sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Apollo e Diana: O encontro parte 8

            Parte 8

            Lana pegou um barco em miniatura de sua bolsa e colocou próximo a água:
            - Deixa eu adivinhar. – disse Alana para ela em tom sarcástico. – Você vai usar um pó mágico para aumentar esse barco de tamanho?
            - Como você sabe?
            - Ou a magia desse mundo está me contaminando ou você que está se tornando previsível.
            - Acredito que seja pela mestre estar se acostumando com esse mundo.
            - Bot, você está aprendendo alguma coisa aqui?
            - Tanto como você, mestre.
            - Que bom. Daqui a pouco eu te ensino o significado de sarcasmo.
            - Eu já sei o significado disso. Só preciso aprender quando é usado.
            Então, Lana fez exatamente o que Alana havia dito. Pegou um potinho com um pó verde escuro e jogou no barco, aumentando de tamanho. Ela entrou no barco e chamou o resto do grupo. Rosemary foi a segunda a entrar. A cena fez Alana esconder o riso. Lana fez sinal para ela e Bot também subirem. Mas o barco não parecia que ia aguentar, pois o lado de Rosemary estava quase afundando:
            - Tem certeza que o barco vai aguentar todo mundo? – perguntou Alana. – Acho melhor eu ficar aqui com o Bot. Ele não pode se molhar muito.
            - Ele aguenta sim. É só você e Bot sentarem do meu lado que fica tudo equilibrado.
            - Vocês são muito fraquinhos. Precisam engordar mais.
            Alana foi receosa para o barco. Carregava Bot no colo e evitando o máximo possível que ele não encostasse na água. Para a sorte dele e de seu robô, o que Lana disse aconteceu. Logo que sentaram, o barco se equilibrou. Lana passou dois remos para Alana:
            - Você vai me ajudar a remar até a flor.
            - O certo não seria uma pessoa de cada lado remar? E além disso, não sei como se faz isso.
            - Se não percebeu ainda, eu não tenho essas minhocas nas patas. E como é que você pode não saber remar? Todos os humanos sabem.
            - Ela não é daqui, Rosemary. Esqueceu?
            - Eu posso ajudar. Sou programado para fazer várias tarefas.
            - Então tá. Vamos começar, pequenino.
            Para a surpresa de Lana, Bot não só remava bem, mas remava em uma velocidade alta. Não demorou nem cinco minutos para o grupo chegar até o meio da lagoa. E no meio dela, havia uma folha grande, similar àquelas que os sapos pulam. E em cima dela, uma flor grande e amarela. Sua forma lembrava o de uma estrela, o que Alana pressupôs que foi dela que veio o nome de Lagoa da Estrela Caída, e assim, o povo inventou aquela história:
            - O que planeja fazer agora?
            - Parece que eu não sou tão previsível assim, não é? Para se comunicar com um deus, precisa de uma oferenda de acordo com o que você deseja pedir. Você nunca fez isso?
            - Deuses não existem onde eu vivo. Pelo menos, nunca foi comprovado que existiam. Aposto como isso não vai dar em nada.
            Lana pegou um saco escrito “Aguapé” na bolsa. Alana estava impressionada com o quanto de coisa cabia naquela bolsa. Era esse saquinho que fazia parte do “equipamento adequado” que Lana havia comprado de dona Edir, junto com o barquinho e o pó para aumentá-lo. A semente do sono era da própria Lana. Alana estava curiosa para ver o que tinha no saco. Como se adivinhasse os seus pensamentos e por também ter curiosidade, Lana abriu o saco. Eram várias sementes:
            - Sementes? Vai oferecer sementes para a deusa?! Não sou especialista nisso, mas não acho que ela atenderia um pedido como salvar uma cidade em troca de sementes. Isso se ela realmente existir.
            - Também acho esquisito. Mas dona Edir conhece bem o que os deuses gostam, então eu confio nela.
            - Eu não. – disse Rosemary. – Já falei para você que desde que era pequena, essa mulher já havia metido muitas pessoas em enrascadas com as vendas que fazia. Mas você não me escuta.
            - Se não der certo, tentaremos outro jeito. Vamos logo com isso.
            Ela experimentou ver se a folha aguentava o peso do saco. Quando viu que sim, deixou o saco em cima da folha e disse:
            - Grande Deusa Lacus. Eu lhe ofereço este tributo como presente a vossa senhoria. Por favor, me ajude com o meu apelo.
            Passaram-se dez minutos e nada aconteceu. O grupo ficava se olhando e olhando a paisagem até que Alana quebrou o gelo:
            - Olha, parece que a sua deusa não vai aparecer ou como eu disse antes, ela não existe!
            - Será que eu não fui educada o bastante na hora que eu falei?
            - Eu acho que você foi bastante educada, Lana. Ela não quer aparecer pois deve se achar. Até seres especiais como eu aparecem para os humanos, então por que ela, que é cultuada, não aparece? Que metida!
            - Quer saber de uma coisa? Não vou deixar que minha vinda aqui tenha sido à toa. Tem um espécime de flor bem interessante aqui na nossa frente, e ter uma amostra dele, não seria nada mal. Bot, pegue uma pétala dessa flor, por favor.
             Antes que as outras duas pudessem dizer alguma coisa, Bot largou os remos no barco e esticou o seu braço para a flor de estrela. Mal encostou e a lagoa se mexeu, quase os derrubando do barco. Isso fez as moças molharem toda a parte de cima. Bot quase não se molhou porque Alana foi rápida na hora de desviá-lo. Algo surgiu entre eles e a flor amarela. Parecia ser uma mulher enorme, mas era toda feita da água da lagoa. Como o seu corpo era transparente, dava para ver que atrás dela, algo saiu de dentro da flor. Parecia ser uma mulher verde, do tamanho da palma de uma pessoa. As duas figuras encararam o grupo, antes da grande dizer:
            - Quem encostou na Flor Estrela?!
            - Desculpe a ousadia de meus “amigos”, minha deusa. – disse Lana, dando uma olhada rápida para Alana e Bot, que parecia dizer Olha a confusão que vocês causaram! – Mas a gente precisa de um pedido urgente para a senhora.
            - Sim. – continuou Rosemary. – Trouxemos até sementes como presente.
            Houve um silêncio. Lacus e Flos olhavam o estranho grupo. Irmãs gêmeas, um esquisito anão prateado e um unicórnio todos sentados em um barco, que não eram nem dos melhores. Elas deram um sorrisinho, como se quisesse evitar de cair na gargalhada. Aproveitando esta oportunidade, Alana cochichou para Bot tirar foto dos dois seres e salvar em seus arquivos. Flos mexeu para o saco de sementes em cima da folha aquática antes de tomar a palavra:
            - Poderei usar essas sementes de aguapé nas próximas primaveras. Estava ansiosa para mudar a aparência da lagoa. Muito obrigada.
            - O que vocês vieram pedir?
            - Bem, minhas deusas, viemos pedir ajuda para impedir um novo ataque do deus Igneus a nossa cidade.
            - E como vocês podem saber que ele irá atacar? Nem nós temos o poder de prever o futuro. Tiveram alguém para espiá-lo?
            - Não. A senhora pode não acreditar, mas esses dois aqui do meu lado vieram do mundo lá de cima.
            - Das nuvens?
            - Não, mais em cima das nuvens. Eu escalei a Caelesti até o final e vi que ela dava em lugar além das nuvens. Um lugar bem parecido com esse, só que ao mesmo tempo diferente. Com seres parecidos com esse. – disse Lana, apontando para Bot. – E por algum motivo, essa moça tem a mesma aparência que eu. E foram eles que previram o ataque.
            - E como fizeram isso?
           - Bem, não foi exatamente nós que fizemos isso, mas alguém que trabalha na minha faculdade. Essa pessoa nos mostrou como analisar os tremores de sua terra com algumas máquinas e viu que havia vários tremores perto do antigo vulcão. E parecem aumentar a cada dia, não só os tremores, mas também a área. Daqui a duas semanas, os tremores devem chegar aqui, e depois o vulcão entrará em erupção. Ou pelo menos, é o que achamos. É muito raro de elas se enganarem.
            Lacus a olhou em silêncio por um momento. Se virou para Flos e perguntou:
            - Você acredita nessa mortal?
           - Acho que alguém que venha até aqui e enfrente o Mboi Tu’i só para falar com a gente, e ainda por cima dar sementes para enfeitar o nosso lar, é alguém que podemos dar nosso voto de confiança.
            - Também acho possível acontecer o que ela disse. Estamos na época mais quente do ano, em que eu e os outros deuses aquáticos estamos fracos. Nossa batalha foi a séculos atrás, então ele já deve estar recuperando as suas forças. Um plano bem esperto. Principalmente vindo dele.
            - É, eu achava que ele fosse muito cabeça quente para pensar em um plano bom.
            As duas deram risadas. Por um momento, pareceram até humanas, e não entidades veneradas. Quando pararam, Lacus se voltou para o quarteto:
            - Bom, vejo que vocês estão com um unicórnio. Quantos anos você tem?
            - Cem.
            - É muito jovem. Mas me diga, você domina o poder da cura?
            - Claro, já curei minha companheira muitas vezes nas enrascadas que ela se metia.
            - Rosemary...
            - Você sabe qual é um dos elementos mais usados para a cura?
            - Magia?
            - Não querida, tente de novo. É uma fonte essencial da vida.
            Lacus fez miniondas na lagoa para dar a pista final:
            - Água?
            - Isso. Se os unicórnios têm o poder da cura, eles podem naturalmente ter um certo controle sobre a água. Mas é claro, que eles demoram anos para aperfeiçoar. E você ainda é muito jovem para tal ato. Não tem nenhum unicórnio mais velho por essas redondezas?
            - Por aqui eu só conheço ela. – respondeu Lana. – Os outros estão espalhados por cidades mais distantes.
            - Eu consigo. Ainda temos duas semanas. Um unicórnio já pode fazer muita coisa, ainda mais se estiver determinado. Não irei desistir até conseguir.
            - Esse é o espírito! – disse Flos animada.
            - Mas uma dica não seria nada mal.
            - Se concentre perto de um lugar com água, nem que seja apenas gotas, e tente movimentá-los com o seu chifre.
            - As senhoras irão nos ajudar? – perguntou Lana.
- Infelizmente, vocês terão que enfrentar Igneus sozinhos. Está é uma época do ano que não temos muitas forças devido ao tempo. E é melhor que vá apenas o seu grupo. Mas lhes darei uma coisa para ajudar no combate.
Um jato d’água vindo do fundo da lagoa surgiu do lado da mulher gigante. Com ele, veio uma pequena caixa arredondada, que a deusa pegou e entregou para Lana:
- Aqui dentro tem uma nuvem de chuva que dura apenas dez minutos. Mas jorra bastante água. Use com cuidado.
- Eu também tenho algo para dar.
Do centro da Flor Estrela surgiu um pedúnculo, que foi crescendo até o barco. Ao chegar perto de Alana, uma flor desabrochou, e dela caiu uma semente, que a jovem pegou com cuidado, com Bot no seu colo:
- Jogue essa semente em Igneus quando ele estiver mais frio. Boa sorte.
Dizendo isso, Flos segurou o pedúnculo que foi decrescendo de volta para a Flor Estrela. Lacus acenou com a cabeça como modo de se despedir e desfez seu corpo em pura água. Mas fez isso com tanta força, que formou uma onda. Esta jogou o barco de volta para a margem. E novamente, Alana teve que desviar Bot da água, com um dos punhos fechados para a semente não cair:
- Olha Bot, quando houver casos assim, você voa. Entendeu?
- Sim mestre.


Nenhum comentário:

Postar um comentário