Em terras dominadas pela
guerra e pela doença, vivia uma família nem tão rica, mas nem tão pobre que
ficou em péssimas condições de moradia por causa das circunstâncias de seu
país. A filha mais velha, Hana, havia completado dezoito anos:
- Está na hora de nos mudarmos desse local antes que a
doença nos pegue.
- Filha, você acha que temos condições para isso? – falou
sua mãe, séria. - Não temos dinheiro para isso. Tudo o que nos resta é nos
esconder aqui no subsolo, enquanto esperamos que a guerra acabe e seu pai
volte.
- Eu também quero muito sair. – disse Marina, a irmã mais
nova de Hana. – Eu não vou lá para cima desde que eu tinha seis anos.
- Eu lembro muito bem. – começou a avó de ambas. – Como
se fosse hoje, de que a gente podia ver criaturas místicas nas florestas
passeando e a gente...
- Mãe, todos sabemos que os seus tempos eram melhores que
os nossos. Não precisa ficar repetindo todas as vezes. É hora de abrir o seu
presente, Hana.
Hana abriu o presente. Era um cobertor:
- Obrigada mãe. – disse ela, sem muito entusiasmo.
Ouviu-se um som de uma corneta:
- É hora de todos irmos para cama. Amanhã a gente come o
resto do bolo.
Todos foram para os seus quartos, que eram bem
minúsculos. Antes que Hana tivesse a chance de pegar no sono, foi cutucada no
braço. Era a sua avó:
- Acorda, Hana. – sussurrou ela. – Eu ainda não entreguei
o seu presente.
Hana se sentou. Sua avó segurava uma vela com uma mão e o
presente, que parecia ser pesado, com a outra. Hana pegou e o abriu. Era um
livro de título Os quatro seres sagrados:
- Abra na página cento e trinta.
Ela abriu. Naquela página estava desenhada uma criatura
escamosa, com patas de cavalo e chifres:
- Este ser magnífico se chama Kirin. De acordo com a
lenda, ele só aparece em lugares puros.
- Está me sugerindo que eu vá em busca de um deles para
ele nos levar para um lugar melhor?
- Sim, e esse livro diz como.
A avó virou algumas páginas, até aparecer um mapa:
- Quando a lua aparece no céu, um kirin desce para beber
água do rio Mitsuki, e recuperar suas energias. – a avó apontou para o rio
desenhado no mapa. – E nós estamos aqui.
Ela apontou novamente, dessa vez para o local escrito
Planícies do Sol. Não parecia ser tão longe. Demoraria apenas algumas horas
para chegar:
- Vó, eu gostaria muito de ir para lá. Mas você sabe que
a mãe não vai permitir. E nem sei como sair daqui para a superfície.
- Deixa isso comigo. Amanhã eu te falo.
Antes de voltar a dormir, Hana aproveitou para ler um
pouco mais sobre a criatura que podia ser a solução para os seus problemas. O
texto a descrevia como gentil e amável, se propondo a ajudar os que precisavam.
Isso deixou a moça com mais esperança. No dia seguinte, Hana acordou e viu sua
mãe e avó conversando, já bem despertas:
- Mãe, por que você quer tanto que eu compre banana? Sabe
que está difícil encontrar uma dessas nessa cidade subterrânea, e deve estar
custando os olhos da cara.
- Banana faz bem para pele. E minha pele está ficando
bastante molenga. Quer ver?
- Está bem, está bem. Eu vou procurar a sua banana. Mas
devo demorar algumas horas para voltar. A senhora e Hana ficam de olho na casa
enquanto eu não volto.
Dizendo isso, ela pegou sua bolsa, que estava desgastada
com o tempo, e saiu. Hana foi preparando o seu café. A idosa esperou um tempo
antes de falar:
- Toma logo o seu café. Vou te ajudar a preparar suas
coisas e mostrar o seu caminho.
Hana fez o que a sua avó mandou e foi junto com ela
preparar as suas coisas. Quando estavam finalizando, Marina aparece e pergunta:
- Para aonde vocês vão?
- Não é dá sua conta. – respondeu Hana impaciente.
- Vamos passear. – disse a avó com delicadeza.
- Posso ir?
- Não, minha querida. É coisa de adulto.
- Passear não é coisa só de adulto.
- O lugar para aonde a gente vai é só para adultos.
- Você fica aqui e se comporta.
- Aff. Tá bom.
As duas saíram. Lá fora, havia uma correria, com gente
carregando sacolas de comida. Sua grande maioria era de mulheres e jovens. A
idosa puxou sua neta para um lugar onde não havia ninguém a vista. Ela a puxou
até ambas chegarem em uma parede rochosa. A avó bateu nela três vezes no lado
direito e quatro no lado esquerdo. Uma passagem se abriu:
- Como a senhora...
- Isso é história para outro dia. Agora vá. Você tem a
katana de seu avô e o livro. Vai dar tudo certo.
A senhora deu um beijo de despedida na neta. Hana pegou a
lanterna e entrou na passagem, que se fechou atrás dela. Caminhou por uns vinte
minutos nas paredes rochosas e ásperas até que, em sua frente, viu uma luz que
quanto mais se aproximava mais ela aumentava de tamanho. Chegou à superfície
vinda de um lugar que parecia ser a toca de um urso. Hana havia parado em uma
floresta linda, que parecia ter sido intocada pela guerra. Ela pegou o livro e
abriu onde estava o mapa. Ela teria que ir para o centro e estava bem na ponta
do Oeste. Recomeçou então sua longa caminhada.
Foi aos poucos observando a natureza do local. A
vegetação era bem verde, com flores de cores bem vivas e variadas e pássaros
cantando diversas melodias. Hana tinha saído de um lugar escuro quase sem ar
para um que parecia um jardim encantado cheio de vida. Isso já a satisfazia
muito. Porém, sentia que estava sendo observada. Não pelos pássaros e os outros
animais, por algo ou alguém que parecia estar seguindo-a.
Hana parou de repente, só para ouvir os passos de outro
alguém pisando na folhagem. Ela pega a katana de seu avô e a balança para trás.
Marina se assusta e dá um pequeno gritinho:
- Marina?! O que você está fazendo aqui? Devia estar em
casa com a vovó.
- Mas vocês estavam fazendo segredinho desde ontem à
noite, e me deixaram curiosa. Então peguei a chave reserva e segui vocês
escondida. Esperei a vovó ir embora e fiz a mesma coisa que ela fez e aqui
estou.
- Você ficou ouvindo a nossa conversa de ontem? Que falta
de educação.
- Tenho um sono muito sensível.
- Aff, já caminhamos demais para voltar e te deixar em
casa.
- E se você voltar para me deixar em casa, a mamãe irá
descobrir o que você estava planejando. – disse Marina dando um sorriso
malicioso.
- Pirralha chata. Está bem, vamos.
Marina foi para o lado de sua irmã muito contente. Hana, que
estava bem tranquila até um momento atrás, encheu-se de preocupação. Agora além de mim, vou ter que cuidar dela,
pensou. Andaram até a hora do almoço, dividindo a comida. Marina aproveitou a
deixa para fuçar na mochila da irmã:
- Para de mexer nas minhas coisas!
- Só estou vendo. Uma corda? Mas esse bicho que vamos
pegar não poderia destruí-la com os seus dentes?
- Também não entendi o porquê da vovó separar isso. Além
dos dentes, ele também solta fogo. Olha aqui.
Hana passou o livro para Marina, que por ser estabanada,
no ato que o pegou, acabou soltando a corda no fogo que cozinhava a comida:
- Que droga, Marina! – disse Hana desesperada, tentando
tirar a corda do fogo. – Quer colocar fogo em tudo?!
- Desculpe...
Mas quando Hana a tirou, não havia nada queimado. Estava
tão intacta quanto antes:
- Vovó, quantos segredos você guarda da gente?
- A vovó não está aqui para responder.
- Era uma pergunta retórica, Marina.
- Retórica...
- Aff...
A duas terminaram de comer e voltaram a andar. Marina
quis ler o livro, mas só pôde dar umas pequenas espiadas antes de Hana o
retomar para ver o mapa. Então ela aproveitou para contemplar a natureza. Não
se lembrava de ter alguma vez visto, pois era muito pequena quando a família se
mudou para o subsolo. Foi colhendo diferentes flores para presentear a mãe
quando voltassem. Chegaram no ponto aproximadamente às cinco horas. E qual não
foi a surpresa delas verem um kirin deitado perto do rio:
- É ele, Hana. – cochichou Marina. – Ele é lindo!
- Como ele pode estar aqui agora? A vovó disse que ele só
passava aqui à noite.
Apesar de Hana estar confusa com relação a história da
avó, ela até achou melhor que o ser místico já estivesse ali, pois o sol ainda
estava lá em cima, e seria bem mais fácil capturá-lo se pudesse enxergar o que
estava fazendo:
- Você fique aqui escondida tomando conta da mochila. –
disse Hana para a irmã, enquanto retirava a corda e a katana.
- Tá bom. Tome cuidado.
Hana foi se aproximando devagar. A katana estava
pendurada em suas costas e a corda estava em suas mãos. Ficando próxima ao pescoço
do kirin, conseguiu amarrá-la antes de ele acordar. Quando acordou, fez um
movimento brusco que derrubou Hana para o outro lado. Mas mesmo assim, ela não
soltou a corda:
- Quem é você?! – perguntou o ser, sem mexer a boca, em
uma voz jovial.
- Pode falar?
- Claro que eu posso, humana maluca! Larga a corda!
Hana soltou. O kirin olhou bem para o fundo dos seus
olhos e perguntou:
- O que você quer comigo, humana insolente?!
- Sou Hana. Quero que o senhor mostre a mim e a minha
irmã um lugar pacífico para nossa família poder morar.
- Então, você espera que eu a leve em minhas costas para
um lugar perfeito para morar.
- Isso.
- Ha ha ha ha...
Ele continuou rindo até Marina sair de seu esconderijo
irritada e perguntar:
- Qual é a graça?!
- Isso é algo sério! Estamos em guerra e não podemos
viver nessas condições para sempre.
- Humanas tolas. Acham mesmo que tal lugar existe? Se ele
existisse e eu levasse vocês lá, iriam estragá-lo.
- Não iríamos não!
- Iriam sim. Vocês são os seres mais destrutíveis do
mundo e brigam por qualquer coisa. Não existe nenhum que seja digno o bastante.
- Nem todos os humanos são do jeito que você pensa. E
você também não parece nada com o ser bondoso e humilde que é mostrado no
livro.
- Isso porque além de serem destrutivos são também
mentirosos. Não sou um ser perfeito. Mas ainda assim sou melhor que toda a sua
espécie.
- Então prove. Prove que é melhor que a gente e nos
ajude.
- Eu irei... Espere um pouco, você acha que pode me
enganar assim tão facilmente? Não farei o que vocês querem. Vocês é que tem que
provar que são dignas da minha ajuda.
Hana puxou a katana de suas costas enquanto Marina pegava
a corda:
- Vocês sabem que eu posso soltar fogo, não sabem?
- Você sabe que a corda é a prova de fogo, não é? – disse
Marina.
- E esta katana é bem afiada e resistente. – continuou
Hana.
O kirin lançou
fogo de sua boca na corda, mas como era de se esperar, nada aconteceu. Tentou
assim lançar nas meninas, o que também foi em vão, pois no desespero, Hana as
defendeu com a katana. Quando o ser ia voar, Hana saltou nele com a katana
perto do pescoço do animal:
- Está bem, está bem! Eu as levarei para algum lugar
ideal. Tire essa katana de perto do meu pescoço!
- Promete?
- Prometo.
Hana fez sinal com a cabeça para Marina se aproximar.
Ambas subiram em suas costas e foram para o céu. Hana guardou a arma e segurou
firme, com medo de cair. Marina tocava nas nuvens, que logo se dissolviam.
Estava tão animada com aquilo, que quase caiu:
- Pare de brincar e se segure! – disse Hana, nervosa e
tensa. – Você vai morrer se cair.
- Está bem, sua chata.
Era noite. Marina tentou pegar as estrelas em vão. O
kirin pousou no que parecia ser o começo de uma montanha. Apesar da iluminação
das estrelas, não dava para ver muita coisa:
- Perto daqui, há um vilarejo. Creio que será do agrado
de vocês.
- Iremos até lá amanhã. – concluiu Hana. – Agora vamos
jantar. Marina, colha os galhos daquelas árvores aqui perto para ele fazer
fogo.
- Tá bom.
- Como?! Vocês não vão me soltar?!
- Preciso confirmar se você não está mentindo.
- Sou um ser místico. Ao contrário de vocês, tenho
palavra.
- Veremos.
Marina trouxe os galhos e o kirin lançou suas chamas
sobre eles. As meninas comeram, não deixando de soltar a corda. Marina,
oferecendo parte da sua comida para o ser, perguntou:
- Qual é o seu nome?
- Minha espécie não se utiliza desse tipo de costume. Não
há necessidade.
- Então, você não tem um nome? Vou dar um para você.
- Olha, eu não que...
- Você se chamará Kirito. O que acha Hana?
- É um bom nome. Quer mais um pedaço de carne, Ki – ri –
to?
- Pare de me chamar assim!
Após o jantar, todos dormiram. E como havia dado a sua
palavra, Kirito não tentou escapar enquanto as irmãs dormiam. No dia seguinte,
o grupo foi em direção ao vilarejo:
- Como vamos passar pelo vilarejo com ele junto? –
perguntou Hana para si mesma. – Vai chamar muita atenção.
Mal havia se virado e viu que que no lugar da criatura
que parecia ser uma mistura de espécies, havia um belo rapaz de cabelos longos
e negros:
- Como?
- Realmente, vocês não sabem nada sobre minha espécie.
Isso é algo simples para nós.
- Legal! – disse Marina excitada. – Você pode me
transformar também?!
- Claro, posso te transformar em uma formiga se você
vier...
- Não! Nada de transformações.
- Chata.
Com Kirito como guia, as irmãs chegaram até a aldeia. Mas
ao contrário do que Hana havia pensado, ela era bem simples, e longe de ser um
paraíso. Na verdade, estava caindo aos pedaços:
- Que lugar é este? – perguntou Marina.
- Não me parece ser um lugar perfeito para se morar.
Parece até com a minha casa, só que no ar livre.
- Esse é o melhor local que eu posso levar vocês. Não
posso passar destes dois países.
- Espere, está me dizendo que estamos no país inimigo? –
cochichou Hana
- Sim.
Hana puxou os dois para fora do vilarejo, de volta para
perto da montanha:
- Como pode ter nos mandado para um território inimigo? E
como assim você só pode nos deixar nesses dois países?! O livro diz...
- Pare de acreditar em tudo em que um livro diz. O livro
não diz tudo sobre mim. Eu fui castigado pelos outros de minha espécie. –
respondeu Kirito, irritado.
- Por quê? – perguntou Marina curiosa.
- Não é da sua conta, menina irri...
Hana tirou a katana de suas costas e o encarou com um
olhar que dizia xinga a minha irmã para ver o que te acontece ou fala logo o
motivo senão eu corto sua garganta:
- Eu fui expulso de casa por não aceitar essas crenças.
- Que crenças? – perguntou Hana.
- De que devemos ajudar os humanos.
- E por que você discorda?
- Porque sua
espécie é ingrata. Quando a ajudamos a encontrar uma terra boa, o que ela faz?
Destrói o local e ainda briga com o vizinho por achar que a dele é melhor.
Vocês já até invadiram a nossa moradia sagrada e ainda assim temos que ajudar
vocês?
- Então, isso significa que nós somos do mal? – perguntou
Marina, em tom triste.
- Sim. E que a minha é idiota. Como me dói admitir isso.
Hana tirou a
katana de perto do pescoço do kirin e a guardou. Marina ficou olhando para o
chão sem dizer nenhuma palavra:
- Nos leve de volta. – disse Hana, áspera.
O kirin voltou a sua forma original e carregou as
meninas. Ninguém disse uma palavra durante a viagem. Chegaram na hora do
almoço. Fizeram uma fogueira para prepararem a comida. Depois de muito tempo
calada, o que era anormal para ela, Marina perguntou:
- Hana, por que estamos em guerra?
- Se não me engano, o país de Kiiro achou que parte das
nossas terras continha algo que poderia enriquecê-los. Então, nos atacaram para
nos tirar parte do território e estamos nisso até hoje.
- E o nosso pai? Acha que ele está bem?
- Não sei. – disse Hana com tristeza. – Espero que sim.
Hana se lembrava de como as pessoas falavam mal de seu
pai, por ser estrangeiro e não merecer estar entre eles. Ela própria sofreu com
isso por um tempo. Mas Marina é que se destacava nas cochichadas por ter o
cabelo loiro como o do pai. Ele foi lutar na guerra não apenas para proteger sua família, mas
também provar aos outros que considerava este país como seu lar. Mesmo assim,
as pessoas...
- Acha que conseguiremos acabar com a guerra para podermos
voltar a morar aqui em cima? – perguntou Marina
- Se nossos guerreiros poderosos estão lutando até agora,
você acha mesmo que duas garotas vão acabar com a guerra?
- Pode ser que sim. Me dá o livro.
Hana passou o livro para Marina, afastando a irmãzinha do
fogo para ela não acabar fazendo besteira. A menina ficou folheando por alguns
minutos até que parou em uma página. Leu por mais alguns minutos e mostrou para
Hana:
- Aqui.
Hana leu. Se tratava de um objeto mágico, criado por um
poderoso dragão chamado Mão Dourada do Oh. Tudo que
era tocado pela mão, era transformado instantaneamente em ouro. Por ser
considerado um objeto de cobiça e extremamente perigoso, foi escondido em uma
caverna da montanha Yama e guardado por um ser da neve desconhecido.
- Se dermos isso ao imperador de Kiiro, ele provavelmente
irá acabar com a guerra. Mas seremos consideradas traidoras pelo nosso país por
entregarmos isso sem lutar. Afinal, nosso povo é orgulhoso, que nem um certo
alguém aqui.
- Humpf. – Kirito virou sua cabeça irritado.
- Mas com isso, podemos pensar em um plano para derrotar
o imperador de Kiiro.
- Isso não seria cruel.
- Marina, ele é conhecido por cortar as cabeças de
empregados que colocaram pouco açúcar em seu chá. Você não escuta nada das
conversas da vovó com as suas amigas.
- Conversas de gente velha me dão sono.
- E elas falaram que ele tem mais de mil anos e só teve
uma esposa que desapareceu misteriosamente. Acho que tenho um plano. Mas
primeiro, precisamos da ajuda de nosso amigo aqui.
- E eu tenho alguma escolha? – disse o ser em tom
sarcástico.
- Não. A montanha Yama é um lugar muito frio e não
fazemos ideia do monstro que guarda o tesouro. Acho que os seus parentes de
mais experiência podem nos ajudar.
- Ficou maluca! Eles não vão deixar eu entrar em nossa
moradia sagrada.
- Mas você estará ajudando duas humanas, não é?
Hana olhou para Kirito com um sorriso de eu sou esperta.
Ele sorriu de volta da forma como um ser que é uma mistura de vários animais
poderia sorrir. Acabando de comer, eles partiram para a residência dos kirins. Ficava
nas nuvens, mas por algum motivo, lembrava muito a floresta em que as garotas
encontraram Kirito pela primeira vez, só que mais paradisíaca. Os kirins os
encaravam com maus olhares, mas era mais devido a presença de Kirito do que as
irmãs em si. Um deles se dirigiu ao trio. Era um dos maiores, só que era bem
mais pálido devido a sua idade:
- Você voltou, meu jovem. Se tivesse voltado sozinho,
teríamos te prendido. Mas você trouxe humanas para cá. Creio que mudou sua
opinião sobre ajudar esses seres mal orientados.
- Ser preso por uma corda mágica e ameaçado por uma
katana faz qualquer um mudar de opinião. – disse Kirito sarcástico.
- O que as trouxe aqui moças?
- Ele. – respondeu Marina, apontando para Kirito.
- Não foi isso que eu quis dizer, pequenina. Eu...
- Sou Hana. E esta é minha irmã Marina. Viemos pedir
ajuda para ir a montanha Yama e pegar a Mão Dourada do Oh.
- E para que a quer?
- Para acabar com a guerra. – respondeu Marina.
- Bom, pelo que eu ouvi, este objeto causou o mal de uma
família. Há muito tempo atrás, um poderoso dragão, cujo o nome não me recordo,
presenteou o imperador Oh, do país de Niwa, com uma réplica de sua mão, que
podia tornar qualquer coisa em ouro. Ele a usou com cuidado e evitando que ela
tocasse qualquer pessoa. Mas quando sentiu que seu poder o estava corrompendo,
jogou em uma caverna da montanha Yama. Falecendo por idade, ele deixou uma
filha que para continuar suas gerações, precisava se casar. Ela era apaixonada
pelo atual imperador de Kiiro, que também é muito bom na arte da feitiçaria.
- É por isso que ele vive até hoje?
- Ele transferiu sua alma para algum objeto. Por isso, seu
corpo não envelhece. Mas voltando a história, a princesa Yuki foi iludida pelo
seu charme, não sabendo o quão ganancioso ele era, e que também sabia do objeto
guardado pela família dela. Após a união dos dois, o imperador pediu para que
sua esposa o mostrasse os pertences da família, pois agora faziam parte da
mesma. Ela o levou até a caverna. E como ele não precisava mais dela, ele a
esfaqueou e a deixou na neve. Pegou a mão com cuidado e foi embora. Porém,
antes que ele pudesse sair da montanha, Yuki pediu ao seus ancestrais que,
antes de morrer, queria se vingar de seu antigo amor. Com isso, ela e a neve da
montanha se tornaram uma só entidade. Como não podia matá-lo, pois não teve
coragem, ela congelou parte dos seus pensamentos, fazendo-o se esquecer o
porquê de estar ali. Ela tomou a Mão de Oh e se tornou sua nova guardiã.
- E depois disso, o trono foi passado para o seu primo. –
completou Hana.
- Isso mesmo. O descongelamento de seu pensamento
demorou, mas agora ele se lembra e quer tomá-la de volta.
- E decidiu começar uma guerra envolvendo pessoas
inocentes por ganância.
- Exatamente.
Houve um silêncio por um tempo, até que o líder dos
kirins decidiu quebrar o gelo:
- Sou o maior e mais velho dos kirins...
- Isso eu já percebi. – falou Marina. Hana a cutucou com
o ombro para ela ficar quieta.
- E vejo em vocês um motivo nobre em seu objetivo...
- Vindo de uma pessoa que queria se mudar para um lugar
perfeito e deixar os outros morrerem. – disse Kirito em voz baixa. Hana o
cutucou com o ombro para ele ficar quieto.
- Por isso, decidi ajudar vocês. Me sigam.
Ele foi em frente, sendo seguido pelas irmãs até que
Kirito pergunta:
- E quanto a mim? Eu ajudei elas a chegarem aqui. Posso
retomar a minha casa?
- Pode. Mas seu castigo só será totalmente retirado
quando a missão delas acabar.
O assunto se deu por encerrado naquele dia. Quando viu a
katana de Hana, o grande kirin resolveu treiná-la, pois já havia viajado pelo
mundo e aprendido muita coisa, incluindo a arte de manusear uma katana. Marina
também quis aprender, e assim foi consentido o seu desejo. Só que ela não podia
usar uma katana de verdade e só ganharia, de acordo com a sábia criatura,
quando completasse treze anos. Se passou um mês, e Hana aprendeu as técnicas
com rapidez, pois já conhecia algumas delas devido ao seu avô. Assim como
Marina, ela treinou usando pedaços de madeira. Foi dito que devolveriam a
katana quando chegasse a hora, com uma pequena surpresa. Apesar de ser bem tratada
e o lugar ser paradisíaco, ela sentia um vazio no seu peito, que foi logo
transformado em palavras pela irmã enquanto estavam treinando:
- Sinto saudades da mamãe. E da vovó também.
- Aqui é muito bom. Mas depois de um tempo fica sem graça
sem as pessoas que a gente conhece. Foi assim que eu me senti quando o papai
saiu e não voltou.
Elas pararam de
treinar. O kirin chefe as chamou. As irmãs foram para o salão principal. Havia
muitos kirins reunidos, incluindo Kirito. Em uma mesa de pedra estava a katana.
O líder disse:
- Chegou o dia. Hana, venha pegar sua arma.
Hana se aproximou da mesa de pedra e pegou sua katana.
Chamas reluzentes saíram de sua lâmina. A jovem sentia o calor dela:
- Acrescentei um algo a mais nela. Acho que você vai
gostar.
Hana fez movimentos com sua nova velha katana. Ela
lançava chamas quando movimentada, acertando algumas paredes. Mas como o lugar
era mágico, logo que as chamas as tocavam, imediatamente desapareciam, sem
causar nenhum dano:
- Adorei. Só espero que ela cause dano de verdade.
- Em seus inimigos ela causará. Você... – disse ele se
referindo ao Kirito. – Mostre a ela seu casaco e a bolsa com os suprimentos
antes de levá-la a montanha Yama.
- Sim senhor.
- E eu? – perguntou Marina.
- Você fica aqui até eu voltar.
- Mas eu quero ir.
- Aqui é mais seguro. Você é só uma criança. Ainda não
pode lutar.
- Posso sim. Eu treinei com vocês. Só me falta uma
katana.
- Você não vai e ponto final!
- Você não é minha mãe. Não pode mandar em mim.
- Chega! – gritou o kirin chefe. – Leve a sua irmãzinha.
Ela poderá ser de grande ajuda em sua batalha.
- Legal!
- Aff...
Marina foi com a irmã e Kirito pegar as coisas e
partiram. A montanha fazia fronteira com a floresta, mas mesmo assim, o clima
quente e úmido dela não parecia afetar o frio congelante da poderosa Yama. Além
dos casacos, Hana e Marina também usavam capas, pois não estavam acostumadas
com esse tipo de frio. Kirito não usava nada, como sempre:
- Você não sente frio? – perguntou Marina
- Não muito. Sou um ser que cospe fogo e meu organismo é
muito quente. Ao contrário da sua espécie que é...
- Vai começar. Será que poderia parar de falar mal da
gente? – pediu Hana, já irritada.
- Não estou falando mal de vocês. Estou falando mal da
sua espécie. E além disso, sua irmã não chega a ser ruim como você, então ainda
há uma esperança.
- Eu mereço...
Com a ajuda do mapa do livro, o trio chegou à caverna sem
se perder. Como a caverna era escura, Marina e Kirito que estava na forma
humana naquele momento seguravam tochas. Hana ficava de olho em Marina para a
garota não derrubá-la, enquanto segurava sua katana flamejante com uma mão. Não
parecia haver nada nem ninguém ali dentro. Continuaram até o fundo, onde as
moças ouviram algo. Parecia um sussurro:
- Vocês ouviram isso? – perguntou Marina, assustada.
- Parece a voz de um homem. – continuou Hana.
- Eu não ouvi nada. Podemos continuar?
Então continuaram. A voz parecia mais próxima e, para
Hana, mais familiar:
- Não sabe o quanto eu senti saudades...
- Pai? – falou Hana, baixinho
Seguiram em frente. Chegaram a ver de longe um pedestal
dourado com algo protegido por um vidro. Outras vozes começaram a surgir:
- Minhas filhas. Não sabem o quanto eu procurei vocês. Me
deixaram preocupada.
- Mamãe? – disse Marina. – Mamãe!
- Pare! – gritou Kirito segurando o braço de Marina. –
Seja o que for que estejam ouvindo é uma armadilha.
As vozes pararam de repente:
- Você não nos engana! – gritou Hana. – Apareça!
Neve sendo levada por um vento surgiu do interior da
caverna. Seus flocos se juntaram e dois monstros de neve gigantes se
materializaram. Rugindo em fúria, eles atacaram o trio. Hana usou sua katana
para defender todos. Para ajudá-la, Kirito lançou uma bola de fogo em um dos
monstros. Mesmo eles se derretendo, eles logo recuperavam sua forma anterior.
Mais deles foram surgindo do vento que não parava. Enquanto os dois estavam
distraídos com os monstros, Marina viu um vulto. Ele era fantasmagórico e era
dele que vinha a ventania de gelo:
- Hana! Ali! – apontou Marina. – É dele que vem...
O fantasma jogou uma estaca de gelo na direção, que por
pouco não desviou. A forma dele ficou mais bem definida. Era uma mulher jovem,
cabelo grande e negro, usando um kimono branco como sua pele:
- É a Yuki! – gritou Marina.
Hana olhou rapidamente para a mulher. Quase que um monstro
acerta um golpe nela:
- Cuida dos monstros para mim. – disse Hana ao Kirito. –
Eu vou cuidar dela.
- Como?
Ela saiu da batalha, deixando Kirito com as aberrações de
neve:
- Que droga!
A mulher da neve não facilitou para Hana.
Quanto mais ela tentava se aproximar, mais vento e estacas de gelo Yuki
direcionava à Hana, deixando-a até mesmo com frio, apesar de bem agasalhada e em
posse de uma katana de fogo. Hana não conseguia mais avançar. Até que ela
sentiu algo tocar a sua mão.
Juntas,
Hana e Marina foram até Yuki, que só enfraqueceu com a proximidade da lâmina
flamejante e da tocha, que ainda tinha um pingo de chama sobre a madeira
queimada. Os monstros derreteram quando a mulher se pôs ao chão, enfraquecida e
suando:
-
Vocês não entendem. A Mão de Oh pode corromper qualquer pessoa à ganância.
Quase corrompeu meu pai e atraiu um homem que me usou para chegar até ela. –
disse a mulher fantasma, suando pelos olhos. - Agora como castigo, estou presa aqui,
protegendo este artefato indesejado, que sempre precisará ser vigiado. Meu ódio
por aquele homem só aumentou durante todos esses anos. Ele é o culpado por eu
estar aqui. Como queria me vingar.
Hana
e Marina olharam uma a outra, depois de Yuki acabar de falar. Havia pena em
seus olhos.
...
No palácio do imperador de Kiiro, chegam duas figuras
encapuzadas, montadas em um kirin, pedindo aos guardas uma audiência com o seu
soberano. Por terem visto a figura majestosa de um ser sagrado, eles avisaram
na hora. O imperador permitiu a entrada e mandou elas irem para o salão do
trono real. Lá, ele as esperou sentado no trono, segurando o seu cajado de
ouro. Ele então perguntou:
- O que as senhoritas trazem aqui em meu domínio vindas
em uma criatura tão magnífica? – disse ele em tom falso.
- Eu e minha irmã viemos do reino de Niwa propor a paz. –
disse a menorzinha.
- Bem, o seu povo possuía algo que é meu por direito. Só vou
parar minhas tropas até...
A garota maior e encapuzada tira algo de sua bolsa. Era
um objeto enrolado com panos de ouro. Os olhos do imperador se esbugalharam e
um sorriso sinistro surgiu em sua face:
- Ora, ora, se aproxime senhorita, para que eu possa
vê-la melhor.
Claro que o soberano de Kiiro estava falando do objeto. A
moça se aproximou enquanto o imperador havia se levantado de seu trono,
deixando o cajado e segurando um lenço grande, que ia usar para pegá-lo:
- Entregue-a para mim.
Quando se aproximou da moça, o lenço começou a congelar.
E também o seu corpo:
- Mas o quê?
- Surpreso, querido?
Sua esposa o congelara por completo. Antes que os guardas
pudessem reagir, ela correu para o trono e com seu poder de gelo, quebrou o
cajado. No lugar do imperador congelado, surgiu um líquido verde que logo
evaporou e desapareceu. Depois desse ocorrido, a guerra foi cessada. Hana, que
estava de guarda no lugar da princesa, entregou a verdadeira Mão aos kirins,
que teriam mais cuidado com ela. As irmãs se reencontraram e voltaram para
casa. Yuki nunca mais foi vista.
Que legal! Amei! Não consegui parar de ler até terminar. Mais uma vez, PARABÉNS!
ResponderExcluirValeu!!!
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