Já li contos de fadas de
vários lugares, por que não leria das terras dos vikings? Os Melhores Contos
de Fadas Nórdicos é uma coletânea de vários autores e, como faço na maioria
desses livros, analisarei uma história de cada vez e no final darei meu
veredito. Comecemos:
A Leste do Sol e
Oeste da Lua – Escrito por Peter Christen Asbjornsen e
Jorgen Moe. Um pai vivia com sua família e diversos filhos, sem dinheiro para
alimentá-los nem vesti-los. Numa quinta-feira de outono à noite, com um clima
horrível lá fora, um enorme urso branco bateu em sua janela, oferecendo
riquezas em troca da filha mais nova, que era a mais bonita e amável de seus filhos.
Outro conto que lembra a história de Cupido e Psiquê, mas ao invés de
irmãs invejosas, é uma mãe preocupada que dá o conselho que acaba atrapalhando
o relacionamento da garota e do príncipe. Também lembra bastante o conto O
príncipe papagaio, pois a protagonista pergunta para várias pessoas onde
fica o local em que o príncipe está e delas, ganha presentes que lhe serão
úteis depois.
Peer Gynt – Escrito
por Clara Stroebe. Peer Gynt era um grande caçador. Numa de suas voltas para
casa, ele esbarrou em algo frio, escorregadio e grande. Quando perguntou quem
era, este respondeu que era o Corcunda. Um conto estranho. Parece uma pequena
coletânea de histórias sobre o protagonista enfrentando trolls.
Por que o Mar é
Salgado – Escrito por Peter Christen Asbjornsen e
Jorgen Moe. Havia dois irmãos: um rico e um pobre. No Natal, o pobre foi pedir para
o rico algo o que comer. Cansado do irmão viver lhe pedindo coisas, rico ia dar
com a condição de o irmão fazer o que ele pedir. O pobre aceitou e o rico lhe
deu um toucinho e o mandou ir para o Inferno. Chegando lá, o pobre encontrou um
velho, que falou que muitos por lá iriam querer negociar o toucinho por algo,
mas que o dono só deveria aceitar se oferecesse um moinho... Uma história que
responde de maneira fantasiosa o porquê do mar ser salgado. E, como é de se
esperar de um conto de fadas, o rico sempre se dá mal no final enquanto o pobre
prospera.
A Noiva da
Floresta – Escrito por Parker Fillmore. Já tendo
idade para se casarem, os três filhos de um fazendeiro saíram em busca de suas
noivas conforme a árvore que cortaram havia caído. A árvore de Veikko, o mais
novo, apontou em direção à floresta, onde só havia animais. Mesmo assim, ele
foi andando pelo mato e encontrou uma cabana com uma ratinha penteando seus
bigodes... Conto com a mesma premissa do conto russo A princesa sapo* e
de sua variante brasileira, A princesa sapa**, em que o irmão mais novo
fica com uma noiva animal, e apesar de sua aparência, prova que é a melhor
opção e se torna uma bela princesa no final.
Kari Capa Dura – Escrito
por Peter Christen Asbjornsen e Jorgen Moe. Um rei vivia com sua esposa e sua filha,
até que um dia, sua esposa faleceu, deixando-o triste e solitário. Depois de um
tempo, ele se casou com uma rainha viúva que também tinha uma filha tão feia
quanto a sua era bela. Ela e a mãe odiavam a princesa, porém, não podiam fazer
nada enquanto o rei estivesse por perto. Mas quando ele foi para a guerra, elas aproveitaram
e maltrataram a pobre princesa, deixando-a passar fome. Quando a princesa foi
cuidar do rebanho, toda chorosa, um touro baio, que a moça sempre acariciava,
veio tranquilizá-la, dizendo que em sua
orelha esquerda havia uma toalha que ao puxar e abrir, poderia dar tudo o que
ela quisesse comer... Este conto é descrito no livro como uma versão da Cinderela,
especificamente a versão dos Grimm pelo corte do dedão e do calcanhar da irmã
postiça para caber o sapatinho. Mas sua estrutura lembra O sargento de pau***,
trocando os bailes por idas na igreja. E este último, tem similaridade com Pele
de Asno. Uma mistura de histórias num só conto.
A Criança Trocada
– Escrito por Selma Lagerlof. Uma mãe troll andava com
seu bebê, que para ela era a coisa mais linda do mundo. Até que chegou numa
estrada e viu um casal andando a cavalo com um bebê no colo. A troll acabou
assustando os cavalos sem querer e a mulher deixou cair seu filho no arbusto.
Vendo que o bebê humano era mais belo que o seu, a troll o pegou e deixou o seu
filho no lugar. Um conto que mostra que a bondade pode te recompensar. Há uma hipótese
de que a lenda da criança que é trocada por um ser mágico está associada com
crianças que nasceram com alguma deficiência e que erroneamente, eram mortas.
Aqui, a mãe humana faz de tudo para manter o bebê troll vivo, mesmo o marido e
os empregados o odiando e ela própria tendo ressentimento e desejando em certos
momentos se livrar do que é considerado um peso em sua vida. Acredito que pais
de crianças especiais possam se identificar um pouco com ela. Escrevi um conto
relacionado a esta lenda no livro A Pena Mágica e outros contos.
O Rei Dragão – Escrito
por Svend Grundtvig. Um rei e uma rainha não conseguiam ter filhos. Até que uma
velha disse à rainha que ela conseguiria ter filhos se colocasse um prato no
chão, virado para baixo, no canto noroeste do jardim. No dia seguinte teria
duas rosas. Se ela comesse a branca, seria uma menina e se comesse a vermelha
seria um menino. A rainha fez o que foi dito e comeu a rosa branca. Mas não
resistiu e comeu também a vermelha. Quando o bebê nasceu, viram que ele não era
humano, e sim um dragão... Tinha visto uma versão bem parecida chamada Príncipe
Lindworm. Está aqui possui uma segunda parte após o encantamento ser
desfeito que acho desnecessária.
O Castelo de Soria
Moria – Escrito por Peter Christen Asbjornsen e
Jorgen Moe. Halvor nasceu em uma família pobre e não se empenhava em aprender
nenhuma profissão. Só tateava as cinzas do fogão. Até que um dia, um capitão o
chamou para viajar com ele e Halvor aceitou. Após uma tempestade, eles perderam
o seu rumo e foram levados a um estranho litoral. Halvor pediu para descer e
caminhou até encontrar um castelo... Este conto é uma mistura de outros. Aqui,
aparece três trolls com números de cabeça sendo múltiplos de três como em Kari
Capa Dura e o protagonista perde sua amada e tem que partir numa viagem,
perguntando para outros onde fica a sua residência, como em A Leste do Sol e
Oeste da Lua.
A Giganta e o
Barco de Granito – Escrito por Angus W. Hall. Sigurd
foi para outro reino, se casou com Helga, a bela e tiveram um filho. Três anos
depois, Sigurd recebeu a notícia que seu pai havia falecido e foi até seu país
com sua esposa e filho no navio. Mas durante a viagem, enquanto dormia, sua
esposa estava no convés com o bebê. E então, apareceu uma giganta vinda de um
barco de granito, que a forçou trocar de lugar com ela. Não tenho muito o que
dizer desse conto. Apenas que a esperteza de Helga e os ouvidos de dois
príncipes salvaram o dia.
O Gato em
Dovrefjell – Escrito por Peter Christen Asbjornsen e
Jorgen Moe. Um homem havia capturado um urso-polar para levar ao rei da
Dinamarca. No caminho, ele pediu abrigo a um homem chamado Halvor na véspera do
Natal. Halvor disse que não poderia dar pois trolls vinham em toda véspera de Natal
e atacavam todos da região. Mas o homem insistiu tanto que Halvor cedeu. Este
conto é uma versão de uma das aventuras de Peer Gynt.
Poderoso Mikko – Escrito
por Parker Fillmore. Mikko era um jovem pobre que havia perdido a mãe e o pai
logo depois. Mas antes de partir, o pai deixou para ele três armadilhas e disse
que se encontrasse um animal, o libertasse e o levasse para casa. Mikko
encontrou um raposo na terceira armadilha, levou-o para casa e o tratou bem. O
raposo perguntou por que estava triste e o moço respondeu que se sentia
solitário. O animal então disse que o faria se casar com uma princesa. Uma
versão do Gato de Botas.
Rei Valemon, o
Urso Branco – Escrito por Peter Christen Asbjornsen e
Jorgen Moe. Um rei tinha três filhas, cuja mais nova era a mais bela e
agradável enquanto as outras eram feias e más. A mais nova sonhou com uma bela
grinalda de ouro e ficou triste por não a ter. Seu pai chamou os melhores
ourives para fazer várias grinaldas, mas a princesa recusou todas. Um dia, brincando
com um Urso Polar, viu que ele possuía a grinalda de seus sonhos. Em troca da
grinalda, o urso quis ter a jovem como noiva. Ela aceitou, mas seu pai não
deixaria que o urso a levasse. Conto muito similar A Leste do Sol e Oeste da
Lua. Apesar de ser descrita como a mais agradável, achei a princesa
bem mimada nesse começo. Outra história em que o mais novo é o mais belo e o
favorito dos pais.
A Flor da Islândia
– Escrito por Marie Jeserich Timme. Marietta, nascida
na Itália, se casou com um marinheiro da Islândia e teve que abandonar sua
terra quente e florida pelo gélido país do marido. Juntos, tiveram uma filha
chamada Helga, que tinha a pele branca e cabelos loiros do pai e os olhos
escuros e misteriosos da mãe. Por sua beleza rara, a apelidaram de flor da
Islândia. Apesar de ter ser casado e ido para o local de nascença do marido,
Marietta não pôde resistir às saudades de sua terra natal e acabou morrendo.
Mas não antes de contar a filha sobre a Itália e deixar a menina com o sonho de
conhecer este país. Anos se passaram e seu pai e primo foram viajar de barco,
negando-a a possibilidade de ir com eles. Helga chorou e seu choro foi ouvido
por alguém que a levou para uma terra ainda melhor que a da mãe: a terra das
fadas. Um conto triste. A história quer que o leitor se simpatize com o amor de
Helga e o rei das fadas, mas para mim, ele foi tão manipulador quanto o pai em
querer deixá-la presa num só lugar.
Lindaura e o Velho
Rei – Escrito por Anna Wahlenberg. O velho rei era um bom
governante, mas desde que perdera a esposa e o filho, não deixava que ninguém
se aproximasse dele, vendo garras nas mãos das pessoas. Um dia, ele estava
caminhando na floresta, até que uma garotinha se agarrou nele, gritando que um
monstro estava atrás dela... Um conto que mostra como a alegria
de uma criança pode ser contagiante.
Lasse, meu vassalo
– Escrito por G. Djurklou. Um nobre gastou toda sua
fortuna e ficou miserável. Andando pela floresta, encontrou uma cabana.
Entrando nela, viu um baú e dentro dele, havia outro baú. Depois de abrir
vários baús, achou um papel no último deles, escrito “Lasse, meu vassalo!” Ao
ler estas palavras em voz alta, alguém lhe respondeu, perguntando o que o seu
mestre ordena... Tudo que se ganha com facilidade, também pode se perder com
facilidade. O esforço pode recompensar.
O Anel – Escrito
por Helena Nyblom. Ao retornar de sua cavalgada noturna, o príncipe deu uma
passada na praia e encontrou um pequeno anel, de pedrinhas azuis que formavam uma
flor não-me-esqueças. Achando que fosse de uma dama do palácio, perguntou se
alguma delas havia perdido um anel, mas nenhuma delas tinha perdido. Ao deixar
o anel numa mesa próxima à sua cama e apagar as luzes, a joia começou a girar. Se
movia todas as noites, a ponto de incomodar o príncipe, que por fim, decidiu
embarcar numa jornada em busca de sua dona. Conto bonitinho.
Noiva Galhuda – Escrito
por Peter Christen Asbjornsen e Jorgen Moe. Um viúvo tinha dois filhos: um
menino e uma menina. Ele se casou com uma mulher que também era viúva e possuía
uma filha. A nova esposa e irmã era tão ruins com os filhos dele que o rapaz
saiu para cuidar dos cavalos do rei e para ficar bem longe delas. A irmã não
teve essa sorte, sendo maltratada e feita de empregada pelas duas. Ao ir pegar
água, uma cabeça gigante pediu para que a limpasse. Uma segunda pediu que penteasse o seu cabelo e uma terceira pediu que a beijasse. Tendo
atendido todos os seus pedidos, as cabeças decidiram recompensá-la... Parece
uma mistura do conto russo Morozko, o velho inverno**** e o conto A
Giganta e o Barco de Granito.
O Homem de Neve – Escrito
por Hans Christian Andersen. O Homem de Neve conversava com o cachorro que
ficava no quintal. Em suas conversas, o animal mencionou o fogão. Ao ver o
fogão pela janela, o Homem de Neve sentiu algo estranho dentro de si. História
melancólica. O final é, em grande parte, previsível, mas tem um pequeno detalhe
que surpreende.
Heiemo e Nokk –
Escritor anônimo. Um nokk mandou um capitão ir para a terra dos cristãos, pois
ia desposar a bela virgem, Heiemo. Este texto é uma tradução de uma canção
clássica da Noruega e este nokk, pelo que pesquisei, faz parte de mitologia
nórdica e é um espírito aquático que atrai pessoas para a água e então as
afoga. Normalmente, ele aparece na forma de um homem, de uma mulher bonita ou
de um cavalo. Esta última me lembrou o mito do kelpie.
A Saga do Alce
Skutt e da Princesa Tuvstarr – Escrito por Helge
Kjellin. No Castelo do Sonho, vivia uma princesinha chamada Tuvstarr. Ela
encontra um alce chamado Pernalonga Skutt e pediu para este a carregasse vida
afora. Ele avisa que o mundo é cruel lá fora, mas a menina insiste e o alce
acaba a levando. O mundo é realmente cruel e precisa ter cuidado com tudo.
Principalmente numa floresta mágica. Conto melancólico.
Pernacurta e os
Trolls – Escrito por Peter Christen Asbjornsen e
Jorgen Moe. Um casal muito pobre quase não tinha o que comer e ainda tinha um
filho a cada ano. O pai reclamou tanto disso que quando o seu filho nasceu,
este pediu para que sua mãe lhe desse roupas velhas e comida que ele iria
embora. O seu gêmeo fez a mesma coisa e foi encontrar o mais velho. Os dois se
deram o nome de Rei Robusto e Pernacurta respectivamente e depois de um tempo,
se separaram, com Rei Robusto prometendo vir salvar sua vida se chamasse o seu
nome três vezes. Outra história envolvendo trolls de várias cabeças e situações
envolvendo o número três. Conto legalzinho.
O Monte Élfico – Escrito
por Hans Christian Andersen. O velho rei dos elfos planejava fazer uma festa no
monte élfico, convidando vários tipos de seres sobrenaturais. O convidado mais
esperado era o Velho Duende da Noruega, vindo das antigas montanhas de Dovre. O
duende foi com a intenção de encontrar noivas para seus dois filhos, mas estes
eram bastante mal-educados... Um conto que não possui uma aventura ou algo muito
espetacular. Meio sem graça.
O Vizinho
Subterrâneo – Escrito por Peter Christen Asbjornsen e
Jorgen Moe. Um camponês teve má sorte com seu gado e perdeu sua propriedade.
Acabou comprando outro pedaço de terra próximo a uma floresta até que encontrou
um homem, que descobriu que além de ser seu vizinho, era uma pessoa do povo
subterrâneo. Mas não se importou e o convidou para cear em sua casa. O vizinho
foi e disse que ele precisava mudar o estábulo de lugar senão haveria
consequências... Gentileza gera gentileza.
Tempestade Mágica
– Escrito por Clara Stroebe. Um jovem camareiro tinha
em sua posse um trevo de quatro folhas, que o permitia ver seres que eram
invisíveis sem que estes seres o pudessem ver. Então, dentro do navio, ele
acabou ouvindo a conversa de três bruxas transformadas em corvos. Elas eram as
esposas do capitão e dos dois intendentes e planejavam matar seus maridos junto
com toda a tripulação. É um tanto estúpido você planejar um assassinato de
alguém no local onde ocorrerá o massacre, e ainda por cima revelar o
contrafeitiço que pode estragar o seu plano. Vilões podem ser estúpidos às
vezes.
A Última Morada
dos Gigantes – Escrito por Marie Jeserich Timme. Num
castelo que antigamente pertencia a gigantes, o atual dono se chama Samund, que
tem uma bela filha chamada Aslog. Ele deseja que a moça se case com algum
homem nobre, mas o coração da jovem pertence a Orm, um pobre pajem. Por negar
todos os pretendentes, o pai a obrigou que escolhesse um noivo antes da noite
de Natal. Então, uma noite antes da data, Aslog foge com Orm. Porém, essa fuga
trará consequências. O perdão é uma dádiva. Apesar ser um dos contos cristãos
que mostra como perdoar faz bem, não vi o cristianismo tão glorificado como nos
outros contos, pois não esconde totalmente o que ele fez com os pagãos, que
aqui é demonstrado figurativamente na forma de gigantes e anões.
Estou tão acostumada com a mitologia nórdica que esperava
alguma menção de Thor, Odin ou Loki em um desses contos. Mas apenas o último
fez menção a Odin como um rei que invadiu um castelo de gigantes pacíficos para
acrescentar ao seu território, matando-os enquanto estavam dormindo. Com
exceção de um casal que fugiu. E é dito que apesar do sangue derramado, ele
governou com “sabedoria, poder e benevolência”. Em nenhuma vez, Odin é
mencionado como um deus. Muito provável que isso tenha acontecido devido a
introdução do cristianismo na região nórdica.
Muitos desses contos mencionam o cristianismo
como algo bom e trolls, que são considerados criaturas malignas, odeiam os
cristãos. Eles os aprisionam ou querem devorá-los. Aparentemente, a religião já
tinha se estabelecido como dominante quando estas histórias foram coletadas. Além
dos trolls, gigantes, elfos e alguns outros seres do folclore nórdico são
mencionados em alguns desses textos.
Tive uma boa experiência literária. Recomendo a leitura
para quem é fã de contos de fadas e deseja conhecer um pouco mais das histórias
nórdicas. Mas se você for cristão, tenha cuidado. Os trolls podem sentir o seu
cheiro...
* Resenha do conto A
princesa sapo: Ponte
para o Imaginário: Contos de fadas russos
**Resenha do conto A
princesa sapa: Ponte
para o Imaginário: Lendas e Fábulas do Brasil
***Resenha do conto O
sargento de pau: Ponte
para o Imaginário: Lendas e Fábulas do Brasil
****Resenha do conto Morozko, o velho inverno: Ponte
para o Imaginário: Contos de fadas russos
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