Depois de muito tempo
analisando livros de autores gringos, decidi finalmente pegar um autor
brasileiro. Pelo que diz na minibiografia do livro, Renan Cardozo é graduado em
Engenharia Mecânica pela Universidade Estadual de Santa Catarina. Ele é
descendente de italianos que imigraram para o litoral catarinense e usou essa
sua vivência histórica e geográfica do local que foi criado como inspiração
para os seus contos.
O
livro é bem fino, não contendo sumário nem ilustrações e apenas seis contos,
variando de tamanho cada um. Achei que trinta reais fossem caro para comprar um
livro de aparência tão simples. Vou analisar o conteúdo de cada conto um por um
a partir de agora.
Das profundezas – Um filho conta o
que encontrou no relatório de seu falecido pai, que havia ido para o sul de
Santa Catarina como consultor para resolver o problema que uma mina havia
causado no comportamento dos animais da região, o que levou à morte de uma
menina. Pequeno e simples, mas efetivo no quesito de mistério e terror. Eu
diria que é uma mistura dos contos de H.P. Lovecraft,
que no próprio livro diz que o autor se inspirou, e Allan Poe, que tem vários
contos com finais abertos e mistérios não resolvidos.
Carta para Sara – Um amigo de Thiago
envia uma carta a mulher dele, Sara, dando os pêsames e explicando o que
aconteceu em seu tratamento. Esse conto mistura cartas com relatórios médicos e
em um caso, áudio gravado. Essas três coisas sozinhas já podem dar uma história
de terror. O final é surpreendente.
Fragata – Em uma cidade pesqueira
perto de um farol, se encontra uma carcaça antiga de uma embarcação espanhola,
e dentro dela acharam uma pedra misteriosa. Mal a encontraram e ela já foi
roubada do hotel onde os pesquisadores estavam hospedados. Na mesma semana,
ocorre a morte de uma bióloga por uma criatura misteriosa vinda da água. Então,
o narrador personagem, com o conhecimento de fauna é chamado para investigar.
Os relatos acima parecem não se relacionar e se espera que esse conto te dê uma
resposta, mas não é o que acontece. A partir daí, só há mais mistérios sem
solução. Típico de um suspense com terror, mas é isso que atrai aqueles que
gostam desse gênero.
Observatório – Uma pessoa envia
uma carta para seu amigo, contando que ao se mudar, encontrou uma caixa com um
diário, relatando algo esquisito. Mistura, como diz no resumo, carta pessoal e
diário. Provavelmente é intencional do autor que nesse conto e no anterior,
existe menção do ser Mboi Tu’i antes do que tem o seu nome como título. Só que
ao contrário de Fragata, que o
narrador apenas a menciona rapidamente, aqui é dito um pouco mais do ser. E
novamente, acaba com um final sem quase nenhuma resposta.
Natalia – O narrador personagem descreve a casa de
Natalia em detalhes, falando com ela como se ainda estivesse viva. O menor dos
contos, contendo apenas duas páginas. Nada de sobrenatural, eu diria que estava
mais para o gênero policial. Final interessante.
Mboi Tu’i vive – Outro narrador
personagem é chamado pelos avós para ver relatos de seu tataravô, que
investigava sobre um sujeito chamado Jonas Barros e sua possível relação com um
ritual indígena. O maior de todos os contos, se dividindo em quatro partes. Admito
que não sei se este texto pode ser considerado ou não um conto por ser dividido
em partes, e não em um único bloco. Esperava por ler este conto exatamente pelo
ser da mitologia guarani, Mboi Tu’i. Encontrei este livro por causa dele,
quando estava procurando algo que fosse da “mitologia brasileira”, que não
fosse Saci, Curupira e outros seres bastante conhecidos em nosso folclore, por
achar eles demasiado infantilizados, para ter inspiração. A aparência de Mboi Tu’i é um pouco diferente
de como eu vi descrita na internet. Aqui ele tem olhos amarelos e cabeça de
águia e na internet ele tem bico de papagaio e língua bifurcada e, apesar de
ser assim, ele é considerado protetor dos pântanos, e não um ser maligno. Mas
as duas mantiveram o corpo de serpente. Acho que ele fez essa mudança porque
vamos admitir, uma serpente com cara de papagaio não é assustadora e dá até
vontade de rir. Com exceção de algumas ilustrações, foram poucas que não me
deram essa sensação. Voltando para o conto, ele me revelou uma coisa: que
praticamente todos os contos, se não todos, estão relacionados entre si. Heinz
Mueller, autor de um livro que aparece no conto Observatório aparece como pesquisador naturalista neste e, algo que
só percebi lendo este conto foi que a família que aparece em Carta para Sara tem esse mesmo
sobrenome. A pedra negra misteriosa que aparece aqui tem a possibilidade (quase
certeza) de ser a mesma ou do mesmo tipo que aparece em Fragata e Observatório.
Ele também tem relação com Natalia e,
possivelmente Das profundezas.
Adorei o que o autor fez de relacionar os contos entre
si. É uma coisa que eu também gosto de fazer, pois assim eles poderão ser lidos
como entidades separadas, mas se lidos juntos e, no caso desse livro, em ordem,
nos entrega uma história mais completa. Recomendo àqueles que gostem de
suspense e terror, ao estilo dos autores Allan Poe e H.P. Lovecraft. Aproveitem,
pois Mboi Tu’i ainda vive.
OBSERVAÇÃO: Fiz a leitura
desse livro após ter escrito Apollo e
Diana: O encontro, então nada de comparações entre o meu Mboi Tu’i e o de
Renan Cardozo.
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