Um livro da Bela e a Fera foi lançado pela editora Zahar, contendo sua versão
clássica e sua versão original. Qual é a diferença entre elas? Bem, para começar, suas
autoras. A versão clássica foi criada pela Madame de Beaumont contendo, como a maioria
dos contos de fada, um ensinamento ou ensinamentos e é a versão mais conhecida
(perdendo apenas para o filme da Disney). A versão original foi feita pela Madame de
Villeneuve e é bem maior e detalhada, podendo se passar por uma pequena novela
enquanto a outra pode ser considerada um resumo desta.
O que me chamou mais a atenção é o fato da Bela ter irmãs em ambas as versões.
Duas irmãs mais velhas na clássica e cinco na original (ela tem irmãos também, mas eles
não influenciam o enredo). que estão nas histórias para sentirem inveja da caçula por ser
a mais bela e a mais amável, ou seja, a mais perfeita mulher que se pode imaginar, o que
as deixam irritadas e, no caso da clássica, almejarem estragar a sua felicidade, sendo
castigadas no final. Isso me irritou. Por que na maioria dos contos de fada o irmão mais
novo é o que sempre sai melhor na vida? Vocês também notaram? Na quase totalidade
dos contos de fada que envolvem irmãos (normalmente três), eles competem entre si por
algo e o mais novo, o perfeitinho que os irmãos mais velhos fazem de capacho, sempre
ganha a melhor das recompensas. Sério, dá para contar nos dedos quantos desse tipo de
conto o irmão mais novo não sai vencedor e nem é o perfeitinho. Eu só conheço dois: Um
olhinho, Dois olhinhos e Três olhinhos, em que a irmã mais velha e a mais nova implicam
com a do meio por ela ter nascido com dois olhos igual a todo mundo, e óbvio que, no
final, a do meio consegue se dar melhor. E, dependendo de como a história é contada, Os
três porquinhos. Quando lhes é falado qual é qual, o mais novo é sempre o mais
preguiçoso que constrói a casa de palha, o do meio é um pouco mais responsável e
constrói a de madeira e o mais velho é mais trabalhador e precavido que faz a de tijolos.
É bem provável que a maioria das histórias tenha como vencedor o filho mais
novo pois, na época em que foram feitas, ele não herdava nada dos pais, tendo que
trabalhar duro para conseguir algo, e esses contos deviam dar uma esperança para ele no
futuro. Mas isso ainda me irrita. Eu sou a mais velha de três e ver que a maioria desses
contos faz dos irmãos mais velhos pessoas invejosas, cruéis e que sempre se dão mal no
final, não é algo muito animador para mim.
A protagonista Bela, como disse anteriormente, é a caçula da família e a mais
virtuosa. As duas versões a tratam assim, só que na original ela era um pouco menos
perfeita, pois ao contrário da clássica, ela decide se casar com a Fera não por amor; ela
até tinha um sentimento de carinho, mas não era paixão. Ela era apaixonada por um
formoso homem que via em seus sonhos todas as noites. Ela se casou com a Fera por
gratidão e no final de ambas as versões escritas, a Fera se transforma em príncipe e o casal
vive feliz para sempre. A Fera, ao contrário de sua versão da Disney, é educada e usa
palavras simples no começo, pois além de não poder usar sua beleza, também não podia
demonstrar ser inteligente para atrair Bela, pois a maldição o impedia. Como príncipe,
podia ser contraparte masculina de Bela, tão perfeito em beleza e inteligência como a
moça. Como se pode ver, os personagens são simples, sem muitas características
marcantes que nos deixem apegados a eles. Considero isso normal nos contos de fada, já
que se focam mais na história e na moral do que na complexidade de seus personagens.
Mas pelo tamanho da Bela e a Fera de Madame de Villeneuve, havia mais tempo e espaço
para a caracterização minuciosa dos personagens, cortando algumas descrições
desnecessárias, como os lugares que Bela conhecia no castelo.
Como dito anteriormente, a versão de Beaumont é praticamente um resumo da de
Villeneuve, que além de contar o que a versão clássica contou (com algumas pequenas
diferenças), propõe responder com detalhes essas perguntas: Como e por que o príncipe
se transformou em fera e por que dentre todas as mulheres, Bela foi “escolhida” para
salvar a Fera.
Qual das versões eu mais gostei? Bom, acho meio injusto compará-las já que uma
delas tem o tamanho de um conto, que normalmente é mais simples e menos estruturado
quando comparado a uma novela ou romance, na qual a outra se encaixaria melhor, como
critério de classificação. Mas, como eu gosto de detalhes (úteis, não descrições de
paisagem), eu preferi a original. Porém, de todas as versões que eu conheço da Bela e a
Fera (todas as três), minha predileta é a da Disney. Não apenas porque os personagens
têm muito mais “personalidade”, mas também porque a história chega a ser mais próxima
da era que eu estou vivendo. Na época dessas autoras, as mulheres se casavam por vontade
alheia. Ambas as versões clássica e original podem ser interpretadas como um modo de
se conformar com o esposo e ir gostando dele com o tempo. Na versão da Disney, há mais
diálogos entre a Bela e a Fera, que vão se conhecendo e se apaixonando aos poucos, que
é o que acontece nos dias de hoje. Nas outras duas houve pouquíssimo diálogo entre os
dois, sendo que na clássica há somente o trecho onde a Fera apenas se encontra com a
Bela na hora do jantar, perguntando como foi o dia e se queria casar com ele. Se eu entrar
em detalhes, vou acabar dando spoiler.
As duas versões do livro estão meio datadas para o público de hoje, mas foi
interessante saber de onde esse clássico filme da Disney foi originado e vale a pena
checar, principalmente a história original que é bastante criativa.
Muito bom o seu texto Mariana
ResponderExcluirObrigada. Semana que vem tem mais. Abraço.
ExcluirMuito interessante.
ResponderExcluirObrigada. Beijos.
ExcluirAdorei!
ResponderExcluirNo mundo atual,cheio de estímulos eletrônicos, é muito bom ser transportada para um mundo imaginário através dos seus textos.
Aguardando e seguindo.
Obrigada, fico feliz que você esteja gostando. Abraço.
ExcluirAdorei!
ResponderExcluirNo mundo atual,cheio de estímulos eletrônicos, é muito bom ser transportada para um mundo imaginário através dos seus textos.
Aguardando e seguindo.