sexta-feira, 23 de junho de 2017

João e Maria

Dica: Antes de começar a leitura, leia, caso já não tenha lido, o conto Cachinhos de ouro que postei em fevereiro de 2017, para assim você entender melhor o final. Boa Leitura!





         Bem, todos os dias a gente ia para a floresta ajudar o nosso pai a trazer lenha para vender, enquanto a nossa madrasta cuidava da casa. Para a gente não se perder, nosso pai nos dava algo para marcar o caminho.
            - O que ele dava para a gente marcar variava. Um dia foi pedrinhas, outro foi sementes e...
            - Então nesse dia ele deu pão para a gente marcar e...
            - Vocês usaram o pão, mas algum bicho comeu e fez vocês se perderem.
            - Não, a gente comeu o pão. Estávamos quase sem comida em casa, não iríamos desperdiçar colocando no chão.
            - Eu peguei um graveto e pedi para João que o arrastasse para não nos perdermos.
            - Mas alguma coisa passou por ali e desfez nosso caminho.  
            - Então fomos andando e andando até que na manhã seguinte, encontramos uma casa feita de doces.
            - Como estávamos com muita fome, comemos parte dela.
         - Só que aí apareceu uma velha feia dizendo: Ah, vocês comeram a minha casa! Terão que trabalhar duro para repor.
           - Então, ela nos obrigou a fazer tarefas de casa. Não conseguimos fugir porque ela trancava tudo na hora de dormir. E...
            - Para falar a verdade, não queríamos fugir. Tinha comida à beça e muitos doces gostosos. Só que não percebemos algo: Ela sempre apertava os nossos braços. Ela dizia que era para ver se a gente estava ficando fortinho, mas na verdade...
            - Ela nos media para ver se a gente estava engordando. Quando viu que eu estava mais pesado, ela me colocou em uma jaula para me engordar mais e depois me comer.
            - E me obrigou a fazer a arrumação da casa toda sozinha, aquela bruxa! Mas eu, como sou inteligente, percebi que ela não enxergava bem, e na hora de ela apertar o braço do João, eu entregava um osso de galinha, e enganava ela.
            - A gente tentou planejar algo falando nossa língua secreta, que só nós que somos gêmeos sabemos falar.
            - Sim, mas isso não é importante, João. Teve um momento que a velha suspeitou da nossa trama e parou de dar coisa com osso para a gente comer e mediu o braço do João. Ela se sentiu satisfeita e ligou o forno.
            - Foi então que eu, que havia comido bastante e estava forte, quebrei a jaula e joguei a bruxa no forno.
           - Que mentira! Você não conseguia se mexer do lugar de quão gordo você está. Fui eu que tirei a chave dela e a empurrei no forno.
            - Prefiro a minha versão.
          - Então, vocês a mataram por defesa, e nada disso teria acontecido se seu pai e sua madrasta tivessem tomado conta de vocês e não os abandonassem na floresta?
            - Espera aí!
            - Eles fizeram de propósito?
           - Senhor Joaquim, você tira a lenha da floresta desde muitos anos, e parece conhecê-la tão bem quanto sua própria casa. E é claro, sabe que os animais comem de tudo por lá. Deixar as crianças marcarem o caminho com o pão não é algo muito esperto para alguém que tem esse conhecimento. E ainda mais para quem estava quase sem comida em casa. Admitam! Você e sua esposa queriam se livrar das crianças para não ter que alimentá-las mais.
            - Eu não queria, eu juro! Amo os meus filhos. Foi essa megera que insistiu para que eu fizesse isso. Eu tentava dar outros meios para resolver o problema, mas não. Temos que nos livrar das crianças, se não morreremos de fome.
            - Agora você vai jogar a culpa em mim?!
          - Eu estava bem, tentando superar a morte da minha esposa e cuidando dos meus filhos até você aparecer e me seduzir, casar comigo e convencer a deixar meus filhos na floresta na primeira falta de leite. E mesmo após o nosso casamento, você nunca me apresentou a sua mãe. Eu ouvi pelas bandas que ela ainda estava viva.
            - Você não ia se dar bem com ela. Ela era excêntrica.
         - Era? O que aconteceu com sua mãe, senhora Lídia? Por acaso ela caiu no fogão e morreu queimada?
            - Como?
        - Sabe, eu investigava um sumiço de crianças que se perdiam no meio da floresta. E pelo catálogo do seu nome, vi que a senhora já se separou muitas vezes.
            - E o que isso tem a ver?
            - Tem a ver que todos os seus ex-marido moravam em cidades que contornavam a floresta. E todos eles tinham crianças do casamento anterior. O que a senhora tem a dizer sobre isso?
          - Está certo! – disse Lídia, começando a chorar. – Minha mãe era uma bruxa devoradora de crianças. Eu atraía as crianças para ela. Até que essas crianças a mataram! Minha pobre mãezinha...
          - Aff, cada caso que eu tenho que resolver. Primeiro a garotinha cleptomaníaca na casa dos Ursos, agora isso?! 

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