sexta-feira, 16 de maio de 2025

Contos Indígenas Brasileiros

 


        Já fiz resenha dos contos brasileiros. Então, por que não analisar os contos de suas tribos indígenas? Contos Indígenas Brasileiros é uma coletânea feita por Daniel Munduruku, que é um índio do povo Munduruku, em 2005. Farei um resumo de cada um dos oito contos do livro e darei minha opinião no final. Comecemos:

 

Povo Munduruku (Mito Tupi)

Do mundo do centro da Terra ao mundo de cima – Karú-Sakaibê, criador dos animais, plantas, rios e montanhas, andava pelo mundo com seu companheiro e ajudante, Rairu. Rairu acabou por fazer um desenho de tatu tão perfeito, que ele usou resina de mel para colá-lo e assim ele nunca desapareceria. Para secá-lo, ele o colocou debaixo da terra, com apenas o rabo do lado de fora. Mas a mão de Rairu ficou grudada na cauda. Querendo desgrudar sua mão, ele deu vida ao tatu. Porém, seu plano não deu certo e o animal cavou até o centro da Terra. História que conta a origem do povo Munduruku e de alguns povos indígenas vizinhos.

 

Povo Guarani (Mito Guarani)

O roubo do fogo – Antigamente, a posse do fogo pertencia aos urubus, que aproveitaram um dia em que o sol estava fraquinho para retirarem algumas de suas brasas. Nenhum outro animal possuía o fogo, até que Nhanderequeí, herói do povo Apopocúva, fez um plano junto aos outros animais para roubá-lo dos urubus. Não tem como ler essa história sem lembrar de Prometeu, da mitologia grega, que roubou o fogo para os homens. Uma das interpretações sugere que o fogo era na verdade a sabedoria ou a inteligência que foi dada somente aos homens pois nenhum outro ser vivo possui um intelecto como o nosso. Neste conto também pode se ter essa leitura.

 

Povo Nambikwara (Mito Nambikwara)

A pele nova da mulher velha – Há muito tempo, havia uma senhora que por ser tão velha, todos se afastaram dela. Um dia ela sonhou que era jovem de novo, cheia de enfeites, cuja única coisa que a deixava triste era não ter penas para fazer um cocar. Achando que isso era uma mensagem, ela mandou um jovem que ia passar a noite em sua casa encontrar um tucano para fazer o seu cocar... Conto com uma proposta interessante, mas decepciona no final.

 

Povo Karajá (Mito Karajá)

Por que o sol anda tão devagar? – Há muito tempo atrás, a Terra era um planeta escuro e frio, deixando os homens Karajá muito preguiçosos, inclusive o herói Cananxiuê. Depois da insistência do sogro, dos animais e da esposa, Cananxiuê foi resolver o problema, trazendo o sol para todos. Mas descobriu que tanto o sol quanto a lua e a estrela vespertina estavam em posse de Ranranresá, o urubu-rei. Então, ele teve uma ideia... A história me lembrou a do Roubo do fogo, não só por ter urubus na posse de algo flamejante como também o plano para conseguir tomar o objeto. Mas o final é diferente, porque ao contrário do fogo, a humanidade não possui controle do sol.

 

Povo Terena (Mito Terena)

A origem do fumo – Uma mulher não gostava do seu marido. Então, fez um feitiço contra ele, colocando seu sangue na árvore de caraguatá e dando o broto para o marido comer. O homem passou mal e o filho acabou revelando que foi a esposa que fez isso. Irritado, o marido deu o troco, deixando a mulher furiosa atrás dele, para matá-lo. O conto tem o mesmo nível fantasioso dos outros, mas não me entreteve tanto. Fiquei curiosa em saber o motivo pelo qual a mulher odiava o marido. Parece que a história quer que a gente ache ela má pelo modo animalesco dela na perseguição e por ser uma feiticeira.

 

Povo Kaingang (Mito Kaingang)

Depois do dilúvio – Há muito tempo atrás, houve um grande dilúvio, cuja única coisa que ficou fora do alcance das águas foi o pico da serra Crinjijimbê. Várias pessoas morreram, e seus espíritos fizeram do centro da serra a sua morada. Os sobreviventes que ficaram no pico foram salvos depois de vários dias pelas aves saracuras, que fizeram um grande dique junto com as outras aves, o que fez com que os humanos pudessem passar e as águas irem em direção ao rio Paraná. Após isso, os espíritos que foram para o centro da Terra reapareceram e formaram os Kaiurucré e os Kamé. Ambos os povos ajudaram a criar os animais do planeta. Além dessa história, as mitologias grega e cristã também relatam sobre um dilúvio. Com tantos povos mencionando-o, me pergunto se realmente não ocorreu um.

 

Povo Tukano (Mito Tukano)

A proeza do caçador contra o curupira – Um caçador estava com muita má sorte de pegar uma caça para alimentar sua família. Só havia conseguido pegar um pequeno macaco. E ainda por cima, a noite havia chegado, e com ela, o curupira estaria espreitando a procura de caçadores que tenham feito mal aos seus animais. Não tenho muito a dizer. É um bom conto.

 

Povo Taulipang (Mito Taulipang)

A onça valentona e o raio poderoso – A onça se achava o animal mais poderoso. Um dia, ela encontrou um homem, que estava preparando um bastão, próximo à beira de um rio. Ela chegou rapidamente, mas antes de tentar devorá-lo, resolveu se exibir. Nunca subestime seu oponente.

 

            É um bom livro. Rápido de ler, com glossário no final de cada conto para tirar dúvida de certas palavras. Se deseja conhecer algumas histórias das tribos indígenas brasileiras, recomendo a sua leitura. Só não deixe que os urubus o tomem de você.

 

 


sexta-feira, 9 de maio de 2025

Lendas e Fábulas do Brasil

 


 

            Já li contos e lendas de vários países. Por que não ler contos e lendas aqui do Brasil? Lendas e Fábulas do Brasil é uma coletânea feita pela escritora Ruth Guimarães em 1972. Será que vou reconhecer alguma dessas histórias? Vamos descobrir:

 

Dona Baratinha e o fim do mundo – Quando estava varrendo a casa, Dona Baratinha achou um tostão e com ele comprou muitas coisas, deixando tudo mais chique, inclusive ela própria. Então, ela decidiu que era hora de se casar. Conto de fada clássico, com várias repetições. De maneira metafórica, ele mostra que toda tristeza uma hora acaba, o que achei bem fofo. 

A pombinha e a Moura-Torta – Um moço foi visitar a madrinha no reino encantado das fadas. Antes de ir embora, a fada lhe deu três gamboas e disse que era para abrir quando estivesse próximo a água. Decepcionado com o presente, ele decidiu abrir num lugar seco e da fruta saiu uma bela moça dizendo estar com sede...  Possui uma outra variante no livro que não muda muita coisa. Sinto que já ouvi uma história parecida antes. Não seria de se surpreender, já que os contos de fadas eram orais e “quem conta um conto, aumenta um ponto”. Tem as típicas repetições e a antagonista tem uma morte cruel. De forma geral, gostei do conto.

As três irmãs – Um homem teve três belas filhas. A mais velha sonhava em se casar com o padeiro do rei; a do meio sonhava em casar com o cozinheiro; e por último, a mais nova, sonhava em se casar com o próprio rei e lhe daria três filhos com estrelas na cabeça. O rei ouviu tudo isso e decidiu realizar o sonho das três, achando que as faria felizes. Mas não foi bem assim... Outro típico  conto em que as irmãs mais velhas invejam a mais nova. Como deu pra perceber, o número três está presente nessa história, como na maioria dos contos de fadas. É uma boa história.

Pedro Malazarte – Pedro Malazarte trabalhava em sua tendinha de ferreiro quando dois homens pediram para emprestar a forja. Este permitiu. O homem mais novo pegou uma senhora e batendo ela na forja, a fez jovem de novo. Os dois peregrinos eram Jesus e seu discípulo Pedro e como agradecimento por permitir o uso da forja, Jesus deu a Malazarte três desejos. O ferreiro desejou que quem se sentasse em seu banco, subisse em sua figueira e entrasse em seu surrão só poderiam sair com a permissão dele. Vendo que foi tolo e poderia ter pedido dinheiro, ele decide fazer um trato com o Diabo para este lhe provir. O típico conto em que o protagonista engana o Diabo, mas mesmo assim, tem um pequeno castigo pelas malandragens que fez durante a vida. O conto possui uma versão, sem a aparição do Diabo e de São Pedro, que é contada aqui no livro. Apesar dessa segunda ter uma moral melhor, preferi a primeira pois é mais cômica. Já havia ouvido falar da figura do Pedro Malazarte, mas nunca tinha lido o seu conto.

As peneiras do diabo – Um senhor muito rico ignorava a todos que considerava abaixo dele, além de ser muito mimado. Um dia, chegando em casa e vendo que a comida não estava pronta, decidiu sair e quando a esposa o pergunta para onde ele vai, o marido responde rudemente que ia para o inferno. No caminho, ele encontra um homem de capa preta, com dentes de ouro montado em uma mula. Quando este pergunta ao senhor para onde ia e ele dá a mesma resposta que deu para mulher, o homem responde que pode guiá-lo até lá. Este é um dos contos que faz o personagem querer se redimir para não ir ao inferno. O problema é que o motivo pelo qual ele quase foi condenado é porque o seu tataravô roubou a riqueza de alguém, e não por sua própria arrogância com os outros. Não gosto desse conceito de dívida histórica. Para mim, devemos ser punidos por nossas próprias ações e não pela dos nossos antepassados.

Artes de Branca-Flor – Um moço era viciado em jogos. Até que um dia, apostou a sombra e perdeu. Vendo que todos o achavam estranho por não ter sombra, o jovem foi atrás do Diabo para que este a devolvesse. Mas o demônio não a devolveria se ele não fizesse uns servicinhos antes... Esse é um daqueles contos em que o herói consegue tudo com a ajuda da filha do monstro. Me lembrou muito o conto Lis Amarela dos Melhores Contos de Fadas Celtas*. Gostei da história.

O pinto Sura – O pinto Sura era bicado por todos de seu galinheiro. Um dia, ele encontrou um pedaço de papel perto do lixo e achou que fosse uma carta. Decidiu ir até o rei entregá-la e pedir por justiça. É um daqueles contos que o protagonista encontra companheiros em seu caminho e eles o ajudam a resolver seus problemas. O final me lembrou um pouco o do Patinho Feio.

O sargento de pau – Por tentação do Diabo, um rei se apaixona por sua filha e deseja se casar com ela. Chorosa em seu quarto, a princesa recebe a visita de uma velhinha, que é a Nossa Senhora. Ela diz a moça para pedir ao seu pai que a desse um vestido cor do campo com todas as flores. Já contente, a jovem pede isso ao pai. Parecia impossível de conseguir, mas o Diabo aparece, vendendo esse vestido. A história de um pai que se apaixona pela própria filha lembra muito Pele de Asno, enquanto o meio do conto lembra a Cinderela de Perrault. Um bom conto, apesar de achar que o príncipe não merecesse ficar com ela no final.

A mãe de ouro – Em Rosário, havia um senhor de escravos muito cruel. O que mais sofria era o escravo chamado Pai Antônio, que nunca conseguia achar metal algum na mineração. Um dia, Pai Antônio foi chorar no mato e encontrou uma bela moça branca de cabelos de fogo... A mãe de ouro faz parte do folclore do Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil. É dito que ela mostra a localização das jazidas de ouro.  Um bom conto, apesar de ter gente que não merecia aquele final.

A Mãe d’água – Um homem tinha como o seu único sustento as melancias que plantava a beira de um rio. Ao notar que elas andavam desaparecendo, ele vigiou a plantação por três noites e viu que o ladrão era uma bela mulher de cabelos verdes, vinda do rio. Ao capturá-la, falou que esta seria sua esposa. Ela concordou, com a condição de não desprezar gente que vive debaixo d’água. Após o casamento, a sorte do homem começou a mudar... É um bom conto. Como dito no texto explicativo do livro, a Mãe d’água deste conto é uma mistura de lendas portuguesas, indígenas e africanas, em específico a Iara, que já é uma mistura da sereia portuguesa com o Ipupiara, um ser do folclore indígena, e a deusa africana Iemanjá.

O diabo advogado – Um andarilho pobre parou numa hospedaria e pediu por comida, prometendo pagar depois. A dona ofereceu pão com ovos. Ele comeu e foi embora. Dez anos depois, ele volta cheio de riquezas para pagar o que devia e a mulher avarenta fala que os ovos eram de uma raça de galos muito valiosa e se não os tivesse fritado, estaria rica. Ela então cobra o valor equivalente ao que ele tem. O homem não soube o que fazer, até que encontrou alguém no caminho que ofereceu ser seu advogado. É primeiro conto em que o Diabo não é o vilão. Tem uma boa lição de que não deveríamos cobrar por algo que não aconteceu. E que ovos fritos não dão pintos.

O Saci-pererê – De noite, numa tempestade com bastante ventania, nasceram vários sacis dos gomos de taquaruçu. O último deles se instalou numa fazenda e começou suas travessuras...  Esta história não teve muita graça, pois soou mais como se eu estivesse lendo um texto explicativo do Saci com alguns exemplos de seus feitos do que um conto em si.

O príncipe papagaio – Num reino, havia três princesas, sendo a mais nova muito bela. Um papagaio sempre passava pela janela onde ela estava e a pediu em casamento. Achando graça, a jovem aceitou. A ave pediu para que deixasse uma bacia de água para se banhar. A moça o fez e o papagaio de transformou num belo príncipe... Me lembrou a história de Cupido e Psiquê. Um bom conto.

A princesa sapa – Um rei muito velho quis testar os seus filhos para ver qual deles seria digno do trono. Então, mandou os três saírem numa jornada para ver qual deles lhe traria o melhor presente. O mais velho foi pelo caminho da direita, onde encontrou outro reino e trabalhou em sua fazenda até conseguir o presente. O mesmo aconteceu com o segundo filho, que foi pelo caminho da esquerda, só que este trabalhou como comandante de guerra. O terceiro e último filho foi pelo caminho do meio e ouviu uma bela voz na beira do lago. Ele prometeu se casar com a dona da voz. Mas descobriu que ela era uma sapa. Este conto me lembrou muito o conto russo A princesa sapo**, em que, apesar da aparência de anfíbio, a princesa sapo provou ser a melhor noiva.

O rei que tinha orelhas de burro – Num reino, havia um rei que nasceu com orelhas de burro. O único que sabia de seu segredo era o seu fiel barbeiro mudo. Mas um dia, o barbeiro faleceu e o rei teve que substituí-lo. O novo barbeiro não aguentava guardar esse segredo, porém, sabia que se abrisse a boca, seria severamente punido. Então, ele foi para bem longe, cavou um buraco e gritou o segredo. Uma história curta e bem razoável.

Os dois papudos – Havia um homem, festeiro, mas gente boa, com papo muito grande. Ele se incomodava com isso, porém, não tinha como tirá-lo. Até que uma noite, depois de uma festa, ele encontrou vários anõezinhos dançando em círculos. O rapaz decidiu participar. Por deixar a festa animada, o anão mais velho decidiu presenteá-lo com um desejo. Este desejou se livrar do papo e o anão o tirou dele, jogando no chão. Ao notar que ele estava sem papo, um outro homem papudo, com inveja, insistiu para que revelasse o seu segredo. Um conto que mostra que devemos ter cuidado com nossas palavras. Há uma versão africana, só que com uma mulher corcunda chamada Kaoumba. A história é bem similar, mas não tem essa lição de ter cuidado com as palavras. Porém, ambas punem os invejosos.

A lenda de São Cristóvão – Cristóvão era um homem gigante, mas tinha alma de criança. Ele desejava servir o ser mais poderoso do mundo. Disseram lhe que um rei era o mais poderoso, e este o serviu até perder para outro rei em uma guerra. Então, Cristóvão foi servir ao ganhador até este dizer que teme alguém... Pelo título, você já sabe quem Cristóvão irá servir. Essa coisa de trocar o mestre por um mais forte me lembrou o começo do filme dos Minions.

Quem vê cara... – Jesus e São Pedro estavam em suas andanças e no caminho passaram por um homem sério com o terço na mão e um carreiro que falou todo tipo de palavrão. São Pedro apostou que o primeiro ia para o céu e o segundo ia para o inferno. Mas Jesus não tinha tanta certeza disso... O título já entrega o que vai acontecer. Porém, discordo um pouco do método em como a bondade desses homens foi testada. Apesar do tratamento de excessiva violência, tenho que concordar que a desconfiança que um dos homens teve em relação ao mestre e seu aprendiz seja coesa, já que não podemos confiar em todo mundo.

No começo do mundo – “Deus e o Diabo sentaram-se à beira do rio e começaram a fazer os animais.” Um conto que não tem nada demais. Só mostra como Deus criou os animais mais belos e o Diabo não conseguiu superá-lo.

Os três desejos – Um casal pobre se esquentava próximo ao fogo a lenha, na taipa do fogão. Quando o homem viu que não tinha nada para comer, a mulher desejou que caísse um pedaço grande de linguiça de porco no brasido. E por um milagre, seu desejo foi realizado.  Esse é o famoso cuidado com o que deseja.

Quem te matou? – Um homem andava por aí e no caminho encontrou uma caveira. Ele deu um pontapé e caçoou dela, perguntando: “quem te matou, caveira?”. Ele se surpreendeu quando ela respondeu que foi a língua. Ele contou o ocorrido a todos, até chegar nos ouvidos do rei... Cuidado quando se fala com os mortos.

A mulher que queria ser imortal – Uma senhora rica queria tanto se tornar imortal que um dia, um anjo apareceu e disse que se construísse uma igreja, ela viveria o quanto a construção durasse. Ela então mandou construir uma igreja de pedra para que durasse mais. Um conto que mostra o quanto a imortalidade pode ser ruim. Me lembrou um pouco também a premissa do Retrato de Dorian Gray, mas aqui ela só tem a imortalidade. A velhice continua.

O padre e o menino esperto – Um padre estava em sua montaria quando viu um menino próximo ao rio. O padre perguntou a ele se o rio era fundo e o garoto respondeu que o gado do pai dele atravessava com a água no peito. Mas quando o padre foi atravessar, a água era tão funda que teve dificuldades para voltar. Irritado, o padre decidiu falar com os pais do menino, planejando se vingar. Um conto com bastante jogo de palavras e que mostra que às vezes, não vale a pena se vingar. Não gostei muito dele. Final pesado.

O macaco e o confeito – O macaco-guariba achou um vintém e com ele comprou um confeito. Mas em suas macaquices, ele acabou derrubando o confeito num tronco oco, e não conseguia tirar. Então, o macaco foi até o ferreiro e pediu para este fazer lhe um machado. Porém, o ferreiro recusou sem pagamento, então o macaco foi até o rei para que ele mandasse o ferreiro construir o machado... Este é um daqueles contos em que o protagonista vai sempre indo até algo ou alguém mais forte para resolver o seu problema, com bastante repetição em sua fala.

Macaco Serafim – Cansada do filho, a mãe do Macaco Serafim fez um virado de feijão e o mandou para fora de casa. Não estando com fome, o macaco joga o virado no muro e vai embora. Mas depois, a fome bate e ele volta até o muro e fala para ele devolver o virado. Tendo os outros bichos já comido o virado e a insistência do Macaco Serafim estar deixando o muro nos nervos, ele lhe dá um sabão. E assim, o macaco vai embora... Esse é um daqueles contos em que o protagonista troca objeto com os outros até se satisfazer. Também há muita repetência nas falas dele como no conto acima.

O enforcado – Um andarilho, cansado de tanto caminhar, decidiu subir numa árvore. Mas de noite, foi surpreendido com várias pessoas com tochas e um padre. Assustado, o homem pensou ser uma procissão dos mortos. Um conto que mostra como algumas lendas podem surgir com uma simples confusão.

A guerra dos marimbondos – O tatu e a onça brigaram e para decidir quem era o melhor, cada um chamou um batalhão. A onça invocou mamíferos de grande porte enquanto o tatu chamou seres bem menores... Esse é o famoso “tamanho não é documento”.

A casa do coelho – O coelho decidiu que estava na hora de ter uma casa. Mas não tinha dinheiro para uma. Então, pediu emprestado para o galo, a raposa, o cachorro, a onça e o homem, prometendo pagá-los depois. Ele conseguiu sua casa, sendo o galo o primeiro a chegar para cobrar a sua dívida... Um conto que o protagonista usa da sua esperteza e malandragem para se dar bem no final. Esse coelho é "um sete um".

O coelho e a onça – O coelho saltitou por aí até chegar num povoado. Lá, viu uma moça bonita por qual ele se apaixonou. Ele a cortejava, mas tinha um rival, que era uma onça macho bem forte, que venceria o coelho em uma briga facilmente. Ainda assim, o coelho espalhou que ele um dia haveria de cavalgar na onça. Outro conto que o protagonista usa de sua esperteza para conseguir o que quer.

O gigante – Um gigante decide sair em busca de fortunas. Ele vai andando até encontrar uma fazenda, cuja dona é bem avarenta. Ela contrata o gigante achando que ia se dar bem, devido ao quão desesperado ele parecia estar para arrumar um emprego. Mas não foi bem isso o que aconteceu... Um conto que mostra que até os burros podem se dar bem uma vez ou outra.

 

        De uma forma geral, gostei da maioria das histórias. Todos os contos possuem origens portuguesas, africanas ou indígenas, o que é de se esperar, já que o Brasil foi formado originalmente por esses três grupos. Mas o que se nota nos contos de fadas é que apesar de mudar o país onde foi contado, sempre haverá uma temática parecida, como a da esperteza ganhando da força, do avarento se dando mal, do irmão mais novo se dando melhor que os mais velhos. Isso prova que apesar das diferenças culturais de cada lugar, sempre existirão temas universais.

            Recomendo a leitura do livro. Além dos contos, este também possui explicações de suas origens, que pode interessar aos curiosos. Então, chegue e dê uma lida. Só não dê ouvidos ao Diabo. Nem ao coelho.

 

*Resenha do livro Os Melhores Contos de Fadas Celtas: Ponte para o Imaginário: Contos de fadas celtas

**Resenha do conto A princesa sapo: Ponte para o Imaginário: Contos de fadas russos