09/05/12
Acordei. Pela
primeira vez sem a correria do trabalho. Meu filho estava coberto de lençóis em
sua cama donde não se levantaria, mesmo que quisesse. Fui até a cozinha e
preparei meu café da manhã. Mesmo não tendo trabalho, teria um dia cheio em
casa.
Meu nome é Cláudio
e faz um mês que construí um laboratório onde poderia fazer minhas pesquisas.
Pesquisas que, se dessem certo, poderiam revolucionar o mundo. Meu laboratório
fica em um lugar secreto da casa e só é aberto por uma passagem que não
revelarei aqui.
Depois que
comi, subi as escadas e fui ao quarto de meu filho, Daniel. Peguei-o no colo.
Era pesado porque já tinha completado dezessete anos. Carreguei-o até onde
havia a passagem secreta e a abri. Entrei e o deixei em cima da mesa. Dentro do
meu laboratório havia um tubo enorme cujo interior havia uma substância que
elaborei recentemente. Esta substância tem a capacidade de regenerar corpos.
Fiz uma experiência colocando uma cauda de lagartixa num copo e três horas
depois nasceu uma lagartixa que compartilhava o mesmo DNA da original. Se isso
funcionava com pessoas era o que eu iria descobrir.
Abri a gaveta
e dela retirei uma pequena faca. Depois peguei a mão de Daniel e cortei-lhe um
pedaço de unha. Teria doído, se ele pudesse sentir dor. Peguei o pedaço da unha
com uma pinça, subi em uma cadeira e coloquei-o dentro do tubo. Como o
organismo humano era mais complexo que o de uma lagartixa, o novo corpo
provavelmente demoraria um dia para crescer. Amanhã eu voltaria para ver se
tinha dado certo.
10/05/12
Mal fiz o
desjejum e fui correndo para o laboratório. Lá eu vi. Dentro do enorme tubo,
uma réplica exata do meu filho. Estava na mesma posição de um feto dentro do
ventre de sua mãe. Se eu o tirasse do tubo agora seria o mesmo que o nascimento
de um bebê. Despertaria com a inocência de uma criança. Mas eu não queria uma
criança recém-nascida. Eu queria o meu filho de volta. E eu o teria de qualquer
jeito.
Desde que ele era pequeno, soube que ele havia
herdado a grave doença que matou a minha esposa. Por isso, implantei um chip em
seu cérebro que gravava toda sua memória e experiência de vida. Estava na hora
de testá-lo no clone.
Usei uma alavanca para deitar o tubo. Abri a
tampa do tubo para sair toda a substância. Ele abriu os olhos. Ficou me olhando
com uma expressão curiosa, sem saber como se mexer. Tirei-o do tubo e
coloquei-o na mesa com certa dificuldade.
Ele ficou sentado me olhando enquanto eu tirava a anestesia geral da
gaveta. Injetei-a em seu braço e coloquei-o para deitar. Ao lado, o corpo de
Daniel estava coberto por uma grande manta. Retirei-a, coloquei minhas luvas e
com um bisturi, abri cuidadosamente a cabeça de meu filho. Retirei o chip de
seu cérebro e coloquei-o em um paninho. Comecei a abrir a cabeça do clone, que
logo seria o meu filho. Implantei cuidadosamente o chip em seu cérebro e
costurei sua testa de volta.
Vi que seu
coração batia. Estava dormindo, o efeito da anestesia só terminaria amanhã de
manhã. Costurei a testa do corpo morto de meu filho e o tirei do laboratório.
Fui até os fundos da casa. Lá tinha uma pá que usei para cavar e enterrar o
corpo antigo de meu filho. Amanhã ele
acordaria em um corpo novo e saudável.
11/05/12
Acordei. E
desta vez nem comi. Fui direto para o laboratório. O clone estava de pé.
Resolvi chamá-lo pelo nome de meu filho para ver se ele atendia. E atendeu, me
chamou de pai e perguntou por que ele estava em meu laboratório quando acordou.
Respondi que o havia levado para ver se conseguia lhe salvar a vida. E
consegui.
Ele agia do
mesmo jeito que o antigo Daniel, comia, bebia, gesticulava igual ao meu filho.
Eu sou um gênio. Consegui fazer algo que nenhum ser humano jamais fez. Eu
ressuscitei uma pessoa. Finalmente o homem evoluiu o suficiente para chegar ao
nível de um deus.
Agora que
consegui o que queria, vou curtir o resto desta semana com o meu filho e semana
que vem o levarei a escola.
No final do
dia, enquanto o meu filho estava dormindo, fui até os fundos da casa para regar
as plantas. Para a minha surpresa, o lugar onde eu tinha enterrado o antigo
corpo de meu filho estava remexido. E o corpo não estava mais lá.
O que aconteceu com o corpo? Curiosa!!....
ResponderExcluirNunca saberemos. HaHaHaHa. Beijos.
ExcluirPara além do conceito de Deus ou deuses, se se dribla a morte, se dribla a dor e se o corpo some, logo a culpa some também... Mas pra onde vai a angústia do evento em si mesmo? Podemos apagar alguma história? Os Danieis, mesmo com o chip, jamais serão iguais... Live and let die! Feel the moment as possible...
ResponderExcluirAloysio, seus comentários são sempre um aprendizado para mim. Obrigada. Abraço.
ExcluirSerá que o Criador resolveu buscar sua criatura?
ResponderExcluirSe sim, entregou os pontos ou deu xeque-mate no Claudio?
Daniel foi levado pelo Daniel por força do inconsciente?
E não haverá o dia seguinte no diário de Claudio...
Nunca saberemos. HaHaHaHa. Beijos.
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ResponderExcluirLegal o blog
ResponderExcluirObrigada :) Abraço.
ExcluirMuito bom Mariana !!! Amei seu blogs. E adoro histórias do imaginário. Parabéns!!!
ResponderExcluirQue bom que você gostou :) Beijos.
ExcluirCreio que a criatura excluiu a prova de que ela seria uma cópia, tornando-se assim a original.
ResponderExcluirÉ uma boa teoria. Mas nunca iremos saber. HaHaHaHa. Beijos.
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