Parte
7
Era um bicho escamoso, de mais ou menos uns vinte metros.
Apesar de ter um corpo de serpente, seu rosto possuía um bico de papagaio. Mas
não deixava de ser assustador, pois ainda havia presas enormes em sua boca e
uma língua grande e bifurcada, vermelha como o sangue e as penas de seu rosto.
Além de fazer um som estridente e aterrorizante. Foi isso que Alana viu através
da câmera da ave rubra, enquanto tentava esquivá-la de sua bocarra com o
controle. Conseguiu aterrissar perto de si e não vendo mais perigo, o Mboi Tu’i
voltou para o fundo da lagoa:
- Eu não acredito!
- Então, você finalmente acredita que existe um guardião
na lagoa? – perguntou Lana.
- Não, claro que não. Eu não acredito que eu vi um elo
perdido. Um réptil que possui penas e bico. Igualzinho aos dinossauros. Esse
mundo é realmente muito interessante.
- Aff...
- Então, já vimos que ele é um ser enorme e perigoso. O
que vocês pretendem fazer? Lutar corpo a corpo?
- Claro que não! – disse Rosemary. – Somos do tipo que
andamos nas sombras.
- Não querendo ofender, mas não acredito que alguém que
ande com um unicórnio seja bom em ser esconder.
- Não duvide de mim. Tenho habilidades muito boas que só
não te mostrarei agora porque não há necessidade.
- Bom, de acordo com as histórias que contam, a única
coisa que o Mboi Tu’i deixou passar pela lagoa foi uma estrela que caiu e que
ilumina o meio do lago até hoje.
- Dá para ver que tem uma iluminação lá no meio de dia e
de noite fica mais iluminada.
- Deve ter alguma explicação lógica para isso. Eu só não
sei qual. Bot, me mostre a gravação agora a pouco.
As imagens gravadas pela ave de metal foram mostradas
novamente. Primeiro a lagoa calma, depois algo se mexendo na água e perto do
centro iluminado, algo parecido com uma flor amarela. Alana pausou o vídeo:
- Vocês estão vendo isso?
- Parece uma flor. – disse Lana. – Nunca tinha notado
isso. Mesmo tendo visitado esse lugar várias vezes. Só prestava atenção na luz
que vinha debaixo d’agua.
- Tenho que admitir que apesar de parecer chato, a sua
casa tem coisas muito úteis. – comentou Rosemary, se referindo a Bot e a ave
rubra.
- Vocês sabem se esse bicho tem algum apego àquela flor?
- Bem, ele protege a lagoa de qualquer ser que ouse
passar. Mas como eu disse antes, ele não fez nada quando a estrela caiu nela.
Pelo que me contaram, a estrela foi um meio de transporte usado pela deusa
Flos, uma das deusas encarregadas das flores da primavera, para chegar a lagoa
e morar com Lacus. Toda a primavera, a lagoa se enche dessas flores aquáticas.
- Mas isso só acontece na primavera. – continuou
Rosemary. – E não está na época de elas surgirem. Será que aquela ali é
permanente.
- Então, de acordo com o que vocês estão dizendo, ele
deixou essa Flos entrar na lagoa. E ainda deixa ela cultivar flores na
primavera. Isso parece meio bobo, mas será que ele não gosta do cheiro das
flores?
Lana e Rosemary olharam uma para a outra. Nunca que
cogitariam essa possibilidade. Por mais boba que fosse, não custava tentar:
- Rosemary, vá procurar por flores bem cheirosas enquanto
eu preparo o pó do sono.
- Já vou indo.
Rosemary desapareceu floresta a dentro. Lana pegou uma
pequena tigela de madeira com um pilão e um tipo esquisito de semente com uma
coloração azulada que Alana nunca havia visto. Colou a semente na tigela e foi
batendo com o pilão até virar pó. Alana se aproximou com curiosidade:
- Não chegue muito perto. Uma cheirada e você dorme o dia
inteiro.
Demorou uns quinze minutos até Rosemary chegar com uma
flor grande e roxa na boca. Ela deu a flor para Lana e começou a falar:
- Não sabe como foi difícil achar essa flor. Estamos no
verão. Não é a época do ano que sai muita flor.
- Sim. Valeu pelo esforço. Se tudo der certo, farei
questão de contar a Alcateia.
- Mal posso esperar pela recompensa.
- Pode me emprestar sua ave?
- Eu tenho escolha?
Alana entregou a ave rubra para a moça, que parecia o
reflexo de si, só que mais determinada. Lana prendeu a respiração e colocou o
pó da semente na flor. Depois, pegou uma fita e amarrou a planta bem amarrada
na pata da falsa fênix. Olhou para Alana. Não precisou dizer nada que a outra
Lana pegou o controle conectado a Bot e fez o pássaro voar até o meio da lagoa.
Não demorou muito para o Mboi Tu’i aparecer e Alana ter que desviar a ave para
esta não se molhar. O guardião ia atacar, mas logo parou ao avistar a flor
roxa. Ele a olhou calmamente, chegando mais perto. Mal o seu bico encostou nela
e ele ficou zonzo. Não demorou muito para ele fechar os olhos espalhar água
para todos os lados. Até mesmo dormindo
ele era assustador. Foi o que Alana digitou depois de pousar a ave rubra em
segurança.
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