terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Os 101 dálmatas análise


                Sim, existe um livro dos 101 dálmatas. Disney, quantos filmes você não produziu com base em contos ou livros? Voltando ao tópico, este livro foi escrito por Dodie Smith, em homenagem ao seu dálmata Pongo. Vou fazer diferente de como eu fiz com a minha análise do livro da Bela e a Fera, começando por comparar os personagens do livro com a versão animada da Disney (há uma versão em live-action que também é da Disney, mas preferi comparar com a animação, pois é a mais conhecida). Não pude fazer isso no livro anterior devido que os personagens a serem comparados eram poucos, pois não havia o vilão Gaston (na versão original, o vilão era outro completamente diferente e na clássica nem sequer aparecia) e nem as pessoas da corte da Fera, que foram transformados em objetos. Os únicos que dariam para comparar seriam a Bela, o pai dela, a Fera e um personagem que quase não aparece no filme, mas aparece mais na versão original.
            No caso dos 101 dálmatas, acontece o contrário. A quantidade de personagens no filme diminuiu comparada com a que tem no livro. A começar pela empregada. Em sua versão literária há duas dela chamadas Nanny Cook e Nanny Butler que foram babás da senhora e do senhor Dearly respectivamente (nanny = babá). E como os seus nomes sugerem, Nanny Cook cuidava da cozinha (cook = cozinhar) e Nanny Butler se tornou um mordomo, e até se vestia como tal (butler = mordomo). O mesmo ocorreu com a mãe dos filhotes. No filme, ela é chamada de Perdita, mas no livro ela é uma dálmata de manchas marrons que foi achada na rua pela senhora Dearly e ajudou Missis, a verdadeira mãe dos filhotes e esposa de Pongo, a amamentar seus filhotes. Não sei se foi intenção da autora, mas o nome Missis lembra a palavra miss em inglês que pode querer dizer senhorita ou perdida, e o nome Perdita também é traduzido como perdida. Mais três personagens que não apareceram no filme foram o parceiro de Perdita, o marido e a gata de Cruela. Achei interessante o fato do marido de Cruela ter adotado o sobrenome dela, pois a maioria dos casais faz o contrário e é até dito no livro que Missis adotou o nome de Pongo como o seu sobrenome, se tornando Missis Pongo. Espero que isso não seja algo proposital da autora: homem adotar o sobrenome da mulher ser sinal de ser alguém do mal, já que a Cruela do livro é tão má quanto a do filme e o marido dela também é descrito como malvado, só não no mesmo nível dela.
            Agora falarei dos personagens que aparecem em ambas as versões. O casal que é dono de Pongo e Perdita no filme, Roger e Anita aparecem no livro, só que não possuem nomes e são chamados de senhor e senhora Dearly. Se não me engano, as outras únicas diferenças são que os empregos dos maridos são diferentes em cada versão (para ser sincera, não me lembro direito) e o fato de no livro, a esposa não trabalhar para Cruela e sim ser apenas uma colega de infância da escola. Pongo, o pai dos filhotes, é um bom pai em ambas as versões. O único detalhe do personagem que não aparece no filme é que ele é mais inteligente que a esposa, sabendo ler por ter comido livros quando pequeno. Ele é um dos personagens que tem o maior foco, o que faz sentido, já que ele foi nomeado em homenagem ao cachorro da autora. Missis, que no filme é Perdita, também se mostra uma mãe preocupada. Só que no livro ela é mais burrinha, não sabendo diferenciar esquerda de direita e um pouco mais medrosa. A empregada do filme pegou mais a personalidade da Nanny Cook, pois ambas eram mais femininas e faziam os trabalhos domésticos considerados como trabalho de mulher. O cachorro e o gato que ajudam a resgatar os filhotes tem um jeito parecido com os do livro, com a diferença de que o gato é fêmea no livro. Por incrível que pareça, o cabelo de Cruela de Vil do livro é o mesmo que aparece no filme. Ela é tão maligna quanto a da Disney, tendo se casado com um peleiro para fazer um casaco de dálmatas para ela e outros para vender. Os capangas de Cruela, Horácio e Gaspar aparecem com os nomes Saul Baddum e Jasper Baddum (baddum pode ser traduzido como malvado estúpido), que tem uma aparência e um pouco do jeito dos do filme, mas quase não aparecem.
            Não vou comparar tanto a história dessas duas versões, pois no geral, a Disney pegou a essência do livro, modificando um pouco com relação aos personagens (como eu disse acima) e cortando alguns detalhes. Pode parecer estranho eu dizer isso porque quando eu falei do livro da Bela e a Fera eu disse o contrário, mas eu agradeço a Disney por ter cortado (na verdade encurtado) uma coisa: a viagem dos pais em busca de seus filhotes. Isso durou uns quatro capítulos no livro e foi um saco. Para mim, não adicionou muita coisa na história, podendo tudo isso ser dito em apenas um capítulo.
            O que eu achei do livro? Bem, para falar a verdade, eu achei ele bem infantil e chatinho. Sei que tem alguns livros infantis que podem divertir tanto o adulto quanto a criança. Esse infelizmente não foi um desses. Mas para ser sincera, a adaptação da Disney não é tão diferente assim. Ela é infantil e bobinha, porém me atrai mais que o livro. Pensei no porquê, então eu entendi o que é. Razão número um: o foco.  A maior parte do foco do livro fica em Pongo e Missis, enquanto no filme, apesar do casal ainda ser o protagonista, varia e às vezes vai para cenas onde nenhum dos dois aparece, como na casa onde os filhotes estavam mantidos presos, focando em Horácio e Gaspar. Número dois: comédia. Não vou agir como se os 101 dálmatas fosse o filme mais engraçado do mundo, mas ainda assim é mais engraçado que o livro. Número três: os vilões. Sinto que a aparição deles é melhor no filme, devido ao maior foco enquanto no livro, eles quase não aparecem.

            Uma criança de sete, oito anos pode até gostar do livro. O narrador fala com o leitor como se estivesse vendo o ponto de vista de um cachorro, dizendo que na verdade os cachorros eram donos dos humanos etc. Mas eu acho que se fizessem umas mudanças, elas poderiam gostar mais. O foco é mais em Pongo e Missis, que são dois cachorros adultos, apesar de ter quatro filhotes descritos no livro: Lucky (lucky = sortudo), que tinha pintas que formavam uma ferradura e possuía a personalidade de um líder, além de ser o mais responsável dos filhotes; Pingo, uma cadelinha frágil que quase morreu ao nascer e adorava ver televisão; Alegria, um filhote grande que já nasceu com uma pinta em um dos olhos, algo incomum em dálmatas recém nascidos, e que não se separa nunca de Pingo; Bolinho, um filhote gordinho, alegre e atrapalhado. Os dois primeiros aparecem mais que os dois últimos, mas mesmo assim não tem grande foco comparado aos seus pais. Acho que seria bem mais atrativo para as crianças se esses personagens fossem mais desenvolvidos e fossem os protagonistas da história. A autora podia ter desenvolvido algo como esses quatro filhotes de alguma maneira escapassem e vivessem aventuras no mundo desconhecido afora, enquanto procuravam ajuda para seus irmãos e tentassem lidar com suas diferentes personalidades e Pingo aprendesse a ser mais forte (no livro, ela foi sempre carregada por uma carrocinha, por ser fraca demais para andar. Além disso, suas irmãs também eram descritas como se cansassem mais rápido enquanto os irmãos eram mais fortes, algo que me irritou um pouco) Apesar de não ter feito isso no filme, a Disney fez uma série de animação em que alguns dos filhotes são o foco.

Não sei se a série foi um sucesso, mas deve ter atraído alguma criançada para assistir. Acredito que criança prefira ter como protagonista uma criança que nem ela. Apesar dos protagonistas serem cachorros, no livro mostrou cachorros adultos e filhotes. Seria melhor se o foco fosse nos filhotes. Bem, como disse anteriormente, acredito que o livro seja mais para crianças que estão aptas a ler um livro grandinho sem ilustrações e para adultos que queiram muito ver a diferença entre a história de uma versão e da outra nos mínimos detalhes, mas assim como no filme, não esperem algo de grande e espetacular.



sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

O diário

09/05/12

Acordei. Pela primeira vez sem a correria do trabalho. Meu filho estava coberto de lençóis em sua cama donde não se levantaria, mesmo que quisesse. Fui até a cozinha e preparei meu café da manhã. Mesmo não tendo trabalho, teria um dia cheio em casa.
Meu nome é Cláudio e faz um mês que construí um laboratório onde poderia fazer minhas pesquisas. Pesquisas que, se dessem certo, poderiam revolucionar o mundo. Meu laboratório fica em um lugar secreto da casa e só é aberto por uma passagem que não revelarei aqui.
Depois que comi, subi as escadas e fui ao quarto de meu filho, Daniel. Peguei-o no colo. Era pesado porque já tinha completado dezessete anos. Carreguei-o até onde havia a passagem secreta e a abri. Entrei e o deixei em cima da mesa. Dentro do meu laboratório havia um tubo enorme cujo interior havia uma substância que elaborei recentemente. Esta substância tem a capacidade de regenerar corpos. Fiz uma experiência colocando uma cauda de lagartixa num copo e três horas depois nasceu uma lagartixa que compartilhava o mesmo DNA da original. Se isso funcionava com pessoas era o que eu iria descobrir.
Abri a gaveta e dela retirei uma pequena faca. Depois peguei a mão de Daniel e cortei-lhe um pedaço de unha. Teria doído, se ele pudesse sentir dor. Peguei o pedaço da unha com uma pinça, subi em uma cadeira e coloquei-o dentro do tubo. Como o organismo humano era mais complexo que o de uma lagartixa, o novo corpo provavelmente demoraria um dia para crescer. Amanhã eu voltaria para ver se tinha dado certo.


10/05/12       

Mal fiz o desjejum e fui correndo para o laboratório. Lá eu vi. Dentro do enorme tubo, uma réplica exata do meu filho. Estava na mesma posição de um feto dentro do ventre de sua mãe. Se eu o tirasse do tubo agora seria o mesmo que o nascimento de um bebê. Despertaria com a inocência de uma criança. Mas eu não queria uma criança recém-nascida. Eu queria o meu filho de volta. E eu o teria de qualquer jeito.
 Desde que ele era pequeno, soube que ele havia herdado a grave doença que matou a minha esposa. Por isso, implantei um chip em seu cérebro que gravava toda sua memória e experiência de vida. Estava na hora de testá-lo no clone.
 Usei uma alavanca para deitar o tubo. Abri a tampa do tubo para sair toda a substância. Ele abriu os olhos. Ficou me olhando com uma expressão curiosa, sem saber como se mexer. Tirei-o do tubo e coloquei-o na mesa com certa dificuldade.   Ele ficou sentado me olhando enquanto eu tirava a anestesia geral da gaveta. Injetei-a em seu braço e coloquei-o para deitar. Ao lado, o corpo de Daniel estava coberto por uma grande manta. Retirei-a, coloquei minhas luvas e com um bisturi, abri cuidadosamente a cabeça de meu filho. Retirei o chip de seu cérebro e coloquei-o em um paninho. Comecei a abrir a cabeça do clone, que logo seria o meu filho. Implantei cuidadosamente o chip em seu cérebro e costurei sua testa de volta.
Vi que seu coração batia. Estava dormindo, o efeito da anestesia só terminaria amanhã de manhã. Costurei a testa do corpo morto de meu filho e o tirei do laboratório. Fui até os fundos da casa. Lá tinha uma pá que usei para cavar e enterrar o corpo antigo de meu filho.  Amanhã ele acordaria em um corpo novo e saudável.


11/05/12


Acordei. E desta vez nem comi. Fui direto para o laboratório. O clone estava de pé. Resolvi chamá-lo pelo nome de meu filho para ver se ele atendia. E atendeu, me chamou de pai e perguntou por que ele estava em meu laboratório quando acordou. Respondi que o havia levado para ver se conseguia lhe salvar a vida. E consegui.
Ele agia do mesmo jeito que o antigo Daniel, comia, bebia, gesticulava igual ao meu filho. Eu sou um gênio. Consegui fazer algo que nenhum ser humano jamais fez. Eu ressuscitei uma pessoa. Finalmente o homem evoluiu o suficiente para chegar ao nível de um deus.
Agora que consegui o que queria, vou curtir o resto desta semana com o meu filho e semana que vem o levarei a escola.  
No final do dia, enquanto o meu filho estava dormindo, fui até os fundos da casa para regar as plantas. Para a minha surpresa, o lugar onde eu tinha enterrado o antigo corpo de meu filho estava remexido. E o corpo não estava mais lá.       


terça-feira, 24 de janeiro de 2017

NARRAR

      Era uma vez.  É assim que começa todo o conto de fadas.  Mas, neste conto não haverá nenhuma fada, por isso vamos começar outra vez.
   Num lugar cheio de mato, havia um bar bastante conhecido pelos moradores dos arredores chamado “Maçã Envenenada”.  Havia toda a espécie de frequentadores: desde princesas renomáveis até trolls que viviam debaixo das pontes.  Porém, não ficarei com nenhum deles.  A história focar-se-á em três figuras distintas.  A primeira era de um homem velho e gordo, com barba grande e branca, vestido de vermelho.  Não, senhoras e senhores, não é o Papai Noel.  A segunda era de uma mulher que aparentava ter quarenta e poucos anos (só aparentava mesmo).  A terceira era de um jovem de dezoito anos.  O velho iniciou:
      - Hoje estamos reunidos aqui para passar o conhecimento da NARRAR para este jovem.  E...
      - Não precisa fazer este discurso, Itamar. – disse a mulher, impaciente. – Estamos só nós três aqui.
       - Está bem, Joana.  Como você sugere que comecemos esta reunião?
       - Deixe o garoto fazer as perguntas.
       - Muito bem.  Pode começar, rapaz.
       - Bem...- iniciou, nervoso. – Meu nome é Inácio e estudo para ser narrador.  Depois de uma longa pausa: - Como é o trabalho de vocês?
        - Complicado – respondeu o velho, coçando a barba. – A primeira coisa que você precisa saber é ler bem o texto, de preferência com uma voz grave e pausada.
       - Não necessariamente. – interrompeu Joana, aparentando ficar mais fora de si com a bebida. – Eu sou mulher e só homem tem essa voz grossa que você disse.
      - Ah, cala a boca, Joana!  Você tem a voz tão grossa que até te confundem com um narrador macho.
       - Velho imbecil!  Está dizendo que minha voz é de homem?  Sou cem por cento mulher e tem muita mulher que narra conto de fadas.
         - Raríssimas exceções.
         - Raríssimas coisíssima nenhuma.  Têm mais contadoras de história do que contadores.
         - Elas não contam.
         - Contam sim!
         - Deixe eu continuar.  A segunda coisa é saber mentir.
         - Como assim?
     - Você acha que tudo que é narrado é cem por cento verdade? – pergunta Joana, em tom debochado. – Como você explica que a madrasta da Branca de Neve tem um bar de grande sucesso se era para ela estar morta?
        - E não está?
        - Claro que não.  Ela não era burra de aceitar o convite do Príncipe Encantado.  Desconfiava que era uma armadilha e então fugiu.  Montou seu barzinho onde trabalha fingindo ser uma bruxa qualquer.
          - Isso é sério?
       - Se é.  E sabe esse príncipe encantado que mencionei?  Ele devia ser chamado de Príncipe Galanteador, isso sim, pois casara-se também com a Bela Adormecida e a Cinderela, todas na mesma época.  Depois que elas descobriram, contrataram até uma bruxa para transformá-lo em sapo.
          - E o que aconteceu depois?
          - Ele encontrou uma outra princesa e então...
          - Basta de fofoca! – interrompeu Itamar, irritado. – Vamos prosseguir com as perguntas.
      - O senhor disse que é preciso saber ler e mentir.  Mas como o narrador é tratado pelas personagens?
        Como se fosse uma barata. – resmungou Joana, antes que Itamar abrisse a boca. – A gente é tratada pior que as empregadas das rainhas más.  Quando eu estava narrando a história de Chapeuzinho Vermelho, o abusado do lobo quis que eu cortasse a parte em que o caçador coloca pedras em sua barriga para que tivesse uma prisão de ventre dolorosa.  Ele falou que aquilo seria mais humilhante do que morrer.  E, como ele é uma personagem, o autor deu privilégio para ele.
          - O lobo mau não foi morto pelo caçador?  Mas como...
          - Ele não chegou nem a comer a vovozinha.  Para falar a verdade, nem lobo ele é.  O nome dele é Augusto J. Lobo. O atual marido da Chapeuzinho Vermelho.
           - Então o que realmente aconteceu?
          - Ele e a Chapeuzinho namoravam às escondidas porque seus pais não aprovavam o namoro.  Uma noite, ele decidiu visitar a Chapeuzinho em seu quarto.  Mas acabou se enganando de janela e foi parar no quarto da avó dela.  A velha tomou um susto e gritou pelo vizinho, que era um caçador, para matar o tarado.  No entanto, antes que o vizinho desse o primeiro tiro, Chapeuzinho que estava no quarto de cima, o impediu e explicou a situação.
            - Quantos anos ela tinha?
            - Treze.  E seu namorado, quinze.  De ingênua essa menina não tinha nada.
            - Será que eu posso falar agora ou está difícil? – vociferou Itamar.
            - Está, pode falar, seu estraga-prazer.
          - Bom, como Joana havia mencionado, não usufruímos de um tratamento equivalente ao das personagens.
            - Ou dos narradores-personagens.
            - Joana, deixa eu prosseguir.  Como somos narradores oniscientes não temos tanta importância assim.
            - E se houvesse uma lista de todos os seres que apareceram em uma história, teria até árvore, mas não a gente.  Acredita que ninguém sabe os nossos nomes?  Uma vez a Cachinhos Dourados...
            - Chega, mulher!  Está atrapalhando toda a entrevista.  Pare de enrolação e responda as perguntas objetivamente.
            - Enrolação?  Ora, meu querido, estou mostrando a esse rapaz o que um narrador faz.  E você aí todo metido a sabe-tudo e nem contou uma história que preste.
            - Está bêbada!  Vá para casa tomar banho.
            - Que foi Itamar?  - disse Joana, dando uma risadinha.  – Está com inveja que eu sou melhor que você em contar histórias?  Tadinho.  Por que não chamamos o seu primo Noel para dar um presentinho para você?
           - Já disse para você que o Noel não é meu primo.
           - Tá, tá, que seja.  Posso voltar à minha história agora?
           - Continue.  Não estou mais nem ligando.
           Dito isto, Itamar se pôs a comer os salgadinhos da mesa, impaciente.  Joana continuou:
         - Então, no conto dos “Três Ursos”, eu decidi dar o meu nome e minha opinião sobre a história.  Acredita que a Cachinhos me mandou uma carta dizendo para eu cortar isso, que era algo desnecessário para o enredo.  Ela é uma cara-de-pau!  Eu minto o conto todo em favor dela e é assim que ela me agradece?
         - A senhora está dizendo que este conto que conhecemos desde criança é pura mentira?
      - Pura, não.  Ela realmente entrou na casa enquanto os ursos estavam fora.  Mas não apenas mexericou em suas coisas.  Ela também roubou as esmeraldas da Mamãe Urso.
         - Roubou?
    - Cachinhos Dourados é conhecida pela polícia das fadas como Cachos de Ouro, ladra internacionalmente procurada.  Em todo canto que ela rouba, ela deixa um pedacinho de cacho louro de uma boneca como assinatura de seu crime.  A única vez que ela foi vista foi quando os três ursos chegaram em casa.  Mas ela fugiu tão rápido que só visualizaram suas costas e seus cabelos louros cacheados.  Seu rosto nunca foi identificado.
         - Gostei dessa versão.  Preferi essa do que a original.
          - Sério?  Bom, tem muito de onde esta surgiu.  Se quiser conhecer mais sobre as personagens, é só procurar a Joaninha aqui.
          - Que de joaninha não tem nada. – disse Itamar, com desdém.
          - Ah, me deixa!
         - Se quiser me procurar para tirar mais dúvidas sobre a arte de narrar, é só me ligar.  Boa sorte, rapaz.  A reunião da NARRAR está encerrada por hoje.
          Os três se despediram e cada um seguiu seu caminho. 
          Então, caro leitor, te deixei amarrado na história?  Se você leu até este ponto, o mais provável é que sim.  Esta é a primeira vez que narro um conto.  Espero que tenha gostado e que em breve, veja mais das minhas narrativas.  Até mais.


quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

A Bela e a Fera (versão clássica e versão original) análise


         Um livro da Bela e a Fera foi lançado pela editora Zahar, contendo sua versão clássica e sua versão original. Qual é a diferença entre elas? Bem, para começar, suas autoras. A versão clássica foi criada pela Madame de Beaumont contendo, como a maioria dos contos de fada, um ensinamento ou ensinamentos e é a versão mais conhecida (perdendo apenas para o filme da Disney). A versão original foi feita pela Madame de Villeneuve e é bem maior e detalhada, podendo se passar por uma pequena novela enquanto a outra pode ser considerada um resumo desta. 
         O que me chamou mais a atenção é o fato da Bela ter irmãs em ambas as versões. Duas irmãs mais velhas na clássica e cinco na original (ela tem irmãos também, mas eles não influenciam o enredo). que estão nas histórias para sentirem inveja da caçula por ser a mais bela e a mais amável, ou seja, a mais perfeita mulher que se pode imaginar, o que as deixam irritadas e, no caso da clássica, almejarem estragar a sua felicidade, sendo castigadas no final. Isso me irritou. Por que na maioria dos contos de fada o irmão mais novo é o que sempre sai melhor na vida? Vocês também notaram? Na quase totalidade dos contos de fada que envolvem irmãos (normalmente três), eles competem entre si por algo e o mais novo, o perfeitinho que os irmãos mais velhos fazem de capacho, sempre ganha a melhor das recompensas. Sério, dá para contar nos dedos quantos desse tipo de conto o irmão mais novo não sai vencedor e nem é o perfeitinho. Eu só conheço dois: Um olhinho, Dois olhinhos e Três olhinhos, em que a irmã mais velha e a mais nova implicam com a do meio por ela ter nascido com dois olhos igual a todo mundo, e óbvio que, no final, a do meio consegue se dar melhor. E, dependendo de como a história é contada, Os três porquinhos. Quando lhes é falado qual é qual, o mais novo é sempre o mais preguiçoso que constrói a casa de palha, o do meio é um pouco mais responsável e constrói a de madeira e o mais velho é mais trabalhador e precavido que faz a de tijolos. 
        É bem provável que a maioria das histórias tenha como vencedor o filho mais novo pois, na época em que foram feitas, ele não herdava nada dos pais, tendo que trabalhar duro para conseguir algo, e esses contos deviam dar uma esperança para ele no futuro. Mas isso ainda me irrita. Eu sou a mais velha de três e ver que a maioria desses contos faz dos irmãos mais velhos pessoas invejosas, cruéis e que sempre se dão mal no final, não é algo muito animador para mim. 
          A protagonista Bela, como disse anteriormente, é a caçula da família e a mais virtuosa. As duas versões a tratam assim, só que na original ela era um pouco menos perfeita, pois ao contrário da clássica, ela decide se casar com a Fera não por amor; ela até tinha um sentimento de carinho, mas não era paixão. Ela era apaixonada por um formoso homem que via em seus sonhos todas as noites. Ela se casou com a Fera por gratidão e no final de ambas as versões escritas, a Fera se transforma em príncipe e o casal vive feliz para sempre. A Fera, ao contrário de sua versão da Disney, é educada e usa palavras simples no começo, pois além de não poder usar sua beleza, também não podia demonstrar ser inteligente para atrair Bela, pois a maldição o impedia. Como príncipe, podia ser contraparte masculina de Bela, tão perfeito em beleza e inteligência como a moça. Como se pode ver, os personagens são simples, sem muitas características marcantes que nos deixem apegados a eles. Considero isso normal nos contos de fada, já que se focam mais na história e na moral do que na complexidade de seus personagens. Mas pelo tamanho da Bela e a Fera de Madame de Villeneuve, havia mais tempo e espaço para a caracterização minuciosa dos personagens, cortando algumas descrições desnecessárias, como os lugares que Bela conhecia no castelo. 
        Como dito anteriormente, a versão de Beaumont é praticamente um resumo da de Villeneuve, que além de contar o que a versão clássica contou (com algumas pequenas diferenças), propõe responder com detalhes essas perguntas: Como e por que o príncipe se transformou em fera e por que dentre todas as mulheres, Bela foi “escolhida” para salvar a Fera. 
         Qual das versões eu mais gostei? Bom, acho meio injusto compará-las já que uma delas tem o tamanho de um conto, que normalmente é mais simples e menos estruturado quando comparado a uma novela ou romance, na qual a outra se encaixaria melhor, como critério de classificação. Mas, como eu gosto de detalhes (úteis, não descrições de paisagem), eu preferi a original. Porém, de todas as versões que eu conheço da Bela e a Fera (todas as três), minha predileta é a da Disney. Não apenas porque os personagens têm muito mais “personalidade”, mas também porque a história chega a ser mais próxima da era que eu estou vivendo. Na época dessas autoras, as mulheres se casavam por vontade alheia. Ambas as versões clássica e original podem ser interpretadas como um modo de se conformar com o esposo e ir gostando dele com o tempo. Na versão da Disney, há mais diálogos entre a Bela e a Fera, que vão se conhecendo e se apaixonando aos poucos, que é o que acontece nos dias de hoje. Nas outras duas houve pouquíssimo diálogo entre os dois, sendo que na clássica há somente o trecho onde a Fera apenas se encontra com a Bela na hora do jantar, perguntando como foi o dia e se queria casar com ele. Se eu entrar em detalhes, vou acabar dando spoiler. 
         As duas versões do livro estão meio datadas para o público de hoje, mas foi interessante saber de onde esse clássico filme da Disney foi originado e vale a pena checar, principalmente a história original que é bastante criativa.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Ebabitnebi

         
          
          Começarei o blog apresentando o meu primeiro conto publicado no livro 164 – circular pela editora Texto Território. Nele são apresentados vários contos feitos por alunos da PUC-Rio da aula de Oficina de Texto Editorial do ano de 2015. A princípio, iríamos aprender como revisar originais e preparar textos que compõem um livro, fazendo a orelha, a quarta capa etc. No final fizemos nosso próprio livro. Foram aulas bem produtivas.

Ebabitnebi


Era uma manhã comum, meu pai estava me levando para a escola em seu carro. Enquanto ele dirigia, eu ficava no banco de trás olhando para a paisagem. Fiquei observando até que avistei um carro igualzinho ao nosso. Não era raro encontrar um Classic nas ruas, mas o que eu achei estranho foi que era a mesma cor dourada e tinha um arranhão na porta traseira do carro que nem o dele, só que ao invés de ser na direita era na esquerda.
O motorista era uma mulher de cabelo curto e negro. Pude notar esses detalhes por causa do trânsito que estava lento, o que era incomum, pois a essa hora da manhã não costumava ser assim, não estava chovendo nem nada. Meu pai ligou o rádio, mas ele não deu notícia de nenhum acidente naquele bairro. Pedi para meu pai colocar um CD e, enquanto estava fazendo o que pedi, olhei para a minha direita e vi que a mulher fazia o mesmo.
Achei uma grande coincidência. Quando olhei para a janela de trás do carro vi que havia um menino. Ele estava usando o mesmo uniforme que eu e parecia ter a mesma idade que a minha. “Deve ser da outra sala”- pensei. Comecei a olhar mais para ele. Tinha cabelos negros, sobrancelhas grossas que nem a mãe dele. Supus que a motorista fosse a mãe dele pela aparência, a única diferença era que ele tinha uma pele mais branca que nem a minha. Pele branca que nem a minha! “Espere um pouco”- pensei. Não era só a pele branca, eram os olhos, as sobrancelhas, a cor do cabelo e a expressão do rosto. Ele era idêntico a mim, a única diferença era que ele era menino.
De repente, o carro parou. Meu pai desceu do carro e me pediu para fazer o mesmo. E o fiz, enquanto ao lado, a mulher e o menino faziam o mesmo. Meu pai disse que o carro estava com algum problema e falou que enquanto ele resolvia para eu ir conversando com o menino ao lado. Fui até o garoto e perguntei o seu nome e ele respondeu, mas não entendi o que ele disse. Pedi para ele repetir e ele repetiu. Continuei sem entender nada, o que me deixou angustiada, pois eu vi que o meu pai e a mulher estavam conversando naturalmente, mesmo que ela esteja falando algo completamente incompreensível.
“Acho que estou ficando louca.”- pensei. O garoto continuou falando de uma maneira que eu não conseguia entender. Como eu devia ter feito uma cara de boba quando ele falou, ele tirou da sua mochila um caderno e um lápis e escreveu:
ÊCOV UOS.
Quando li, achei que estava em outra língua, mas então percebi que não me era estranho. Peguei o pequeno espelho de dentro da minha mochila e coloquei ao lado de seu caderno. Então li:
- Sou você.
Do nada o mundo ficou distorcido, e o cabelo do menino parecia estar crescendo. Fiquei tonta. Decidi fechar os olhos para ver se a tontura passava. Quando abri, estava no banheiro da minha casa. E ao invés de estar o menino na minha frente, estava o enorme espelho e o meu reflexo olhando para mim.  Cabelos negros, sobrancelhas grossas.