Sim, existe um livro dos
101 dálmatas. Disney, quantos filmes você não produziu com base em contos ou
livros? Voltando ao tópico, este livro foi escrito por Dodie Smith, em
homenagem ao seu dálmata Pongo. Vou fazer diferente de como eu fiz com a minha
análise do livro da Bela e a Fera,
começando por comparar os personagens do livro com a versão animada da Disney
(há uma versão em live-action que também é da Disney, mas preferi comparar com
a animação, pois é a mais conhecida). Não pude fazer isso no livro anterior
devido que os personagens a serem comparados eram poucos, pois não havia o
vilão Gaston (na versão original, o vilão era outro completamente diferente e
na clássica nem sequer aparecia) e nem as pessoas da corte da Fera, que foram
transformados em objetos. Os únicos que dariam para comparar seriam a Bela, o
pai dela, a Fera e um personagem que quase não aparece no filme, mas aparece
mais na versão original.
No caso dos 101 dálmatas, acontece o contrário. A
quantidade de personagens no filme diminuiu comparada com a que tem no livro. A
começar pela empregada. Em sua versão literária há duas dela chamadas Nanny
Cook e Nanny Butler que foram babás da senhora e do senhor Dearly
respectivamente (nanny = babá). E como os seus nomes sugerem, Nanny Cook
cuidava da cozinha (cook = cozinhar) e Nanny Butler se tornou um mordomo, e até
se vestia como tal (butler = mordomo). O mesmo ocorreu com a mãe dos filhotes. No
filme, ela é chamada de Perdita, mas no livro ela é uma dálmata de manchas
marrons que foi achada na rua pela senhora Dearly e ajudou Missis, a verdadeira
mãe dos filhotes e esposa de Pongo, a amamentar seus filhotes. Não sei se foi
intenção da autora, mas o nome Missis lembra a palavra miss em inglês que pode
querer dizer senhorita ou perdida, e o nome Perdita também é traduzido como
perdida. Mais três personagens que não apareceram no filme foram o parceiro de
Perdita, o marido e a gata de Cruela. Achei interessante o fato do marido de Cruela
ter adotado o sobrenome dela, pois a maioria dos casais faz o contrário e é até
dito no livro que Missis adotou o nome de Pongo como o seu sobrenome, se
tornando Missis Pongo. Espero que isso não seja algo proposital da autora:
homem adotar o sobrenome da mulher ser sinal de ser alguém do mal, já que a Cruela
do livro é tão má quanto a do filme e o marido dela também é descrito como
malvado, só não no mesmo nível dela.
Agora falarei dos personagens que aparecem em ambas as
versões. O casal que é dono de Pongo e Perdita no filme, Roger e Anita aparecem
no livro, só que não possuem nomes e são chamados de senhor e senhora Dearly.
Se não me engano, as outras únicas diferenças são que os empregos dos maridos
são diferentes em cada versão (para ser sincera, não me lembro direito) e o
fato de no livro, a esposa não trabalhar para Cruela e sim ser apenas uma
colega de infância da escola. Pongo, o pai dos filhotes, é um bom pai em ambas
as versões. O único detalhe do personagem que não aparece no filme é que ele é
mais inteligente que a esposa, sabendo ler por ter comido livros quando
pequeno. Ele é um dos personagens que tem o maior foco, o que faz sentido, já
que ele foi nomeado em homenagem ao cachorro da autora. Missis, que no filme é
Perdita, também se mostra uma mãe preocupada. Só que no livro ela é mais
burrinha, não sabendo diferenciar esquerda de direita e um pouco mais medrosa.
A empregada do filme pegou mais a personalidade da Nanny Cook, pois ambas eram
mais femininas e faziam os trabalhos domésticos considerados como trabalho de
mulher. O cachorro e o gato que ajudam a resgatar os filhotes tem um jeito
parecido com os do livro, com a diferença de que o gato é fêmea no livro. Por
incrível que pareça, o cabelo de Cruela de Vil do livro é o mesmo que aparece
no filme.
Ela é tão maligna quanto a da Disney, tendo se casado com um peleiro para fazer
um casaco de dálmatas para ela e outros para vender. Os capangas de Cruela,
Horácio e Gaspar aparecem com os nomes Saul Baddum e Jasper Baddum (baddum pode
ser traduzido como malvado estúpido), que tem uma aparência e um pouco do jeito
dos do filme, mas quase não aparecem.
Não vou comparar tanto a história dessas duas versões,
pois no geral, a Disney pegou a essência do livro, modificando um pouco com
relação aos personagens (como eu disse acima) e cortando alguns detalhes. Pode
parecer estranho eu dizer isso porque quando eu falei do livro da Bela e a Fera eu disse o contrário, mas
eu agradeço a Disney por ter cortado (na verdade encurtado) uma coisa: a viagem
dos pais em busca de seus filhotes. Isso durou uns quatro capítulos no livro e
foi um saco. Para mim, não adicionou muita coisa na história, podendo tudo isso
ser dito em apenas um capítulo.
O que eu achei do livro? Bem, para falar a verdade, eu
achei ele bem infantil e chatinho. Sei que tem alguns livros infantis que podem
divertir tanto o adulto quanto a criança. Esse infelizmente não foi um desses.
Mas para ser sincera, a adaptação da Disney não é tão diferente assim. Ela é
infantil e bobinha, porém me atrai mais que o livro. Pensei no porquê, então eu
entendi o que é. Razão número um: o foco.
A maior parte do foco do livro fica em Pongo e Missis, enquanto no
filme, apesar do casal ainda ser o protagonista, varia e às vezes vai para cenas
onde nenhum dos dois aparece, como na casa onde os filhotes estavam mantidos
presos, focando em Horácio e Gaspar. Número dois: comédia. Não vou agir como se
os 101 dálmatas fosse o filme mais engraçado do mundo, mas ainda assim é mais
engraçado que o livro. Número três: os vilões. Sinto que a aparição deles é
melhor no filme, devido ao maior foco enquanto no livro, eles quase não
aparecem.
Uma criança de sete, oito anos pode até gostar do livro.
O narrador fala com o leitor como se estivesse vendo o ponto de vista de um
cachorro, dizendo que na verdade os cachorros eram donos dos humanos etc. Mas
eu acho que se fizessem umas mudanças, elas poderiam gostar mais. O foco é mais
em Pongo e Missis, que são dois cachorros adultos, apesar de ter quatro
filhotes descritos no livro: Lucky (lucky = sortudo), que tinha pintas que
formavam uma ferradura e possuía a personalidade de um líder, além de ser o
mais responsável dos filhotes; Pingo, uma cadelinha frágil que quase morreu ao
nascer e adorava ver televisão; Alegria, um filhote grande que já nasceu com
uma pinta em um dos olhos, algo incomum em dálmatas recém nascidos, e que não
se separa nunca de Pingo; Bolinho, um filhote gordinho, alegre e atrapalhado.
Os dois primeiros aparecem mais que os dois últimos, mas mesmo assim não tem
grande foco comparado aos seus pais. Acho que seria bem mais atrativo para as crianças
se esses personagens fossem mais desenvolvidos e fossem os protagonistas da
história. A autora podia ter desenvolvido algo como esses quatro filhotes de
alguma maneira escapassem e vivessem aventuras no mundo desconhecido afora,
enquanto procuravam ajuda para seus irmãos e tentassem lidar com suas
diferentes personalidades e Pingo aprendesse a ser mais forte (no livro, ela
foi sempre carregada por uma carrocinha, por ser fraca demais para andar. Além
disso, suas irmãs também eram descritas como se cansassem mais rápido enquanto
os irmãos eram mais fortes, algo que me irritou um pouco) Apesar de não ter
feito isso no filme, a Disney fez uma série de animação em que alguns dos
filhotes são o foco.
Não
sei se a série foi um sucesso, mas deve ter atraído alguma criançada para
assistir. Acredito que criança prefira ter como protagonista uma criança que
nem ela. Apesar dos protagonistas serem cachorros, no livro mostrou cachorros
adultos e filhotes. Seria melhor se o foco fosse nos filhotes. Bem, como disse
anteriormente, acredito que o livro seja mais para crianças que estão aptas a
ler um livro grandinho sem ilustrações e para adultos que queiram muito ver a
diferença entre a história de uma versão e da outra nos mínimos detalhes, mas
assim como no filme, não esperem algo de grande e espetacular.