode atrapalhar um pouco no ritmo da leitura. Recomendaria às editoras que publicassem este livro no futuro com notas explicativas.

            Não preciso dizer que Monteiro Lobato foi precursor da literatura infantil do Brasil, tanto que em sua data de nascimento (18 de abril) é comemorado o Dia Nacional do Livro Infantil. Mesmo sendo atrasado em alguns pontos, não deixa de ser revolucionário quando o assunto é imaginação. Por isso, recomendo sua leitura. Respirem o Pó de Pirlimpimpim e entrem nesse mundo fantástico.