Lugar Nenhum foi escrito por Neil Gaiman, nascido em Portchester, Reino Unido. Um autor bastante conhecido por suas histórias que misturam a nossa realidade com a fantasia, tendo seus protagonistas percorrido por ambos os mundos. Mas o principal que tenho a destacar é a narrativa dividida pelo ponto de vista de mais de um personagem.
Existe uma semelhança entre Lugar Nenhum, Stardust (1999)
e O livro do cemitério (2008), todos
escritos pelo mesmo autor, que é a mudança de foco, tendo pelo menos três
pontos de vista de personagens. Outra característica é que em Stardust também existe um mercado
mágico, com a diferença de que as pessoas normais podem se misturar com seres
fantásticos. A mudança de perspectiva de cada personagem é uma técnica muito
utilizada na arte cinematográfica e na teledramaturgia, em especial em minisséries,
o que me fez perguntar se o autor é roteirista. Descobri que ele é sim, o que
faz sentido, pois este livro joga muito com o leitor, fornecendo-lhe informações
e ocorrências que os protagonistas não sabem, dando-lhe participação no enredo,
como um simpatizante, torcendo para que nada de ruim lhes ocorra. E ainda, este
romance é uma versão de uma série de tevê de mesmo nome, lançada no dia 12 de
setembro de 1996, sendo que o livro veio a público quatro dias depois.
Outro fato interessante é o uso dos nomes da estação de
metrô de Londres para criar algo, como por exemplo a Earl’s Court (corte do
conde) que tinha mesmo uma corte com um conde no comando.
A
edição deste livro, feita pela editora Intrínseca, é cuidadosa, pois, além de
conter o mapa do metrô de Londres atrás da orelha, tem um segundo prólogo e o
conto Como o marquês recuperou seu casaco
(começado em 2002 e terminado em 2013), uma “continuação” que está
relacionada a um dos personagens principais, no final do livro.
Os personagens principais,
tanto os protagonistas como os antagonistas, são bem desenvolvidos devido a
cada um ter tido o seu ponto de vista relatado na história. Richard era um
rapaz bom que tinha uma vida normal até se meter numa enrascada quando decide
ajudar uma garota chamada Door, fazendo todos esquecerem sua existência.
Acontecendo isso, ele vai à procura dela na esperança de que Door resolva seus
problemas e tudo volte como era antes, indo assim para o Submundo. Ele age como
um peixe fora d’água quando vai ao submundo. Door é uma moça boa e gentil que
está sendo perseguida pelos vilões e que tenta fazer o possível para
sobreviver. O marquês De Carabás é típico trickester (enganador), o que diz
muito com o seu nome pois ele vem do conto O
gato de botas, quando o gato ludibria os outros, falando que o seu mestre
era o grande marquês De Carabás. O próprio ajuda Door na fuga porque tinha uma
dívida a pagar com o pai da garota. Hunter é uma guarda-costas séria. Os
capangas do vilão, senhor Croup e senhor Vandemar, são sádicos e violentos, mas
têm um certo humor em relação a eles dois, pelo senhor Vandemar não ser tão
esperto quanto o senhor Croup, lembrando a relação entre Horácio e Gaspar do
filme 101 dálmatas. Existem mais
pontos de vistas, mas não direi aqui para a pessoa descobrir por si só.
De uma forma geral, tive uma leitura agradável.
Literatura juvenil fantástica é minha favorita entre todas. Porém, houve algo
que me incomodou. Apesar de ser interessante ter visões de vários personagens
na história, quase não houve mistério por causa disso. Principalmente quando
focava nos vilões. A pessoa que estava por trás do que havia acontecido com a
família de Door foi revelada antes mesmo dos heróis descobrirem, enquanto eu
como leitora já sabia. Nesse caso eu preferia ter o elemento surpresa e ter
descoberto junto com os protagonistas. Seria melhor se os pontos de vista
ficassem apenas nos protagonistas.
Fica a seu critério conhecer ou não o Submundo. Mas
lembre-se: assim que entrar nele, você não vai querer mais sair.
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