quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Casa das estações




          Em algum lugar desconhecido pela maioria, o Pai Tempo e a Mãe Natureza tiveram quatro filhos chamados Verão, Outono, Inverno e Primavera. Os quatro ficaram encarregados de modificar o clima e o ambiente, cada um tendo três meses para si. Verão era o mais esquentado dos quatro, e consigo trazia o sol quente para onde quer que fosse. Outono vinha logo depois. Deixava as folhas amareladas ou avermelhadas por onde passava e era tão preguiçoso que nem colhia as folhas que deixava cair. Inverno era tão frio quanto a temperatura que deixava ao passar. E por último Primavera, a única menina, era a mais alegre e adorava enfeitar o mundo com flores além de ser uma ótima casamenteira.
Os quatro irmãos continuavam vivendo na mesma casa, mas raramente se encontravam os quatro de uma vez. Normalmente, quando Verão estava trabalhando em um lugar, Inverno estava em outro e ficavam Outono e Primavera dividindo a mesma casa e vice e versa. Mas havia uma grande rivalidade entre Verão e Inverno, que competiam por território. Entre o Trópico de Câncer e o de Capricórnio, Verão era o que mais dominava, não podendo nem nevar nessas regiões. Na parte de cima do de Câncer e de baixo do de Capricórnio, era o Inverno que mais controlava, e no momento em que Verão ia para esses lugares, nunca conseguia os esquentar bastante. Os outros dois nunca foram tão aguerridos, sendo Outono preguiçoso demais para se esforçar em uma disputa e Primavera não gostando desse tipo de coisa.
Nesse tipo de competição, os que mais sofriam eram os mortais que, ou ficavam morrendo de calor ou morrendo de frio dependendo da data e da região. Tinha vezes que eles exageravam e ficavam mais tempo do que deveriam, atrasando Outono e Primavera. Porém, em um ano eles passaram dos limites e ficaram quase três meses a mais do que deveriam. E é desse ano que eu vou contar. Ceci era uma jovem que morava na região governada pelo Verão. Com os meses a mais que ele permaneceu ali, as águas secavam, os animais e plantas morriam de sede e calor, e isso incluía até as pessoas, como sua mãe, que estava muito doente com a falta de água. Seu pai havia viajado a trabalho, prometendo voltar após o Verão ir embora. Mas não só ele não foi embora, como o pai, mesmo querendo muito, não conseguia voltar pois o lugar onde trabalhava era o reino do Inverno, que prendia as casas com a grande quantidade de neve e matava as pessoas de frio.
Ceci resolveu então tirar satisfação com o Outono e a Primavera, e o único jeito de encontrá-los era em sua casa, que ficava em algum lugar nas nuvens. Sabia que a única ponte que ligava os dois mundos era por uma tromba d’água mágica, que ninguém nunca encontrou. Mesmo assim, estava determinada a procurá-la de qualquer jeito. Pediu a um amigo para tomar conta da mãe, arrumou um pequeno barco e uns poucos suprimentos para a viagem e seguiu para o oceano.
Por vários dias ela viajou, e nada de encontrar a tromba d’água. Nem ao menos enfrentou tempestades. O oceano estava tão calmo e quente que Ceci pressupôs que o Verão também dominava essa área. Aquelas águas eram tão grandes e Ceci era tão inexperiente em navegação que se perdeu. Sem água potável e com apenas os peixes pescados como alimento, Ceci começou a desistir da viagem. Para chamar a atenção de possíveis navegadores, ela começou a tocar sua flauta, que trouxera para se distrair na longa viagem. Tocando por alguns minutos, sentiu algo forte se movimentando na água. Por favor, não seja um tubarão. Pensou a moça. Não era um tubarão. Sua aparência lembrava a de uma moça, mas o seu corpo era todo feito de água. Ela encostou os seus braços no barco e disse:
- Foi você que tocou esse som fino e delicado?
- Sim. – respondeu Ceci, mostrando a ela sua flauta. – Quem é você?
- Sou Yara, filha de Nereu. Cuido desses oceanos com minhas irmãs. Nunca havia ouvido um som como esse. Pode tocar para mim, por favor?
Não querendo recusar o pedido de uma divindade, Ceci tocou mais uma vez sua composição predileta. A nereida se encantou tanto que começou a cantar conforme a música, dando um dos momentos mais belos da vida de Ceci. Acabando a música, Yara voltou a dizer:
- Adorei esta melodia. Poderia cantá-la o dia inteiro. Mas o que faz aqui no meio do oceano?
- Estava à procura da tromba d’água que me levaria para a casa das estações. Mas me perdi e estou acabando por desistir.
- Meu amado Horus vem me visitar daqui a pouco. Só podemos nos ver uma vez por ano. Você pode tocar esse magnífico instrumento para nós?
- Mas...
- Por favor... Prometo que você será recompensada.
Não deu tempo nem de Ceci responder, pois sentiu um forte vento se aproximando. Conseguiu ver que ele tinha uma forma similar à de um homem:
- Por favor. Toque para nós.
Ceci tocou a flauta novamente. Horus pegou Yara pelos braços e os dois começaram a dançar. Dançavam em círculos, juntando os seus elementos em forma de uma tromba d’água, levando o barco de Ceci para cima. Ela estava apavorada, mas continuou tocando até chegar às nuvens, onde seu pequeno barco encalhou:
- Obrigado por esta magnífica melodia. – agradeceu Horus. – Se precisar de mim, toque novamente estas mesmas notas. Aparecerei voando.
 A tromba d’água desapareceu sem que Ceci pudesse agradecer a ajuda. A jovem prosseguiu a pé, levando sua flauta consigo. Não demorou muito para ela ver uma casa, simples mas bela, com uma vegetação interessante. Algumas árvores estavam com suas folhas amareladas e alaranjadas, enquanto outras estavam verdes e mais outras estava sem nenhuma folha e ainda por cima cobertas de neve, apesar de Ceci não sentir nenhum frio ou algo gelado caindo. O gramado era lindo e coberto de flores de coloração rosa. Ceci se aproximou da porta e bateu.
- Verão e Inverno, finalmente vocês voltaram. Não estava mais aguentando ficar aqui sem fazer na... Espere, quem é você?!
Uma bela moça havia atendido a porta. Ela tinha cabelo verde com flores que pareciam brotar dele. Um rapaz de cabelo desgrenhado vermelho alaranjado foi para o lado da moça esquisita, dando um enorme bocejo:
- Me chamo Ceci e vim pedir ajuda aos senhores.
- Senhores? Por favor querida, não nos chame assim. Eu tenho mais de um milhão de anos, mas acredite, ainda estou na FLOR da idade. Ha ha ha, essa foi muito boa, admita.
- O que você veio nos pedir? – perguntou Outono, ignorando a irmã.
- Vim pedir para que vocês voltem para a Terra e retomem aos seus trabalhos, por favor. Minha casa não tem mais água e o meu pai não consegue mais voltar por causa da neve.
- Bem que a gente gostaria. Até eu estou entediado de ficar aqui. Mas nossos irmãos se recusam a parar de competir e não somos fortes o bastante para tirá-los.
- Mas como? Das outras vezes vocês conseguiam.
- Eles não estavam tão fortes antes. E apesar de às vezes eles passarem alguns dias do prazo, eles sempre voltavam e nos deixavam fazer o nosso trabalho.
- E por que vocês não vão lá e falam para eles que acabou o tempo deles?
- Eu já tentei fazer isso. – respondeu Primavera. – Mas o Inverno me deu aquele olhar gelado que congelou até o meu cabelo.
- Depois da tentativa fracassada dela, resolvi nem tentar. Verão é muito esquentado e podia colocar fogo no meu traseiro.
- Mas não podemos fazer nada? Meu país está um inferno de tão quente e o lugar onde meu pai está, tudo congelado. Se continuar assim, tudo irá morrer.
- Eu entendo. Mas somos muito fracos para lutar com eles. Eles são o muito frio e o muito quente. Eu sou o meio frio e ela o meio quente, resumindo, eles são melhores e chamam mais atenção que a gente.
- Diz isso só por você. Eu sou conhecida como a estação das flores, do amor e da beleza. Você é que é apenas as estações que as folhas caem. Nada de tão importante.
- Conhecida?! Só se for na área que o Inverno domina. Pois na terra do Verão, você quase não aparece. Já ouvi até as pessoas perguntando se você até existe. É a segunda estação mais perguntada depois do Inverno.
- Todos vocês são importantes. – disse Ceci, querendo evitar que os dois brigassem. – Mas precisam seguir de acordo com o que foi estabelecido para vocês. E só porque vocês são “meio” alguma coisa, não significa que sejam fracos.
- Então, o que você sugere que nós façamos? As plantas de todos os lugares estão praticamente mortas. Não conseguiremos recuperá-las a tempo.
- Sozinhos não. Mas já pensaram em se juntarem?
Os dois ficaram calados. Olharam um para o outro e depois olharam para a humana com curiosidade:
- Vocês são o “meio” frio e o “meio” calor. Se vocês se juntarem, formarão a temperatura ideal.
Os dois se olharam novamente. Primavera afirmou com a cabeça e disse:
- É, acho que podemos tentar. Mas sugiro que você ponha um cachecol, pois vamos para a terra do Inverno primeiro.
Outono não contrariou a irmã dessa vez, já que se o fizesse, a discussão não terminaria, e achava isso muito problemático. Ceci não tinha um cachecol. Ela tinha apenas um casaco leve que trouxera na viagem. Primavera teve que emprestar os seus. Eles foram até o local gelado por meio de uma carruagem movida pelo vento. Quando chegaram, Primavera começou a encostar nas árvores, e falou tristemente:
- Ainda estão adormecidas.
- As árvores.
- E também as hamadríades, ninfas das árvores. Espero que as antusas estejam bem.
- Antu o que?
- Antusas, as ninfas das flores. Elas costumavam me ajudar na hora de crescer e florescer a vegetação.
- Então, todo esse tempo você tinha ajuda? Eu faço tudo sozinho.
- O seu trabalho é só fazer as folhas caírem. É bem mais fácil do que fazer as coisas nascerem.
- Olha aqui, se você acha fácil fazer isso, então...
- Como se acorda elas? – perguntou Ceci, tentando evitar que os dois irmãos discutissem.
- Normalmente, eu só esquentava um pouco as coisas e elas despertavam. Mas dessa vez está mais frio que o normal.
- Tentem vocês dois se juntarem para fazerem o clima ideal. Talvez funcione.
Os dois se deram as mãos com um certo receio e fecharam os olhos. Ceci sentiu o frio diminuir e a neve derreter aos poucos. Os animais, que estavam se escondendo do frio começaram a dar um sinal de vida na parte afetada. Mas nada das hamadríades e antusas aparecerem:
- Elas devem estar com preguiça de levantar. – disse Primavera. – Eu costumava cantar alguma música para acordá-las, mas estou fazendo um esforço maior do que o normal agora.
Ceci aproveitou que não sentia mais frio e tirou o seu agasalho. Pegou sua flauta e começou a tocar uma melodia bem alegre. Isso deixou os espíritos das árvores curiosos e logo se levantaram. Quando se viram na presença de sua chefe, foram logo ajudando e espalhando sementes, além de acordarem as antusas para também ajudarem. Logo, a colônia do Inverno estava toda florida e quente. Isso fez com que o próprio aparecesse para entender o que estava acontecendo. Seu cabelo e sua pele eram brancos como os flocos de neve que caíam do céu, mas tinha uma aparência jovem como a dos irmãos:
- O que estão fazendo? – perguntou ele em tom zangado, mas mantendo a calma, - Isto está arruinando minha jogada contra o Verão.
- E você e sua neve estão matando todo mundo de frio. – falou Primavera, também zangada. – Você sabe que é a minha vez de tomar conta daqui e mesmo assim me obrigou a sair. Você não irá fazer mais isso.
As hamadríades e antusas o encaram, demonstrando descontentamento no rosto:
- Eu e Outono vamos para as terras do Verão e mandá-lo para casa. Enquanto isso, você esperará por ele lá em casa. Minhas servas ficarão de olho caso você retorne aqui. De agora em diante, siga o que foi combinado.
- Ai, que ótimo. Por causa de vocês, eu perdi a competição. É bom que vocês expulsem logo o Verão. Não quero que ele fique se gabando por muito tempo.
- Então porque você não vem com a gente tirá-lo de lá? – perguntou Ceci.
- O território dele é muito quente. Eu derreteria lá.
Dizendo isso, ele pegou sua própria carruagem e desapareceu nas nuvens. Primavera deixou uma das hamadríades no comando enquanto estivesse fora e partiu com Ceci e Outono para o país da humana. Ela queria ter aproveitado para ver o pai enquanto estavam na colônia do Inverno, porém a situação de seu país era urgente. Ao chegarem no destino, Outono olhou para as árvores secas e peladas irônico:
- Bem, meu trabalho já está feito. Todas as folhas caíram. Vamos embora.
- Engraçadinho. – disse Primavera. – Nem pense em escapar do trabalho. Vamos resolver isso de uma vez.
Os dois deram as mãos. Porém, quando iam começar a usar seus poderes, apareceu um rapaz. Ceci nunca havia visto ele em sua cidade. Era ruivo, com o cabelo que parecia se mexer como o fogo e tinha pele bem bronzeada:
- Curupira? – perguntou Ceci bem baixinho.
Apesar de ela ter perguntado em um tom de voz baixo e de maneira retórica, o garoto respondeu, zangado:
- Curupira coisa nenhuma! Sou o senhor dessas terras. Sou o magnífico Verão. E vim saber o que os meus irmãos fazem aqui.
- Viemos reivindicar nossa posição que você e Inverno roubaram de nós. – disse Primavera. – Vocês ficaram por tempo demais.
- Que droga! Vocês sempre querem estragar nossa competição. Procurem algo para vocês fazerem até que um de nós perca.
- Mas quanto mais você ficar aqui, mais gente morrerá de sede e de calor. – falou Ceci. – O senhor não se importa conosco?
- Eu? Me importar com os humanos? Por que eu me importaria com seres que olham apenas para o próprio umbigo, não se importando com ninguém mais a não ser eles mesmos?
- Odeio contrariar a vossa senhoria, mas se os humanos fossem tão egoístas como diz, por que esta aqui foi procurar a gente por dias para salvar o pai que estava morrendo de frio e o povo dela que está aqui passando calor? – perguntou Outono, irônico.
- Ainda assim estava pensando em si mesma. Pois ela também está morrendo de calor. Mas isso pouco me importa. Saiam daqui.
- Já expulsamos o Inverno. Agora é a sua vez. – disse Primavera.
- Expulsaram o inverno?
- Sim. Não faz mais sentido você ficar aqui. Você tecnicamente já ganhou.
- Mas não de uma forma justa. Ganhava quem conseguisse ficar mais tempo cuidando de suas terras sem ficar entediado e voltar para casa. E então vocês interromperam. Não vou deixar que façam o mesmo comigo.
Outono e Primavera usaram juntos os seus poderes. Verão contra-atacou com o seu. Houve um certo equilíbrio no começo do combate, mas como Verão estava na vantagem pela sua dominância do território, ele começou aos poucos ultrapassar Outono e Primavera. Se não fizermos mais alguma coisa, vamos perder. Pensou Ceci. Então, ela se lembrou do que Horus havia lhe dito: “Se precisar de mim, toque novamente estas mesmas notas. Aparecerei voando”.
Ceci tocou a sua flauta, tocando o mesmo ritmo que havia tocado para o casal místico. Sentiu um vento vindo em sua direção. Era Horus:
- Por favor, nos ajude a combater o Verão.
Não houve outra. Horus se juntou ao Outono e a Primavera e começou a soprar. Seu sopro era forte, e juntando com a força das duas estações, fez o Verão voar para as nuvens. As árvores começaram a ficar mais saudáveis com a chuva que Outono trouxe, fazendo suas folhas crescerem e caírem novamente. Com tudo resolvido, Primavera voltou para seu trabalho, deixando Outono no país de Ceci e prometendo voltar quando fosse o momento certo. Horus acabou por virar o novo colaborador do Outono, ajudando-o em relação às folhas. Uma semana depois, o pai de Ceci voltou para casa e sua mãe foi melhorando aos poucos. Tudo voltou ao normal. Verão e Inverno, porém, continuaram competindo. Quem tivesse mais vitórias no xadrez seria o melhor.  





sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Animação



          Esse vídeo é uma animação em flipbook, uma técnica que usa um caderninho ou bloco e vira as folhas, movimentando o desenho. Parece um desenho bem simples se comparado com o de vários desenhistas profissionais, o que seria injusto, já que não sei desenhar. Aprendi essa técnica na oficina de Introdução à Produção em Animação na COART, UERJ. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a animação não envolve apenas o desenho. Um bom exemplo é o stopmotion, que é parecido com o flipbook, só que ao invés de desenhos, são utilizados objetos concretos (o filme A fuga das galinhas é um bom exemplo do uso dessa técnica, foi feito com um tipo de massinha).
          Mas então vem a pergunta: Por que você está falando de animação em um blog literário?  Bem, se falarmos das semelhanças dessas duas formas de expressão, podemos dizer que ambas dão ao leitor ou expectador uma mensagem, que pode ou não fazê-lo pensar sobre o que acabou de ler/ver e interpretar da sua maneira. Além disso, podemos ver diálogo de escrita e desenho (ou algum objeto concreto) no ramo da animação, pois para fazê-la, é sempre bom que tenha uma boa história e roteiro para atrair o público. Nessa animação que fiz, não escrevi nenhum roteiro, pois ele estava todo na minha cabeça, porém para fazer algo mais complexo, é sempre bom escrever para não esquecer depois.

          As técnicas artísticas não precisam ser feitas puramente de uma coisa só. Elas podem dialogar e formarem algo interessante. Quantos livros publicados não se tornaram filmes, séries ou até mesmo desenhos animados? Nesses casos, a pessoa que viu e gostou do filme, série ou desenho pode ser motivada a conhecer o livro que originou a história e vice-versa. Me sentiria honrada se alguma coisa que eu escrevesse se tornasse uma animação, e ver como seria transmitida em um outro tipo de linguagem artística. Esse ramo é algo que pouco vejo no Brasil e que gostaria de ver mais.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

O lobo vermelho



A velhinha morava perto de um matagal, por isso, a mãe de Luana mandou a menina ter cuidado. Luana vestiu sua capinha vermelha que a avó havia feito e iniciou seu passeio.
            No meio do caminho, ela viu um lobo vermelho. Ela esperou ele dizer algo, mas foi tudo em vão. Então ela começou o assunto:
            - Com licença, o senhor não tinha que me perguntar para onde eu estou indo?
            - E por que eu faria isso?
            - Por que você é um lobo e eu estou de capa vermelha.
            - E daí?
            - Você é um lobo, deveria estar fazendo um plano para comer pessoas.
            - Eu não como pessoas. Tem muita gordura. Prefiro mais roedores e frutas.
            - Então, não vai comer a minha avó?
            - Carne passada do ponto não é saudável. Eu passo.
            - Você é estranho. Além da sua cor, seus modos são completamente diferentes dos lobos que eu conheço.
            - Você já conversou com algum lobo?
            - Não.
            - Então vai por mim. Segue o seu caminho tranquila, que eu sou um santo.

             Luana foi em frente. Ao chegar na casa de sua avó, deixou a cesta no chão para descansar o braço e abrir a porta. Pegou a cesta de volta e viu que estava faltando algumas de suas frutas. No mato, viu um ponto vermelho, que depois desapareceu, correndo entre as árvores.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Cachinhos de ouro

              Estava voltando para minha casa, caminhando alegremente pela estrada da floresta, mexendo nos meus cachinhos, quando eu a avistei. A minha bela casinha azul com suas janelas quadriculadas e suas flores entorno. A porta estava aberta, então entrei. Vi que na mesa estavam três pratos de mingau. Estranhei por não ter visto nem minha mãe nem meu pai em casa. Então os chamei. Ninguém me respondeu.
          Resolvi então sentar na mesa para comer o mingau. Comi uma colher do primeiro. Estava muito quente. Comi uma colher do segundo. Estava muito frio. O terceiro estava na medida certa, então eu comi tudo. Depois de ter comido, me deu muito sono. Fui para o quarto descansar. Eu e meus pais dormimos no mesmo quarto, mas cada um na sua cama.
            Deitei na primeira cama. Era muito dura. Deitei na segunda. Era muito mole. A terceira estava na medida certa. Dormi em um sono tranquilo até que ouvi um barulho. Quando eu acordei, havia três ursos olhando para mim, dois grandes e um pequeno. Saí correndo de medo, afinal eram ursos e o senhor sabe o que eles podem fazer com as pessoas...
            - Então, a senhorita está dizendo que confundiu a casa dos ursos com a sua?
            - Sim, é isso mesmo.

          - Entendi. Mas agora me explica: como as joias da senhora Ursa foram parar na sua bolsa? – perguntou o policial.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Balanço




                                                                     Eu me lanço
                                                                     No balanço
                                                                     Com a lança
                                                                     Que alcança
                                                                     O dragão
                                                                     De tufão.

                                                                     No balanço
                                                                     Eu me lanço.
                                                                     Minha trança
                                                                     Alcança
                                                                     O castelo
                                                                     De marmelo.

                                                                     No balanço
                                                                     Não me canso.
                                                                     Eu me lanço
                                                                     E alcanço
                                                                     O encanto
                                                                     Deste canto.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

A pequena luz


            Os munhecos são seres curiosos. Eles vivem em um lugar escuro, onde a luz que ilumina o dia é bem fraquinha. A pele deles é lilás quando está de dia e roxa bem escura quando está de noite. Seus cabelos são de cor verde azulado, meio fantasmagórico. Mas tirando esses detalhes, os munhecos são bem parecidos com a gente em aparência. A verdadeira diferença é como eles são concebidos.
            Eles podem até formar casais, mas os bebês vêm da mesma luz que vem o dia e caem sob a macia Montanha Cinza para serem pegos e cuidados pela comunidade. Essa luz, que ilumina tão pouco, sempre foi um mistério para os munhecos. Porém, todos tinham medo de ir até lá, pois a consideravam como uma deusa, que não podia ser tocada. Seguravam sua curiosidade porque viviam bem com a caça dos animais, que normalmente eram cinzas ou negros. O único problema era a Atarab, um ser cascudo e nojento que voava vez ou outra por sobre suas casas, causando tumulto. Fora isso, era tudo tranquilo.
            Mas, em todo o rebanho existe uma ovelha negra. E esta era Darla, uma jovem bastante curiosa, que queria porque queria descobrir o mistério daquela luz. Mesmo que os outros tentassem convencer do contrário, ela não ouvia, e planejou de tudo para chegar à pequena luz.
            Seu primeiro plano foi escalar a Montanha Cinza até chegar ao topo. Só que de vez em quando, a montanha mudava de lugar. A sorte é que nenhum bebê munheco surgia da luz quando ela fazia isso. Darla fez observações e cálculos e aguardou o dia certo para iniciar sua subida, sem o contratempo de descer em outro ponto.
            Darla começou a escalar, só que por algum motivo, a montanha parecia encolher a cada subida que a munheca fazia, até a montanha ficar menor do que ela. Quando ela saiu, a montanha voltou ao tamanho original, para o desprazer de Darla.
            Sua segunda tentativa foi tentar laçar a luz. Teve um imenso trabalho para fazer uma corda bem comprida. Isso também não adiantou. Além de não alcançar a luz, acabou laçando um bode.
            Ela fez outras tentativas, mas todas foram em vão. Tentou flechar a luz para ver se ela caía, porém, a flecha acabou desaparecendo. Jogou outras coisas, que acabaram sumindo também. Quando estava prestes a desistir, viu algo se mexendo no telhado de sua casa, fazendo um enorme barulho. Era a Atarab. O bicho logo voou para o teto do vizinho. Darla então teve uma ideia.
            Pegou a corda comprida que havia feito para o seu segundo plano e laçou a Atarab. A cascuda logo voou, levando Darla consigo. A jovem subiu até chegar nas costas da Atarab. O bicho zunia e se mexia muito, demorando um tempo para Darla domá-lo. Mas quando conseguiu ter controle, a moça logo o mandou para a direção que queria ir. Voou até a luz. Ela quase a cegou.
           Sentiu que a Atarab diminuía de tamanho. Também sentiu que ela mudava com a proximidade. Chegou. Parecia que estava em baixo de algo, pois em cima e dos lados estava escuro. Só neles estava claro. A Atarab estava menor que ela e foi embora rapidamente. Darla não conseguia se mexer. Mas viu que seu corpo havia mudado. Sua pele ficou em um tom rosa claro, seus cabelos ficaram pretos e estava usando um vestido ao invés de uma blusa e uma calça.
            Viu em sua frente, uma mão gigante pegá-la. Não conseguia se mexer. Era uma menina. A criança correu com ela até uma adolescente e disse:
            - Malu, olha o que eu achei!
            - Você achou a Darla?! Onde você a achou?
            - Embaixo da cama.
            - Mas não pode ser. Eu perdi ela há anos atrás. Ela não pode...
            - Posso brincar com ela?
            - ... Pode.

            A menina correu de novo para o quarto e brincou com Darla e suas outras bonecas até crescer e parar. Num certo dia, ela perdeu a Darla, que voltou para o mundo dos munhecos. E então, Darla contou para os outros munhecos o que ela descobriu, não é? Não, ela não pôde fazer isso, pois bebês não tem uma boa memória.