quinta-feira, 30 de março de 2017

Dia Mundial da Conscientização do Autismo - 2 de abril








Uma associação de pais de crianças especiais, onde minha família faz parte, autorizou que eu criasse uma mascote para a instituição.
A partir do nome da instituição – CAIS – criei duas mascotes: CAIO e ISIS (junte as duas primeiras letras de cada mascote) e uma história para eles.  Singela, mas rica em significado.

A ilustração é da Luísa, minha irmã.



                                                                 CAio e ISis (CAIS)

            Caio era um gato diferente. Enquanto os seus irmãos brincavam juntos, ele ficava sozinho, olhando para parede e falando coisas aleatórias. O pai achava que ele estava vendo um fantasma, mas isso não fazia sentido, pois todos os gatos podiam ver almas penadas e definitivamente não havia espíritos de porco naquela casa. E não era só isso. Caio também fazia isso com o novelo, com o ratinho de brinquedo, com a tigela de comida e o pano de chão. Sua mãe achou que ele havia sido possuído, por isso chamou uma vez o gato da Igreja para exorcizá-lo de dentro de seu filho. Mas este garantiu que não havia nenhum ser maligno dentro dele. Caio também gostava de andar em círculos e ficar saltando do chão para o banco e do banco para o chão um monte de vezes. Ah, e ele também era azul. Só que os gatos não enxergam as cores como a gente, por isso, eles não ligaram.
            Seus pais ficavam cada vez mais preocupados. Tentavam fazer Caio se enturmar com seus irmãos e outros gatos, mas não estava dando certo. Então pensaram: “Se ele não consegue se socializar com gatos comuns, talvez ele consiga com gatos diferentes”. Resolveram assim procurar um amigo para Caio que fosse diferente como ele. Foram procurando até que do outro lado da cidade, encontraram um casal com uma filha chamada Isis. Já pela aparência, Isis era considerada diferente. Ela tinha pelo grande e solto, que lembrava orelhas de cachorro e pelo pomposo no pescoço. E ela também era rosa. Só que os gatos não enxergam as cores como a gente, por isso, eles não ligaram. Pela atitude, ela pouco falava, e quando falava não era muito entendida. Tinha manias parecidas com as de Caio, mas elas diminuíram com a ajuda de seus pais, especialistas e amigos.
            Isis começou a puxar Caio para brincar com ela, tentando ter paciência com o jeito dele. Com o tempo, eles se tornaram bons amigos e foram conhecendo gente nova. Alguns parecidos no jeito, outros não. Uns tinham a mesma cor, outros não. Não que isso importe, afinal, os gatos não enxergam as cores como a gente, por isso, eles não ligaram.


quarta-feira, 22 de março de 2017

Ella Enfeitiçada (a Cinderela moderna) análise



              Imagina se a Cinderela só fizesse o que a madrasta mandava por causa de um suposto “dom” que uma fada lhe presenteou ao nascer? Essa é a história de Ella, que por causa da fada Lucinda, é obrigada a fazer tudo que for mandada a fazer. Nesta situação você pensa “Ah, então a Ella vai ser aquela garota obediente e sem sal, que não fará nada a respeito disso, esperando que uma fada madrinha resolva os seus problemas”. Isso não acontece. A protagonista se utiliza de técnicas para se livrar e irritar os que tentam lhe dar uma ordem, como um gênio da lâmpada, ao qual precisa-se ser bem específico antes de desejar alguma coisa. Além disso, a própria moça tenta escapar do seu destino, procurando a fada que a amaldiçoou.
            O enredo é baseado na história da Cinderela, só que com um aumento na história e uma caracterização melhor dos personagens. Outra diferença é que o pai, que em grande parte das versões já bateu as botas, está vivo. Porém, ele pouco se importa com a filha, sendo mais um comerciante interesseiro. Na história também aparecem outros seres mágicos além das fadas, como centauros, ogros e gigantes. A regra que as fadas estabeleceram, com exceção de Lucinda, de não fazer magias grandes, apenas pequenas que não prejudicassem ninguém foi algo bom para o romance, mas que me deixou tão nervosa quanto a protagonista.
            Este romance de fadas (romance + conto de fadas) além de ser uma versão maior do antigo conto da Cinderela, pode ser considerado também como uma versão atualizada. No antigo, havia duas morais: Quem trabalha duro e é bom sempre será recompensado e ter padrinhos ou madrinhas ajuda a conquistar algo (Sim, tem essa moral também. Achei essa informação no livro Contos de Fadas, apresentado por Ana Maria Machado da editora Zahar). Elas ainda aparecem em Ella Enfeitiçada, só que bem menos explícito, pois o foco é em contar uma boa história e entreter o público. E como disse anteriormente, Ella não é a típica Cinderela que espera até que algo bom aconteça. Ela vai e procura a fada que lhe causou esse problema. E é claro, a protagonista tem muito mais personalidade que a Cinderela original. Com o passar das gerações, a sociedade muda, e os tipos de personagens também. Mas não vou criticar tanto este fato já que um é um conto, que por sua definição é pequeno e tem pouco espaço para detalhes, e o outro é um romance e detalhes é o que não falta.
            O ponto negativo para a história foi a solução para a quebra do encanto. Muito fraca e até mesmo clichê para um romance que estava indo tão bem. Mas não acho que seja um motivo para não se interessar pelo resto que o livro propõe. Recomendo para aqueles que querem ler uma versão mais extensa e com uma “Cinderela” mais forte e determinada.

             

quarta-feira, 8 de março de 2017

Bicho-papão

                                                         Escultura de Patricia Piccinini, na exposição ComCiência.



            Clara acorda num sobressalto. Algo havia se mexido debaixo de sua cama. Acendeu a luz para ver se tinha alguma coisa. Não havia nada. Apagou a luz e tentou voltar a dormir. Mas ouviu algo se mexendo perto de seus brinquedos. “Tomara que não seja o bicho-papão. Estou com medo” . Ela tremeu, mas ainda teve coragem para novamente acender a luz. O que viu foi algo extremamente parecido com as descrições que seus pais deram sobre o bicho-papão, só que que em uma versão menor.
        Pensou em chamá-los, porém viu o quanto o estranho ser estava assustado. Resoluta, aproximou-se. O ser choramingava. Sentindo pena, Clara pegou um de seus brinquedos e ofereceu para a pequena criatura. Ela parou de chorar e o pegou. As duas começaram a brincar e ficaram assim por uma hora e meia, até ambas sentirem sono:
            - Volte para sua casa. – disse Clara. – Outro dia a gente brinca mais.
            E voltou para sua cama. No dia seguinte, o ser havia desaparecido. Na hora do café, Clara contou o acontecido para os seus pais:
            - Ontem, apareceu um filhote de bicho-papão no meu quarto. Ele era igualzinho ao que vocês falaram. Tinha muito pelo na cabeça, não tinha garras grandes como as nossas e usava algo que cobria parte de seu corpo. Mas ele era muito bonzinho.
            - Que bom minha filha. – disse a mãe.
            - Crianças têm uma imaginação tão fértil. – sussurrou o pai para sua esposa

quarta-feira, 1 de março de 2017

As aventuras de Pinóquio análise


           Você conhece a história do Pinóquio? Não? Seu nariz está crescendo... Sim, mais uma história na qual a Disney se baseou para fazer um filme. Mas vou tentar não comparar muito as duas versões, até porque não me lembro tão bem do filme do Pinóquio. O que eu posso dizer é que na versão do livro, ele é muito mais travesso deixando o Gepeto na cadeia por sua culpa e matando o Grilo Falante (sem querer).
O autor de As aventuras de Pinóquio é Carlo Collodi e a versão que eu li é traduzida pela autora Marina Colasanti, do selo Companhia das Letrinhas. O personagem Pinóquio antes de ser um boneco era um pedaço de madeira que um marceneiro apelidado de mestre Cereja ia usar para fazer uma perna de mesa. Só que o pedaço de madeira começou a falar, deixando o pobre coitado assustado. Gepeto aparece depois, pedindo um pedaço de madeira para fazer uma marionete, então mestre Cereja dá o pedaço de madeira falante. Além desse tipo de loucura sem explicação tem o fato de outras marionetes falarem e reconhecerem o Pinóquio (tenho uma teoria de que todas elas vieram de uma floresta mágica, onde as árvores podiam falar), animais que andam e falam como gente, animais que apenas falam, um certo personagem voltando como fantasma e outras loucuras. Essas coisas doidas me lembram um pouco de Alice no País das Maravilhas, lançada dezoito anos antes, e Sítio do Pica-pau Amarelo.
A narrativa é em forma de diálogo, em que o narrador conta a história a algumas crianças. Outra coisa de interessante nesse livro é que mesmo sendo para crianças, contêm vez ou outra o sarcasmo em diálogos entre adultos ou até mesmo na narração: “O pobre Gato, sentindo-se gravemente indisposto do estômago, não conseguiu comer nada além de trinta e cinco sardinhas com molho de tomate e quatro porções de dobradinha à parmegiana. E como a dobradinha não lhe parecesse suficientemente temperada, deu-se três vezes o trabalho de pedir mais manteiga e queijo ralado”. Capítulo 13, página 53.

A história mostra a jornada de Pinóquio para se tornar um bom menino. E como foi longa... Dava vontade de dizer Não faça isso, você já fez isso uma vez e se ferrou. Não descumpra a promessa que você fez sua anta. Mas vamos ser sinceros, se os protagonistas fizessem tudo de maneira certa, não haveria história e nem lição para ser ensinada aos leitores. É um bom livro para ensinar as crianças a serem mais obedientes, não falar com estranhos e estudar para alcançar um futuro promissor, tudo isso vindo em um livro só. Ele me deu a mesma sensação de quando eu li Os doze trabalhos de Hércules de Monteiro Lobato, sendo bem criativo e pedagógico ao mesmo tempo, porém tendo alguns personagens (Pinóquio e Emília) me irritado algumas vezes. Considero uma boa leitura a ser feita para crianças, principalmente quando quiser ensinar algumas dessas morais acima.