Parte
2
O lugar
parecia um pouco com o interior de sua casa, só que menor e com mais objetos
cor de metal. Tudo por aqui é cinza. Será
que eles não enxergam cores? O ser a moveu para se sentar no sofá enquanto
ele foi para a cozinha:
-
Vai querer o de sempre?
-
O que é o de sempre?
-
Batatas fritas com ketchup.
-
Nunca ouvi falar. Mas vou querer.
Lana
se levantou para olhar o ser com curiosidade. Ele aumentou as pernas de tamanho
de um modo que Lana nunca havia visto para pegar uma panela em um armário alto,
depois ficou no tamanho mais próximo do dela. Bruxaria! Tenho que sair daqui! Mas ela estava curiosa demais para
tentar. Então, encheu de algo que parecia óleo e colocou em algo que lembrava
uma lareira com quatro pequenas bocas. Pegou uma tábua e uma faca em outro
armário e batatas na geladeira e as descascou em uma velocidade que nem o
melhor cozinheiro de sua cidade era capaz de fazer. Cortou-as depois bem
fininhas e colocou-as em uma bacia de água. Esperou um tempo para depois
tirá-las para secar. Ligou o fogo e o óleo começou a ferver. Borbulhando
bastante, colocou as batatas. A porta principal se abriu:
-
Cheguei, Bot. Me prepara um...
Lana
viu o que parecia ser um reflexo dela, usando roupas acinzentadas, pequenos
brincos e óculos. Ou pelo menos, pareciam óculos:
-
Clone! Me clonaram! Mas eu estava trabalhando tão bem. Meu chefe até me elogiou...
-
Um changeling*?! O que está acontecendo?! Eu vou para minha casa!
Lana
já ia passando pela porta, mas foi segura pela outra Lana:
-
Não não. Você fica aqui até me explicar o que está acontecendo.
-
Mestre Lana, suas batatas estão prontas.
Bot
olhou para uma e depois para outra segurando um prato de batatas com ketchup.
Começou a tremer:
-
Estou confuso.
A
outra Lana tirou o prato da mão dele e colocou na mesa. E então puxou Lana para
se sentar no sofá enquanto ela se sentava na cadeira:
-
De onde você veio?
-
Da cidade de Ouro Branco.
-
Nunca ouvi falar. Quem te mandou pra cá?
-
Ele me obrigou a vir para cá. – respondeu Lana, apontando para Bot, que ainda
estava tremendo. – Ele deve ter me confundido com você. Você também se chama
Lana?
-
Sim. Mas o que eu quis dizer é se você veio para esta cidade a mando de alguém.
-
Não. Eu escalei a Caelesti para ver se pegava a pena de uma fênix e...
-
Você está me dizendo que escalou a gigantus caelesti até o final?!
-
Sim, e demorei dias para chegar até aqui. Parecia que eu tinha dado a volta e
retornado ao mesmo ponto. Mas acho que me enganei. Aqui não é Ouro Branco.
-
Mas então isso significa que... Você veio do planeta Diana até aqui?
-
Como?
-
Você é uma nativa de lá... Só conseguimos tirar algumas fotos com nossas
máquinas. Mas nunca conversamos com um nativo. Como você fala minha língua?
-
Falando.
-
Isso é uma pergunta séria.
-
Desde que me conheço por gente. Todos do meu país falam.
-
Como é que a nossa gravidade funciona pra você? Estávamos estudando para ver se
funcionaria se a gente fosse para o seu planeta.
-
Gravi o quê? O que é isso? O que é um planeta?
-
Isso é uma coisa difícil de se explicar. É como se a gente morasse em uma bola
gigante. Mas no nosso caso, são duas bolas gigantes, que por algum motivo
inexplicável, ficam juntas, uma em cima da outra, sem se colidirem, E unidas
pela gigantus caelesti, uma espécie única, que não foi encontrada em nenhum
lugar por aqui. A bola que a gente está se chama Apollo e a sua se chama Diana.
-
Então, estamos dentro de uma bola gigante?
-
Sim.
-
E eu estava em outra bola?
-
Exatamente.
-
Isso não faz sentido nenhum. Onde eu vivo é um terreno bem plano.
-
O assunto está ficando complicado demais. Não era nem para eu falar com você,
pois isso poderia influenciar a sua cultura. Tenho que dar um jeito de te levar
de volta.
-
Mas eu quero aprender mais sobre esse lugar. Imagina quanto as pessoas da
cidade de Viridi iriam se impressionar por saber que existe outro mundo.
-
Não precisa se preocupar com isso senhorita. – disse Bot. – Daqui há algumas
semanas, um vulcão vai entrar em erupção e acabar com todos que vivem lá.
-
Como!?
-
Bot! Isso era confidencial! – sussurrou a outra Lana para ele, zangada.
-
Um vulcão vai eclodir? Falam do Igneus? Mas ele está adormecido há séculos. E
como vocês podem saber uma coisa dessas?
Bot
e a outra Lana olharam para ela. Viram que ela esperava uma resposta e que não
sairia dali sem uma. Então, a moça esquisita respondeu, contra a sua vontade:
-
Como eu disse antes, nós vigiamos o seu planeta para conhecê-lo, usando
máquinas como o Bot aqui. Algumas podem medir tremores e alterações
meteorológicas. As que chamamos de aves rubras são algumas delas.
Bot
foi até um armário e pegou algo que parecia ser do mesmo material que ele, só
que vermelho brilhante, parecida com a suposta fênix que Lana estava
procurando. Lana ficou chocada:
-
Então, vocês tinham todo esse conhecimento e não fizeram nada para nos ajudar?!
-
A lei proíbe que nos entremos em contato com nativos. Isso poderia causar uma
mudança em sua cultura e não seria mais interessante para as pessoas daqui
estudarem. Eu sou uma dessas estudantes.
-
Vocês não se importam se alguém da minha gente morre ou não, não é mesmo?
-
Bem... Não é que...
Lana
abriu sua bolsa enquanto a outra Lana se enrolava com uma explicação, e nela
pegou saquinho:
-
Você vai ajudar a salvar minha casa, querendo ou não.
-
Como?
Lana
abriu o saquinho e jogou o pó em sua similar. Ela desmaiou no sofá.
*Ser capaz de tomar a
forma de um ser humano. Normalmente eram trocados por bebês para serem cuidados
pelos pais.
Estou ansiosa pela continuação.
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