Dica:
Antes de começar a leitura, leia, caso já não tenha lido, o conto Cachinhos de ouro que postei em
fevereiro de 2017, para assim você entender melhor o final. Boa Leitura!
Bem, todos os dias a
gente ia para a floresta ajudar o nosso pai a trazer lenha para vender,
enquanto a nossa madrasta cuidava da casa. Para a gente não se perder, nosso
pai nos dava algo para marcar o caminho.
- O que ele dava para a gente marcar variava. Um dia foi
pedrinhas, outro foi sementes e...
- Então nesse dia ele deu pão para a gente marcar e...
- Vocês usaram o pão, mas algum bicho comeu e fez vocês
se perderem.
- Não, a gente comeu o pão. Estávamos quase sem comida em
casa, não iríamos desperdiçar colocando no chão.
- Eu peguei um graveto e pedi para João que o arrastasse
para não nos perdermos.
- Mas alguma coisa passou por ali e desfez nosso caminho.
- Então fomos andando e andando até que na manhã seguinte,
encontramos uma casa feita de doces.
- Como estávamos com muita fome, comemos parte dela.
- Só que aí apareceu uma velha feia dizendo: Ah, vocês
comeram a minha casa! Terão que trabalhar duro para repor.
- Então, ela nos obrigou a fazer tarefas de casa. Não conseguimos
fugir porque ela trancava tudo na hora de dormir. E...
- Para falar a verdade, não queríamos fugir. Tinha comida
à beça e muitos doces gostosos. Só que não percebemos algo: Ela sempre apertava
os nossos braços. Ela dizia que era para ver se a gente estava ficando
fortinho, mas na verdade...
- Ela nos media para ver se a gente estava engordando.
Quando viu que eu estava mais pesado, ela me colocou em uma jaula para me
engordar mais e depois me comer.
- E me obrigou a fazer a arrumação da casa toda sozinha,
aquela bruxa! Mas eu, como sou inteligente, percebi que ela não enxergava bem,
e na hora de ela apertar o braço do João, eu entregava um osso de galinha, e
enganava ela.
- A gente tentou planejar algo falando nossa língua
secreta, que só nós que somos gêmeos sabemos falar.
- Sim, mas isso não é importante, João. Teve um momento
que a velha suspeitou da nossa trama e parou de dar coisa com osso para a gente
comer e mediu o braço do João. Ela se sentiu satisfeita e ligou o forno.
- Foi então que eu, que havia comido bastante e estava
forte, quebrei a jaula e joguei a bruxa no forno.
- Que mentira! Você não conseguia se mexer do lugar de
quão gordo você está. Fui eu que tirei a chave dela e a empurrei no forno.
- Prefiro a minha versão.
- Então, vocês a mataram por defesa, e nada disso teria
acontecido se seu pai e sua madrasta tivessem tomado conta de vocês e não os
abandonassem na floresta?
- Espera aí!
- Eles fizeram de propósito?
- Senhor Joaquim, você tira a lenha da floresta desde muitos
anos, e parece conhecê-la tão bem quanto sua própria casa. E é claro, sabe que
os animais comem de tudo por lá. Deixar as crianças marcarem o caminho com o
pão não é algo muito esperto para alguém que tem esse conhecimento. E ainda
mais para quem estava quase sem comida em casa. Admitam! Você e sua esposa
queriam se livrar das crianças para não ter que alimentá-las mais.
- Eu não queria, eu juro! Amo os meus filhos. Foi essa
megera que insistiu para que eu fizesse isso. Eu tentava dar outros meios para
resolver o problema, mas não. Temos que nos livrar das crianças, se não
morreremos de fome.
- Agora você vai jogar a culpa em mim?!
- Eu estava bem, tentando superar a morte da minha esposa
e cuidando dos meus filhos até você aparecer e me seduzir, casar comigo e
convencer a deixar meus filhos na floresta na primeira falta de leite. E mesmo
após o nosso casamento, você nunca me apresentou a sua mãe. Eu ouvi pelas
bandas que ela ainda estava viva.
- Você não ia se dar bem com ela. Ela era excêntrica.
- Era? O que aconteceu com sua mãe, senhora Lídia? Por
acaso ela caiu no fogão e morreu queimada?
- Como?
- Sabe, eu investigava um sumiço de crianças que se
perdiam no meio da floresta. E pelo catálogo do seu nome, vi que a senhora já
se separou muitas vezes.
- E o que isso tem a ver?
- Tem a ver que todos os seus ex-marido moravam em
cidades que contornavam a floresta. E todos eles tinham crianças do casamento
anterior. O que a senhora tem a dizer sobre isso?
- Está certo! – disse Lídia, começando a chorar. – Minha
mãe era uma bruxa devoradora de crianças. Eu atraía as crianças para ela. Até
que essas crianças a mataram! Minha pobre mãezinha...
- Aff, cada caso que eu tenho que resolver. Primeiro a
garotinha cleptomaníaca na casa dos Ursos, agora isso?!
Adorei!
ResponderExcluirUAU!!! QUE DESFECHO!
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