sexta-feira, 8 de março de 2024

A Origem da Gumiho

 


                Voltamos a mais um livro do Kindle, dessa vez com uma história baseada na cultura coreana. O Rio e a Raposa foi escrito por Ítalo Oliveira em 2023. Vamos para o resumo:

            Yeou foi abandonada quando bebê e encontrada pela Grande Mãe Anciã, que sentiu pena da criança e decidiu transformá-la em uma raposa, que viveria muitos anos felizes ao seu lado. Depois de cem anos, Yeou recebeu sua primeira cauda e a habilidade de se transformar em humana durante a noite. A deusa teve que partir para o mundo dos espíritos, mas prometeu encontrá-la novamente após Yeou ter nove caudas. Até lá, Yeou deve decidir se ficará no mundo dos homens ou partirá para viver com sua deusa.

            A história reimagina uma origem para a gumiho, ser da mitologia coreana, que é uma raposa de nove caudas com a capacidade de mudar a sua aparência para a de uma humana. Ela mata e suga a energia vital dos homens e possui uma esfera mágica que lhe dá poderes. A gumiho é normalmente vista como uma entidade maligna nas lendas, mas aqui, Yeou, a protagonista, se mostra uma personagem curiosa e de bom coração, que foi corrompida devido a uma traição.  

            O autor é descrito como alguém que gosta de doramas, o que explica seu conhecimento por alguns objetos coreanos. O livro possui até um glossário para ajudar o leitor.

            O livro é curto e de leitura rápida. O enredo é clichê, típico de um próprio dorama, com o príncipe Gong se apaixonando pela protagonista Yeou e a rival romântica Sung, que também é amiga de Yeou, que tenta separar o casal, o que gera um pouco de conflito, pois ela realmente tinha muito carinho por Yeou, mas se deixou levar pelo ciúme. Porém, ao contrário da maioria dos doramas, seu final é trágico. Também tinha uma trama de guerra que se resolveu tão rápido que não senti a necessidade de sua existência. Acredito que o autor poderia ter continuado a história após contar a origem da gumiho. Mas se você gosta desse tipo de história novelesca com fantasia, embarque nessa jornada. Só tome cuidado com os demônios da floresta.

           

           


sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Cangaceiro vs Lobisomem

 


                Voltamos com mais uma leitura do Kindle de uma novela nacional envolvendo um lobisomem no sertão. O Capeta-Caolho contra a Besta-Fera foi escrito por Everaldo Rodrigues em 2018. A história foi vencedora do Prêmio ABERST de Literatura na categoria de melhor conto ou novela de terror e ficou em segundo lugar no Prêmio Geek.

            A cidade de Terezinha de Moxotó tem sofrido ataques de lobisomem. Com a polícia não acreditando na história e se recusando a mandar reforços, o coronel é prefeito Jesuíno de Cândida e seu povo não tiveram outra escolha a não ser pedir ajuda a Jeremias Fortunato Silveira, um cangaceiro conhecido como Capeta-Caolho, temido por todos.

            A novela tem uma proposta interessante, juntando um ser bastante conhecido do nosso folclore com o cangaceiro, figura bastante conhecida do Nordeste brasileiro. E ao contrário de muitas histórias que vemos por aí em que tentam justificar os crimes de bandidos através de seu passado triste, aqui não tem isso. O Capeta-Caolho teve uma infância trágica, mas em momento algum me simpatizei com o personagem, principalmente após as atrocidades que ele e seu bando cometeram. Isso faz o leitor pensar se o lobisomem é realmente o monstro da história.

             Porém, por ser uma história curta, acredito que o potencial não atingiu o máximo. A novela tenta enganar o leitor com relação a identidade do lobisomem, mas não dá certo. Os personagens são interessantes e cumprem bem suas funções, mas novamente, se o livro fosse maior, poderiam ter sido mais bem desenvolvidos.

            Por minhas expectativas serem altas, o livro me decepcionou um pouco. Mas deixando isso de lado, a história é mediana para boa. Se você gosta da temática de lobisomem no sertão, pode dar uma checada. Só cuidado para não encontrar a besta-fera pelo caminho. Ou pior, um bando de cangaceiros.

 


sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Por que as mulheres gostam tanto de romances com seres fantásticos?


            Andei pensando nesse tema ultimamente e decidi escrever este texto. Mas não o usem como referência para nada. O que você verá aqui são apenas os meus pensamentos, que podem (ou não) estar errados e servem apenas para refletir sobre o assunto. A base de pesquisa é quase nula. Comecemos:

            Li uma coleção de livros, que até possui resenhas no meu blog, chamada Corte de Espinhos e Rosas, em que a heroína namora um feérico. Muitos também lembrarão de Crepúsculo, filme adaptado de um livro, em que a protagonista namora um vampiro. E até hoje, você encontra romances entre mulheres e feéricos, vampiros, lobisomens, elfos, deuses e assim por diante. Se tem tantos livros com essa temática é porque a demanda é grande e o público leitor desse tipo de obra é majoritariamente feminino. Mas por que mulheres gostam tanto de romance com seres fantásticos?

            Em histórias medievais, um cavaleiro salva sua princesa matando o dragão com sua espada. Mas, e se não existisse o cavaleiro e a princesa tivesse que lidar sozinha com o dragão? Mulheres são menos aptas a usar a força bruta por serem biologicamente mais fracas e isso reflete na maioria das histórias antigas. Então, como a princesa poderia resolver esse problema? Domando o dragão. Como, se ela não tem força? E quem disse que precisa de força física para domar um monstro?

            Um exemplo de uma garota domando um monstro sem precisar de força física é apresentado no filme Lilo & Stitch. Lilo, uma menina de seis anos conseguiu domar um alien destrutivo. Como? Primeiro ela tenta treiná-lo espirrando água nele para que ele obedecesse a seus comandos, e não funciona.



Depois, ela pacientemente tenta educá-lo, ensinando-o a dançar, tocar violão etc. O alienígena, que só estava fingindo ser um cachorro para evitar ser capturado pelas Forças Galáticas, acaba gostando da cultura local e das pessoas ao seu redor. Ele não conhecia nada que não fosse a destruição e ela mostrou que há muitas coisas para se gostar. Lilo não é uma guerreira forte. Seu nível de força não se equipara ao de Stitch. Ainda assim, ela consegue “domá-lo” sendo gentil e amável.



            Outro exemplo que nossa querida Disney trouxe foi sua adaptação de A Bela e a Fera que, ainda por cima, se encaixa nessa categoria da mulher que se apaixona por um monstro. Bela era uma camponesa gentil, que tinha gosto pela leitura e desejava vivenciar as histórias que lia. Ela troca de lugar com o pai que foi aprisionado pela Fera.  Já a Fera é um príncipe mimado e ranzinza que foi amaldiçoado por uma feiticeira a ter essa forma de monstro até encontrar uma mulher que o ame com essa aparência. O início do relacionamento dos dois não foi dos melhores, tanto que Bela tenta escapar do castelo. Para seu azar, Bela foi encurralada por lobos e teria morrido se a Fera não a tivesse salvo. Por um momento, ela pensa em ir embora, deixando a Fera ferida na neve. Mas acaba voltando ao palácio e trata de seus ferimentos. A partir deste momento, a relação dos dois começa a melhorar. A Fera foi mudando seu comportamento e se tornando mais cavalheiro para agradá-la. Mas isso não era uma estratégia dele e de seus servos para acabar com a maldição? Sim, porém, ele não faria tanto esforço para mudar se ela não tivesse sido doce e gentil.


        Agora que já mostrei os exemplos, retornemos à pergunta: por que as mulheres gostam tanto de romance com seres fantásticos? Primeiro, porque grande parte delas, inclusive eu, gostam de histórias românticas. Segundo, porque juntar o cavaleiro e o dragão em uma só pessoa tornaria a narrativa bem mais interessante, dando inúmeras possibilidades. Terceiro, porque mulheres gostam quando sua feminilidade é vista como algo positivo a ponto de ajudar um homem a se tornar uma pessoa melhor e, se a heroína for humana e seu interesse romântico for um ser mágico, fica ainda mais especial. E quando falo em feminilidade, não me refiro apenas da aparência física, e sim da gentileza, da calma, da paciência, da delicadeza, aspectos femininos que sinto que estão sendo cada vez mais desvalorizados em suas personagens, trocando-os por qualidades mais masculinas. Vi isso em Corte de Espinhos e Rosas em que ao contrário de suas irmãs, a protagonista era uma caçadora durona que sustentava a casa, enquanto as outras e o pai não faziam nada. Não tem problema existir personagens com qualidades masculinas, mas não precisa apagar as femininas para isso.

Sinto falta de personagens mais femininas nesse tipo de obra. Mulheres que não comecem como guerreiras ou caçadoras. Podem até possuir um poder mágico, mas que usem mais para ajudar os outros do que para matar. E vocês? Concordam comigo? Se tiverem alguma recomendação, comentem!

           

 

 

Observação: Todos os gifs foram tirados da internet.

 






sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Fantasia Animal

 



 

            Oi gente! Eu e minha irmã Maya Flor lançamos um livro para esse carnaval. Vocês podem encontrar este livro na Banca Sorriso na rua Senador Vergueiro, no Flamengo, próxima ao supermercado Ultra ou entrando em contato comigo. Não percam!

 

Ao ver um bloco de Carnaval, o sagui tem a ideia de fazer uma festa dessa celebração com os outros bichos. Todos se animaram, menos a coruja rabugenta. Será que eles conseguirão convencê-la a participar?

sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

A Ilha do Dr. Moreau

 


                Já li O Homem Invisível então por que não leria outra obra do autor? A Ilha do Dr. Moreau foi escrito por H. G. Wells em 1896 e é uma de suas quatro obras mais conhecidas, como A Máquina do Tempo, A Guerra dos Mundos e o já mencionado Homem Invisível. Este livro teve duas adaptações cinematográficas, uma em 1977 e outra em 1996.

            Após sua navegação ter sofrido um naufrágio e seus dois companheiros de bote terem se afogado, Edward Prendick acordou em um outro navio, sendo tratado por um doutor chamado Montgomery. Esta embarcação estava cheia de animais destinados à ilha onde Montgomery morava. Após a entrega da carga, o capitão nem quis saber de Prendick e o forçou a voltar ao seu bote. Porém, Montgomery acabou por ajudá-lo, levando-o a conhecer o doutor Moreau, o dono da ilha, e seus estranhos habitantes...

            Desde Frankenstein, livros de ficção científica em que o homem brinca de Deus e é castigado por sua insolência são bastante comuns na literatura. A Ilha do Dr. Moreau não é a exceção. Mas mesmo que essa temática seja considerada um clichê nesse ponto, é algo que até os dias de hoje gera debates interessantes. E esta história ainda acrescenta mais um tema para a discussão, que é “tudo que o homem modifica da natureza, uma hora ou outra, retornará ao seu estado original”. Infelizmente, a novela é muito curta, não tendo muito espaço para maiores detalhes das discussões acima.

            Quanto aos personagens, cumprem bem os seus papeis. O protagonista Edward Prendick, que é também o narrador, serve como o homem comum que foi introduzido à loucura da ilha e com quem a audiência mais se identificará. O doutor Moreau é uma versão mais arrogante e vilanesca de Victor Frankenstein, pois ainda persiste em seus experimentos até o final, não importando as consequências. E por último, Montgomery, o ajudante de Moreau, que viveu as loucuras de seu chefe por tanto tempo que já se acostumou, usando o álcool como sua principal fonte de tratamento. Gostaria que os habitantes da ilha tivessem tido mais foco. Mas talvez tenha sido melhor assim, pois a natureza deles é simples e não teria tanto a acrescentar.

O livro tem algumas semelhanças com Guardiões da Galáxia vol. 3. Não duvido nada que A Ilha do Dr. Moreau foi a inspiração para este filme. Nem que inspire mais obras que venham por aí. Por isto, recomendo a quem seja fã de ficção científica que dê uma lida. Só tomem cuidado. Se virem um coelho morto, olhem para seus arredores e fiquem atentos.

 


sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

O Livro dos Dragões

 


            Volto novamente com mais uma resenha de um livro fantástico. O Livro dos Dragões é uma coletânea de contos, escritos pela autora Edith Nesbit em 1899. Nesbit é considerada a primeira escritora moderna do gênero infanto-juvenil e influenciou autores como C. S. Lewis e J. K. Rowling. As histórias foram publicadas na revista The Strand Magazine, que também popularizou as histórias de Sherlock Holmes de Arthur Conan Doyle e da série Hercule Poirot de Agatha Christie. Vamos para a análise dos contos:

 

O livro das feras – Após a morte de seu tatatatataravô, Lionel assume o trono como o novo rei. O antigo monarca também tinha um enorme gosto por livros e sua fixação por eles fez ele ser chamado de mago. Lionel também herdou esse gosto pela leitura e ao chegar em sua biblioteca, pegou para ler O livro das feras. Qual não foi a surpresa do garoto quando viu as criaturas do livro ganhando vida e saindo de suas páginas?  Conto que mostra que não devemos ignorar os problemas por muito tempo, pois alguma hora eles voltam para te infernizar. Um detalhe: a autora confundiu o hipogrifo, que é um ser com corpo de cavalo, cabeça e asas de águia, com o pégaso, que é o cavalo alado.

Tio James – Num estranho país chamado Rotundia, todos eram gentis. Exceto James, tio da princesa Mary Ann. Querendo se livrar da sobrinha para ficar com o reino para si, ele aproveita para fazer uma aliança com um dragão roxo que deseja devorar a princesa. Mas Tom, o filho do jardineiro,  fará de tudo para impedi-los. Conto tradicional em que o mocinho vence o vilão usando sua esperteza. O que sai do molde dos contos de fada é o jeito que narrador conversa com leitor e explica o motivo da estranheza de Rotundia.

Os salvadores da pátria – Effie sentiu algo em seu olho e pediu para seu pai ajudar a tirar. Ao ver em um microscópio, viu que era uma criaturinha parecida com um dragão. Logo depois dessa descoberta, a cidade foi tomada por vários desses dragões, que variavam bastante de tamanho. Cansados dessa praga, os irmãos Effie e Harry foram a procura de São Jorge para acabar com esses bichos. Um conto bem louco, mais destinado ao público infantil.

O dragão de gelo – George e Jane estavam admirando os fogos de artifício quando viram um pedaço da aurora boreal. Então, ambos decidiram desobedecer os pais e saíram em direção ao Polo Norte para ver a aurora boreal completa. Um conto que mostra que não se deve desobedecer os pais e que sua gentileza pode ser recompensada.

A ilha dos redemoinhos – Uma rainha foi até a morada de uma bruxa para lhe pedir um bebê. Ela recebeu a criança,  mas o rei, um feiticeiro bastante mal-educado, ficou insatisfeito, pois o bebê era uma menina e não podia herdar nem aprender suas feitiçarias. Então,  quando a princesa completou dezoito anos, ele a colocou na Torre Solitária, que ficava na ilha dos Nove Redemoinhos, e pagou um dragão e um grifo para vigiarem a moça. O homem que fosse capaz de libertá-la, teria sua mão e o trono. Um dos poucos contos em que a bruxa é boa e o rei é mau. Mas tirando isso, tem os moldes de um clássico conto de fadas. Uma boa história.

Os domadores de dragões – John era um ferreiro humilde que para fazer o seu negócio  teve que se mudar com sua esposa e bebê para as ruínas de um antigo castelo, cujos donos haviam falecido a muito tempo.  Para o seu azar, descobriu que havia um dragão na masmorra e este lhe pediu para que concertasse sua armadura, para assim devorar as pessoas da cidade. John conseguiu convencer o dragão a ser amarrado, mas como meio de John manter sua promessa, o dragão exigiu ficar com seu bebê até que sua armadura fosse consertada. Porém, John deu um jeito de enganar o dragão e deixá-lo acorrentado. Anos se passaram e um gigante apareceu, vindo em direção a cidade. Foi então que Johnnie, o filho de John, e sua amiga Tina, tiveram a ideia de deixar o dragão lutar contra o gigante. Conto em que os personagens usam da inteligência para se safarem dos problemas e um jeito criativo e imaginativo de contar a origem de um dos animais domésticos mais famosos.

O dragão feroz – A princesa Sabrinetta teve o seu reino tomado por seu primo, lhe restando apenas uma torre a prova de dragões. Um dia, ela avistou algo que parecia um dragão. Isso foi confirmado quando crianças voltaram correndo para o palácio para avisar ao príncipe. Ele tenta caçar o dragão, mas falha. Um jovem chamado Élfico lhe ajuda a capturar o dragão quando príncipe prometeu metade do seu reino e a mão de sua prima. Porém, o malvado soberano não pretendia cumprir sua promessa... E, como em todo conto de fadas, o vilão se dá mal.

O gentil Edmund – Edmund era um garoto questionador que adorava descobrir coisas. As pessoas escutavam sons estranhos, vindos de uma caverna e, como era curioso, Edmund foi até lá para ver quem fazia esse barulho. A curiosidade pode ser benéfica na hora de descobrir coisas novas, mas também pode lhe causar problemas se não tiver cuidado. Essa é uma das lições que tirei desse conto, a outra é a de que não adianta argumentar quando não se tem provas ou com pessoas céticas.

 

            Como visto nos resumos, os contos são destinados ao público infanto-juvenil, cuja maioria deles é composta por protagonistas crianças. Isso é apresentado também na linguagem que os narradores utilizam, conversando com o leitor como um adulto conversaria com um menor, mas sem de nenhuma forma, menosprezá-lo. O meu favorito foi A ilha dos redemoinhos. Recomendo a leitura. Só tome cuidado para os dragões não fugirem do livro quando abri-lo.