Os munhecos são seres
curiosos. Eles vivem em um lugar escuro, onde a luz que ilumina o dia é bem
fraquinha. A pele deles é lilás quando está de dia e roxa bem escura quando
está de noite. Seus cabelos são de cor verde azulado, meio fantasmagórico. Mas
tirando esses detalhes, os munhecos são bem parecidos com a gente em aparência.
A verdadeira diferença é como eles são concebidos.
Eles podem até formar casais, mas os bebês vêm da mesma
luz que vem o dia e caem sob a macia Montanha Cinza para serem pegos e cuidados
pela comunidade. Essa luz, que ilumina tão pouco, sempre foi um mistério para
os munhecos. Porém, todos tinham medo de ir até lá, pois a consideravam como
uma deusa, que não podia ser tocada. Seguravam sua curiosidade porque viviam
bem com a caça dos animais, que normalmente eram cinzas ou negros. O único
problema era a Atarab, um ser cascudo e nojento que voava vez ou outra por
sobre suas casas, causando tumulto. Fora isso, era tudo tranquilo.
Mas, em todo o rebanho existe uma ovelha negra. E esta
era Darla, uma jovem bastante curiosa, que queria porque queria descobrir o
mistério daquela luz. Mesmo que os outros tentassem convencer do contrário, ela
não ouvia, e planejou de tudo para chegar à pequena luz.
Seu primeiro plano foi escalar a Montanha Cinza até
chegar ao topo. Só que de vez em quando, a montanha mudava de lugar. A sorte é
que nenhum bebê munheco surgia da luz quando ela fazia isso. Darla fez
observações e cálculos e aguardou o dia certo para iniciar sua subida, sem o
contratempo de descer em outro ponto.
Darla começou a escalar, só que por algum motivo, a
montanha parecia encolher a cada subida que a munheca fazia, até a montanha
ficar menor do que ela. Quando ela saiu, a montanha voltou ao tamanho original,
para o desprazer de Darla.
Sua segunda tentativa foi tentar laçar a luz. Teve um
imenso trabalho para fazer uma corda bem comprida. Isso também não adiantou.
Além de não alcançar a luz, acabou laçando um bode.
Ela fez outras tentativas, mas todas foram em vão. Tentou
flechar a luz para ver se ela caía, porém, a flecha acabou desaparecendo. Jogou
outras coisas, que acabaram sumindo também. Quando estava prestes a desistir,
viu algo se mexendo no telhado de sua casa, fazendo um enorme barulho. Era a
Atarab. O bicho logo voou para o teto do vizinho. Darla então teve uma ideia.
Pegou a corda comprida que havia feito para o seu segundo
plano e laçou a Atarab. A cascuda logo voou, levando Darla consigo. A jovem
subiu até chegar nas costas da Atarab. O bicho zunia e se mexia muito,
demorando um tempo para Darla domá-lo. Mas quando conseguiu ter controle, a
moça logo o mandou para a direção que queria ir. Voou até a luz. Ela quase a
cegou.
Sentiu que a Atarab diminuía de tamanho. Também sentiu
que ela mudava com a proximidade. Chegou. Parecia que estava em baixo de algo,
pois em cima e dos lados estava escuro. Só neles estava claro. A Atarab estava
menor que ela e foi embora rapidamente. Darla não conseguia se mexer. Mas viu
que seu corpo havia mudado. Sua pele ficou em um tom rosa claro, seus cabelos
ficaram pretos e estava usando um vestido ao invés de uma blusa e uma calça.
Viu em sua frente, uma mão gigante pegá-la. Não conseguia
se mexer. Era uma menina. A criança correu com ela até uma adolescente e disse:
- Malu, olha o que eu achei!
- Você achou a Darla?! Onde você a achou?
- Embaixo da cama.
- Mas não pode ser. Eu perdi ela há anos atrás. Ela não
pode...
- Posso brincar com ela?
- ... Pode.
A menina correu de novo para o quarto e brincou com Darla
e suas outras bonecas até crescer e parar. Num certo dia, ela perdeu a Darla,
que voltou para o mundo dos munhecos. E então, Darla contou para os outros
munhecos o que ela descobriu, não é? Não, ela não pôde fazer isso, pois bebês
não tem uma boa memória.
Muito bom!!!! 😍😻
ResponderExcluirObrigada :)
ExcluirLindo e imaginativo.
ResponderExcluirObrigada :)
ExcluirEste comentário foi removido por um administrador do blog.
ResponderExcluirEssa Darla...gostei dela rs. As ovelhas negras não são necessariamente "ovelhas negras". São seres diferenciados pela curiosidade, e que podem se dar bem ou não, mas que inevitavelmente sempre ganham da vida o aprendizado. E se forem espertos, ganham mais q isso....��.
ResponderExcluirConcordo. Geralmente são os diferentes que acabam mudando o mundo. Abraço.
ExcluirMuito Bom!!!
ResponderExcluirObrigada :)
ExcluirFenomenal, Mariana! Gostei de tudo... Dos munhecos, do mundo deles, o mistério da luz na montanha cinza, de Darla (a curiosa e ousada, não exatamente a ovelha negra da "tribo"!), do Atarab que é estranho, mas não é mal,... Putz! Um desbunde de conto e rico de poesia. Obrigada por compartilhar!
ResponderExcluirDe nada :) Obrigada você por comentar. Abraço.
ExcluirImaginação vendo a vida. Bom ler seus textos.
ResponderExcluirObrigada :)
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